Reencarnado em Outro Mundo - Capítulo 18
É o que eu imaginava, Helena me chamou porque seus equipamentos foram restaurados. Equipamentos mágicos não são tão simples, repará-los não é uma tarefa fácil.
Os cavaleiros dizem que reparação de equipamentos é um processo que exige dinheiro e tempo, principalmente quando são mágicos. Mas o velho fez isso como se fosse brincadeira de criança, hahaha!
Um som estranho saiu das cordas vocais de Helena, ela demonstrou sua surpresa com o que acabara de ver.
— Se você danificar estes equipamentos novamente, a única solução possível para resolver esses desastres que você me causa, será criar equipamentos mais fortes, que sejam capazes de te aguentar por no mínimo alguns meses. Não sei o que você tanto faz para causar a destruição dos itens, seja mais cuidadosa.
O velho está um tanto descontente com ela… eu consigo entendê-lo, de certa forma.
— Você não andou até aqui somente para fazer reparações, certo? Você pretende ir para expedição.
— Você leu a minha mente! Eu não irei sozinha, irei com ele — Helena apontou seu dedo indicador em minha direção. — Quero saber se você tem algo para auxiliá-lo lá dentro, uma pequena ajudinha — Colocou no rosto um sorriso cínico.
— Eu irei olhar se tenho algo nos meus compartimentos que possa servir. Garoto, entregue-me sua espada, irei aprimorá-la, será um bônus.
Sério?! Aprimoramento?! A minha espada vai se tornar um equipamento melhor, muito bom!
O velho pegou a espada e saiu andando para alguma região desse subterrâneo.
— Depois daqui, não faltará muito para partimos… você está preparado? — Helena me perguntou sem olhar pra mim, está com seus olhos fixos no teto.
— Estou, por isso me encontro aqui ao seu lado. Não sei o que vamos encontrar na ruína que será aberta, mas não tenho medo de enfrentar o perigo de frente — Helena sorriu.
Eu estava quase voando em meus pensamentos quando de repente uma mulher apareceu e tomou a minha atenção.
— Perdoe-me por incomodá-lo, o senhor ordenou que eu trouxesse esse licor para senhor — Disse a mulher, em seguida, colocou uma grande taça cheia de licor ao meu lado. — Para senhora Helena também.
Obrigado velhote!
— Agora os deixarei a sós. Desejo um ótimo dia, tenham cuidado quando estiverem em aventuras — A mulher se virou e foi embora.
— Só faltou ela trazer comida — Disse Helena.
Não demorou muito, outra mulher apareceu. Como se tivesse escutado Helena, atendeu o seu pedido.
— Eu não iria esquecer disto, aqui o que vocês pediram. Beber algo sem nada para acompanhar não é agradável — Uma outra mulher apareceu com pratos de madeira com comida neles.
— Espero que gostem, foi feito especialmente por uma das cozinheiras mais desejadas do país! — Disse a moça com o orgulho estampado no rosto.
Não sei se foi sarcasmo, mas parece ótimo!
— O que vocês irão provar é uma iguaria chamada “Luz da Noite”. É um prato típico da região oriental do continente.
O sabor é diferente, mas não é ruim, ao contrário, é muito bom! Contém uma harmonia enorme, o molho e o peixe combinam, são feitos um para o outro.
— Parece que você gostou, irei trazer uma sobremesa pra vocês. Acredito que irão gostar, principalmente por causa do sabor doce que ela tem.
A moça tocou um sino pequeno, e apareceu um homem jovem vestido de mordomo. Ele trouxe consigo duas taças de vidro com algo dentro e colheres cor prata.
Ele me entregou uma dessas taças e deixou a outra com Helena. Os seus olhos brilharam como se estivessem visto um baú do tesouro cheio de moedas de ouro e prata.
Helena rapidamente pegou a taça e sem pensar duas vezes, colocou o seu conteúdo na boca. O que se seguiu em seguida foi um rosto que expressa emoções de amor, prazer e um olhar de “quero mais”.
Estou empolgado, vou provar… Isso… é sorvete! Que doçura! Aaahh, por quanto tempo fiquei sem ter um pingo de sorvete descendo pela minha garganta? Faz tanto tempo que eu já não consigo me lembrar mais.
Com certeza alguém do meu mundo andou por aqui, caso contrário não teria como existir sorvete nesse lugar. Ao menos que eles realmente tenham conseguido criar, mas talvez eu nunca descubra se isso é obra de alguém do meu mundo ou não.
— Que bom que gostou do meu pequeno gesto de respeito — Disse o velho que acabara de chegar. — Aqui está sua espada. Ela vai durar por mais tempo por causa da magia de fortalecimento que coloquei e resolvi te entregar uma vestimenta preta, ela é banhada por magia de proteção. Basicamente, ela irá te proteger melhor contra ataques mágicos, mas isso não significa que você não levará danos. — O velho pegou um objeto esférico, talvez metálico e continuou. — A roupa está nesse objeto, quando ativá-lo, a roupa irá se ajustar em você. É algo simples e prático.
O velho clicou em um botão, uma luz emanou do objeto e a tal roupa foi arremessada em mim. Ela simplesmente foi lançada de alguma forma e se ajustou em mim, tipo algo mágico. Não foi necessário fazer algum esforço para colocá-la.
— É como posso ajudá-lo. Se no futuro você demonstrar ser um homem interessante e de grande valor, talvez consiga despertar meu interesse e assim conseguir de mim auxiliá-lo — Disse o velho. — Vocês não têm mais o que fazer aqui, então saíam, eu estou muito ocupado realizando pesquisas. Esse mundo ainda precisa de mim!
— O velho é muito apaixonado por suas pesquisas e seu trabalho, ele vai ficar meio louco se não tomar cuidado — Comentou Helena.
— Por favor, os acompanhe até a saída — Ordenou o velho para uma de suas auxiliares.
E da mesma forma que chegamos ali, voltamos.
…..
……
— Ele nos mandou embora na primeira oportunidade que apareceu — Comentei.
— O velho não gosta de visitas, além de seus ajudantes, apenas alguém muito importante o fará dar total atenção. Por exemplo, um velho amigo ou um rei — Explicou Helena. — Deixando o papo de lado, vamos voltar.
Foi refeito todo o percurso que fizemos para chegar até o velho e assim saímos do subterrâneo. Resolvemos dar uma volta na região central da cidade, acho que posso me considerar um turista de primeira viagem.
Eu vi algumas pessoas vestidas de uma forma que lembram membros de cultos religiosos. Helena me contou que realmente eram pessoas de um culto, membros de uma pequena religião que nasceu no reino. Aparentemente ninguém sabe exatamente como ela nasceu, mas acreditam que foi mais ou menos no início da fundação do país.
Essa cidade em que foi criada por alguém que se nomeia de cientista, e cientistas tendem a acreditar apenas naquilo que podem provar através do método científico. Mas diferente do que eu suspeitava, religião não é proibida aqui dentro.
Eu me considerei um agnóstico por algum tempo, mas depois me tornei ateu. Acredito na ciência, não consigo crer em coisas religiosas.
Mas eu parei em um mundo diferente, algo que ninguém imaginaria ser possível. Sinceramente, não sei dizer se isso foi um fenômeno causado por uma divindade, pela natureza ou o quê. No entanto, a questão da religiosidade voltou a se tornar uma bagunça interna.
Essas diversas nações de povos presentes aprenderam a respeitar as diferenças religiosas. Claro que sempre têm um ou outro que irá dizer coisas como “Seu herege! Esses deuses são falsos”, mas são casos isolados.
Helena me contou que isso é diferente em países onde a religião dos [Nove Monastérios] é presente. Geralmente eles são dominantes nesses países e não são tão amigáveis com outras raças e religiões.
Houve grandes conflitos no passado com eles, como guerras, caça a bruxas e inquisição. Mas nos dias de hoje a instituição não é tão forte ao ponto de simplesmente iniciar uma guerra, caso contrário esse reino não se encontraria em paz, uma paz fragilizada, mas é melhor do que estar em um estado de crise interna generalizada.
— Com licença, aqui está o pedido de vocês, à genebra para moça e à aquavita para o rapaz — Falou a mulher da raça dos anões, interrompendo os meus pensamentos.
O combinado era dar uma olhada na cidade, mas paramos para beber em uma taverna de anões. Helena tem um estranho vício em bebidas alcoólicas.
— Heitor, não podemos esquecer de arrumar nossas coisas e nos preparar, em breve a expedição irá começar. Na verdade, acredito que já deveria ter começado, mas por algum motivo houve um atraso. No dia em que começar, devemos estar preparados.
— Entendo, espero não voltar sem uma parte do meu corpo.
— Só é possível sair de uma ruína chegando no fim da mesma. Se entrar, a entrada não existirá mais, então será obrigado a chegar ao fim. Ouvi histórias de pessoas que supostamente entraram em ruínas e não voltaram — Helena bebeu um pouco de sua bebida. — Eu não irei acabar no mundo dos mortos, já você, não sei.
Você ao menos percebeu que está dizendo que eu irei morrer? Falar uma coisa como essa não serve de incentivo, elfa sem cérebro.
— Você estará lá para me proteger, então não preciso me preocupar — Coloquei um leve sorriso sarcástico no rosto.
Parece que o caminho de um usuário de espada é mais complicado do que parece. Bem, não é como se eu fosse me tornar em algum tipo de grande herói que se envolve em aventuras, luta contra monstros e pessoas poderosas.
— Seu rosto está sujo, você é um pouco desajeitado — Helena aproximou o seu rosto e me limpou com um lenço branco. Eu achei isso fofo.