Reencarnado em Outro Mundo - Capítulo 3
No caminho até o vilarejo eu fiz uma parada e andei por uma região florestal em busca de uma região com um lago ou rio, graças a isso acabei encontrando um pequeno riacho com uma cachoeira. Encontrei coelhos e outros pequenos animais e tentei usar sua carne como alimento, mas eu sou um péssimo cozinheiro, quase que o alimento não fica no estômago.
Também passei por momentos de sufoco, me encontrei com alguns animais selvagens que não gostaram muito de mim, quase tive um ataque do coração quando fui perseguido por esses animais. Acho que eu deveria desistir de fazer essa viagem, sinto que não vou aguentar nem mais um segundo sozinho no mundo.
Como vou conseguir viver facilmente em um mundo de fantasia com aspectos medievais, se eu venho de um mundo onde a única coisa que poderia ameaçar minha existência é a própria humanidade? Eu nunca fiz uma excursão à floresta ou lutei contra monstros antes, com toda certeza vou morrer, pai e mãe, seu filho é uma decepção.
Pelo menos eu aprendi magia básica, magias classificadas como elementais. Quando Alexandre citou que magias elementais como fogo, vento, água ou terra são ensinadas livremente por instituições de ensino no reino, eu fiquei bastante chocado. Por um momento pensei que esse reino estava bastante evoluído para um mundo com aspectos medievais.
Mas nem tudo são flores, Alexandre falou que magias elementais somente são ensinadas para plebeus porque são consideradas magias básicas, e não magias que poderiam ser usadas em confrontos de grande escala, como guerras ou disputas entre aventureiros.
Mas eu acho que isso deve ser uma desculpa, magia de fogo não deveria ser considerada perigosa? Faz mais sentido a família real ter usado essa desculpa para que os nobres não fossem perturbar os membros da família real por não aceitar que os plebeus pudessem aprender magia.
Provavelmente ninguém imagina que os plebeus irão fazer muita coisa com magia elemental além de coisas básicas diárias, como usar magia de água para lavar vestimentas ou usar magia de fogo com o pra queimar lenha.
Acho melhor voltar para perto do riacho e não ficar aqui sentado no meio dessa floresta com um coelho na mão. Voltando para o riacho com cautela para não ser surpreendido e atacado por um animal selvagem, me escondendo em arbustos e árvores como um ninja, tudo com cautela, senão serei morto por um animal maluco.
Quando menos espero, o primeiro monstro que eu encontro após o começo dessa jornada aparece, um dos piores. Eu fiquei de frente com uma [Aranha da Calamidade], um monstro que no seu tamanho adolescente pode ficar próximo ao tamanho de um elefante.
Eu não sei como é possível existir um monstro desses aqui, não adiantou tentar sair sem fazer barulho, esse monstro notou minha presença. Começou uma perseguição, eu estou correndo como se uma bala tivesse sido disparada contra mim.
Essa coisa mais feia que o próprio diabo está correndo atrás do seu próximo almoço.
Os seres vivos em volta começaram a correr também, eu irritei o rei desse lugar. Se esse monstro me pegar ele vai arrancar meus braços e pernas, aaaaaaah!! É melhor correr para o riacho, né?! A-aranhas não sabem nadar, espero que não! Eu consigo ouvir barulhos das árvores sendo derrubadas por esse monstro.
Correndo em uma velocidade tão extrema que até Usain Bolt sentiria inveja, finalmente cheguei no riacho, estava à frente, uma luz no fim do túnel tornou-se possível.
Passando os arbustos e indo até a beira do riacho, vi uma garota se banhando, mas não tive tempo de pensar, apenas pulei na água. Percebendo minha presença, ela ficou em alerta, mas logo viu [Aranha da Calamidade] na beira do riacho e ficou no mesmo estado que eu.
— Você trouxe esse monstro até aqui?! Você é louco?! — Exclamou de forma desesperada.
— Olha o tamanho dessa coisa! Pelo menos esse monstro não entra na água!
— Aranhas do tipo calamidade se adaptam ao meio ambiente! Se ela vive em uma região com riachos, é claro que ela vai conseguir entrar em um sem problemas algum!
Quando ela me informou disso, percebemos que o monstro estava tentando vir até nós pela água. Saímos rapidamente do local e começamos a correr, mas eu não sei se deveria rir dessa situação, essa garota está correndo totalmente nua, ela não teve tempo de vestir-se.
— Quando essa situação acabar! Eu vou te matar! Você não é homem?! Correndo igual uma garotinha fraca!
Ela feriu o meu orgulho, ela acabou de falar que não sou homem e que estou com medo de uma aranha fraca dessas? Se eu não matá-la agora, eu não me chamo Heitor.
— Então vou mostrar-lhe do que sou capaz! Eu não treinei com o Alexandre para ser um medroso!
Parei de correr e fiquei em posição de ataque, esperando o monstro chegar até mim.
— O quê irá fazer?!
— Você disse que eu não sou homem, mas vou provar que sou.
Ela deve achar que sou maluco, mas não tem nada pior no mundo do que ter sua dignidade de homem ferida por uma fêmea que nem te conhece. Tentei deixar meu coração calmo, e esperei, minutos depois o monstro apareceu, seus vários olhos me fizeram tremer.
Meu corpo estava me alertando que nessa situação eu sou uma presa, mas não posso deixar-me levar por meus instintos, algo me diz que esse monstro não deveria estar aqui. Estava vindo em fúria, querendo me comer vivo, eu preciso desestabilizar esse monstro em um único ataque.
Quando o ser aproximou-se de maneira significativa, fiz um avanço, me jogando e escorregando pela lateral direita do monstro, cortei suas patas gigantes. A garota aproveitou essa oportunidade e com magia de fogo fez surgir algumas pequenas esferas de chamas, depois fez seu ataque.
O monstro soltou gritos de dor tão horríveis que eu desejei não ter audição.
Correndo até o monstro e usando apenas força bruta, a garota socou a cabeça enorme do monstro até ter certeza de que ele não voltaria dos mortos para nos perseguir de novo.
O monstro estava morto.
— Como que esse monstro está nessa região? — Ela perguntou.
— Eu não sei.
Ela comentou em seguida que o monstro [Aranha da Calamidade] não vive nessa região do reino, no passado elas foram quase todas exterminadas por aventureiros e cavaleiros por ser um monstro considerado de grande perigo. Ela passou a suspeitar de que isso pode ser obra de alguém, mas não conseguimos pensar em um motivo que pode levar alguém a fazer isso.
— Isso precisa ser reportado, precisamos levar essa carcaça até a [Guilda de Aventureiros] na [Cidade do Forte]. O problema é como vamos levar algo desse tamanho.
— Você realmente não é um homem. Vou acompanhar você, eu também vou até a [Cidade do Forte].
Acho que ela não gosta muito de mim.
— Acho que a guilda vai reportar isso para família real, e talvez os [Nove Monastérios] fiquem sabendo disso também — Ela disse parecendo preocupada.
— Quem são esses? Eu nunca ouvi falar deles.
— Você é tão desinformado assim? Os chamados [Nove Monastérios] é uma organização religiosa, que acredita que os humanos são uma raça superior, eles vivem implicando com países compostos por raças diferentes, como o país dos elfos, dos homens bestas e outros.
Mas o que me preocupa mesmo é os [Cavaleiros Santos], eles são uma elite de cavaleiros, generais militares da organização. Essa organização tem tanta influência que se quiser mudar a política em um reino, eles podem.
O que ela falou sobre raças não humanas me fez notar suas orelhas pontudas, ela é uma elfa. Por um momento minha mente ficou em branco, não imaginava que os elfos fossem tão lindos.
Seu corpo brilhou com uma luz branca e suas vestimentas retornaram como se ela nem estivesse nua um momento atrás. Ela colocou um capuz… era a garota encapuzada que deixou o brutamonte totalmente sem roupa, fazendo-o passar vergonha.
O mundo realmente é pequeno.
— Que tipo de magia é essa? Nunca ouvi falar de magias assim — Perguntei meio confuso.
— Você é algum tipo de nobre que só conhece magias elementais? No mundo, existem vários tipos de magias, elementais somente são um grupo delas. No entanto, magias elementais são ensinadas neste reino porque é extremamente difícil conseguir evoluir ao ponto de transformá-las em magias de guerra.
Eu fiz essas bolas de fogo, mas se eu quiser fazê-las tão enormes ao ponto de devastar reinos, eu teria que treinar e me especializar muito, estudar por décadas. Isso é impossível de um humano conseguir fazer do nada, de qualquer forma, magias elementais são usadas apenas para coisas básicas.
Eu não imaginava que fosse tão difícil usar magia elemental para lutas, eu vou ter que treinar bastante e com alguém especializado, ou ganhar algum tipo de hack supremo.
— Me ajude a cortar partes do corpo desse monstro, assim podemos levá-los sem problemas e alertar a guilda sobre isso — Ela falou enquanto estava indo até a carcaça.
Ficamos algum tempo cortando algumas partes do monstro, enquanto isso o sol já estava indo embora e logo a lua estaria no ponto mais alto do céu. Voltamos para o riacho e uma fogueira foi acesa, vamos passar a noite aqui.
…
No dia seguinte logo pela manhã começamos nossa jornada, depois de passar pelo vilarejo vamos direto para [Cidade do Forte]. Ser um viajante é difícil, quase fui morto por um monstro que eu acreditava somente ser possível existir em filmes de terror.
Ela não falou nada depois que começamos a viajar, acho que ela me odeia…
— Qual é o seu nome?
Ela não respondeu.
— Você não gosta de mim? Eu não lembro de ter feito algo contra você.
— Você é um humano, eu odeio humanos.
Acho que ela não tem memórias boas em relação a raça humana… espero que ela não tente me matar ou algo do tipo.
— Você consegue correr muito? Precisamos chegar ao vilarejo rápido.
Eu acenei com a cabeça e ela começou a correr. Céus, já não bastava correr de uma aranha assassina, agora vou correr atrás de uma elfa que me odeia.
Ficamos correndo e parando para descansar ao longo do caminho, realmente o vilarejo mais próximo não é tão perto quando você está a pé. Depois de muito tempo, chegamos no vilarejo, mas ele está totalmente quieto, parece não ter uma alma viva nesse lugar, que estranho.
— Isso não parece ser uma coisa boa — Falei com preocupação.
— Eu também não acho isso normal, quer investigar?
— Claro, isso parece ser obra de bandidos, então seja cautelosa, menina elfa.
Espero que não tenhamos que encontrar corpos de pessoas mortas, eu realmente não quero parar em uma situação como essa. Entramos no vilarejo em busca das pessoas que deveriam estar nesse lugar.
Conseguimos notar que animais como cavalos e vacas estavam no lugar, então a possibilidade de que os moradores foram embora deve ser descartada. Chamamos em voz alta por pessoas nas casas mas ninguém respondeu, o vilarejo parece uma cidade fantasma.
— Humano venha até aqui! — Chamou-me a elfa.
Ela estava em outra região do vilarejo procurando por pessoas, então fui até o local ver o que era. Quando cheguei no local ela estava com um olhar amedrontado, como se tivesse visto um demônio, eu passei a sentir um cheiro horrível e podre, um cheiro que quase fez-me vomitar.
Olhei para o local de onde estava vindo esse cheiro, e de onde a elfa não tirava seu olhar… avistei uma grande pilha de corpos humanos. Corpos mutilados, marcas de sangue no chão e animais carniceiros, uma cena terrível.
Quem foi a pessoa ou a coisa que matou essas pessoas? Essa situação ficou pior do que eu poderia imaginar, não sei o que fazer agora além de reportar isso para a guilda e deixá-los investigar.
Lágrimas caíram dos olhos da elfa, parece que essa imagem não trouxe boas lembranças.