Rei Celestial - Capítulo 3
Akemi arrumou apressadamente suas coisas em uma mala. Após ter enchido a mala, ela tentou fechá-la, mas sem sucesso. Determinada, prendeu seus cabelos pretos em um rabo de cavalo, passou a mão sobre a testa e disse para si mesma: — Vamos lá!
Com seu olhar castanho-escuro ela analisou a mala e procurou a melhor forma de fechá-la, até que escutou uma batida na porta.
— Entre! — disse a garota, ainda analisando a mala ao pensar no que deve deixar para trás.
— Você já vai? — Roger olhou para a mala que ela tentava fechar.
— Sim, tenho que estar lá às dez, no meio do nada — suspirou ela, desanimada ao lembrar-se da localização de seu novo QG.
Roger sentou na cama ao lado da mala aberta, e então pegou um boneco de porcelana que havia ali; o boneco tinha longos cabelos roxos, olhos negros e um semblante melancólico, que dava a ele a aparência de estar vivo.
— Vai levar essa coisa medonha? — Ele encarou o boneco, que pareceu o encarar também. — A Lucy me disse uma vez que muitas vezes parecia que ele estava olhando para ela.
Ele então largou o boneco sobre a mala.
— Se eu fosse você me livraria desse treco, vai que ele está possuído!
— Não vou fazer isso, foi a única coisa que sobrou da minha irmã.
— Por falar em irmandade, você não contou para o Henry que o estou investigando?
Roger Valencia, filho mais velho do rei Alexandre Valencia e da rainha Elisabeth Valencia, conseguiu sobreviver ao assassinato da família real principal, em 1837, pois sua avó materna estava cuidando dele na época.
Como ele não havia nascido com o poder celestial de Garden, o sucessor do rei Alexandre seria seu irmão mais novo, que havia acabado de nascer, apesar de todos dizerem que seu irmão havia morrido junto à sua mãe. Roger acreditava que ele ainda estava vivo em algum lugar, pois seu corpo não havia sido encontrado, então ele mesmo fazia sua investigação à procura de seu irmão mais novo.
— Ainda não. Quer minha opinião? Penso que está se iludindo de novo. Você conhece o Henry desde que era criança, só porque ele é adotado não quer dizer que ele seja seu irmão; deve ser seu eu interior querendo que ele o seja, porque passaram a vida juntos.
— Você pode ter razão, mas por via das dúvidas, investigarei.
《♤♡◇♧》
As nuvens cobriram o sol, escurecendo a paisagem. O vento trouxe a brisa gelada de inverno junto a ele. Harley encarou todos de sua equipe de braços cruzados e esperou pacientemente por Akemi, que estava atrasada.
— Atrasada! — Harley olhou para a recruta ofegante, que carregou duas malas. — Que foi, veio correndo, é? — disse ele, em um tom sarcástico.
— O cocheiro disse que não vinha até aqui, então tive que andar setenta metros com essas malas de mer …
— Vocês têm 10 minutos para arrumarem suas coisas. Temos três quartos; as garotas ficam em um, os dois garotos ficam em outro, e o que sobrou é meu.
— Não quero ficar no mesmo quarto que alguém do oriente, eu me recuso! — Judith cruzou os braços. — Eles são uns traidores que violaram o tratado de paz.
Mesmo não tendo as características asiáticas, Akemi possuía seu nome vindo do império Okami, o que era motivo de sofrer certo preconceito, mas isso não importava para ela; ao contrário, por certo motivo, a garota se orgulhava do nome que carregava.
— Ok, que saco, viu! Até isso vocês vão complicar? — disse Harley sem paciência. — Então será assim, eu e John, Luke e Akemi, Amélia e Judith. Por conta dessa discussão vocês têm dois minutos para arrumar suas coisas. Não quero nada fora do lugar.
《♤♡◇♧》
Roger estava sentado em frente ao coronel Klaus, que bebia uma boa xícara de café.
— Alguma novidade do paradeiro do seu irmão?
— Já tenho uma noção. O Henry, ele …
Coronel Klaus suspirou e interrompeu o Roger.
— Você não está se enganando de novo?
— Vou até o orfanato onde ele cresceu, saber como ele chegou lá, investigar mais.
— Faça como quiser.
— Temos que achá-lo antes do reino de Wolfsburg conseguir um suporte.
— O único dos quatro grandes reinos que possui um suporte é o reino Iskald, e eles já deixaram mais do que claro que não querem se envolver nessa guerra.
— Ouvi dizer que o império Okami possuía um suporte, mas o rei deles foi capturado por Wolfsburg…
— E o povo oriental virou escravo e ficou à mercê de Wolfsburg — completou Klaus.
Klaus levantou e foi até a janela, avistou vários soldados que treinaram do lado de fora do prédio.
— E nós, o que fizemos? Mandamos exterminar as vilas de orientais de Garden — Roger disse com certo repúdio em seu tom de voz.
— Eles nos traíram. Tínhamos um tratado de não agressão. Eles se aliaram a Wolfsburg para nos atacar, não podíamos deixar barato.
A história que foi contada ao povo de Garden transformou o império Okami em traidor. Ele rompeu o tratado de não agressão que ambas as nações possuíam, aliando-se a Wolfsburg em um ataque contra Garden, o que resultou em guerra.
Logo depois, Wolfsburg escravizou o povo do império Okami, alegando que eram traidores, obrigando-os a ir para a linha de frente da guerra. Por sua vez, o rei celestial de Okami, Ayato Hamada, foi preso no calabouço do castelo de Wolfsburg.
《♤♡◇♧》
Harley encarou cada um de sua equipe com um semblante sério. Seus olhos turquesa transpareceram desprezo.
— Quero saber como usam seus poderes mágicos e como estão de luta corpo a corpo. Quero que, um por um, ataquem a mim com tudo que vocês têm.
Ele jogou a capa azul escura que usava contra o vento o que fez o vento a levar, parando no chão. Logo em seguida, ele olhou para o céu e balbuciou:
— Ainda bem que estamos no inverno, odeio verão.
Ele então voltou sua atenção para Luke; o garoto tremeu e orou mentalmente para não ser o primeiro. Luke percebeu que suas preces não haviam sido atendidas quando Harley parou na frente dele, encarando-o seriamente:
— Você! Será o primeiro.
Luke invocou vários escudos, uns laranjas, outros vermelhos. Sem dificuldade alguma, Harley os quebrou com a espada que carregava em mão. A espada era envolvida de escuridão, e sua ponta lembrava o rabo de um escorpião, por isso a cimitarra levava o nome de “Escorpion”.
Harley se enfureceu com o garoto, que estava na defensiva, e decidiu por um fim em sua defesa; ele quebrou o escudo de Luke.
— Sua defesa é fraca! Precisa de mais uns dez anos de treinamento para me vencer, garoto.
— E-e-eu não quero vencer, só-só me defender.
— O inimigo não terá pena de você!
Harley mais uma vez quebrou o escudo de Luke rapidamente e o derrubou antes de criar outro escudo, ele pisou na mão de Luke o que o impediu de criar outro escudo.
— Agora você não consegue criar mais escudos. E aí, vai lutar como homem ou continuará sendo um “f-f-fra-frango”?
— S-Se-Seu nanico! — Luke não havia pensado antes de insultar seu comandante, o que o faz levar um chute no estômago.
— Os que não têm poder são oprimidos. Você vai se levantar e lutar ou vai ser um dos oprimidos? — Luke recebeu vários chutes enquanto estava jogado no chão.
Todos da equipe observaram apavorados e temeram ser os próximos a lutarem com Harley, ou melhor, a serem massacrados por Harley.
— Se você morrer no campo de batalha, eu mesmo vou te reviver, só para te matar de novo — ele falou ao olhar diretamente nos olhos castanhos de Luke, que tentou ficar em pé.
Quando o garoto finalmente conseguiu ficar em pé, Harley o derrubou novamente, só para ver Luke ficar de pé mais uma vez, e se colocar em posição de luta.
— E-e-eu não quero morrer jovem! Ensine-me a sobreviver! — Luke se curvou diante de Harley e demonstrou respeito.
— Ok, a partir de agora anote tudo o que eu disser e fizer.
Luke treinou com uma espada de madeira e tentou se igualar a Harley, mas pareceu que a cada dia que treinava menos conseguia usar uma espada.
Assim como ele, todos da equipe treinaram individualmente, e em conjunto. A equipe não estava em sintonia, ainda, mas com treino e um pouco de tempo eles estariam mais unidos.
Luke lutou contra Judith; a garota o atacou com uma lança de madeira, enquanto ele tentou atacar com uma espada do mesmo material.
— Ok, agora chega! Você só está se machucando, não consegue usar uma espada. Treinei minha vida toda para me aperfeiçoar na arte da espada. Só existem dois homens mais polidos que eu na arte da espada, e um deles foi quem me ensinou. Sei reconhecer alguém que tem futuro.
— Talvez possamos encontrar outra arma para ele usar.
— Judith está certa, mais tarde te ajudo a escolher.
— Certo, comandante Harley!
Harley havia dito a Luke que não adiantava somente defender, era preciso atacar, por isso o garoto aperfeiçoava sua magia de abjuração protetora e tentava aprender a usar algum tipo de arma.
Luke Fallett era um garoto vindo do subúrbio de Garden, mas suas atitudes se comparavam às de um nobre. Sempre carregava um sorriso no rosto e tentava trazer alegria para a equipe, mesmo em tempos como esse.
Quem via o garoto assim não imaginava o que ele já havia passado até chegar ali, ou toda a dor que ele sentia quando apanhava de seus irmãos mais velhos.