S.U.P - Capítulo 2
Não teve muito tempo para pensar, pois os passos já se distanciavam dali onde ele estava. Apenas colocou tudo de volta na bolsa e saiu em direção a porta. Já agarrava a maçaneta quando hesitou, por algum motivo tinha receio do que o esperava do lado de fora.
“O que foi?”
“Está com medo?”
“Essa não e hora para isso… Tenho que buscar respostas, a todo custo.”
Respirou fundo enquanto girava a maçaneta. E ao abrir a porta deu de cara com o corredor, não se via muita coisa, e o pouco que via estava caído pelo chão. Algumas manchas de sangue nas paredes e buracos de bala, isso deixou Pink ainda mais preocupado, embora seu rosto não esboçasse qualquer expressão.
“E agora? Pra que lado?”
Foi quando avistou uma caixa para caso de incêndio, andou até ela notando o extintor e a mangueira. Por algum motivo aquilo o chamou atenção.
Olhou ao redor não vendo ninguém, quando o som dos passos passou por seus ouvidos. O som vinha na direção do fim do corredor, não pensou duas vezes e saiu às pressas. Corria com um pouco de dificuldade, mas ainda era rápido o suficiente.
— Ei! Espera, preciso de ajuda.
Não conseguia gritar, pois sua cabeça doía com o esforço. Abriu as portas no fim do corredor dando de cara com a escadaria. Vários passos subiam acima dele, ele então continuou, subindo a escada o mais rápido que conseguia.
— Ei! Por favor, esperem. Ajuda… Ajuda!
“Merda, eles estão me escutando?”
Ele já chegava a uma porta entreaberta, quando a abriu foi surpreendido por uma moça que o empurrou contra a parede. Ela o encarava com um olhar sério, apontando uma faca em seu pescoço, mas não só ela, outros faziam o mesmo sacando armas.
Três homens apontavam espingardas para ele, e uma outra mulher um revólver. Ele estava cercado e sem saída ou chances de tentar algo, só restando tentar conversar:
— Opa, opa. Não quero problemas! Só preciso de ajuda, não preci–
Foi acertado com uma joelhada nas partes baixas, o que o fez cair de joelhos segurando com dor o local. Seus olhos lacrimejavam a medida que pode escutar a mulher dizer:
— Ajuda?! Ha, não fode.
— Vamos deixar esse merda ai, Fifi. Se viu o olho dele? Com toda certeza é problema. — disse um dos rapazes.
— Porra, temos que dar o fora. Tem um “Frog” na nossa cola!!
— Sei disso porra. — Puxou ele pelo cabelo. — Não sei quem é você fofinho, e nem quero saber. Você disse que não quer problemas, então é melhor seguir seu rumo! — Solta ele com força.
Pink ficou caído ali enquanto eles fugiam. Ele não conseguia entender o porquê disso tudo, mas também estava irritado, como poderam tratar alguém doente assim? Pensou ele se irritando ainda mais.
“Droga. Mas que droga!”
“Quem esses merdas acha que são?!”
“E o que foi que aquele fudido disse? Meu olho? Frog? Mas que merda, não consigo entender.”
Se levantou com um pouco de dor, andou até um dos quartos ao lado o qual estava com a porta aberta. Entrou a fechando em seguida, olhava ao redor enfim notando um banheiro, andou até ele enquanto jogou sua bolsa na cama.
Entrando no banheiro já ia em direção ao espelho. Embora já tivesse aceito o fato de seu rosto estar assustador, ao vê-lo de fato, notou como realmente era sua situação atual.
Seu cabelo era um pouco espetado e curto, seus olhos pareciam cansados e cheios de olheiras, a cicatriz em sua boca deixava exposto seus dentes que eram pontudos. Mas o que chamou de fato sua atenção, foi perceber que seu olho direito era diferente: possuía um formato e cor que lembravam o olho verde de um sapo.
— Que porra é essa?!
“Merda. Agora entendi… até eu se fosse eles não teria confiado, “nisso”…!”
“O que eu sou afinal? Humano…?”
Com uma explosão repentina de raiva, socou o espelho o despedaçando. À medida que a dor do corte e o sangue escorriam do ferimento de sua mão, ele começava a se acalmar.
“Droga. Droga. Mas que droga!”
Se abaixou se encolhendo no chão. Não estava entendendo nada, e sua única chance de obter resposta fugiu dele. Algumas horas se passaram com ele ali se lamentando, foi quando se sentou.
“Que se foda. Não posso simplesmente desistir, certo?”
“Se recomponha, Pink. Vamos conseguir respostas… Eu sei que vamos.”
Olhando para o lado notou o chuveiro que neste momento lhe era bem convidativo. Se levantou indo até ele com um sorriso.
“Por hora, devo apenas me acalmar. Uma ducha pode ajudar!”
Retirou suas roupas e foi para debaixo do chuveiro, o ligando. A água era gelada, porém acolhedora, seu corpo enfim era limpo. Mas era como se até sua alma e pensamentos fossem purificados juntamente de seu corpo. Enfim a paz, ele gostava da sensação, ele sentia algo que até então não conseguia explicar.
Começou então a retirar suas faixas, notando assim suas cicatrizes. Por sorte não tinha nenhuma ferida exposta, até mesmo o ferimento em sua cabeça não tinha mais sinal. Enquanto se limpava, podia notar uma numeração tatuada em seu pulso.
“O que significa 003…?”
Algo veio à sua mente, ele viu corredores brancos, uma porta vermelha e uma música quase familiar tocando ao fundo. Tentou se lembrar de mais, porém, sua mente já não o deixava.
“Consegui lembrar de algo? Por que tenho a sensação que era importante?”
Minutos depois se enxugava na frente do armário de roupas, pra sua sorte tinham roupas masculinas de seu tamanho. Vestiu uma cueca amarela que cheirava a morango, uma calça jeans comum e uma camiseta branca. Avistou uma bota bonita, assim a calçando, porém sem meias, pois não as encontrou.
Percebeu uma foto emoldurada no pequeno armário ao lado da cama. Andou até ela, a pegando, era uma foto de uma família. Uma mulher, um homem e um bebê, o homem aparentava ter sua idade e ser um rapaz gentil. Ele então sorriu, pois eles pareciam felizes:
— Esse bebê deve ter tido sorte. Seus pais parecem pessoas incríveis!
Então ele notou a jaqueta que o homem usava. Era uma jaqueta simples mas bem estilosa, ao ponto de fazer seu sorriso crescer ainda mais.
— Hehehe… Acho que vi essa belezinha no armário. Desculpa, amigão… Mas acredito que você não vai mais usar aquilo mais!
Andou até o armário pegando a mesma jaqueta da foto, não pensou duas vezes e a vestiu. Era uma jaqueta de couro, cor cinza. Ele parecia ter gostado, porém algo ainda o preocupava:
“Meu rosto ainda é um problema. Não sei o que tem de errado com meu olho… Na verdade não sei o que tem de errado comigo!”
“Acho que o melhor é apenas esconder meu rosto.”
Começou a olhar ao redor, procurava algo que pudesse o ajudar. Revirou todo o quarto mas não encontrando nada, foi quando percebeu uma sacola em cima do armário. Puxou uma cadeira a usando para alcançar a sacola, quando a abriu notou alguns itens estranhos.
Algumas algemas, chicotes, roupas de couro esquisitas e amarras. Vasculhando mais a fundo sentiu algo molenga, ao puxar percebeu que se tratava de pênis de borracha, rapidamente o jogou no chão.
— Puta merda. Que porra é essa?! Que nojo, que nojo!!
Limpava a mão na toalha com uma expressão irritada junto de nojo. Correu ele para o banheiro, assim limpando de vez a mão.
— Porra. Agora eu sei como eles fizeram o bebê! Na foto pareciam tão gentis, mas a verdade é que eram loucos sexuais?! Sinceramente, não se pode confiar em ninguém. Espero que eles não tenham usado esse negócio que eu sem querer peguei.
Quase vomitou apenas de imaginar o que eles poderiam ter feito. Não demorou muito para se recompor e sair do banheiro. Caminhou até o saco de itens de BDSM, desta vez tomando cuidado para não pegar em nada suspeito, embora tudo na caixa fosse.
Enfim encontrou algo, uma máscara de couro escura, com vários espinhos prateados, e o espaço dos olhos com lentes em forma de coração vermelho.
— Hora, hora, hora. Mas o que temos aqui…
Pegou a máscara em mãos, aquele objeto estranho o tinha chamado a atenção. Olhava para a máscara intrigado e por um lado confuso consigo mesmo:
“Não me diga que eu gosto dessas coisas pervertidas?”
“Porra, não é atoa que tem aquela lista… Bem, gosto não se discute.”
Após lavar bem a máscara no banheiro, a pendurou em sua bolsa e também pegou as algemas. Colocou a bolsa nas costas e sorriu:
— Hora de dar o fora desse lugar.
Saiu do quarto, seguindo o corredor na mesma direção que veio antes. Mais uma vez ficando cara a cara com as escadas, mas dessa vez decidiu descer até o térreo.
Minutos depois já chegava ao fim da escadaria, estava um pouco ofegante, mas ainda tinha energia. Foi quando segurou a maçaneta e ao abrir a porta dando de cara com a recepção e a zona ali embaixo.
Tudo revirado, com um clima antigo e com matagal já tomando boa parte do lugar. Foi aí que avistou as mesmas pessoas as quais saíam da porta a frente. Eles se encararam, foi quando um dos homens dando seus primeiros passos para fora.
Antes que pudesse perceber, escutou um chiado. Seus olhos se arregalaram à medida que foi pego pela criatura que mudava sua coloração para verde, assim se mostrando de sua camuflagem.
Era um Louva-Deus gigante, que agora mordiscava os olhos do homem ao qual gritava ainda vivo:
— AAAAHHHHH!!!
“Mas que porra é essa?”