Sangue do Dragão Ancestral - Capítulo 1
— [ A Herança foi ativada! Seja bem-vindo a Ark, senhor Rios! ]
Em meio àquela escuridão, essa estranha voz soou em minha mente. De início fiquei surpreso, mas logo em seguida algo ainda mais bizarro aconteceu.
O ambiente outrora escuro ganhou repentinamente uma coloração carmesim.
Além disso, chamas começaram a brotar do chão. Pelas paredes podia ver que estava dentro de um cubo.
O local ardia em brasas, mas…
— Ué, que calorzinho mais confortável!
Estranho…
— Ei! Tem alguém aí? — perguntei, esperando por uma resposta daquela estranha voz.
Mas a safada me ignorou.
Sim, ignorou por completo. Então eu decidi explorar.
— O que é aquela pequena pilastra? — perguntei a mim mesmo, enquanto andava até o estranho objeto.
Chegando lá reparei que a pilastrinha na verdade era uma mesa. Muito estranha e chamativa, por sinal.
Quer dizer… tinha um símbolo estranho lá.
— Mas que negócio sinistro! Um pentagrama?
E isso não foi tudo. Olhando pro pequeno móvel, notei um pequeno punhal carmesim.
Bem… juntando as peças dá pra entender o que era suposto que eu fizesse.
— Sem chance! Olha a lâmina dessa coisa! Muito afiada.
Infelizmente para mim, não parecia haver nenhuma outra forma de sair dali.
— Tsc! Isso me lembra um pouco o exército. Que sinistro — murmurei, retirando o punhal.
Depois de relutar mais um pouco, reuni a coragem necessária e rapidamente fiz um corte sobre minha mão.
Shiiiiiiiiin!
Quando o sangue escorreu sobre o tablado, o pentagrama se acendeu. Era uma cor vívida e abrasadora.
Mas isso não foi tudo, pois após alguns breves segundos uma bola de luz vermelha emergiu do pentagrama.
Eu fiquei olhando para ela por um tempo. Perdi dois minutos da minha vida com isso.
Como continuava estática enquanto flutuava sobre a pilastra, tentei fazer uma coisa.
Não foi muito inteligente, mas coloquei minha mão. Logo em seguida, o pequeno orbe de luz se expandiu, engolindo tudo dentro daquela pequena sala vermelha, inclusive eu.
Dessa vez realmente pensei que fosse morrer, mas então algo que eu não esperava aconteceu.
— [ Por favor, proclame seu nome! ]
A estranha voz apareceu novamente. Mas perae! Nome? Talvez…
Uma determinada ideia surgiu em minha mente. Sim, acho que dessa vez eu ganhei algo muito legal do vovô!
— Me chamo Pedro! Pedro Rios!
— [ Nome proclamado com sucesso! Identidade confirmada pela voz! ]
— [ Herança lendária detectada. Por favor, escolha uma habilidade correspondente]
Tá bom, isso foi uma surpresa interessante. Mas o que eu peço?
Hum… já sei!
— Eu quero poder criar e convocar meu próprio exército!
— [ Habilidade escolhida: criação de exércitos ]
— [ Herança épica detectada. Por favor, escolha uma habilidade correspondente]
O que?! Mais uma! Haha! Vovô, eu te amo!
Mas o que eu escolho dessa vez? Bem, com certeza nesse mundo deve ter magia. Além disso, esse [criação de exércitos] deve custar mana pra caramba.
Então…
— Eu escolho não precisar de mana para lançar magias!
— [ Habilidade negada. Motivo: altera a ordem natural das coisas. ]
Pelo visto eu não posso pedir qualquer coisa. Mas tudo bem, tem um jeito de contornar isso.
— Eu escolho não precisar usar mana para convocar o meu exército!
— [ Habilidade aprimorada: criação de exércitos (épico). Criar e convocar tropas agora não custa mana ].
— Wow! Eu jurava que não ia dar. Hehe… Nunca subestime um advogado — comemorei.
Entretanto, quando pensei que enfim a voz estranha me mandaria para o outro mundo, mais acontecimentos se sucederam.
— [ Herança Dragonark detectada. Grau de linhagem: SS+ ]
— [ Linhagem Dragonark tipo Ancestral identificada. Habilidades correspondentes sendo geradas ].
— O que isso significa? — perguntei, na vã esperança de ter uma resposta.
— [ Preparando transferência… ]
— [ Transferência preparada! ]
— [ Iniciando transferência em 3… 2… 1… ]
Depois que a contagem encerrou, eu apaguei. E dessa vez foi pra valer.
…
Um tempo desconhecido se passou antes que eu acordasse novamente.
— Hum?! Aquilo foi um sonho? — perguntei, ainda sem acreditar no que presenciei dentro do quartinho carmesim.
Pra minha surpresa, o que vi não parecia ser o meu quarto.
— Por que as paredes são de pedra? Aliás, por que minhas costas doem tanto?
Quando olhei para baixo, notei que estava deitado sob uma pequena cama de pedra.
— Não tem nenhuma luz aqui?
Quando fiz esta pergunta o quarto de pedra se iluminou. Foi como se entendesse o meu comando.
Várias tochas se acenderam sozinhas. Como? Eu não sei.
— Mas que negócio vermelho é esse no meu corpo? — questionei, ao perceber que estava todo coberto por um líquido estranho.
Resolvi passar um de meus dedos sobre ele, só pra conferir algo.
— Isso é sangue… — murmurei, lambendo. O gosto era característico, mas não me incomodava.
Mesmo o fato de estar todo coberto daquele líquido viscoso não foi o que mais me surpreendeu. Isso pois, quando enfim pude enxergar o local em que estava, percebi que não era uma cama e sim uma banheira!
— Haha! Uma banheira de sangue…. Nunca mais bebo pinga de banana!
Pra confirmar se aquilo era de fato um sonho, belisquei o braço.
Blig! Clic!
— É… parece que eu não estou sonhando. O que torna tudo isso preocupante.
Fui desperto de meus devaneios por sons de passos. Eles vinham do outro lado da parede.
Slam! Slam!
A enorme pedra que estava sobre a saída se abriu e o que eu vi em seguida sim me surpreendeu.
— Bem-vindo a Ark, quarta geração! — Uma voz firme e solene cumprimentou.
O dono dela era um jovem com olhos azuis e longos cabelos negros. Ele trajava uma túnica vermelha e tinha um rosto meio pálido, mas muito bonito. Pelo seu semblante, presumo que tenha mais ou menos a minha idade.
Olhando além, vi que liderava um pequeno grupo.
Tinha um homem mais velho vestido com um robe de seda. Além dele, outras duas pessoas com armaduras também os acompanhavam, provavelmente os guardas do rapaz.
Curioso, perguntei:
— Quem é você e onde eu estou?
Ele então se aproximou de mim com um olhar calmo e falou:
— Sei que tem muitas perguntas, mas que tal vestir alguma coisa primeiro? Você está completamente nu agora.
Olhando para baixo, reparei que ele estava correto. Bem, parece que muita coisa aconteceu depois daquela pinga de banana.
Dessa forma, primeiro usei a toalha que eles me deram para me limpar. Fui bem rápido. Em seguida, vesti uma roupa qualquer. Fiquei feliz ao saber que elas existiam nesse mundo também.
Analisei por uns instantes o conjunto de blusa, calça e sapatos que recebi.
No momento, até passou pela cabeça de me questionar o porquê de eu estar tão calmo. Nem parece que tive aquele dia horrível de ontem e que agora estou em um mundo desconhecido, banhado de sangue. Enfim, melhor ver isso depois.
Após me trocar, os quatro voltaram novamente para o pequeno quarto de pedra. O rapaz de cabelos negros então falou:
— Você deve ter muitas perguntas agora, quarta geração. Então tentarei explicar de maneira breve…
Ele parou por poucos segundos, preparando a aula introdutória.
— Você está em Ark agora. Um mundo diferente, de fantasia e magia.
Quando ele falou a palavra “magia” eu fiquei estarrecido, porém animado.
“Wow! Parece que toda aquela cena não foi um simples sonho”, pensei naquela hora.
— Você disse que eu sou a quarta geração. O que isso deveria dizer? — perguntei com o olhar curioso.
Ele deve ter reparado meu ceticismo.
— Veja, você deve ter recebido algum objeto com esse símbolo. Certo? — perguntou, apontando para o broche em seu peito.
Ao ver aqueles três dragões, só pude me lembrar da pequena caixinha carmesim que recebi de herança do vovô.
— Sim, eu recebi uma dessas — afirmei. Já tinha me levantado da cama àquela altura.
— Pois bem. Nós ainda não sabemos como, mas esses objetos nos trouxeram pra cá — explicou.
— Okay, mas o que isso tem a ver com gerações?
Por causa do questionamento, ele deu início a uma longa explicação:
— Nós atualmente estamos em uma grande caverna. E nessa caverna há diversas câmaras internas como essa aqui.
Eu ajeitei meu cabelo enquanto ele continuava. Estava bem mais longo, aliás.
— Existem cento e cinquenta e uma câmaras aqui. E, como você mesmo deve ter presumido, pessoas dormiam dentro delas.
A explicação continuava e nós andamos para fora do pequeno quarto.
A primeira coisa que notei foi um grande ambiente oval, com várias entradas abertas nas laterais dos aposentos. Basicamente, elas eram iguais às do meu quarto. Além disso, também tinha um enorme pátio no meio.
Uma coisa que me impressionou foi que na frente da porta de cada uma havia um pequeno riacho, ainda com resquícios de um líquido vermelho.
Esses riachos estavam ligados à grande fonte no centro do pátio. Ela já estava seca, mas eu podia imaginar o que saía de lá.
E como se adivinhasse meus pensamentos, o rapaz balançou a cabeça em negação.
— Você deve estar curioso sobre todo esse sangue, né? Eu vou continuar, assim você entenderá.
Ele fazia gestos e gesticulações enquanto falava, parecia bem natural, como os políticos da Terra.
— Há cerca de cento e sessenta anos atrás, os primeiros cinquenta de nós despertaram. Eles são a primeira geração, os fundadores do nosso Clã Dragonark! — disse com alto tom.
Estava claro que ele estava bem animado agora, enquanto continuava:
— Cinquenta anos depois, mais cinquenta despertaram. Eles são a segunda geração de linhagem pura do clã…
Essa “linhagem pura” deve ser a tal herança que a voz falou. Não sei se acho isso legal ou perturbador — no momento sinto um pouco dos dois.
— Dez anos atrás, minha geração despertou. Nós somos a terceira geração. Aliás, eu me chamo Timoty Dragonark e sou o terceiro a assumir a liderança do clã.
— Prazer, Timoty! Eu sou Pedro Rios.
— O prazer é meu, Pedro. Aliás, você sozinho é a quarta geração. O que é… bem incomum. — Ele não fez questão de esconder sua dúvida.
Após os cumprimentos, Timoty me contou diversas coisas.
O Clã Dragonark tem linhagem mista de dragões e alto-humanos. Só por aí já dá pra perceber que não são fracos.
Esses cento e cinquenta e um, contando comigo, são todos da Terra. Além disso, parece que todos também receberam essas heranças e, ao acioná-los, vieram pra cá.
Pelo que Timoty contou, Ark é um mundo incrível! Aqui a magia existe e os países estão sempre em uma constante luta por poder e glória.
Felizmente, o Clã está estabelecido em uma grande ilha no extremo oeste, fora do Continente e longe das frentes de batalha. Suspeito que tenha algo mais aí que ele não contou, mas ainda não dá pra confirmar.
A única coisa que me deixou confuso foi o fato de eu provavelmente ter dormido por cento e sessenta anos. Aliás, também tem uma outra coisa; Timoty deu a entender que nossa estrutura genética foi modificada, certo?
Isso mais o fato de estarmos apagados por tanto tempo deveria me perturbar, mas por incrível que pareça eu não me importo. Como há alguns momentos atrás, me sinto calmo como uma lagoa sem vento.
Quer dizer… eu gosto muito de mamãe e da minha família, meus amigos também são legais e eu tinha um bom emprego, mas…
Depois que o treinamento acabou, que deixei o exército e terminei a Faculdade, sinto como se meus objetivos tivessem todos sido concluídos.
Normalmente era o vovô quem me dava mais objetivos e agora que ele morreu, eu… ehr… como suspeitei, ainda é difícil falar sobre isso.
Enfim, vamos só viver e ver no que dá.
— Antes de irmos até os anciões, vou te falar uma coisa importante — disse Timoty, interrompendo de novo meus pensamentos. Seu olhar estava divertido.
Vendo isso eu fiquei curioso, aí ele se virou para mim e explicou:
— Os anciões provavelmente vão testar você e montar uma ficha com base nas suas habilidades. Tipo essa aqui…
Ele então bateu no broche que estava sobre seu manto e um holograma, com uma série de informações, apareceu.
Nome: Timoty Dragonark /Clã Dragonark | Raça: 50% Alto-Humano/ 50% Dragão de Sangue |
Atributos | |
Força: 780 | Inteligência: 3500 (+100) |
Destreza: 910 | Sabedoria: 1950 (+50) |
Constituição: 910 | Carisma: 105 |
Vida: 2600/2600 | Estamina: 1690/1690 | Mana: 5600/5600 |
— Esses atributos aumentam conforme você vai treinando, melhorando suas habilidades e se fortalecendo — falou, apontando para o holograma.
— Tipo num jogo? Matando monstros e coisas do tipo? — perguntei.
— Mais ou menos, mas isso também serve.
— Haha! Isso vai ser divertido — comentei, enquanto dava um largo sorriso.
Nós já estávamos prestes a sair da caverna naquele momento, juntamente aos dois guardas e ao velho que se apresentou como “Secretário-Chefe” do Clã, quando Timoty me parou. Ele manteve um olhar sério enquanto explicou:
— Mas não vá pensando que isso é a mesma coisa que um jogo. Por favor!
— Como assim? — questionei, um pouco confuso.
— Simples, isso aqui é o mundo real. Você pode morrer aqui!
Tá bom, eu admito que por essa eu já esperava e por isso mesmo não falei nada em discordância.
— Esse broche é pura tecnologia e especulação, apenas traduz a realidade em números. Não confunda a vida real com um jogo!
Isso foi sério. Um sermão sério. E olha que nem fiz nada ainda.
— Eu estou te advertindo, pois já ocorreu de alguns membros da geração passada confundirem as coisas. Infelizmente, o resultado disso não acabou muito bem…
Ao ver aqueles olhos amargurados, deduzi que o “incidente” citado por Timoty era mais complicado do que parecia a princípio. Será que alguém morreu?
Bem, não é bom ficar reabrindo antigas feridas, né? Vida que segue!
Após aquela breve introdução, fui levado até os anciões. Admito que estou ansioso por isso…