Sangue do Dragão Ancestral - Capítulo 10
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- Capítulo 10 - Salgando a boca de alguns nobres safados
O sol raiou forte acima de Gloomer, no dia do grande evento de recepção na mansão do prefeito…
Dois homens estavam posicionados na frente do salão. Eles recebiam e anunciavam os convidados.
— Lorde Prefeito e Sua Graça, o Grão-Duque, acabam de chegar!
Escutando o anúncio dos porta-vozes na entrada do Salão, os convidados imediatamente interromperam o que estavam fazendo.
A verdade era que eles queriam analisar como estava o jovem Grão-Duque depois de sua visita às vilas e terras dos lordes menores das redondezas.
— Minhas leides, meus lordes, eis aqui lorde Edward Willblood, da família real! O Grão-Duque do Oeste! — exclamou o prefeito, em um tom claro de reverência e bajulação.
Ele então se virou na direção de Pedro e Beto, dizendo:
— Também apresento a vocês estes dois jovens senhores, acompanhantes de Lorde Edward!
Desta vez o prefeito foi menos empolgado em sua fala. Consequentemente, esse tom menos bajulador e os olhares de dúvida nos olhos daqueles aristocratas fizeram Pedro rir internamente. Ele provavelmente estava pensando em algo maldoso.
— O prazer é todo meu, meu grande amigo prefeito! — respondeu Pedro, fazendo questão de enfatizar a palavra “grande” quando se referia ao prefeito.
Entretanto, apesar das peripécias do garoto e de seu tom jocoso, Collins não demonstrou nenhuma reação externa. Ele queria ter certeza de quem era o garoto primeiro. Mas era certo que por dentro sua fúria crescia.
Os nobres presentes também perceberam a provocação do rapaz, mas evitaram demonstrar qualquer reação, com o intuito de não ofender o prefeito.
O banquete então continuou, com os nobres aristocratas vindo em hordas para cumprimentar Edward.
Por isso, Pedro e Beto acabaram ficando de lado, não recebendo mais tanta atenção.
A verdade era que os nobres não pensavam muito alto deles, visto que sequer foram anunciados corretamente na entrada. A conclusão óbvia era que os dois jovens não passavam de personagens menores, não muito dignos de sua preciosa afabilidade.
As filhas desses aristocratas já não pareciam pensar assim, entretanto. Quando eles inocentemente adentraram a área destinada às damas, foram imediatamente cercados por uma trupe de mocinhas curiosas.
Como uma e-girl moderna diante de um novo ídolo do k-pop, elas correram para stalke… ou melhor, “interrogar”.
— Qual é o seu nome?
— Que idade você tem?
— Você tem esposa? Noiva? Quantas?
O rapaz já era bonito na Terra, era verdade. Mas acabou com uma aparência semi-celestial depois de acordar na banheira de sangue. A pele ficou mais lisa, os olhos mais fúlgidos, as olheiras de sono sumiram e seu corpo ficou naturalmente esbelto e definido.
Essa aparência obviamente despertava a atenção das raparigas que o viam.
Era apenas uma pena que até agora ele simplesmente não teve a chance de se aproveitar dessa dádiva. Mas isto estava prestes a mudar.
Pedro estava na seca, não ia perder a chance. Não era de seu feitio.
Assim, enquanto recebia o toque sutil de uma daquelas garotas namoradeiras, Pedro decidiu retornar o gesto, piscando de um modo encantadoramente forçado para todas que estavam dentro de um raio de 10 m.
— Olá, garotas! Eu me chamo Pedro, tenho vinte e cinco anos e não, eu não tenho esposa. Mas isso pode mudar em breve. Hehe…
— Oh! Então você estaria atrás de uma esposa? Está né?! — perguntaram as garotas, com um tom que parecia mais uma afirmação.
Enquanto a maioria das belezas se ofereciam a Pedro, Beto também não ficou pra trás, com alguns “partidos menores” tentando puxar assunto com ele.
— E você, como se chama? Tem namorada?
Mas Beto simplesmente sorriu e as ignorou. Parece que ele não tinha tanto interesse por jovens damas, apenas ficando ao lado de Pedro como um servo fiel.
Por óbvio que os jovens nobres do sexo masculino, filhos daqueles aristocratas, acabaram percebendo a excessiva concentração de donzelas nobres ao redor daqueles dois recém-chegados.
Alguns minutos se passaram e foi dito e feito. Isso aconteceu e, neste momento, vários daqueles nobres invejosos estavam armando sua vingança.
— Ei, Rukie, olha só aqueles caras. Eles estão roubando nossas presas! — Apontou um desses moços aristocratas.
— Eu percebi. Esses lixos nem foram anunciados corretamente e já se acham em tal direito! Vamos ensinar uma lição pra eles!
— Isso mesmo! — respondeu outro jovem rico.
O outrora pequeno grupo recebeu apoio instantâneo. Desse modo, a maioria dos rapazes do salão estavam conspirando juntos. Eles estavam refletindo em como iam fazer para humilhar os dois novatos.
— Isso, você vai lá e derrama o vinho batizado no de cabelos castanhos. Nós vamos acusá-lo de mal gosto e dizer que ele fede. Isso vai acabar com a reputação dele! Hehe! — exclamou um de cabelos verdes.
— Tudo bem, Rukie, mas você tem que jurar me proteger se aquele bundão do Edward tentar me ferrar.
— Hump! Aquele filhinho da mamãe deve estar com muitos problemas pra se preocupar agora! E ele precisa do apoio do meu pai, não vai ousar fazer nada. Fique calmo — tranquilizou Rukie.
Se sentindo mais confiante, o jovem iniciou a conspiração, preparando o “vinho” para o ato criminoso.
Alguns minutos haviam se passado assim, antes que os enciumados iniciassem o ardil.
Caminhando lentamente até o bando de garotas, o rapaz franzino segurava um grande copo de bebida quente na mão, enquanto se espremia para se aproximar de Pedro.
— Sim, Simone, eu adoro vinho branco. Mas por outro lado tenho que admitir… Não tenho boas histórias envolvendo pinga de banana. Haha!
— Ó, lorde Pedro, e o que seria essa “pinga de banana?” — perguntou a garota, forçando uma atitude inocente.
— É mesmo, eu não consigo imaginar o Lorde Pedro bebendo algo que não seja vinho do mais alto calibre. Hehe…
Ouvindo a conversa divertida e os risinhos meigos das jovens damas, o rapaz com o vinho na mão se distrai por alguns momentos. Seu ciúmes o fez se desconcentrar.
Destarte, aquilo acabou dando tempo suficiente para Beto perceber a ameaça.
Pedro também percebeu ele ali, mas resolveu simplesmente ignorar.
“Bastardo! Agora você é meu!”, ou assim pensou o meliante, antes de se posicionar para atirar “sem querer” o vinho no rapaz.
Splash! O líquido voou. O que ele não contava era que Pedro desviaria com seus reflexos sobre-humanos, puxando em seus braços uma das jovens que o acompanhava.
Tink! Puf!
— Você tá bem, minha doce Rebecca? — perguntou à jovem beleza em seus braços. Ela tinha olhas lindos, embora estivesse um tanto corada.
Devolveu um aceno tímido a ele, morrendo de vergonha por dentro, mas sem dúvida adorando a situação.
— Ei, você aí! Por que tentou derramar vinho na Rebecca? — interrogou.
Ao ver aquele dedo apontado para si, o jovem meliante se assustou brevemente. Se lembrando do plano, todavia, ele logo conseguiu se recompor.
— E-eu?! Eu não fiz por querer! Você está me acusando erroneamente de propósito!
Percebendo a deixa, Rukie decidiu entrar em ação.
— O que está havendo aqui, Lihu? Por acaso esse ninguém está te acusando?
Escutando a intimação, a tez de Pedro pulsou por um breve momento. Aquele idiota por acaso tentou humilhá-lo?! Ele, um ex-militar, membro de uma das famílias mais ricas da Terra e, agora, de Ark também.
Assim, logo que o encarou para socá-lo, reparou no monte espetado acima do rosto de Rukie.
Aquele cabelo diferenciado o fez perder a concentração. Ele simplesmente desistiu de tudo e começar a rir. A rir muito e muito alto.
— Hahahaha! Hahahaha! Que otário — disse, não escondendo seu tom malicioso. — Você viu isso, Beto? Esse cara não parece muito com uma palmeira? Uma palmeira falante! Puft! Isso não é hilário? Hahahahaha!
— Sim, meu senhor! De fato, muito hilário! Ha, ha, ha! — respondeu Beto, forçando uma risada de forma completamente amadora e robótica.
Foi o suficiente para deixar o rapaz palmeira vermelho de raiva. Ele quase deixou suas folhas caírem.
— Ora, seu… Hump! Foi você quem pediu! Lihu, ensine ao indigente uma lição — ordenou Rukie.
O jovem franzino então se adiantou para fazer um ataque frontal a Pedro. Contudo, antes que sequer tivesse a chance de fazer alguma coisa…
Pah! Splim! Pah! Vários sons de socos preencheram o ar e o cheiro de sangue fresco adentrou à força pelas narinas das pessoas ao redor.
Quando enfim os golpes cessaram, os outros do bando perceberam a gravidade de seu erro.
Hematomas foram deixados por praticamente toda a extensão da pele que ainda cobria o pobre Lihu. Sangue escorria por todas as cavidades. O jovem até queria chorar, mas simplesmente não conseguia.
Estava paralisado pelo medo, de joelhos abaixo do ser de rosto frio e cabelos encaracolados.
— Meu senhor, eu irei eliminá-lo agora — falou Beto, colocando as mãos nuas ao redor do pescoço do jovem franzino em sua frente.
— Não, Beto. Falei para o Ed que não mataria ninguém hoje. Deixe isso pra outro dia — disse, sem muita emoção.
Beto então largou o pescoço do adversário esfarrapado, que imediatamente desmaiou depois.
Poft! Fez o corpo ao cair no salão.
— Você tem muita sorte. — Beto virou seu olhar assassino ao mandante de cabelos verdes.
Sentindo a frieza da morte percorrer sua espinha, o jovem nobre engoliu a seco a própria saliva, se segurando fortemente para não deixar um líquido amarelo vazar por suas pernas. Ele estava tremendo de medo.
Mas antes que Beto tivesse a chance de fazer qualquer coisa uma outra voz apareceu, interrompendo o ato.
— O que está acontecendo aqui?! — Era Collins, o prefeito. O homem percebeu o tumulto e decidiu intervir.
— Oh, o grande amigo apareceu novamente! — exclamou Pedro, ressaltando novamente a qualidade de Collins. — Mas fique tranquilo, não é nada demais. O Beto aqui só tava ensinando ao mimadinho ali que um gato não deve caçar briga com um tigre.
Dessa vez o prefeito não resistiu e acabou fechando a cara. Ele queria dar uma resposta mais dura ao jovem amigo de Edward, mas não o conhecia ainda e preferia não fazer nada arriscado.
O prefeito realmente demonstrou ser um homem bem cauteloso, como Edward alertou.
— Jovem Rukie, o que houve aqui? — perguntou.
Vendo que o apoio chegou, o moço palmeira deixou a tremedeira de lado e decidiu utilizar suas credenciais nobres junto ao prefeito para se fazer de valente outra vez. Foi de oito a oitenta em menos de dois minutos.
— Lorde Collins, esse ninguém estava ameaçando o pobre Lihu com suas palavras grosseiras e os punhos de seu servo!
— Isso é verdade? — questionou o prefeito, encarando Pedro.
— Humfp! Eu apenas fiz uma pequena constatação, um comentário inocente, essa árvore ambulante quis partir pro pal. Era apenas natural que perdesse algumas folhas. Hehe! — Ao responder, ele fez questão de usar o mesmo jogo malicioso de antes.
Como todo advogado — ou víbora — ele sibilou, mordeu, jogou o veneno e depois sibilou de novo. Rukie já tinha ficado vermelho de raiva, de novo. E o prefeito também não parecia muito feliz.
Todavia, a comoção também chamou a atenção dos outros convidados presentes, que se aproximaram para ver o que estava acontecendo.
Foi quando Edward finalmente percebeu ao que Pedro estava se referindo quando disse que iria “pôr sal na boca dos nobres safados” e resolveu que já era hora de acalmar os ânimos dos envolvidos.
Pah! Pah! Batendo palmas algumas vezes, o suserano conseguiu chamar a atenção da multidão de vassalos e súditos para si.
— Meus lordes e leides, chegou a hora de fazer o anúncio prometido — disse ele, caminhando até a sacada superior do salão.
Chegando lá, olhou fixamente para o rapaz de cabelos castanhos, que voltou a se posicionar novamente no centro da multidão feminina.
Pedro percebeu aquilo, enviando uma piscadela traquina como resposta.
O jovem grão-duque ficou perdido por alguns segundos, chocado. Esta foi a primeira vez que ele se perguntou se conhecer Pedro foi de fato uma dádiva ou uma maldição. A primeira de muitas.
No fim ele decidiu deixar pra lá. Balançou a cabeça para fazer cessar seus pensamentos e decidiu continuar.
— Lorde Pedro, por favor, se aproxime — ordenou
— Aqui estou, meu caro Edward!
O grão-duque alisava sua barba rasa enquanto acenava positivamente em resposta. E assim, apoiando as duas mãos sobre o parapeito da sacada, ele usou alguns segundos como preparação para o anúncio.
— Atenção a todos! Eu, Edward Willblood, na condição de Grão-Duque do Oeste, de agora em diante nomeio lorde Pedro como meu conselheiro e lhe transmito os poderes necessários para que transforme a região Oeste de Mea em um lugar melhor! Um lugar que meu pai-real, Sua Graça, aprecie e gratifique!
Olhando fixamente de volta para Edward, Pedro forçou uma postura séria, liberando sua resposta.
— Eu aceito o desafio, Edward Willblood, Lorde do Oeste e em breve de toda Mea!
Todos os aristocratas ficaram surpresos com aquilo. E assim, mais rápido que um Bugatti Chiron, os sussurros começaram.
— Quem é esse rapaz arrogante? — questionou um nobre.
— Como Lorde Edward o conheceu? O que ele está pensando, dando-lhe plenos poderes assim?!
— Sobre isso, eu soube que ele o conheceu durante a emboscada da vila. Parece que ele o ajudou a resistir à invasão!
— O quê?! Foi ele? Mas como ele fez para superar a diferença de números? — perguntou um dos aristocratas.
— Isso eu não sei. O Lorde não permitiu que os oficiais divulgassem informações. Tudo o que sabemos são informações imprecisas e ilogicamente aumentadas dos civis.
— Ilogicamente aumentadas? — questionou outro aristocrata.
— Sim. Do tipo: “o homem de cabelos encaracolados destruiu duas catapultas com as próprias mãos”; ou, “o jovem nobre, amigo de Lorde Edward, arrancou o coração de um homem com o próprio punho”.
— Muito ilógico! — Deveras ilógico! — confirmaram os nobres.
— Mas mesmo que ele tenha vencido, e daí? Eram só mercenários mal treinados, afinal!
A maioria dos aristocratas simplesmente não queria acreditar na veracidade das informações dadas pelos aldeões.
E mesmo assim, aqueles que não duvidaram ainda pecaram ao subestimar o rapaz. Disseram que apenas lidou com um bando de farrapos mal treinados, liderando de forma relativamente estratégica a guarda da cidade.
“Eu também poderia fazer isso! Não é nada tão impossível assim!”, era o que pensava a maioria daqueles velhos soberbos.
Suas jovens filhas, por outro lado, acharam aquela situação incrível e agora já estavam se espremendo ao redor de Pedro novamente.
— Lorde Pedro… ou melhor, Lorde Conselheiro agora. Isso é incrível! Rsrsrsrs…
— Por favor, Lorde Conselheiro, compareça no meu chá amanhã à tarde! Eu moro na mansão amarela aqui do lado — pediu uma das garotas.
— Lorde Conselheiro, eu e Rebecca gostaríamos de convidá-lo pra…
Em meio à multidão de beldades se oferecendo, Pedro não pôde deixar de suspirar internamente. “Oh meu Deus! Por acaso eu estou no paraíso? Déficit tecnológico é o máximo! Haha!”
Ele adorou aquilo. E em seu intimo sabia que poderia ficar horas sendo paparicado pelas garotas. Infelizmente, contudo, tinha compromissos urgentes e por isso tinha que interromper sua conversa agradável.
Bom, ao menos era isso que ele deveria fazer. Quanto ao que de fato fez…
— Garotas, por favor, “Lorde Conselheiro” é só praqueles velhos e os que ainda não são íntimos. Vocês belezas podem me chamar só de Pedro, ou inventar um apelido para mim, o que acham?
— AAAAA! O Lorde disse que nós somos íntimas dele! Vocês viram? — exclamou energicamente uma garota lunática.
— Pe-Pedro! Eu consegui, chamei o Lorde pelo nome! AAAAA!
— Eu vou dar um apelido carinhoso para o Pedro! — exclamou uma das garotas.
— Não! Eu vou dar pra ele! — respondeu outra garota.
— Não! Sou quem vai dar primeiro!
Em meio àquela luta de palavras extremamente ambíguas das jovens filhas dos aristocratas, Pedro se deliciava internamente. Pelo sorriso descarado que deu, ele adorou seu novo fã-clube.
“EU ESTOU NO PARAÍSO! HAHAHAHA!”
Ninguém consegue controlar um jovem na puberdade. É como tentar parar um trem bala com um sinal, algo impossível.
Enquanto isso, do outro lado do salão, um jovem de cabelos negros e olhos violeta olhava tudo aquilo complacentemente, se perguntando no que raios ele se meteu.
Passando seus olhos pela multidão de garotas abaixo da sacada, em seguida pelos os jovens extremamente enciumados ao redor delas, pelo prefeito irritado, e por fim pelos os Lordes aristocratas com caras de tacho, Edward suspirou profundamente.
— Isso vai ser muito difícil… Ahr…
— Eu espero que Lorde Pedro saiba o que está fazendo — comentou o velho ao lado de Edward.
— Eu também, Mark, eu também…