Sangue do Dragão Ancestral - Capítulo 101
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- Capítulo 101 - Uma lança e chamuscadas são melhores que uma Valmet 7.62
Pedro pegou a lança de um dos cavaleiros e partiu para cima dos rinocerontes, enquanto Edward olhava pasmo à distância, sem saber o que faria. À sua volta, dezenas de guardas se posicionavam, apressados para tirá-lo de lá.
“Esses infelizes não vestem armaduras sozinhos, então deve ter um mestre domador ou algo assim”, pensou, posicionando a arma.
Não demorou para que Dalila, a égua mansa, sentisse medo. Ela diminuiu o passo, apenas mantendo a posição por medo das chicotadas e pauladas de Pedro.
— Vamos, vamos… Quem é uma boa menina?, quem é?
Os afagos e elogios não pareciam ter efeito naquele momento crítico. O animal não iria mais rápido que aquilo. E a essa altura ele desconfiava que mal os oponentes chegariam, ela recuaria rápido, dando um giro de 180 graus para trás.
— Tsc! Égua inútil.
Pedro decidiu abandonar o animal, por fim. Dando um salto poderoso enquanto sua companheira fugia. Contudo mal ele caiu, o primeiro tank chegou para reduzi-lo a mil pedaços de si mesmo.
Foi então que o primeiro choque veio. Um balanço da lança fez o rapaz voar por cima da crina do animal, pousando um pouco acima do pescoço carnudo.
Aquilo foi de propósito. A região entre o pescoço e o tronco era a única totalmente desprotegida. Rinocerontes atacam com cabeçadas, então precisam de espaço vazio entre as articulações. E foi bem nesse lugar que Pedro atacou.
O animal relincou e chiou com a estocada da lança em seu pescoço, movendo-se violento na intenção de retirar o parasita humano de seu corpo.
Se Pedro não fosse um dragonark e não tivesse a força para derrubar um rochedo com um chute, talvez tivesse funcionado. Infelizmente para o pobre rinoceronte, aquele não era o caso.
— Vamos, maldito! Aceite meu comando e mova-se pra frente, ou eu queimarei sua bunda fedida.
Como se pressentindo o grau da ameaça, o animal lutou contra o humano com todas as forças. Isso até sentir um calor inexplicável na região traseira do corpo.
De forma disfarçada, o jovem baronete deixou que o fogo encobrisse-lhe a mão livre, a que não segurava o cabo da lança, e chamuscou o rinoceronte. Não uma nem duas vezes, mas ao menos uma dezena.
Pedro percebeu que sempre que chamuscava alguma região do grandalhão, ele se movia na direção contrária. E assim ele assumiu o controle da montaria, enquanto os outros companheiros do oeste o observavam, admirados e com medo escancarado nos rostos.
O fato de ele ter demorado cerca de vinte segundos para fazer isto tudo pode ter contribuído para as fofocas que decerto sobreviveram.
— Pois bem, maldito. Vamos até seu mestre.
Notando que o rinoceronte líder dera meia volta, os outros diminuíram a passada. A rinoceronte líder seria melhor, já que um grupo desses animais antissociais só seria possível entre uma fêmea e suas crias. Pedro não sabia disso, é claro. Foi um golpe de sorte ter capturado a mamãe.
— Vamos, maldito! Estou ansioso pra ver quem foi o salafrário da vez.
A rinoceronte mãe chiou forte, torturada mais uma vez. Pode ser que isso tenha tornado os outros mais ariscos, pois corriam ainda mais velozes atrás dela.
Não demorou muito para que ele localizasse os inimigos. Um grupo de dezenas montava guarita à leste, num cume alto que ficava a 400 metros da estrada principal.
Sentinelas o avistaram. Logo o alarme soou e muitos homens com balestras e lanças se posicionou na encosta. Como que para tentar impedir o ataque, eles armaram rápido pontas de ferro que haviam trazido, espalhando-as pelo chão.
Foi então que, atingindo a marca de 100 metros e já tendo desviado de três ou quatro setas pontiagudas das balestras, Pedro abandonou a montaria, retirando a lança e pulando do animal.
A fêmea relincou de dor outra vez, indo furiosa rumo à guarita que a pouco a libertou. Foi um massacre.
Apesar de as estacas de ferro terem surtido algum efeito, a maioria dos rinocerontes empalou quatro ou cinco sentinelas inimigos antes que perdessem o movimento das patas ou que alguma seta ou ponta de lança desse a sorte de perfurar algumas de suas partes vitais expostas.
— O feitiço se virou contra o feiticeiro, em… — comentou Edward com seus vassalos e oficiais, à distância.
Os adversários que não morreram pelos chifres dos animais, o fizeram pela lança emprestada de Pedro. Cabeças rolaram e vísceras foram espantadas. A morte beijou aquele grupamento inimigo, rejeitando apenas um sentinela que teve o desprazer de ser capturado pelo lanceiro demoníaco à frente.
— Bom, talvez uma boa lança e a quantidade certa de chamuscadas sejam mais eficientes que uma velmet 7.62.
Naquele mesmo dia a comitiva de Edward descobriu duas coisas muito interessantes, com o potencial de mudar para sempre seus futuros.
A primeira era que estavam sendo atacados, não por bandidos, nobres corruptos ou por Simel dessa vez, mas sim por outro país. Pois o inimigo apreendido era eburoviano e não escondeu por mais de dois minutos de interrogatório sua verdadeira identidade de membro do exército real.
A segunda foi que os boatos sobre a natureza maligna do jovem baronete estrangeiro de Edward não condizem em nada com a realidade, na prática ele era muito pior!
— Precisamos nos apressar — disse o grão-duque, preocupado.
Se Eburove tinha informações tão precisas quanto a saber que rota o filho do príncipe tomaria rumo à capital, bem como poder de fogo ao ponto de ter animais exóticos domesticados e treinados para a guerra, então não hesitariam em os subjugar o mais rápido possível.
Tempo era mais escasso que ouro naquele momento.
Apesar disso, a égua mansa do baronete não colaborava. Não fosse a situação tão crítica, e o rapaz tão sanguinário, os ali presentes se atreveriam a rir das tentativas frustradas do rapaz em acalmar a equina.
— Vou domesticá-la com pauladas e fogo, do mesmo jeito que fiz com o rinoceronte. Teste pra ver!
Percebendo que os rinocerontes e sentinelas acabaram com a paciência diária de seu mestre, a égua decidiu colaborar. Ela não ia correr o risco de ter o traseiro queimado, por mais que não compreendesse o perigo a que estava submetida. Era seu instinto animal falando alto, talvez.
Qualquer fosse o motivo, a comitiva teve um avanço rápido rumo ao objetivo final. Eles se dividiram em dois grupos, já que o grão-duque ordenou que velhos, mulheres e nobres mais fracos retornassem com as carruagens e parte da guarda para Jamor.
Apenas avançariam aqueles que tivessem como se mover rápido, bem como uma espada em mãos e a capacidade para lutar caso fosse preciso. A necessidade agora era velocidade.
E assim, uma viagem que duraria ao menos uma semana terminou em três dias e meio.
Talvez fosse a presença de Pedro, ou talvez apenas “sorte”, mas eles não encontraram nenhum contratempo depois daquele ataque.