Sangue do Dragão Ancestral - Capítulo 2
Após terem deixado aquela grande caverna, o grupo de Timoty acompanhou Pedro por uma lúdica floresta tropical.
— Cara, isso aqui parece um cenário de filme — comentou o jovem de cabelos castanhos, com um olhar de alento.
— Você ainda não viu nada! Essa é apenas a Cidade Ancestral, o subúrbio. A cidade Dragonark é ainda mais incrível — esclareceu Timoty, um tanto eufórico.
Eles então conversaram sobre trivialidades, parando ao se aproximar de uma construção. Ela era antiga e bem ampla, muito similar a um templo grego em ruínas.
Lá haviam várias pilastras brancas, mas o que surpreendeu Pedro foram os orbes flutuantes que pairavam sobre elas. Mais ou menos uma dúzia deles.
Ao se aproximarem, uma voz saiu do que estava no meio do templo.
— Saudações, quarta geração! Venha aqui e se apresente.
Seguindo as orientações daquele timbre grave e misterioso, Pedro se endireitou e se dirigiu retamente até o centro, dizendo rigidamente:
— Pedro Rios, 22 anos! Senhor! Quer dizer… er… Saudações ao ancião!
— Me desculpem, me desculpem! Eu esqueci de ensinar a etiqueta do Clã, erro meu, erro meu…
Vendo a apresentação ríspida e desengonçada de seu novo companheiro de Clã, Timoty se desculpou. Alguns dos orbes caíram na gargalhada.
— Hahahaha!
— Jovens… Isso me lembra quando sai da academia, senhor Bismarck era bem ríspido e queria que… — declarou um ancião, momentos antes de ser interrompido.
Cof! Cof!
— Mantenham a ordem nas ruínas sagradas, por favor!
Após aquela voz misteriosa restaurar a ordem no recinto, uma outra voz, de origem feminina, saiu do outro canto do salão:
— Ehr… esse é bem bonitinho. Cuide bem dele, Tinzinho.
— Sim, mestra — respondeu Timoty, olhando acertadamente para a voz que aparentemente tinha uma relação íntima com ele.
Depois disso, um outro orbe se pronunciou.
— Er… nada mal, nada mal. Parece que o tão esperado Quarta Geração realmente tem algum potencial!
Parecia que os anciões já tinham começado a analisar Pedro, até aquele orbe central voltar a se impor:
— Coloque um pouco de seu sangue sobre esse altar — instruiu-o.
Pedro assentiu e caminhou até o ao centro do Templo. Seu jeito estava meio rígido, como um recruta que acaba de ser convocado.
Ele cortou novamente o punho.
Alguns minutos depois, uma bola carmesim-ciana emergiu de lá. Ela era composta igualmente por duas cores: um azul-ciano claro e um vermelho-carmesim profundo.
— É de 50% Alto-Humano e 50% Dragão-Ancião! Como esperado, linhagem de grau zero.
Após o ancião pronunciar aquelas palavras, o silêncio reinou sob o recinto que outrora estava cheio de risos e sussurros. Alguma coisa aconteceu.
Após mais alguns minutos, contudo, a voz central quebrou essa atmosfera silente.
— Tudo bem, isso explica muitas coisas.
— Que coisas? — perguntou Pedro.
— Coisas que você não precisa saber por agora.
Cof… Cof…
— Continuando. Pelo grau da sua linhagem, você deve ter alguma habilidade inata, certo? Qual é?
— Habilidade inata? — perguntou o rapaz.
O jovem líder de cabelos cumpridos então decidiu se pronunciar em favor de seu novo compatriota.
— Vou te ajudar — disse, indo até ele e o ensinando a meditar. — Esvazie sua mente e veja qual é a primeira coisa que aparece lá. Algo similar a um sentimento, um sonho, qualquer coisa assim.
E ele assim fez. Se sentou em posição de meditação e tentou relaxar a todo custo. Mas nada parecia acontecer.
Entretanto, Pedro não desistiu e continuou a tentar esvaziar a mente de todas as distrações.
Alguns minutos se passaram sem sucesso.
Percebendo que o rapaz não conseguiria por si mesmo, as luzes brancas fizeram seu movimento. Elas então começaram a girar ao redor do garoto, transmitindo um pouco de sua energia para ele.
Não demorou muito e um grande redemoinho branco-luminoso se formou ao redor do rapaz.
Horas se passaram daquela forma, até que finalmente Pedro fosse capaz de sentir alguma coisa.
— Eu me sinto estranho, essa sensação é como se… como se minha mente estivesse oscilando. Ora frenética, ora devagar como uma lesma. Isso é incrível!
E um monte de informações começou a aparecer, tomando sua mente de assalto. Não eram memórias, nem conhecimentos, mas algo ainda mais profundo que isso. Não ia para o cérebro, e sim para o coração. Surreal.
E mais uma vez o silêncio reinou por alguns instantes naquele agora luminoso recinto.
— Grite!
— Vocês viram? O tecido espacial se deslocou. Vocês também sentiram?
— Sim! Isso mesmo… Foi como se o Cesá… — se corrigiu o ancião — digo, se o Grande Líder estivesse aqui!
As vozes aparentemente estavam discutindo algo importante, lembrando de um certo passado remoto. Até que a voz central os impediu:
— Calem-se! Deixe o garoto testar a habilidade. Vá garoto! Continue a acessar as memórias por trás dessa habilidade!
E ele assim o fez.
Depois de um tempo indeterminado, Pedro se levantou. Parecia que o ominoso e duro processo tinha terminado.
Naquela hora, dominado por uma vontade abismal de colocar para fora todo ar de seu peito, o rapaz se posicionou no centro do templo, puxou tudo o que conseguia armazenar nos pulmões e em seguida cuspiu o que estava em seu coração:
— Tiid KLo Ui!
Mas o que aconteceu depois foi chocante. As coisas começaram a se mover mais lentamente. As folhas estavam demorando mais tempo para cair e os movimentos de Timoty e seu grupo tinham ficado mais lentos também.
O tempo parou! Ou quase isso.
“Cara, que habilidade fantástica! O tempo parou mesmo!”, pensou. E percebendo que controlava o tempo, o rapaz tentou se movimentar pelo ambiente.
Ele deu dois passos, antes de perder o controle e ver tudo retornar à normalidade.
— Muito bem, a partir de agora eu declaro a existência do Quarta Geração como segredo de Estado! Ninguém fora daqui pode saber de sua existência até que o treinamento esteja completo!
Mas enquanto o rapaz comemorava, a voz grave do ancião estava encarando Timoty nesse exato momento.
Percebendo aquilo o jovem líder bufou algumas vezes, hesitante, antes de acenar em concordância.
— Tsc! Tudo bem, esse segredo não sairá daqui — declarou friamente.
Shiiiiiin! Shiiiiiiin! Shiiiiiin!
Três cortes limpos. E com suas mãos, Timoty fez três cabeças voarem dos corpos daqueles pobres funcionários.
Pedro ficou muito assustado ao ver aquilo. Ele matou mesmo três pessoas assim?! Só por saberem um “segredo de Estado”?
Mesmo já tendo sido militar, aquilo o deixou em choque.
E quem não ficaria?! Como raios podia um segredo custar três vidas assim?!!
Olhando para o jovem pálido e com o rosto abismado no canto do templo, Timoty proclamou:
— Espero que vocês guardem bem esse segredo…
Ele então balançou a cabeça e soltou um pequeno sussurro:
— Foi pelo sangue… — Era como se estivesse ainda se convencendo daquilo. Mas logo levantou o rosto e retomou o olhar sério, como se nada tivesse acontecido.
Essa demonstração de força e indiferença marcou profundamente o jovem de cabelos castanhos. Eles realmente matariam tão indiscriminadamente assim? Não tinham emoções?
— Você tem alguma inclinação rapaz? Algum tipo de cargo ou atividade que prefira? — perguntou uma das vozes, tirando Pedro do estado de inércia.
Ele ignorou os cadáveres no canto, como se aquelas três vidas realmente não valessem nada aos seus olhos. Aliás, aos olhos de todos eles, pois nenhum ancião falou nada ou pareceu se importar muito com aquilo.
Relutante, Pedro respondeu:
— Sou advogado, então me dou bem com coisas que envolvam leis, mas gostaria de conhecer esse mundo antes, sair por aí e me aventurar…
“E ir pra bem longe de vocês!”, completou em sua mente.
As vozes começaram a discutir entre si depois da resposta de Pedro. Uns achavam aquilo justo, enquanto outros argumentavam que ele deveria ficar e seguir o treinamento do clã, se preparando para assumir um cargo equivalente ao de sua linhagem. A conversa caminhava para um rumo intenso, até que…
— Você poderá fazer isso, mas vai ter que passar pela educação básica do Clã primeiro. E depois pelo treinamento marcial — disse o líder deles, sintetizando os dois lados.
Pensando em algo, o rapaz perguntou:
— Tudo bem, mas quanto tempo isso demoraria?
— Considerando sua linhagem pura e o talento inato que demonstrou, uns 6 anos…
Aquela resposta queimou suas expectativas de sair dali logo. Como assim 6 anos? Isso era muito tempo para o ansioso rapaz.
— Não tem nenhum jeito de melhorar isso não? Tipo, reduzir o tempo? — Seu rosto estava esperançoso.
Isso gerou uma nova discussão entre as vozes. Mas não demorou muito dessa vez. Isto pois um dos orbes, bem mais vívido e luminoso do que os outros, se posicionou na frente dele, dizendo:
— Jovem Pedro, você pode treinar a portas fechadas comigo por um tempo. Vou te ensinar pelo melhor método e te treinar nas artes que meu professor me ensinou. O que acha disso?
O tom dele era melodioso e gentil, Pedro se sentiu extremamente persuadido.
— Quem é o senhor? — perguntou.
— Me chamo Marcus, jovem rapaz.
— Hum… E quanto tempo eu demoraria para aprender tudo isso, senhor Marcus?
— Não sei dizer com total convicção agora, mas com base no talento que você demonstra ter, eu diria que uns 3 anos bastam.
— Três anos?! isso ainda é muito tempo — disse, resignado com a situação.
— Mas tudo isso depende da sua própria dedicação. Quanto mais esforço, menos tempo. Isso eu garanto!
Ao escutar aquilo, um forte êxtase bateu em Pedro. Se dedicar muito? Por um acaso esse senhor já experimentou fazer os vestibulares do Brasil? Aquilo sim exigia dedicação e ele conseguiu superar isso.
— Eu aceito seu desafio, mestre! — proclamou o rapaz, enquanto ficava sob um joelho à frente daquele orbe translúcido.
Não havia muito o que ele pudesse fazer, então essa foi a conclusão a que chegou. Melhor três anos do que seis.
Naquele momento, algo inédito aconteceu: o orbe se transformou em uma bela figura masculina, um tanto franzina e não muito alta, mas que exalava simpatia.
Era um holograma.
— Bem, com tudo definido, já é hora de encerrar a reunião do Conselho. Mas antes, eu devo lembrar ao Quarta Geração que mesmo quando estiver no mundo você deverá obedecer ao Clã. Ou seja, se te convocarmos pra fazer algo, você deve fazer! Nós de sangue puro somos uma família. Lembre-se disso: fazemos tudo pelo sangue.
— Pelo sangue! — proclamou um ancião.
— Pelo sangue! — responderam os demais. Marcus permaneceu silente, apenas observando.
Esse último assunto deixou Pedro ainda mais desconfiado, mas não teve coragem de contradizer as anciões. Na verdade não se tratava bem disso, era mais uma estratégia. Afinal, ele estava em um lugar novo do qual não sabia nada. Assim, melhor descobrir primeiro e decidir o que fazer depois.
“Em terra de cego quem é mudo vai aonde quer”, ou algo do tipo.
— Sim, sim! Senhor! As ordens são absolutas, senhor! — respondeu o rapaz por reflexo, ainda sem jeito.
— Ótimo! Se você precisar de qualquer coisa, apenas informe e providenciaremos. E Timoty, entregue pra ele um broche de grau 0, mas o faça parecer um de grau 1. Não se esqueça, devemos esconder a identidade do Quarta Geração a todo custo!
— Sim, ancião. Será providenciado — respondeu o jovem líder.
— Com isso eu declaro oficialmente encerrada a reunião!
Após o cessar daquela voz, todos os orbes sumiram, restando no templo apenas Timoty, Pedro e o holograma de Marcus.
Timoty encarou profundamente os olhos do novo companheiro de clã e então lhe entregou um sorriso sem jeito.
— Bem, você já começou me surpreendendo. Achei que iria reclamar e chorar a morte daqueles três, mas não o fez. Mas isso é bom também… Espero que possamos ser amigos, Pedro!
— Er… desculpa por seus subordinados cara, não sabia que…
Antes que pudesse terminar, o jovem de olhos negros o interrompeu com um gesto.
— Não se importe muito com eles, são só mestiços. Não tinham a verdadeira linhagem da nossa família, portanto não merecem sua compaixão.
De fato, esse papo de linhagem pura, mestiços e família deixou Pedro receoso. Ele decidiu que investigaria isso melhor no futuro.
— Tudo bem, já tá tarde e tenho um país para administrar. Adeus Pedro, te vejo quando o treinamento terminar. — Ele lhe deu um aperto de mão e então se virou a Marcus para fazer uma reverência: — Meus respeitos ao ancião!
O holograma assentiu e Timoty se retirou.
Após aquela estranha e rápida despedida, o holograma levou Pedro a um certo lugar. Não deu tempo para o jovem raciocinar sobre o ocorrido.
…
— Mestre, nós já chegamos? — perguntou o rapaz, ao reparar que o holograma parou de se mexer.
— Ah, não, não. Eu só parei porque vi algo muito importante. — respondeu Marcus, encarando um galho distante.
Essa era uma floresta muito densa. O que raios o holograma do mestre de cabelos longos e lisos estava olhando?
Pedro também teve essa dúvida e então decidiu procurar na mesma direção que seu mestre encarava.
— Ali! Tá vendo aqueles dois filhotes de mico? — perguntou o ancião de meia-idade.
O rapaz acenou em concordância e seu mestre então lhe falou:
— Pois trate de subir lá, sem assustá-los, e lhes dê algo pra comer! — ordenou Marcus, com um tom sério.
Ao olhar para aquela árvore gigantesca, Pedro teve uma certa ideia.
“Isso deve ser parte do treinamento, é claro!”
E com esse pensamento em mente, o rapaz de repente se calou e foi procurar comida.
Esgueirando-se por entre os arbustos, ele foi capaz de achar umas frutinhas coloridas. Depois de juntar algumas delas, Pedro foi em direção àquela grande árvore.
— Talvez seja porque eu sempre morei na cidade, mas caramba, que coisa gigante! — exclamou o rapaz, enquanto pensava em como ia fazer para escalar o gigantesco monte de madeira.
Enquanto isso, Marcus observou de lado, curioso e com uma expressão divertida no olhar.
Olhando em seus arredores, Pedro acabou encontrando duas pedras um tanto pontiagudas e então decidiu usá-las para escalar.
…
— O exército não prepara a gente pra isso, tá vendo vovô?! — murmurou o rapaz, enquanto se aproximava com muita dificuldade do meio do monte de madeira.
— Maldição! Aqui é muito frio, argh!
Após muitas horas de escalada e depois de várias maldições e xingamentos, o rapaz chegou ao seu objetivo.
Os micos então o encararam de forma curiosa. Na verdade, parecia que eles estavam olhando para os bolsos do rapaz, com os olhos cheios de expectativa.
— Que fofos! Aqui, toma miquinho, come tudo — disse o rapaz, estendendo as frutinhas coloridas para os micos.
Mas ao vê-las, eles simplesmente retraíram o olhar.
— Mas quê?! Como assim vocês não gostam de frutinhas?
Infelizmente, eles o ignoraram por completo. De modo que Pedro já estava começando a ficar irritado.
— Olha aqui, seus pregos, eu não tive esse trabalho todo atoa não! Cês vão comer esse negócio! — xingou alto, tentando fazê-los engolir as frutinhas à força.
Infelizmente, eles eram muito mais ágeis que Pedro, desviando repentinamente de todos os golpes do rapaz.
Um grande pega-pega começou no pequeno galho. O rapaz tentou capturar os micos, que sagazmente se esquivavam.
— Ah é? Seus pilantras! Vamos ver então! — Pedro parecia ter desistido de brincar com os micos. Na verdade, ele se lembrou da habilidade de mais cedo e tentou usá-la novamente.
E os miquinhos o encararam com estranheza quando fechou os olhos, ainda na árvore, se sentando em posição de meditação. Dois minutos depois e eles tinham começado a abaixar suas guardas, quando…
— Tiid KLo Ui!
O tempo parou. O vento soprou mais devagar e as folhas das grandes árvores demoravam a cair.
Os micos também foram afetados, seus passos diminuíram e Pedro logo os alcançou.
Tudo então voltou ao normal, mas os pequenos primatas agora estavam amarrados com cipós.
O rapaz de cabelos castanhos agora se preparava para alimentá-los. Seu rosto não escondia sua satisfação. Todavia, quando se aproximou dos micos…
— Ei! Rapaz, não dê isso a eles! Essas frutas coloridas são perigosas pra eles! — advertiu o holograma de Marcus, que estava ao pé da grande árvore.
— Ãn? E por que você não me disse isso antes mestre?! — perguntou atônito o rapaz.
— Ehr… erro meu, perdão — respondeu-lhe.
Após parar repentinamente, o rapaz decidiu soltar os animais.
— Ei, me desculpem, tá bom?! Não tinha como eu saber. Ninguém me falou nada, pô! — explicou Pedro, enquanto encarava de maneira solene os rostos cheios de resignação dos pequenos companheiros.
— Olha aqui, eu vou recompensá-los, tudo bem? Vou dar uma boa comida pra vocês, apenas apontem o que querem.
Ao receber tal proposta, os espertinhos melhoraram seus semblantes, se encararam e então apontaram para um grande cacho de bananas que estava no topo da grande árvore.
— Mas é claro! Micos gostam de bananas, caramba! — Após pensar um pouco melhor, o rapaz se sentiu um completo idiota.
“Que garoto interessante, ele desistiu de brigar e foi tentar se reconciliar com os micos diretamente, perguntando o que queriam”, refletiu o holograma do homem de meia-idade. “Aliás, ele já parece ter algum domínio do grito dracônico. Legal, vai ser mais rápido treiná-lo assim.”
Depois de alguns minutos de sofrimento na escalada, Pedro voltou com uma grande penca de banana para os micos.
— Aqui, estamos quites agora, né? — perguntou ele.
Ao ver aquelas expressões alegres nos rostos das criaturinhas, o rapaz soltou um grande sorriso.
…
— Até mais seus primatas! Depois volto aqui pra pegar mais bananas pra vocês — gritou Pedro, movendo as mãos de um lado para o outro.
— Urrú! Urru-ra! — responderam os micos do alto da árvore, enquanto acenavam e comiam aquelas frutas gigantes.
A jornada então continuou.
Em um certo momento, o rapaz decidiu questionar ao holograma:
— Eu entendo que você queria me testar, mestre, mas por que esse tipo de teste?
Ao contrário do que esperava, Marcus o encarou de uma maneira estranha.
— Testar? Como assim, garoto, do que você tá falando? — questionou.
— Oi? Isso não era um teste? — perguntou, sem entender.
— Mas é claro que não! Eu só queria ajudar os pobrezinhos a se alimentar enquanto seus pais estão fora — explicou ele.
Pedro então se virou para ele, incrédulo.
— Garoto, você por acaso não iria parar para ajudar as pobres criaturinhas se eu não estivesse ao seu lado para mandá-lo fazer isso? — O ancião questionou com um olhar inquisitivo.
E vendo a expressão desengonçada do rapaz soltou um suspiro de desagrado.
— Ahr… meu jovem, você ainda tem muito o que aprender!
Se sentindo culpado, Pedro simplesmente abaixou a cabeça em concordância.
Depois de mais um certo tempo de caminhada, os passos do rapaz diminuíram de velocidade.
— O que houve, meu jovem aluno? Por que está mais devagar?
— Eu estou me sentindo cansado, mestre. Usar o grito dracônico que os anciões me ensinaram depois de escalar aquela árvore consumiu muita energia — respondeu com um olhar cansado.
— Hum… faz sentido, gritos realmente usam muito mana. Certo! Depois vou te ensinar a controlar melhor o uso de mana e estamina. Por hora, apenas coma aquelas frutinhas coloridas que você pegou. — disse o holograma.
Ao escutar o conselho, contudo, Pedro se assustou. E passou a encarar seu mestre com um olhar suplicante.
— O que foi? Você não gosta de frutas? — perguntou-lhe Marcus.
— Não é isso — respondeu o rapaz.
— Então o que é? — perguntou novamente o ancião.
— Você não disse que essas frutas são perigosas? Por que quer que eu as coma? — questionou inquisitivamente o aluno.
Percebendo o equívoco, Marcus se retratou.
— Não, garoto. Eu felei que elas são perigosas para aqueles micos, mas não pra você!
Ele então faz uma pausa, olhou para as frutinhas sobre a mão de Pedro e continuou:
— Olhe, vou explicar logo de cara, nada que você encontrar nessa ilha é normal, essas frutas mesmo estão cheias de energia.
— Nada é normal? Energia? — Pedro não entendeu.
— Sim! Fora o grande templo em que você acordou, os nossos ancestrais foram os que construíram todas as estruturas desse local. Mas as florestas e seres silvestres já estavam aqui. Este é um lugar místico!
— Lugar místico? — questionou o rapaz.
— Você verá quando sair para o mundo. Tudo nessa Ilha é diferente do normal. As árvores, os animais, as frutas, a grama. Tudo! — explicou entusiasticamente o ancião.
— Hum? — murmurou Pedro com um olhar meio idiota.
Ao ver que o rapaz não o compreendia, o ancião deu um suspiro e decidiu não insistir muito no assunto.
— Não adianta tentar explicar agora, você vai ter que ver para saber. Por agora é simples, confie no seu mestre e coma uma dessas frutinhas. Mas só uma! — advertiu Marcus.
— Tá bom, mestre! — respondeu o jovem rapaz, ingerindo uma das pequenas frutinhas sobre suas mãos.
Quando aquele sabor doce se dissolveu em sua boca, o corpo do rapaz passou por algumas mudanças.
— Uai? Esse negócio é muito bom! Meu cansaço sumiu do nada — comemorou o rapaz, exaltado.
Mas esse sentimento passou após um pensamento invadir sua cabeça.
— Mestre, essa fruta tem efeitos colaterais?
Ora, um dos princípios básicos da farmacologia é que toda substância tem seus efeitos colaterais. Pedro, como todo bom ex-estudante universitário, era um consumidor de analgésicos experiente e sabia disso.
Mas a resposta de Marcus o surpreendeu.
— Não, nenhum.
— Não acredito! Mais que trem mais místico — murmurou o rapaz, atônito.
— Esse é o espírito! Parece que você está começando a entender — explicou o holograma, enquanto os dois continuavam sua caminhada.
Depois de um certo tempo…
— Chegamos. Bem-vindo ao meu lar!
Olhando atentamente para o lugar, Pedro não pôde deixar de exclamar:
— Eu não acredito! Então essa é a sua casa?!