Sina de Guerra! Ou Como uma Garota Projetava Fantasias - Capítulo 12
- Início
- Sina de Guerra! Ou Como uma Garota Projetava Fantasias
- Capítulo 12 - Instruções
Uma mesa com um mapa topográfico da região próxima, onde o embate deveria acontecer, jazia no meio do hangar. No silêncio do espaçoso e mal iluminado armazém, ecoou subitamente o forte som de um tapa na tábua de madeira. Era a suave e bela mão de uma garota.
— Cadetes! Prestem muita atenção ao que lhes vou dizer agora. O capitão e eu chegamos a um acordo… Não existe espaço para erros daqui em diante, pois se não pudermos varrer o chão com seus rostos, temo dizer, mas seremos nós que veremos todo nosso esforço jogado nas fossas da história. — Victorica, com um olhar sombrio, deixava as notícias saírem da sua boca. — Em outras palavras, se perdemos esta batalha eu serei rebaixada e perderei o comando, e todas nós presentes aqui seremos destituídas do décimo terceiro e alocadas diretamente para os quartéis.
— O QUÊ?! — Muitas das garotas ali não conseguiram evitar sentir-se injustiçadas. “Que tipo de acordo é esse?!”, “C-capitã…”, “ONDE QUE ISSO É JUSTO?!”, “Isso não faz sentido!”. Os comentários e expressões não deixavam de surgir, entre murmúrios e gritos de algumas.
— Quietas! — Surgia Picota, para tentar acalmar as garotas. — Deixem a capitã explicar… eu acredito que existe alguma razão por detrás dos termos. Nossa capitã nunca faria algo que nos prejudicasse! — Algumas garotas no fundo começaram a concordar, ainda que de forma hesitante.
— Sim, é verdade o que acabei de dizer — disse séria, Victorica, levantando o rosto, agora em direção às cadetes confusas. — Entretanto, as condições para eles são as mesmas. Eles serão destituídos e mandados para os quartéis, com sanções.
— Err… para eles talvez não seja tão ruim como para nós ir para os quartéis… mas é compreensível na situação atual… — Sem rodeios, Nanãry murmurou entre as cadetes.
Rumina olhava com atenção a capitã, e não conseguia fazer muito sentido dos termos acordados. Isso é completamente irracional do ponto de vista militar, quem apostaria um esquadrão completamente treinado nessas máquinas tão importantes só para tirar Victorica do comando?
A capitã relanceou seu olhar por todas elas, parando na garota tímida.
— Como vocês devem saber, esta batalha não é uma batalha por “crimes” cometidos por mim, e sim uma batalha em contra de todas nós. Gervásio de la Gávea é apoiado por alguns generais que preferem não ver-me por aqui em função de seus medos políticos insensatos, e o apoio de outros que acreditam que não somos capazes de fazer o que, ironicamente, estivemos a fazer até agora… Demonstrar veementemente a eles quem são as verdadeiras “senhoritas”. Não se deixem enganar pelas aparências garotas, eles estão com medo de presenciar sua derrota. — Era visível que agora as garotas não estavam tão reticentes, aquela fúria contra o capitão esnobe começava a voltar novamente. Era o revanchismo surgindo entre as fileiras. — Não só estão com medo, já estão a saber que perderão! E nós lhes mostraremos como nossos canhões são maiores e mais fortes que os deles!
— Vamos quebrar eles! — É isso capitã! — Ave, glória! — Relacionaram algumas garotas entre risos confiantes e gritos de apoio de outras.
Victorica dava espaço para que o subtenente Hector, o segundo em comando, tomasse conta da explicação das regras estabelecidas com o capitão rival.
— Pois bem, dito isto… agora nem todas poderão participar…
Com um passo adiante, o único homem do esquadrão inteiro, ajustava seus redondos óculos, digno da sua aura calculista.
— Ehem. — Limpou a garganta o jovem suboficial, antes de apontar para o mapa na mesa. — Os grupos de batalha começarão em duas regiões diferentes, a escolha foi feita por um jogo de azar… — Ele jogou um olhar desapontado para a expressão de paz no rosto da capitã, que havia perdido o mushi-ken[9].
— O quê é? Nada que possa ser feito, soldado. — A bela visigoda bebia mais um gole.
— De todas formas… Como podem ver, nossa equipe terá sua base inicial aqui, na parte mais aberta do mapa, e a do capitão Gervásio, do lado oposto das estepes mais altas. Em outras palavras, começaremos em desvantagem. — O mapa mostrava uma grande área com topografia levemente acidentada e com uma colina estrategicamente localizada no centro da região, começava a ficar perceptível que a proposta do embate fora pensado em base a ideia principal da função dos barris: bombardear e tomar fortificações e defesas inimigas e assegurar a posição para os reforços. — As regras do embate são simples. Quem tomar controle da fortificação no centro do mapa por 1 hora, ou fazer o inimigo perder todos seus barris, vence; será uma batalha para ver quem será o Rei da Colina. É claro, usaremos munições especiais para nossos rifles e barris, e também, haverão pontos para áreas específicas acertadas do blindado, para garantir uma batalha justa. Sendo assim, barris abatidos em áreas críticas estarão fora de batalha.
— Agora, sobre as posições e a escolha de nossa equipe… — A capitã colocava peças quadradas num dos cantos do mapa, ao caminhar ao redor da mesa. — A batalha será entre um grupo de batalha feito especificamente para este embate e outro feito por eles, mais uma esquadra. No total, utilizaremos cinco dos nossos barris, isto quer dizer… precisarei de mais quatro esquadras… — Ela começava a apontar para uma das garotas. — Rumina, vosmecê e sua esquadra estarão ocupadas por fazer o reconhecimento, afinal, é disto que já melhor se ocupam.
— …S-sim, senhorita!
Segurando uma das peças em cima do mapa, Victorica agora apontava para trás, para outra garota.
— del Alma, precisarei de vosmecê no meu flanco direito. — Tomando um gole, novamente sem ninguém saber quando havia tirado o cantil da algibeira, a garota em comando não deu justificativa para a escolha.
De trás das garotas, balançando suas duas tranças, de cabelos castanhos claros e lisos, um afável olhar cinzento, busto pequeno e um pouco alta, Lília caminhava em direção à comandante.
— Sim, minha capitã.
Não foi uma surpresa para todos, a garota e sua esquadra haviam sido uma das que melhor tinham se saído nos treinamentos, a única pessoa surpresa pela escolha era Rumina. Mas não havia muito o que dizer ou o que fazer naquele momento, desde aquele fatídico dia ela fora entregar os livros de Lília e viu o anjo na biblioteca, as duas mal conversaram, apenas interagindo de forma desgastada por sinais ou acenos de longe, algo que no último mês começou a ficar cada vez menos frequente. A esta altura, ela já não sabia mais como abordar sua amiga. Lília… Rumina suspirava, no entanto, sabia que deveria dar um primeiro passo e finalmente descobrir o porquê foi deixada de lado tão subitamente. Depois dessa batalha, eu definitivamente vou…
— Ei! — Antes que Victorica escolhesse outra esquadra para o grupo, uma animada e bela garota com rabo de cavalo, sentada num dos barris, desrespeitosamente interviu. — Não vai deixa’ nós de fora né, capitã? Somos as melhores artilheiras desse esquadrão inteiro! — exclamou Marta Ayuna, batendo a palma num dos seus grandes seios.
A capitã ignorou completamente a intervenção da cadete.
— A seguir… ahm… — Ela parecia um pouco perdida nos pensamentos. Sinto que precisarei expurgar um pouco do álcool do sangue com o Galgalim após isto… — Uhm, vosmecê! — Ela apontou diretamente em direção à garota de rabo de cavalo. — Improvisação é essencial neste tipo de combate, sua esquadra será essencial.
Ao lado da garota no barril, uma cadete com um olhar de peixe morto e longos cabelos escuros e esverdeados por cima, fazia um movimento estranho com o braço, esticando ele para um canto. Parecia que ela queria fazer uma saudação romana.
— Cadete Virgínia Stratagemma a serviço!
Uma garota perto dela lhe deu um tapa na cabeça, e ajustou seu braço.
— Uhhgh, líder idiota! É por isso que todas as garotas acham que você é bitolada…
A garota que havia intervido antes e estava em cima do barril, não conseguiu evitar ficar pasmada e sem palavras com a estranha escolha da capitã.
— E finalmente… — A capitã apontou para o lado contrário. — Preciso de vosmecê na retaguarda. Sua esquadra é de longe a melhor em posicionamento.
A última esquadra era finalmente escolhida.
— Farei o que for necessário, capitã. — dizia Elena Fierosa à frente de sua esquadra inclinando seu braço adiante, com um olhar sério e determinado.
De cima do barril, a inquieta cadete de antes, pulou no chão e saiu depressa, completamente indignada, para fora do hangar.
— Cadete Ayuna — disse Victorica com seriedade, para a garota que havia saído. — E todas as cadetes que não foram escolhidas hoje. Não desesperem, todas terão seu momento. Lembrem-se que esta batalha não é uma de egos, e sim uma de virtudes. — Com uma pausa, a capitã finalmente deu a ordem. — Estão dispensadas.
Nota de Rodapé
[9] Mushi-ken é uma das versões mais antigas do “pedra papel tesoura”, nasceu na China e depois se difundiu no Japão no século XVIII-XIX. O mushi-ken é bem parecido ao pedra papel tesoura, mas ao invés de materiais se usam animais. O sapo, a lesma e a cobra (sapo ganha da lesma e a lesma ganha da cobra, e a cobra ganha do sapo). Pensando melhor, as invocações dos sábios do Naruto fazem todo o sentido agora.