Sina de Guerra! Ou Como uma Garota Projetava Fantasias - Capítulo 15
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- Capítulo 15 - A Bruxa e a Loba
17 de junho do Ano Santo de 1847 | Interior do condado de Santíssima Trindade, Campo de Batalha | 20 minutos desde a captura da colina
Mapa do histórico do movimento dos barris
— Tsc! Seus merdas, cês foderam com a transmissão do barril! — Dolores chutava o rosto do comandante inimigo, que agora estava com os braços e pernas amarrados, sentado no chão com seus cúmplices.
Com Nañary na torre do barril, segurando a metralhadora apontada neles, não tiveram outra que entregar suas armas para as garotas… afinal, os pobres infelizes não sabiam que, sem as projeções de Rumina, na verdade, aquela metralhadora não tinha nada além de balas de cera e tinta.
Terminando de amarrar o último dos cadetes derrotados, a comandante da esquadra amiga, Elena Fierosa, se dirigiu para Rumina, que estava sendo segurada pelo ombro de Florência.
— Vocês fizeram um ótimo trabalho… não sei como conseguiram, mas… parece que foi uma batalha difícil… — reconhecia a garota de rosto fechado e movimentos rígidos, ao ver o sangue nas mãos da garota exausta.
— Sem vocês estaríamos mortas… e… ainda não ganhamos… P-precisamos nos reagrupar com a capitã logo…
De longe, a escotilha do primeiro blindado inimigo abatido se abria lentamente, e uma figura começou a sair com dificuldade.
— Parece que ainda estão vivos… — Florência mencionou, apontando em direção ao outro lado da planície.
A primeira a notar a identidade da pessoa fora Dolores. Com uma expressão sombria a garota segurou uma das pistolas capturadas e saiu correndo em direção ao blindado.
Ao chegar perto, ela escalou com agilidade por ele, chegando rapidamente a escotilha superior da torre.
Agora ela estava encarando o rosto cheio de bolhas do miserável agressor de Nanãry.
— Cê deveria ter ficado quieto ali dentro, seu verme! — Com a pistola na cabeça dele, a garota enfurecida segurou o gatilho. — Se eu soubesse que era você, eu teria atirado direto na cabine, seu lixo. — Dolores cuspiu na cara do moribundo homem, que mal conseguia se mover pelas dores que as queimaduras de segundo e terceiro grau lhe causavam.
— S-sua vadia… Vocês estão… — O homem tossia gravemente, devido a intoxicação com a fumaça da caldeira. — Vocês estão fodidas! Quando o capitão Gervásio acabar com a sua miserável capitãzinha visigoda, vai matar todas vocês! Ha-ha ha… eles já cercaram toda a colina com minas… — Uma série de explosões se escutaram desde a colina. — Hahaha! Ouviu? Esse é o som das suas amigui-
Interrompido, com a pressão da pistola em sua cabeça, Dolores apertou um pouco mais o gatilho.
— Você está morto.
— N-não! — De baixo do barril, Rumina e Florência, que vinham caminhando, impediram a garota de cumprir sua palavra. — Nós precisamos deles vivos, eles podem ter informação importante… e tu sabe como isso acaba se a gente matar eles… E-essa batalha… por si só… já é algo irregular.
Florência se somou ao argumento da comandante.
— Eu também não sei muito sobre essas coisas, mas é verdade o que a Rumina está dizendo. Se pudéssemos resolver nossos problemas na justiça militar, já teríamos feito antes… — Era óbvio que o foco da discussão agora virava o ocorrido com Nañary.
— E quem cê acha que é agora pra dizer o que é certo ou errado, sua covarde? — Ignorando o comentário da garçonete de meio período, o pavio curto de Dolores chegou ao fim e deslanchou tudo na garota abaixo. — Na hora que teve a chance não fez nada! Se dependesse de você, a Nañary teria sido estuprada a belo prazer desses degenerados de merda! — Com angústia no rosto, Dolores encarava para uma Rumina cansada e sem escusas. — Só porque, agora, cê mostrou que sabe fazer alguma coisa, acha que pode meter a moral?! Tsc, me poupe! Eu não esqueci e nunca vou esquecer, mais ainda agora, que sei que cê realmente podia ter feito algo para ajudar ela.
A garota segurou firmemente a pistola na cabeça do miserável mais uma vez, antes de ser interrompida pela garota de baixo.
— É-é… é mesmo, como tu me disse naquele dia… eu fui uma inútil. Eu tinha medo, sempre tive medo… E-eu não queria ser descoberta! EU! E-eu… só tinha medo de me arrepender depois, mas… parece que não importava o que eu fizesse ou o que eu não fizesse, no fim eu acabaria me arrependendo de todas formas. Então eu tomei o caminho mais fácil… — Os olhos deprimidos e arrependidos de Rumina começavam a coçar fazendo lágrimas escorrer pelo seu rosto. — Toda minha vida foi assim, fugindo e me escondendo dos problemas… Esse caminho foi o que acabou me levando a deixar uma colega ser abusada na minha frente. Porque eu pensei antes em mim e no que os visigodos poderiam fazer comigo se descobrissem que eu sou uma herege… Eu sou um lixo. Eu sei disso, sempre soube disso. — As lágrimas no rosto de Rumina caiam, levando seus pecados junto com elas. — M-mas, isso não quer dizer que eu quero isso para sempre… foi por isso que hoje eu decidi enfrentar minha sina. — A garota, ainda com o rosto triste, secava suas lágrimas com a manga do uniforme, ainda que seguisse chorando. — Se v-você quiser matar ele… eu não me importo, na verdade eu faria o mesmo… mas isso não vai desaparecer com a frustração e tristeza que minha incapacidade te causou.
Dolores agora, parecia inquieta e desconfortável com as palavras de Rumina.
— …Tsc.
— De qualquer f-forma… a capitã já deve ter sentido uma alteração no campo liminar, depois disso vou ser entregue para a Inquisição e vão me matar… Pelo menos… tu não deveria se colocar numa situação complicada como eu… eles com certeza vão usar qualquer argumento que tiverem contra nós para nos lançarem dentro das grades, ou pior… — Rumina, se soltou da colega e virou as costas para Dolores. De figura caída e cansada, ela seguiu caminhando em direção ao barril de Elena.
Lá dentro, a garota de olhos celestes como o céu, sabia que não era de tudo culpa de Rumina. Ela sempre esteve ciente disso, mas sua forma de ser e pensar não lhe permitia lidar com a culpa de forma tão conveniente. O sentimento de injustiça era simplesmente algo muito grande para suportar, e ela precisava colocar a culpa em alguém. Rumina se encaixava no tipo de pessoa que ela mais odiava e estava presente no seu dia a dia, esses eram os motivos e certezas irracionais que a permitiam encontrar conforto em algum lugar. No entanto, agora a garota à sua frente rasgava suas certezas como se fossem papel.
— Eu te odeio Zugravescu…
Da altura, a garota dura se retraía ao ver sua incompreendida comandante, sem mais forças, se espatifar na grama de exaustão.
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— Quem diria que ela era uma bruxa… — Segurando Rumina adormecida no seu colo, Florência sussurrava para sua colega de esquadra, dentro da máquina à vapor em movimento.
— Sem ela a gente estava que nem aqueles caras que ferveram vivos… o que importa é que ela tá com a gente. Se ela é herege ou não, isso é apenas o que os godos dizem… — replicava Nañary, com uma expressão aflita.
Saíndo da elevação onde elas haviam entrado em confronto, o barril agora tremia e às vezes pulava, ao passar por irregularidades da planície.
— Fierosa para Horinondo, reporto a casualidade de uma unidade aliada e a inabilitação e captura de duas esquadras inimigas, peço confirmação para reagrupar na sua posição e avançar. Repito, peço confirmação para reagrupar na sua posição e avançar, câmbio.
O zumbido do rádio fechou, mas nada veio do outro lado.
A comandante da esquadra tentou contatar a capitã novamente, mas não parecia haver resposta possível por conta de Victorica.
— Aquelas explosões e agora isso… não pode ser bom… — Elena se inclinava em direção à Anna, a piloto do barril. — Todo vapor em direção à entrada da colina!
— S-shim senhora! — disse a garota ao virar o rosto, mostrando bochechas cheias com farelos de pão grudados nelas.
Com a troca de marcha, a máquina a vapor rapidamente avançou o passo em direção à estrada onde Victorica havia sido contatada pela última vez.