Sina de Guerra! Ou Como uma Garota Projetava Fantasias - Capítulo 18
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- Capítulo 18 - Reagrupamento
— Senhor, estou a lhe dizer que é muito perigoso estar aqui fora. Na verdade, o senhor sequer deveria aparecer por aqui. Esta propriedade é exclusiva da coroa Platina e é um território fora dos limites para cidadãos, escravos e estrangeiros. Isto é um campo de batalha, retire-se agora se não quiser perder sua vida por uma bala perdida.
Um senhor, de cabelo branco e avolumado, pastilhas e uma barba igualmente esponjosa, ainda que não especialmente desarrumada, parecia indignado com a situação. O fato de que segurava uma espingarda apontando em direção ao barril de Victorica, deixava clara a situação.
— Morrer de balas perdidas? Se fosse tão fácil assim, eu já estaria morto! Quem deveriam sair daqui são vocês! Esta terra é minha, e vocês não deveriam andar levianamente por lugares dos outros!
— Preste atenção, senhor… — A visigoda foi rapidamente interrompida, sem sequer deixar-se explicar.
— Não, quem deve prestar atenção são vocês, suas gitanas! Saiam agora! — O idoso atirou novamente com a espingarda, fazendo suas balas ricochetear para todos os lados, quase machucando-o severamente se não fosse pelos acurados reflexos de Victorica, que a fizeram evaporar um dos chumbos a centímetros antes de acertar o rosto do senhor. — Aargh! Esses tatus enormes que vocês cavalgam, o que merda são? Não morrem? — O velho ponderou, antes de urrar novamente para que as garotas desaparecessem da sua frente.
Não parecia haver forma de convencer o homem agitado e irritado. Mas isso mudou, no momento que Picota decidiu sair pela escotilha lateral do barril.
Ao ver a porta do blindado abrir, o homem ficou paralisado ao perceber que alguém saia de dentro daquele “tatu” enorme. Assim que a garota se aproximava dele, o homem conseguia perceber melhor que o que ela estava vestindo era na verdade um uniforme militar e não uma manta com trapos de cores vermelhas e azuis pelo corpo. O que ele acreditava ter visto antes.
— Sr. nós não somos numa caravana de gitanos. Nós somos cadetes coloniais e precisamos tirar você daqui, queira ou não. — Desde a escotilha do barril, a garota aproximava sua mão no ombro do velho.
Picota chamou as garotas de Virgínia para ajudá-la a enfiar o sr. no barril, mas assim que virou sua atenção para trás, ela percebeu que outro barril se aproximava desde longe, fato que as garotas a pé já avistaram com cautela antes. O barril aparecia lentamente entre árvores que escondiam a curva da estrada, agora, cada vez mais perto da linha de paus e fios de sinalização.
Desde onde elas estavam era possível ver uma garota saindo do topo, e na lateral do blindado se notava um símbolo de armas com fundo azul. Aliviadas, as garotas celebraram.
— É Elena!
Parecia que o grupo de Fierosa finalmente chegava. Lembrando que até o momento, com o rádio completamente inutilizado pelo estrago feito pela água, não tinha havido maneira alguma que elas soubessem o que havia acontecido no combate anterior, apesar de que as informações do anjo da capitã sugeriam que não teriam perdido completamente a batalha.
Assim que a máquina das garotas que voltavam chegou perto e estacionou, rapidamente todas entenderam que era melhor procurar um lugar menos exposto para planejar o avanço pela colina, afinal, ainda que a tática de defesa de Gervásio pudesse parecer evidentemente defensiva, não era aconselhável ficarem no meio da estrada, ainda mais agora, com um civil.
— Parece uma boa posição, capitã. Mas não deveríamos ficar quietas aqui por muito tempo, já que ainda seguimos a menos de 200 metros do forte. Se não fosse pela diferença no declive e nas árvores, estaríamos sendo bombardeadas neste exato momento… — informava Elena em cima do seu barril e estirada pelo aclive que o escondia, ao espiar entre as árvores que ocultavam as ruínas, a uns 170 metros de distância delas.
Tendo encontrado uma ótima posição no canto esquerdo da colina, onde uma elevação íngreme lhes dava cobertura e a floresta não era especialmente densa, as garotas finalmente podiam começar a colocar em dia suas informações.
— O que vamos fazer agora? A última regra de Dawnwitz é atacar uma colina de frente, sem contar que estamos em desvantagem numérica. O pior é que sequer temos como flanquear a colina nessa situação, eles vão nos ver a quilômetros.
— É… e provavelmente só não nos atacaram até agora porque aquelas minas devem ter feito eles acreditarem que morremos ou estão simplesmente guardando munição para a defesa…
Mesura e Nañary concordavam entre elas, uma encostada no barril e outra perto da capitã que no momento se reunia com as garotas de Virgínia e as que saiam do barril de Elena.
— Uma coisa por vez, cadetes. Primeiro devemos resolver o problema do senhor que vive nas cercanias, apesar de não podermos despender muitas tropas, alguém terá de levar ele para um lugar seguro. Em segundo lugar, ótimo trabalho e congratulações a vossas mercês pela vitória no nosso flanco enfraquecido, sem isso estaríamos em uma posição digna de chorar, como a dos gauleses. Em terceiro lugar, estou ficando sem bebida… — anunciava com um rosto melancólico ao ver o interior do seu cantil, antes de guardá-lo na algibeira para mais tarde.
Ao esconder o cantil, um sorriso gracioso surgiu novamente no seu rosto, era porque seus olhos agora encaravam a garota que ela esperava ver.
Saindo do barril que a pouco havia voltado, agora mais acordada, Rumina se levantava pelo metal do blindado e começava a descer, em direção à sua capitã.
— E-estou me entregando… faz o que tem que fazer. — Em frente à Victorica, a garota tímida entregava os braços, juntos um do outro.
Ainda encarando-a com um sorriso, relaxada, a capitã deu de ombros como se não soubesse de nada, contrastando com fato de seu anjo seguir flutuando do seu lado e sua auréola seguir flamejando tão viva quanto antes.
— Fazer o quê mesmo? Se estas convidando-me para um encontro, sugiro que o faças após nossa vitória. Ficarei muito feliz em comparecer! — Segurando as mãos de Rumina, a capitã voltou a aproximá-las do corpo da garota, agora com um olhar e aura mais sérios, mas de forma diligente. — Por hora… guarde-as para vosmecê, precisamos de suas mãos livres para vencer. Depois veremos o que fazer sobre sua situação…
Rumina não sabia o que sentir, se por um lado sentia um grande alívio, por outro, não conseguia deixar de duvidar das intenções da capitã. Até agora seus encontros com ela tinham sido bizarramente… agradáveis. Não… espera, uhhg! Que tipo de pessoa considera que alguém entregando seus braços para ser constrangido está pedindo por um encontro?!
— Hehehe! Isso é ótimo, não é? — Com um tapa no ombro, Nañary se aproximou e começou a chacoalhar Rumina.
Desde a escotilha superior, uma terceira garota saia, tirando de dentro e acomodando na parte plana de cima do barril rifles e munições vivas.
— Conseguimos capturar algumas armas dos inimigos, capitã! — exclamava Florência, enquanto seus cabelos alaranjados subiam e desciam da escotilha.
É verdade… a capitã não sabe o que aconteceu. Da mesma forma que um movimento mecânico destranca uma catraca, a lembrança do ocorrido após o combate com as tropas inimigas começou a fluir na cabeça de Rumina.
— S-sim… eu perdi meu barril, é verdade… M-m-mas! Conseguimos capturar as duas esquadras inimigas e seus equipamentos. — Quase como se estivesse se esquecendo de alguma coisa, Rumina continuou. — A-ah é, e mais uma coisa… Dolores interrogou os comandantes. — Agora ela fazia uma expressão de dor e desconforto, como se lembrasse algo que não queria.
Depois que Rumina tivesse sido ajudada a se recompor, fora decidido entre as garotas que a melhor opção para ganhar a batalha era que ela conseguisse se reunir com o grupo da capitã, mesmo que isso significasse que ela não aceitasse a garota por ser “herege”. No entanto, antes que partissem, foi estranhamente por iniciativa de Dolores, num raro momento de consideração, que sugeriu que as garotas de Elena e ela cuidassem dos, agora, “prisioneiros” e os interrogaram, como Rumina havia alertado, para tirar deles informações sobre os planos de Gervásio.
No fim, com uma saudação por parte das garotas que ficaram na guarda dos prisioneiros, as que tomaram rumo no barril levaram para a frente os aparentes frutos que renderam de decidir não haver acabado de vez com o comandante inimigo.
— É, depois de alguns “incentivos” de Lola, aquele miserável nos deu umas informações muito interessantes sobre uma entrada alternativa para o forte — corroborou a pequena garota de chanel, com um sorriso.