Sina de Guerra! Ou Como uma Garota Projetava Fantasias - Capítulo 21
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- Capítulo 21 - A Morte de uma Flor
O som do bombardeio anunciava que elas deveriam adentrar aquele lugar o mais rápido possível, no entanto não era tão fácil se locomover naquelas condições. Caminhando pelo caminho estreito do túnel mofado e húmido da saída traseira do forte, as garotas não conseguiam ver quase nada, quanto mais elas se adentravam mais a luz do dia que irradiava de fora, dissipava-se na escuridão.
— Eu não consigo ver quase nada além de 20cm distância do meu peito, o que vamos fazer se houver armadilhas? — Florência tentava olhar para as paredes, sem querer tocá-las.
Isso é o tamanho dos teus seios sua dissimulada… Deprimida, Rumina olhava para baixo, sem nenhum grande obstáculo, conseguindo ver o pouco de luz tocando fracamente o começo de suas calças.
— Preocupar-se é em vão, o segredo é só não pisarmos ou tocar nada estranho. Se houver alguma explosão terei de Expurgar o que conseguir.
“…O que conseguir? E o que não conseguir?” Um calafrio subiu pelas costas de Rumina, Florência e Galore.
— Hahaha! A capitã sabe o que está fazendo, ela está sempre certa! — reafirmou Picota, confiante.
O som de uma cabeça batendo na parede retumbou pelo corredor.
— Aiiii, aiii!
Era Galore, na frente do grupo.
— Fala baixo, cabeça de ovo! — disse Picota agora, abaixando a cabeça de Galore com a mão levemente. — Acho que escutei algo… — Se assomando pelo que parecia ser a esquina da curva em “L” onde a sua amiga bateu a cabeça. — É isso… tô vendo luz, parece que vem do corredor esquerdo à frente.
Do corredor de onde vinha uma fraca luz amarela, lâmpadas de óleo pendiam nas paredes do corredor. Atrás de montes com sacos de areia empilhados e caixas com fusos e cabos, dois soldados inimigos cochichavam alguma coisa.
— A ordem é matá-la… — Entre pequenos pedaços se escutava. —…O movimento tem que ser confirmado, se não vamos apenas bloquear o acesso, entendeu?
— Sim, senhor sargento! — dizia o cabo Ferrera, junto de outro soldado auxiliar ao seu lado.
As garotas agora sabiam o caminho teoricamente mais curto para tomar para chegar ao topo do forte. A questão agora era tomar o caminho sem a luz ou ultrapassar a entrada e seguir adiante pelo caminho escuro, o que fazer?
— Não consigo escutar nada, capitã. Parece que estavam discutindo alguma ordem de Gervásio, mas com certeza não vamos ser recebidas com flores e chocolates…
— D-dinamite, esse c-caminho… deve estar cheio de dinamite… — respondeu baixinho, a garota de cabelos pretos e olhos âmbares medrosos.
Tecnicamente… eu poderia… Antes que Rumina conseguisse terminar seu pensamento, Victorica interrompeu.
— Iremos em direção ao caminho iluminado, vosmecê vem comigo. — ela agarrava Rumina pelo ombro, com gosto.
— O q-quê?! C-como?! E se, e se…
— Explode? Vosmecê já sabe o que planejo fazer. — Victorica e a garota se entreolharam. O anjo dela lê pensamentos, EU SABIA! Essa beberrona maluca! Rumina acenou timidamente. — Agora, vossas mercês, ficam na retaguarda e darão fogo de supressão. Picota, comigo.
— Sim, capitã. — replicaram as duas.
Sem hesitar, Galore e Florência ficaram na guarda perto da entrada. Já Picota atendeu ao chamado de Victorica e ficou atrás.
— Agora!
Era um plano um tanto mais do que arriscado ir em direção a um campo minado com soldados com a vantagem de cobertura, mas havia uma lógica muito importante do porquê avançar era a melhor maneira de quebrar com as defesas inimigas, e isto era o que aquelas garotas estavam prontas para mostrar. A verdade era que na guerra não existiam planos infalíveis, existiam planos com probabilidades mais altas ou mais baixas, o risco é sempre uma variável em toda estratégia e tática.
— Como estão meus queridos ex-companheiros? — Com um sorriso pretensioso balançando seu braço para um lado, Victorica estava agora parada na frente do corredor.
Pegos de surpresa, os soldados rapidamente se esconderam atrás das suas barricadas de areia. Eles não sabiam se acionar as dinamites ou não, mas as regras eram claras.
— Mesmo que seja só ela, não há dúvida, vamos acionar! Não há maneira dela Expurgar todas essas dinamites!
Agora se percebia que o caminho inteiro da entrada estava cheio de cabos, quase como raízes de uma árvore amarrados a pequenas dinamites em buracos perfeitamente organizados para que não fosse possível que alguém saísse vivo daquilo.
Escondidos ambos acionaram os fusíveis das caixas de dinamite e o corredor inteiro explodiu em fumaça e fogo. Victorica havia desaparecido no meio da poeira das pedras e pólvora.
— Há! Acabou para ela! Né?!
Picota pulou do meio dos escombros e fumaça como se estes não tivessem peso nem dureza alguma e assaltou destemida e com ferocidade a posição inimiga com a baioneta.
Espantado, Ferreira olhava para o lado para só para descobrir uma cena grotesca acontecendo. Sangue escorria pela cabeça do que foi seu companheiro, e parada com um pé em cima da barricada, a baioneta do rifle de Picota estava agora estaca na cabeça do inimigo com olhos mortos.
— Não é por nada que me chamam de Paloma “Picota” de la Gogna, não se esqueça disso, hahahaha! — Ela arrancou a baioneta da cabeça do inimigo como se fosse manteiga e apontou em direção ao cabo assustado. — Mesmo que daqui a pouco não vá lembrar de mais nada, né… hehe.
Um tiro na têmpora foi o suficiente para tirar ele desse mundo.
— Ei, sua tonta, ele era meu!
— Você demorou demais. Além disso, essa sua tática de assalto é a melhor maneira de acabar morta, não quero ter esse peso nas minhas costas. — respondeu Galore com um olhar risonho.
Assim que a fumaça e pó se dissiparam pelo corredor, Rumina e Victorica saiam dos escombros. As mãos de Rumina ainda estavam machucadas e pareciam ter reaberto algumas feridas, já que as bandagens nas suas mãos começaram a ficar vermelhas novamente.
O que havia acontecido era simples, Rumina fez uma configuração de amolecimento e de densidade nas paredes e Victorica teria expurgado uma boa parte das dinamites. Ainda assim Rumina estava cansada, mas não só isso, agora ela se encontrava horrorizada pelo que via na sua frente. Florência, por outro lado estava agora paralizada atrás delas.
— A-a gente não precisava fazer i-isso com eles…
— Esperavas que fizéssemos o que? Dar-lhes cócegas na barriga depois de atirar bolinhas de festim? Esses patifes são traidores e tentaram matar nossas companheiras. Pior, já quase defloraram uma das nossas. Não merecem misericórdia. Ninguém no meu caminho merece.
I-isso é a guerra? Rumina olhava os dois homens ensanguentados estirados no chão ao questionar sua sanidade.
— Esse resultado era óbvio, por isso a capitã chamou Picota, essa garota que ganhou a fama de empalar cabeças de bandoleiros quando prestou serviço de guarda na periferia… A capitã sempre pensou em assassinar todos. — acompanhou Galore, interrogatória e incrédula com a inocência de Rumina.
— Eles… morreram… brutalmente. — Florência, de longe, disse com o rifle abaixado, quase caindo dos seus punhos. Ela era apenas uma garota comum e tradicional da pequena burguesia da cidade, e se bem já teria tremido durante a batalha de barris e visto o campo de batalha por primeira vez, ao ver a loucura da guerra se transformar em derramamento de sangue pela primeira e vez tão perto, era uma linha, literalmente, vermelha que ela nunca tinha passado… até agora.
— Se não estiver pronta para ver corpos cair e sangue derramar, sugiro que volte de onde viemos, a brincadeira acabou já faz um bom tempo, cadete. — Victorica estava muito mais séria do que o normal, provavelmente porque o álcool havia se esgotado, mas também porque a situação demandava severidade.
Estar no exército era uma obrigação que muitas viram com maus olhos, algumas eram mais aguerridas como Picota ou endurecidas pela experiência (ou falta de noção) como Galore, mas para as novas garotas que nunca viram algo assim acontecer, tudo isso parecia uma história de horror irracional e sem sentido que cheirava seus corações de terror e medo.
— Ou são eles ou somos nós, tomem posição de cobertura, garotas! — anunciou, Galore ao escutar o som de botas correndo pela escadaria que dava para o primeiro andar do forte.
Florência seguia parada, no meio do corredor, completamente aterrorizada pelos horrores da guerra que ela havia acabado de presenciar, sem conseguir mover um músculo sequer. Com olhos esbugalhados, seus pensamentos haviam parado, ela só conseguia ver as cabeças perfuradas e o sangue no chão, ainda jorrando.
O som de botas parou e um cadete mostrou metade do seu corpo fugazmente pela escadaria.
— Aí estão, malditas!
Um, dois, e três tiros bem engatilhados de fuzil, saíram detrás do esconderijo da escada. Eram três soldados inimigos se revezando para atirar os fuzis de engatilhamento rápido a agulha. Todos em direção a Florência que estava paralisada. Pobre garota, ela teria acabado baleada até a morte como aqueles que ela acabou de ver cair na sua frente sem sequer responder.
Florência desabou de joelhos no chão, como uma flor murcha e sem pétalas vendo o pôr do sol nos seus últimos dias de vida.