Sirius - Capítulo 18
Capítulo 18: Memórias (1)
Flashes de luz brilhavam no olho da mulher na maca, seu ouvido conseguia captar apenas partes de algumas vozes que cortavam o ambiente.
— Levem-no para o CTM imediatamente, não temos tempo a perder!
— E quanto a ela, senhor?
— O caso da mulher não é tão grave, dois dias em hibernação induzida por mana devem resolver!
Na próxima vez que abriu os olhos, uma forte sensação de afogamento dominou a sua mente. Uma capsula se abriu em meio a um quarto similar ao de um hospital. Antes que conseguisse enxergar de fato, ouviu uma voz grave.
— COF* COF* — segurando a própria garganta, Akemi tossiu para fora de si um líquido azul.
— Ela acordou, chame a enfermeira responsável.
Ao seu lado, um homem loiro se sentava em uma cadeira, a encarando. Enquanto isso, outro homem de terno preto saia pela porta.
— Quem é você? — perguntou a mulher.
— Bem, não vou cobrar educação de uma pessoa que acabou de acordar de um coma induzido. Meu nome é Michael.
— Michael? Nunca ouvi falar de você, o que está fazendo aqui?
— Hahaha, o que acha? Meu cliente estava bem até dois dias atrás, de repente ele aparece semimorto e a única pista que tenho é você.
— Semimorto? O que aconteceu com o Jihan? Ele está bem? — O desespero na voz de Akemi era claro.
— Com calma, princesa, uma pergunta de cada vez. — “Ela não parece ser a causa.” Pensou Michael consigo mesmo. — Ele está vivo, é o que posso dizer com certeza. Agora, eu gostaria que você me explicasse o que aconteceu, o Li ficará um tempo desacordado antes de poder falar.
Os olhos da Meio-Elfa se abalaram, um sentimento de culpa tomou conta da mente dela. Após uma curta pausa, ela começou a explicar o que havia ocorrido, desde quando o encontrou, até quando acordou. Poupando, é claro, a conversa que ele teve com o pai dela na caverna.
— Se o que diz é verdade, posso te afirmar com toda certeza de que você não tem culpa nisso — Percebendo a carga emocional nas palavras da mulher, Michael fez questão de afirmar. — Entretanto, ele é um tanto quanto idiota para chegar a tal ponto.
— Tem alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?
— De forma alguma, o Senhor Li arriscou a vida dele para te salvar, tenho certeza de que ele não gostaria que você se prejudicasse com isso.
Olhando para o próprio pulso, Akemi notou uma quantidade de pontos absurda, cerca de cinco mil. Lembrando-se de algumas lições que seu pai a deu antes de entrarem no teste, rapidamente disse:
— Quero transferir minha pontuação para ele.
Michael se surpreendeu com a atitude da mulher.
— Tem certeza? Se está tomando essa decisão, deve saber em que essa pontuação implica. Você sabe o quão importante são, não é mesmo?
— Eu sei, por isso mesmo que estou fazendo isso. Eu não mereço nem um centésimo, já estou bem demais mantendo minha vida.
Sem enxergar outra alternativa, Michael aceitou a transferência em nome de Jihan, mais tarde ele passaria os pontos para o garoto. Para pagar algo você precisaria concordar, ao contrário, para receber não existem regras, apenas estar próximo.
— Certo, quer que eu transmita alguma mensagem, para quando ele acordar?
— Não, ao invés disso terei que pedir para que o senhor não diga nada a ele.
— Por quê? Acho que para começar nesse lugar é sempre bom ter um amigo, e agora que está sozinha, como planeja continuar?
— Eu me viro com essa parte — irredutível, Akemi afirmou. — Não posso continuar escorando em outras pessoas, se vou passar desse teste preciso no mínimo sobreviver sozinha. “Além disso, pelo pouco que o conheço, tenho certeza de que ele vai recusar e tentar me ajudar de qualquer jeito se souber do que fiz.”
Michael se levantou e foi em direção a porta.
— Ainda acho que seja uma ideia ruim, depender de outra pessoa é uma coisa boa, nem todos têm a oportunidade de ter alguém assim. — Quando abriu a porta, ele falou — Apesar disso, você tem um coração admirável. Se precisar de ajuda para melhorar, pode falar comigo, estarei entediado essas próximas semanas — e saiu.
Sozinha no quarto, com os cabelos cobrindo sua face, lagrimas silenciosas começaram a escorrer no seu rosto. Sem conseguir controlar o volume, ela começou a chorar solitariamente.
Do lado de fora do quarto, ainda parado na porta, Michael acendia um cigarro e sussurrava algumas palavras ao vento.
Assim que ficou melhor, Akemi começou a treinar diariamente, primeiro se exercitava, depois ia para a biblioteca descansar enquanto lia, por fim treinava contra os bonecos. No fim da noite, sempre acabava com dificuldades para dormir, então voltava a biblioteca para ler até ter sono. Entre tantas atividades, a mulher sempre achava tempo no dia para visitar o inconsciente Jihan, às vezes, até o fazia companhia durante mais de uma hora.
Certo dia, enquanto discutia com alguns imbecis, Akemi foi surpreendida por uma voz vinda do terceiro andar e chamando por ela. Ela ficou feliz, feliz por ele acordar, feliz por o ver bem, mas se conteve, pois sabia que esse era o momento mais difícil, o primeiro contato após a decisão que ela havia tomado.
— Está tudo bem? — ele perguntou.
— Estou ótima! — respondeu, passando ao lado dele.
— Ei, o que tem de errado com você?
— Estou bem! E atrasada para o treino — ainda de costas, sem olhar nos olhos de Jihan, ela bravejou.
— Não pode me apresentar o lugar antes? Acordei agora, sabe…
— Eu não sou sua guia, se vire! — E o cortando, ela saiu da praça.
“Por que ele sempre tem que se meter em tudo? Eu estava lidando bem com a situação.” Motivando a si mesma, ela seguiu em direção à academia.
Na madrugada do mesmo dia, enquanto estudava sobre os monstros de algumas missões que ela checou no mural, Akemi viu Li andando pela biblioteca. “Não achei que ele era do tipo que pensava antes de fazer as coisas”.
Na manhã do dia seguinte, uma mulher foi até ela perguntar sobre o estilo de luta de Jihan, no momento, ela estranhou. Entretanto, após entender que a moça era uma pessoa da organização e a finalidade da pergunta, revelou detalhes sobre o que sabia. A única coisa que Akemi a pediu foi para manter sua identidade anônima.
Já ao entardecer o viu novamente na biblioteca. Enquanto passava por um corredor, escutou a voz de Jihan do outro lado da estante. A curiosidade levou a melhor dela, e por isso, a Meio-Elfa parou para escutar. No primeiro momento, o jovem conversava com uma mulher cuja voz já era familiar, Liming.
— Acho que passei dos limites, honestamente não achei que o senhor sentiria tanto — disse a mulher.
— E o que você sabe sobre mim? Nós nos conhecemos há pouco mais de um dia — respondeu Jihan.
— Você está certo, eu não sei nada sobre o senhor, por isso gostaria de pedir desculpas e oferecer um presente de paz.
— O que seria isso?
Akemi não conseguia enxergar do outro lado, logo não soube o que era o presente, mas pela explicação que Liming deu logo depois, ela conseguiu ter uma ideia. Após a mulher ir embora, o próximo a aparecer foi o bibliotecário. Jihan e Hakim tiveram uma curta conversa, e com o mais jovem indo embora, ela achou que seria uma boa ideia continuar os estudos, entretanto foi descoberta.
— Agora que ele já foi, você pode sair.
Dando a volta no corredor em que estava, Akemi colocou meia cabeça para ver o velho, como se estivesse com vergonha de ter sido achada.
— Minha jovem, se está preocupada com ele, deveria dizer algo — o velho disparou.
— Eu não estou preocupada, eu sei que ele sabe se virar… aparentemente até melhor do que eu.
“O senhor Hakim é realmente impressionante, ele sabe de tudo só com um olhar.” Ela pensou consigo mesma.
— Você se subestima. Não é nem de longe tão fraca quanto pensa.
— Estou trabalhando duro para suas palavras se tornarem verdade. — Akemi olhou para baixo. Ela estava um pouco alegre pelo reconhecimento de alguém tão importante naquele lugar.
— Bem, você não está errada em trilhar o seu próprio caminho, só tome cuidado para não se perder nele.
As palavras do velho sábio foram reconfortantes de se ouvir.
— Não vou me esquecer disso, senhor. Obrigada!
Curvando-se, Akemi agradeceu e saiu.
Mais tarde, se encontrou com um homem loiro.
— Soube que você estava me procurando — disse Michael.
— O que você disse sobre me ajudar a melhorar, acha mesmo que eu consigo?
— Você tem talento, se eu não conseguir te deixar mais forte então o culpado serei eu — declarou o homem.
— Então vou pedir que me ajude. Quero ficar mais forte.
Tirando o terno e estalando os dedos, ele disse:
— Demorou menos tempo do que eu pensava. Vamos começar então — anunciou.