Sirius - Capítulo 21
Capítulo 21: A Primeira Missão
Os testes seguintes foram realizados sem muitos problemas. Os resultados sequentes, depois de tanta comoção, pareceram um tanto quanto desanimadores e, exceto por uma garotinha que revelou o elemento de Álmos, a maioria dos participantes possuía os quatro primários ou não tinham nenhuma característica marcante.
Enquanto isso, Li chegava até a praça, pronto para iniciar sua primeira missão. Amélie já tinha explicado os básicos que ele precisava conhecer a fim de prepará-lo para os futuros desafios. A instrutora havia ensinado ao garoto muito mais do que apenas lutar. Ao chegar, notou que duas pessoas já estavam analisando as alternativas no quadro de missões.
“Akemi e… qual era o nome dele mesmo?”
— Ei, moleque! Finalmente você chegou, precisamos de mais um para tentar esse desafio! — gritou o albino. O homem não parecia estar se importando.
— Uma missão para três pessoas? — Se aproximando, Li olhou para o mural. O jovem de cabelo branco apontou para uma das esferas na metade de cima do muro. Como sempre, a descrição era curta e ambígua.
Missão: O Pesadelo do Rei Goblin
Objetivo: Impeça a destruição da vila.
Dificuldade: B-
Requisitos: Min: 3 | Max: 5
Recompensa: 800p + Elixir de Hércules.
Missão secundaria: ?
— Por que escolher essa missão? — perguntou Jihan.
— Custo-benefício, essa parte do mural tem um preço baixo para ser escolhida, em compensação, as recompensas são boas e as missões são teoricamente fáceis, essa, por exemplo, suponho que seja apenas eliminar uma ameaça — Akemi o explicou.
Dando uma rápida olhada pelas opções, Li chegou basicamente a mesma conclusão. O objetivo era claro, porém não muito específico, o que dava ao grupo uma vasta gama de possibilidades para concluí-lo. Devido ao nome e a condição para finalizar, ele supôs que possivelmente teriam que matar o Rei Goblin e assim impediriam a destruição da vila.
— Você o conhece? — sussurrou Jihan à Akemi, referindo-se ao outro homem.
A Meio Elfa apenas negou com a cabeça, mas não pareceu demonstrar insatisfação.
— Bem, de qualquer forma, não estou a fim de perder tempo, pretende se juntar a nós? — O garoto albino o apressou.
— Sim, vamos logo com isso, quanto menos tempo gastarmos aqui, mais vantagem teremos.
Já que concordavam, Akemi pegou o orbe e eles se direcionaram à plataforma.
— Não me apresentei ainda, meu nome é Li Jihan.
— Xu Wang, só tente não pesar muito, novato.
“Bem, faz parte da personalidade dele, não tenho muito o que fazer.” Sem querer criar confusão, Li apenas aceitou as palavras do homem e continuou calado.
Akemi estourou o orbe em suas mãos e uma luz os cobriu, movendo-os do salão. Sem conhecimento dos integrantes do grupo, vários olhares estavam direcionados ao primeiro trio a pegar uma missão após a liberação.
— Subam suas apostas, senhores. Como eles se desempenharão na missão “O pesadelo do rei Goblin”? — uma voz mais risonha perguntou.
Um homem de armadura colocou a mão no queixo, pensativo, e logo respondeu:
— É uma missão incomum, uma pegadinha, por assim dizer. Não é tão simples quanto parece e, na verdade, pode ser considerado um desafio de inteligência mais do que de força, o que considerando o perfil dos participantes… bem, só nos resta esperar para ter certeza.
Todos os outros pararam para ouvir o que o homem tinha a dizer, pois o homem em questão sabia exatamente do que se tratava o desafio.
— Fiquei sabendo que essa missão é baseada em uma de suas aventuras, senhor — a voz risonha comentou.
— Sim, mas faz muito tempo, espero sinceramente que eles não tenham tanta dificuldade quanto eu tive.
Já longe dali, três pessoas apareceram em outro cenário. Um muro feito de estacas de madeira convergia em um grande portão, no qual dois homens conduziam a vigia. Assim que perceberam a chegada do trio, entraram em guarda.
— Forasteiros, identifiquem-se! — um dos guardas gritou por cima do portão.
Durante os treinos, Amélie explicou o básico do sistema de missões que eram utilizados na fase de testes. Todas as opções eram simulações de acontecimentos passados e memórias pré-gravadas nas mentes dos participantes que entravam nelas. Dessa forma, a situação ficaria mais real e a avaliação, ainda mais certeira.
— Somos os cavaleiros enviados pela ordem para resolver o problema dos goblins — Xu declarou — Abram os portões!
Os homens acima demonstraram súbita insatisfação. A mente de Li rapidamente associou o movimento dos lábios de um dos guardas para descobrir o que eles estavam falando. “Mandaram apenas três pessoas? É o mesmo que não mandar ninguém!”
— Eles esperavam mais gente — Li sussurrou ao grupo.
— Como você sabe? — perguntou Wang.
— Eles acabaram de dizer — respondeu.
“Eu não ouvi absolutamente nada, o que esse moleque tá falando?” pensou Xu consigo mesmo.
— Vão nos deixar entrar? — gritou Akemi. Os guardas concordaram entre si e pouco depois as portas começaram a abrir.
Apesar da aparência dos jovens, as “pessoas” dentro da simulação não desconfiavam de nada, a missão era programada de modo que toda forma de vida enxergasse os participantes como a identificação deles deveria ser. No caso dos três jovens, todos eram vistos como cavaleiros pertencentes à antiga ordem de Babel, um grupo há muito tempo esquecido; apenas suas características físicas permaneciam semelhantes às reais.
Assim que passaram pelo portão, eles se depararam com uma vila em frangalhos, o muro de grossas estacas de madeira, que pareciam intransponíveis, estava destruído em vários pontos.
Dezenas de feridos eram tratados e outras dezenas de corpos eram despejados em grandes valas, mães e pais choravam enquanto os escassos soldados cerravam os punhos, sem poder algum para mudar o que já havia acontecido, apenas ansiando que sobrevivessem mais uma noite.
Centenas de corpos de goblins eram queimados em grandes fogueiras e, se mesmo com tantas fatalidades o medo ainda era esboçado no rosto dos guerreiros locais, era claro que eles estavam em grande desvantagem numérica.
“O que aconteceu aqui?” pensou Li.
Pouco tempo depois, um homem mais velho, que parecia um pouco mais bem-vestido do que o resto, se aproximou, à sua esquerda, uma criança com um cachorro em seus braços brincava, provavelmente o único sorriso vivo de toda a vila. Já do outro lado, um guerreiro de armadura supostamente branca, agora tingida de vermelho sangue, caminhava nobremente.
— Os senhores e a senhorita devem ser a ajuda mandada pela ordem. Eu, Beldor, o líder da vila, humildemente os recebo em nossa vila Edremit… ou pelo menos o que restou dela — o mais velho se apresentou. — Como podem ver, apesar dos esforços do povo, a destruição é intensa. Tenho certeza de que Babel tem conhecimento da ameaça que nos assola, então ainda que estejam em três, não há dúvidas de que são mais do que o suficiente para lidar com os Goblins.
“Então era disso que ele estava falando” Xu Wang observou Li de canto de olho.
Akemi levantou as orelhas e Li acentuou sua postura. O velho Beldor não havia deixado lacunas em seu discurso. Ao mesmo tempo que criticou a postura da ordem em mandar pouca ajuda, manteve as aparências, exaltando os que vieram e retirou o peso de si próprio. Então, caso falhassem, a culpa seria exonerada do líder da vila, que já havia cumprido o seu papel.
— Concordo, não tem com o que se preocupar — Akemi declarou, ignorando a provocação do homem. — Agora que estamos aqui, os soldados podem ficar mais calmos, resolveremos a situação o mais rápido possível.
— Perfeito, por que não vamos até o centro da vila? Os senhores devem estar cansados da viagem, darei mais detalhes sobre o problema e deixarei com que decidam como prosseguir… — disse Beldor.
— Ah! Que fofo — exclamou Li. O pequeno cachorro saiu das mãos da garotinha e se aproximou dele, cheirando-o. Jihan estendeu a mão para fazer carinho no filhote.
ARGH*
— Bem-feito por encostar nesse pulguento — Wang debochou, o filhote havia mordido a mão de Jihan e logo depois correu para perto de sua dona.
— Senhor, me desculpe! — a menininha imediatamente demostrou preocupação, estendendo as mãos para ajudar o garoto.
— Maria, está tudo bem, tenho certeza de que, para os poderosos guerreiros da ordem, uma mordida de um mero filhote de cachorro não causaria mal algum — o líder da vila confortou sua filha.
— Sim, sim, está tudo bem — Jihan disse entredentes enquanto adulava suas mãos por trás de suas costas. “Que dentes afiados!”
Aliviando a situação que acabara de acontecer, o velho homem abriu caminho e pediu para o grupo o seguir, junto do guerreiro e da pequena garota, que não saia de perto dos dois.