Sirius - Capítulo 4
Capítulo 4: Voz
Enquanto a noite se aproximava, o barulho das vozes vindas do lado de fora crescia e alcançava cada vez mais fundo no depósito onde Li estava. Ocasionalmente, gritos de alegria ou de raiva ecoavam pelo salão, provavelmente mais alguns apostadores perdiam seu dinheiro, enquanto outros faturavam uma bolada nas lutas de abertura.
TOC TOC
Duas batidas fortes vieram da direção da porta
— Garoto, está aí dentro? Vambora, já está quase na hora da sua luta. — A voz de Gordon resgatou a mente de Jihan dos pensamentos mais profundos.
Ele estava sentado em sua cama, encarando o chão, preparando-se mentalmente.
“O que é esse sentimento?” pensava.
“Medo do palco? … Não”
Li nunca foi alguém de correr de uma disputa, mesmo quando as coisas ficavam feias, suas mãos sempre resolviam tudo.
“Que seja… é só mais uma luta… não é?”. Se levantando, foi até a porta e a abriu. A luz cegou seus olhos e, quando finalmente se acostumou com a luminosidade, se surpreendeu com a quantidade de pessoas que circulavam.
— O velho realmente fez um belíssimo trabalho dessa vez, não concorda? — disse o homem ao lado de Li.
Milhares de pessoas andavam pelos salões, esperando pelo evento principal.
— Ele fez mesmo — concordou. — Então, Gordon, acha que eu tenho boas chances hoje?
Com seus quase dois metros, o segurança fazia Jihan parecer pequeno, mesmo tendo mais de 1,80.
— É uma boa pergunta… — respondeu, levando a mão ao queixo.
— Como sem… pera, o quê? Achei que você tinha mais confiança em mim! O que aconteceu?
Li se surpreendeu, apesar de tudo, quando se tratava de luta, Gordon, que trabalhava ali há muito tempo, era basicamente um dos fãs dele.
— Não tenho como ter certeza, digo Tai Lung realmente deve ter buscado esse outro cara nas profundezas do inferno. — Gordon deu de ombros, sem ter muito o que dizer. — Eu nunca o vi na minha vida.
— Hm… você geralmente é bem-informado, está perdendo o toque? A idade deve estar te alcançando, grandão!
TSC
— Não fale como se eu fosse uma espécie de vereador, garoto — disse o segurança, estalando os lábios. — De qualquer forma, eu tomaria bastante cuidado se fosse você. Pelo pouco que sei, esse cara é bem perigoso.
Jihan, ainda meio descrente, achou que Gordon estava querendo só assustá-lo por diversão.
— De que tipo de perigoso você está falando? Você sabe que já lidei com caras mais feios do que bater na mãe…
— Do tipo que espancou o motorista que o trouxe aqui por frear muito bruscamente — interrompeu Gordon. — Li… é melhor você levar mais a sério dessa vez, não estou brincando.
Respirando fundo, respondeu:
— Interessante… vou aquecer, veremos do que esse cara é feito.
E então, saiu em direção aos sacos de pancada no canto do salão.
“Esse moleque… eu posso estar louco, mas juro que ele parece estar ainda mais animado agora…”. Gordon, um pouco preocupado, apenas o encarou enquanto ele corria.
Enquanto Li se aquecia, o tempo passou rapidamente. O salão, que já estava cheio, pouco a pouco se lotava. Quando o clímax da noite chegou, um grande homem subiu ao palco e agarrou um microfone.
— SENHORAS E SENHORES!
O público lentamente silenciou-se. Os olhos da plateia todos se direcionaram para o palco.
— Espero que tenham se divertido até aqui! Após uma longa espera… A grande luta da noite finalmente está para COMEÇAR!
No momento em que Tai Lung terminou a primeira frase, a multidão subitamente foi à loucura.
— De um lado… o campeão da casa… o intocável… em uma sequência de DEZOITO VITÓRIAS CON…SE…CU…TI…VAS! O Leopardo! LIIIIIIIIII JIHAN!
Os gritos explodiram novamente, um jovem de cerca de 1 metro e 80 caminhou até o palco. Ostentando sua velocidade e esquiva para a multidão; socos rápidos e letais, um homem que sempre luta mirando nos pontos vitais de seus alvos. Jihan subiu na arena.
— Do outro lado… o desafiante! Desconhecido nos mundos da luta e estreando em solo competitivo! A BESTA! JI..AN HOOOOOOOOOONG!
Quando Tai Lung gritou o nome do estreante, a multidão vaiou. No entanto, um pequeno sorriso maldoso apareceu no canto de seu rosto.
A vaia continuou, até que pouco a pouco, enquanto o homem subia no palco, foram se calando. O motivo do lento silêncio que se criava era a própria pessoa. Com aparentemente mais de um metro e noventa, chamá-lo de urso não seria um absurdo.
A atenção que os seus grandes músculos geravam, perdia apenas para o maníaco olhar do sujeito. Seus olhos não pareciam de um homem e sim de uma besta.
Alguns espectadores olharam para o “pequeno” Li com pena. Outros fizeram o mesmo, mas pela preocupação de terem apostado no sujeito errado. Ambos, no entanto, se depararam com um sorriso largo, tremendo de emoção.
“Que cara maluco” Pensou Gordon.
Uma pessoa, no entanto, enxergava de forma diferente.
“Ele está no ponto, parece até que vai explodir de tanta animação… porém…” Jhin olhou para o adversário do garoto. “É melhor não enxergar isso como uma luta típica, Li… você tem um grande obstáculo… o que vai fazer agora?”
Enquanto o professor fazia a sua análise, os dois se aproximaram no meio da arena.
— Vou arrancar esse sorriso da sua cara, moleque. — Sem expressar nenhuma feição, a fala do grande homem parecia mais um aviso do que uma ameaça.
— Estou ansioso para isso. — Li apenas sorriu.
— Jihan… não se esqueça do que te falei… — sussurrando, Tai Lung fez questão de o lembrar.
— Pode ter certeza de que não me esqueci de nenhuma palavra, senhor — respondeu.
— Bom garoto…
Retornando ao microfone, anunciou.
— LUTADORES! Em suas posições! 3… 2… 1… LUTEM!
Hong imediatamente disparou em direção ao garoto, tentando finalizá-lo logo de início com um só golpe. Li, desviando para baixo, aplicou dois jabs em sequência no estômago do gigante.
“Duro?” O pensamento passou pela cabeça de Jihan que, instintivamente, saltou para trás, tomando certa distância do gorila. O homem apenas riu, debochando.
— Garoto, com essa forcinha você não vai me ferir de forma alguma!
O homem saltou em direção a Li, tentando acertá-lo com sua direita; que, respondendo à investida, se esquivou para a esquerda, aplicando outro jab, dessa vez no queixo de Jian.
— ASSIM ESTÁ MELHOR!
Hong, usando seu braço direito, que estava estendido, aproveitou do posicionamento de Li, que havia acabado de se deslocar para acertá-lo, dando uma cotovelada em sua barriga.
GASP
Despreparado para o golpe, Jihan sentiu uma pontada no estômago, fazendo-o cuspir suco gástrico. Imediatamente saltou para trás, novamente tentando criar alguma distância para recuperar o folego.
“Esse desgraçado é um monstro!? Ele nem parece ter sentido!”
— O que foi, garoto!? Para onde foi aquele seu sorriso de agora há pouco?
Sem deixá-lo respirar, a besta foi incessantemente para cima de Li, eliminando a distância toda vez que ela era criada.
“Certo, certo… se não consigo vencê-lo na força bruta, só preciso ganhar na stamina… se eu continuar fazendo-o circular pela aren…”
— NÃO VAI FUNCIONAR!
Usando seu braço inteiro como um gancho para cobrir uma área maior, Jian acertou Li, que usou ambos seus braços para se defender.
— Pode não machucar tanto, mas sei que uma hora você vai se descuidar… e quando acontecer… não vou deixar barato, moleque!
Com a passagem do tempo, Li se viu cada vez mais em apuros. A luta continuava, round a round o processo se repetia e parecia que o único a se ferir era o próprio Jihan.
Apesar da aparência, Hong estava lutando com paciência, com a intenção de levar seu oponente a exaustão.
Mesmo evitando tomar golpes pesados, entre diretos, jabs, cotoveladas e vários outros golpes, o constante desgaste físico e mental em não ser diretamente atingido, minavam suas forças lentamente.
“Esse desgraçado…”
Por outro lado, seu oponente estava apenas um pouco ferido, mas parecia pouco se importar.
“Eu vou perder assim mesmo? Não posso simplesmente deixar acabar assim…” com a pressão crescente, pensar ficava cada vez mais difícil.
No momento em que o gongo tocou novamente, dando início ao próximo round, Li recebeu um golpe diretamente em seu rosto.
E foi ao chão.
As luzes ficaram turvas, os sons pareciam reverberar em sua cabeça, que girava fortemente.
Hong caminhou e parou em frente a ele, o grande homem sussurrou palavras que perfuraram a tontura de Jihan.
— Patético… acho que te superestimei… te falta vontade…
“Vontade… em mim? Eu não estava lutando com vontade?”
Pela primeira vez na luta, Li sentiu um ódio crescente.
“O que esse verme sabe sobre mim!?”
Mas não era pelo seu oponente e sim por si mesmo. No fundo, ele sabia que Hong não estava errado.
No canto de sua visão já se apagando, um homem estava sorrindo. De terno e gravata, Tai Lung o encarava caído no chão.
“Droga… eu nunca iria ganhar lutando com meia intenção de vencer…”.
Li fechou os olhos.
“Talvez meu lugar seja apodrecendo aqui mesmo”.
E se contentou.
“Eu deveria só acei…”
O silêncio tomou conta de seus ouvidos.
…
…
…
“SE LEVANTE!”
Uma voz feminina ecoou na mente de Jihan, que imediatamente reabriu os olhos.
— Essa voz…
“NÃO OUSE PERDER NOVAMENTE, LI JIHAN!”
Levantando a cabeça o máximo que conseguia, procurou a fonte de voz.
“EU… EU NUNCA VOU TE PERDOAR SE PERDER DE NOVO!”
E subitamente, os sentimentos que sentiu no cassino o revisitaram… mas dessa vez, a dor não o afetou, seus sentidos, atordoados demais para sentir uma ‘dor de cabeça’, não se abalaram.
Li se colocou de pé.
— Você ainda tem energia? — Hong, que estava de costas, preparado para descer do palco, caçoou, virando-se. — Vamos continuar essa luta então.
— Continuar? — cuspindo o sangue na sua boca, respondeu — Eu não tenho tempo para perder aqui, vamos acabar logo com isso! Vou terminar isso com dois golpes!
— HAHAHA, DOIS SOCOS? O sangue deve ter subido a sua cabeça, MOLEQUE! — debochou Jian Hong, partindo com toda a velocidade para cima de Li.
Enquanto o gigante se aproximava, Jihan manteve a calma. Seus olhos estavam focados como nunca. Seus ouvidos não captavam nenhum som que vinha de fora do palco. Ele sabia exatamente o que fazer.
— Eu nunca disse que seriam socos.
Se aproveitando do deslocamento do homem, Li girou todo seu corpo para desferir um chute no joelho em movimento de Hong
Pego de surpresa pela mudança súbita de atitude, o gigante perdeu o equilíbrio.
Usando a velocidade do grande corpo em queda, fechando a mão em um punho cerrado e flexionando todos os músculos de suas costas…
— AAAAAAAAAAA
…Desferiu na direção contrária a queda, com tudo de si, um gancho no maxilar de Hong.
A besta instantaneamente apagou antes mesmo de atingir o chão.
Por um minuto o silêncio dominou o espaço.
Apenas a sua respiração era ouvida.
HEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!
A multidão foi à loucura, uma reviravolta, praticamente um milagre acabara de acontecer em frente aos olhos da plateia.
Somente uma pessoa estava para explodir de raiva.