Sirius - Capítulo 60
Capítulo 60: Fim de uma Jornada
— Senhor Li? — O menino abria lentamente os olhos.
A magia pouco a pouco deixava o corpo de Ceb fazendo com que sua consciência ativasse.
— Acordou? Como está se sentindo?
— Melhor… eu acho… — respondeu com uma voz fraca de cansaço. — Eu estou cansado…
— Não se preocupe com isso, o efeito da magia não deve ter passado ainda…
— Magia?
— Me desculpe, garoto. Tivemos que colocá-lo para dormir, era o único jeito de protegê-lo.
Ceb pensou por um segundo, mas não demorou muito a concluir.
— O senhor acreditou em mim… eu também acredito em você…
Apesar das palavras, ele parecia receoso a perguntar sobre o que realmente queria saber. Talvez, por realmente acreditar em Li, ele tivesse medo da resposta.
— Ele está bem — disse Jihan. O garoto olhou em seus olhos. — Seu pai se chama Jonas, certo? Ele está bem.
Seus olhos inchados se encheram de lagrimas, sua garganta presa o fazia gaguejar e se engasgar em suas próprias palavras. Seu medo cresceu por um instante, por achar que talvez houvesse ouvido errado.
— De ver…verdade? O se…senhor não es… tá mentindo?
— Achei que confiasse em…
Ceb enterrou sua cabeça no peito de Jihan e desesperadamente chorou. Entre rios de lagrimas e soluços, balbuciava algumas palavras.
— Eu achei… eu achei que fosse ficar sozinho para sempre! — chorava o garoto. — Ninguém, nenhum deles acreditava em mim, eu estava com tanto medo!
No fundo, Li sentiu a dor do menino. Seu pai era tudo que tinha, era seu mundo. Perdê-lo deve ter sido amedrontador.
— Você foi corajoso, garoto.
Ver a situação de Ceb o lembrou de sua mãe. Ele já esteve no lugar desse garoto, mas nunca pensava muito sobre, havia a perdido ainda muito novo e só algumas poucas memórias restavam, por algum motivo, embaçadas no fundo mais escuro de sua mente.
— Estamos indo até ele, pode chorar até lá, mas acho que seu pai preferiria te ver sorrindo.
— Hm… — Após alguns segundos, Ceb enxugou as lagrimas de seus olhos ainda mais inchados que antes. — Senhor Li, pode me colocar no chão agora.
— Certeza?
— Sim, acho que consigo ficar de pé.
Colocando-o no chão, o garoto teve dificuldades em manter o equilíbrio, mas Li estendeu-lhe a mão.
— Não tem nada de errado em se apoiar em outras pessoas.
Ceb hesitou por um instante, mas apoiou-se em Jihan.
— Agora vamos, estamos quase chegando lá.
Perto do centro da vila, um forte brilho dourado vinha de dentro das instalações médicas. Dois soldados se posicionavam frente a porta, espantando a população do vilarejo que curiosa tentavam espiar a situação.
— Ah… — suspirou uma voz masculina — Terminei.
— Terminou? Qual é a situação deles? — perguntou Glória.
— Estão sofrendo de deficiência de mana, baseado nas sequelas que apresentam, suspeito que mais um ou dois dias e eles estariam mortos, todos os três.
Em frente a Glória, um homem com um brasão da igreja de Yun* analisava os três pacientes desacordados. Seu cabelo era liso e curto, passando um pouco as orelhas. Sua pele parda e seus olhos castanhos. Já sua voz, apesar de ser jovem, era lenta e grave. Hans não estava entre os homens; seu estado era bem mais seguro, suas feridas já haviam sido tratadas e ele estava descansado em outra sala.
— Como está o estado do Alferes? Ele estava desaparecido há mais tempo.
— Melhor do que você pensa, na verdade.
— Melhor?
— Bem, como posso explicar, imagine dois tanques — disse o homem. — Um dos tanques tem espaço para dez mil litros e uma torneira que solta mil litros por hora; o outro tanque tem mil litros, mas sua torneira só permite a passagem de 10 litros por hora. Resumindo, mesmo que o primeiro fosse aberto dias depois do segundo, ainda secaria mais rápido.
— Entendi, mas isso não significaria que o estado dos dois é crítico?
O homem suspirou.
— Não se prenda tanto a números, é só um exemplo. De um jeito ou de outro, tudo que podemos fazer nesse momento é aguardar.
— Certo. — Glória se curvou levemente. — Obrigado, senhor.
— Não precisa ser tão formal, Glória — respondeu. — Além disso, só estou fazendo meu trabalho.
— Hm… de qualquer forma, não esperava te encontrar por aqui.
— Sim, foi uma coincidência eu estar junto do Tenente Victor, encontrei com ele há alguns dias e ele ofereceu me escoltar até aqui. Estou só de passagem.
— Mesmo assim tivemos sorte, quem diria que um Arcebispo estaria pelas redondezas — disse um pouco irônica.
— Glória, não precisa dizer dessa forma.
— Sim… sim, me desculpe Juan… eu deveria estar te agradecendo.
— Tudo bem… enfim… a garota que estava contigo antes, ela é uma sacerdotisa, certo?
— Você a conhece?
— Só de vista, ela é pupila de um dos patriarcas de Anpýrgio.
— De um patriarca!?
— Não sabia? — Perguntou o homem. — Ela é uma das preferidas dele, bem talentosa.
Glória fez uma expressão conflituosa em seu rosto.
— Algum problema?
— Pode me dizer uma opinião sincera sem fazer perguntas?
— Sobre?
— Sem fazer perguntas.
— Prometo.
Glória se segurou por alguns poucos segundos antes de perguntar.
— Acha que ela poderia sair se quisesse.
Sendo pego de surpresa pela questão, Juan pensou um minuto.
— Sendo sincero, é permitido a quem quiser se retirar sob devidas condições de acordo com sua posição. Não deveria haver problemas para uma sacerdotisa sair…
— Mas?
— O patriarca tutor dela é um homem um pouco complicado, conhecido por ser rigoroso quanto a seus discípulos. Isso pode acabar dificultando a saída dela, de uma forma ou de outra, depende a vontade dela é o que mais importa.
— Entendo…
— Glória… eu não farei perguntas, mas tome bastante cuidado, um Patriarca é o equivalente a um Vice Lorde na hierarquia das facções, não é alguém que você pode ser descuidada.
— Não se preocupe com isso, não tocarei mais nesse assunto…
TOC TOC TOC
Batendo na porta, Li entrou junto de Ceb. Vendo seu pai deitado, o garoto correu até sua cama, aflito por ele não estar acordado.
— Ele deve acordar nos próximos dias, mas já está seguro agora — disse Juan, percebendo que o garoto tinha alguma relação com o paciente.
Ceb apenas acenou com a cabeça e ficou em silêncio ao lado do pai.
— Vocês pareciam estar conversando de um assunto interessante — disse Li. — Interrompi algo?
— Não, nosso assunto já havia acabado — respondeu Glória. — A propósito, este é Juan, um Arcebispo da Igreja de Yun.
— Você deve ser o Jihan, Glória me falou muito bem de você — comentou o homem, estendendo-lhe a mão.
— Apenas coisas boas, espero. — Cumprimentou-o.
— Ela disse que havia um demônio na floresta e que você o matou. Como membro da Igreja é nosso dever combater essas criaturas, assim como ajudar aqueles que o fazem.
— Assim ouvi, felizmente tivemos ajuda de uma sacerdotisa nessa jornada, sem ela não teríamos conseguido.
Juan pausou por um instante e soltou a mão de Li.
— Bem, fico feliz em ouvir isso. — Virando-se para Glória, o homem finalizou. — Eu devo ir agora, foi bom te ver de novo. — E direcionou-se para a porta.
— Se for o desejo dela… ela vai sair, quer queiram ou não.
O Arcebispo parou em frente a saída.
— Tome cuidado, jovem… não deixe a vitória de hoje subir a sua cabeça… você tem potencial… seria péssimo jogá-lo fora quando ainda é tão fraco…
E passou pela porta, deixando-os.
BAM
— O que foi isso? — Indagou Glória, acertando a nuca de Jihan. — Foi ele que curou Matheus e Fynn, você deveria estar o agradecendo e ao invés disso está procurando briga?
— Desculpa, desculpa — respondeu enquanto adulava a própria cabeça. — Foi… força do hábito?
— Hmpf! Na próxima vez, deixe as palavras comigo.
— Falem mais baixo! — uma voz veio da porta do comodo. — Essa dor de cabeça esta me matando…
— Hans! — gritaram em uníssono.
— Você está acordado! — falou Glória.
— Ick! Não gritem… — disse o homem levando a mão a testa. — Por que a surpresa? Não é como se eu tivesse morrido.
— Não estivemos muito longe também — comentou Li.
— Hm… enfim, só espero que os dois acordem logo para irmos embora daqui….
STEP STEP STEP
Passos apressados corriam pelo corredor, em alguns segundo um soldado apareceu.
— Desculpem incomodá-los, senhores… mas algumas pessoas vieram buscá-los…
— Algumas pessoas? — perguntou Li.
— Sim… eles disseram que são de Arcadia…
Enquanto os três ouviam o anúncio da chegada, bem longe daquele lugar, uma Elfa adentrava um grande portão branco. Escoltada por uma duzia de soldados, homens e mulheres de beleza invejável e trajados de armadura e armas.
A elfa não estava algemada nem nada do tipo, mas o sentimento que se passava era de que ela era uma prisioneira, apesar de ter acabado de chegar por pura e espontânea vontade. Chegando perto a um trono de madeira pura da cor de neve no fim do salão, todos os soldados se ajoelharam.