Sirius - Capítulo 64
Da pele a carne, da carne ao sangue, do sangue aos ossos, dos ossos a alma, da alma para a espada e da espada para o mundo. Tudo é conectado, corte a pele como se cortasse o mundo e até mesmo o mundo sucumbira a sua lâmina.
Teoria da Intenção ~ Sócrates
— Dédalos é um Mestre das Armas, apesar de estar velho suas habilidades estão no auge! — explicou Matheus
— Mestre das Armas?
— São monstros que aperfeiçoaram suas habilidades lutando somente com armas ao limite, alguns boatos dizem que Dédalos consegue separar montanhas com um só corte.
— Montanhas? Ele é mais forte do que um Deus? — indagou Li.
— Hm… não acho que seja, apesar de que em termos de habilidade somente ele ser um dos melhores do continente, infelizmente outros aspectos como a sua mana não fazem jus a sua qualidade como guerreiro… não que eu pense que isso importe no caso dele.
— Quer dizer que ele não consegue utilizar de mana?
— Ele consegue, só não tão bem quanto Deuses ou Lordes — explicou. — Eu já te disse, existe uma barreira entre aqueles que controlam a mana e aqueles que não… Só quando ver pessoalmente que você realmente entendera.
— Do jeito que você está falando fica difícil de medir o tamanho da força real dele — brincou Li.
— Se serve de alguma coisa, ele é extremamente respeitado entre os talentosos, apesar de sua força não alcançar ninguém que possua domínio total da mana, até mesmo os Deuses já buscaram seus conselhos, por esse motivo ele recebeu uma cadeira de tão alto valor em Arcádia, a de Instrutor.
— Até mesmo os Deuses? Ele com toda certeza deve ter algo de especial…
— Bem, você não alcança o status de Mestre das Armas apenas com sorte. A visão de combate de Dédalos é extremamente aguçada, ele percebe facilmente falhas nas técnicas que vê e consegue apontar o caminho correto que seu aluno deve seguir para melhorar
Enquanto conversavam, Li e Matheus entraram em uma das alas que era parte do quartel general de Arcádia. Esse setor em especial era certamente menos tecnológico do resto da cidade e lembrava um ginásio, apesar de ser de pedra.
— Dédalos é um pouco conservador quando se trata de seu local de trabalho, ele definitivamente não gosta muito dessas novas invenções que estão tomando conta da cidade — explicou Matheus.
— Entend…
Ao passarem pela porta de entrada, Li percebeu que um homem estava ao seu lado, ele era um pouco mais baixo que o próprio Jihan, apesar de passos lentos seu corpo se movia rapidamente, seus movimentos não faziam barulho e seus pés pareciam planar no ar. Seus cabelos brancos não balançavam como se o vento não tocasse nem um fio. No entanto, não foi o susto da súbita aparição que o fez interromper sua fala, mas a sua aparência. Ele era um pouco mais alto, mais forte e com idade menos avançada.
— Jhin! — gritou, mas o velho não se virou. — Espera!
— Hum? — Ao ouvir os gritos, o homem se virou na direção de Li, que ao ver sua face segurou o passo.
“Não é ele?”
— A quem você está chamando? — questionou.
— Ah… me desculpe, eu o confundi com outra pessoa…
Percebendo quem era o homem, Matheus rapidamente o comprimento.
— Mestre Dédalos, perdoe a insolência, ele é apenas um novato.
— Hahaha, não tem problema — riu. — Não é todo dia que me cofundem com outra pessoa, geralmente é o contrário.
“Esse é Dédalos? Ele me parece tão… simples?” pensou Li.
— Hm… mas esse garoto me parece ter potencial — disse Dédalos. — Continue assim e certamente ficara forte no futuro. Enfim, continuarei o meu caminho…
— Espere, Déd… digo, Senhor Instrutor… — exclamou Li. — O senhor disse que eu tenho potencial, sendo assim, não poderia me dar algumas dicas? Talvez uma aula…?
— Hm… talvez outra hora. Tenho diversos assistentes aqui, vários deles estariam dispostos a ajudá-lo.
— Mesmo assim, se eu treinasse com o melhor conseguiria evoluir muito mais rápido… como o senhor mesmo disse, tenho potencial e sei que sou bastante talentoso
Matheus, que estava logo atrás de Jihan, esticou o braço e cutucou seu ombro na tentativa de fazê-lo parar de argumentar.
— Te garanto que os instrutores que trabalham sob mim são extremamente capazes…
— Tenho certeza de que são, mas sei que o senhor é ainda mais ca…
— Chega — Interrompeu-o logo antes de suspirar. — Prado!
Assim que gritou, um homem de vestes vermelhas saiu de dentro do ginásio e correu rapidamente para seu lado.
— Senhor?
— Duele alguns rounds com esse menino, pegue leve e logicamente a utilização de mana é proibida — ordenou.
— Sim, senhor.
— Obrigado! — agradeceu Li, Dédalos não o respondeu.
O instrutor assim o faz. Se aproximando, ele primeiramente cumprimenta seu adversário e logo após assume uma postura de guarda. Empolgado, Jihan foi o primeiro a se movimentar, mantendo a postura base e atacando com um soco lateral um pouco abaixo da costela. Prado rapidamente defende-se, acertando sua palma no pulso do braço de seu oponente e desviando o golpe. Aproveitando do desequilíbrio de Li, o homem tenta em vão lhe acertar um chute lateral em sua perna, mas é parado com uma joelhada em sua canela.
No primeiro momento, pelo duelo ficar em um impasse, Dédalos tem sua atenção cravada. No segundo, no entanto, o instrutor domina completamente Jihan, derrubando-o, que fica em choque com a facilidade com que foi derrotado.
— De novo.
Jihan muda sua estratégia e novamente no primeiro momento o duelo começou em um impasse, mas rapidamente o instrutor tomou o controle e dominou completamente o homem.
— De novo.
— Mestre? — questionou Prado.
— De novo!
Iniciando o combate, dessa vez o subordinado de Dédalos tomou a iniciativa, porém, mesmo com a vantagem da resposta e alterando seus movimentos, tudo se repetiu da mesma forma.
— De novo!
A cena continua algumas vezes, o resultado sempre o mesmo.
— Chega — ordenou. — Prado, o que você acha?
O homem pensa por alguns segundos, mas dá uma resposta.
— Simples. Parece que estou lutando com um daqueles bonecos de treino — respondeu friamente.
— Espera, me dê mais algumas tentativas!
Dédalos se aproxima de Jihan.
— Sua postura é boa, base boa… não sei quem te ensinou, mas definitivamente não foi nada que apenas viu e repetiu… você aprende rápido, consegue replicar tudo que vê depois de um só olhar — elogiou. — Tenho que admitir, até eu fiquei surpreso com a velocidade com que você grava os movimentos… mas acaba aí. Gravar, repetir, replicar é completamente diferente de entender.
Os olhos de Dédalos refletiam a imagem de Li sujo e com ferimentos leves no chão.
— Você não tem criatividade, sua adaptação no meio da luta é medíocre, você tem talento e tem capacidade, mas é jovem, sem imaginação e é arrogante mesmo sem ter o necessário para tal… bem do tipo que morre cedo… sinceramente… o que você tem feito durante toda a sua vida para ter afundado seu potencial dessa forma?
As palavras do Instrutor o calaram, Jihan ficou sem palavras, pela primeira vez em algum tempo ele não tinha resposta para nada do que lhe foi dito. Dédalos leu cada centímetro de suas habilidades sem dificuldade alguma.
— Não vou treiná-lo, você não merece — disse Dédalos enquanto se afastava andando. — Volte em alguns anos.
Engolindo a seco a mais pura verdade, Li acumulou coragem apenas para sussurrar algumas palavras.
— Sic parvis magna.
O instrutor segurou seu passo sem se virar em sua direção.
— Grandeza vem de pequenos começos… posso não ser o suficiente agora e sinto muito por isso, mas eu prometo que um dia o senhor irá me ver com outros olhos.
— Veremos… Prado, ensine-o a usar uma espada — ordenou Dédalos.
— Espada? Senhor, com todo respeito, não consigo discordar do que disse, mas eu não luto com armas! — protestou Li.
— Quem disse algo sobre lutar? Você tem um dom, aprenda a usá-lo! — elucidou. — É muito mais fácil lutar contra uma arma que você domina, então, a partir de agora, você vai aprender a usar todas elas!
— Mestre?
— Você me escutou, sua especialidade é espada, logo você vai ensiná-lo isso. Se entendeu o que eu disse, fale com os outros para fazer o mesmo.
— Sim, Mestre!
Após ordená-lo, Dédalos seguiu seu caminho.
— Humpf! — bufou o homem. — Esse velho e patético termo, os grandes são grandes desde o início, quero ver até onde esse pensamento vai te levar, moleque.
Alguns momentos depois do instrutor se retirar, Li ainda estava sentado no chão, pensando sobre a humilhação que acabara de sofrer.
— Você tem meus parabéns — disse Prado, olhando para o homem cabisbaixo. — Não são todos que conseguem convencer aquela pessoa de algo.
— Senhor… — dessa vez, Li se dirigiu a ele com ainda mais respeito. — Acho que a única coisa que o convenci de é que sou um idiota…
— Hahaha! Não fique chateado, não são muitos que receberam uma instrução pessoal de um Mestre de Armas.
— Uma instrução pessoal?
— Bem… foi o que ele fez agora, geralmente ele deixa os novatos a merce de nós instrutores reservas — explicou. — Seja por bem ou por mal, o Mestre Dédalos te apontou um caminho, agora basta segui-lo.
Li olhou para Prado, um sorriso gentil aparecia no rosto que parecia ter trinta e poucos anos. Cabelo curto, barba castanha e roupas leves de couro.
— Lembrou de mim agora?
Ele era o homem que Matheus havia cumprimentado quando deixaram a zona da facção algumas semanas atrás, um dos guardas que estava no portão.
— Perdão, não havia o reconhecido antes.
— E essa é sua primeira lição, preste mais atenção contra quem está lutando — riu o homem.
— Sim senhor!