Sirius - Capítulo 65
Na noite do dia eterno, o céu caiu. Fogo choveu pelas planícies e montanhas, caos irradiou por todo o mundo. Os primeiros humanos, também chamados de High Humans afundaram junto ao seu ego e orgulho. A raça mais arrogante perdera e seu império se reduziu a quase nada, comparado ao que era antes.
Dentre todos aqueles seres desprezíveis, apenas um homem era digno de respeito, um homem que lutava apenas com seu corpo e alma. Foi ele a pessoa que impediu a extinção de uma raça, e mesmo que seu nome seja para sempre lembrando como o de um covarde, para aqueles que testemunharam a sua existência, jamais esquecerão da sua grandiosidade.
História das Raças ~Baltazar Von Amuria
— Então, qual é a sua história?
Selene e Glória andavam pela cidade, apesar de ser natural de Erebus, a conjuradora nunca havia pisado na cidade de Anpýrgio. Era quase incomum pessoas comuns habitarem aquela região, ninguém queria ser pego em fogo cruzado acidentalmente. O bastião humano era apenas para aqueles que tinham o poder para viver nele.
— Minha história? — indagou Selene.
— Todos temos uma, apesar de Li não gostar de falar sobre a dele.
— Não é muito cedo para me perguntar algo tão pessoal?
— Você não está errada… — respondeu Glória, um pouco sem graça. — Geralmente não sou tão direta, mas achei que você precisava conversar.
A ruiva se calou por alguns instantes, ambas continuaram a caminhada.
— Estou bem… obrigada pela preocupação.
— Disponha de qualquer forma, é bom ter outra mulher no nosso grupo — suspirou, mudando de assunto. — Sinceramente estou ficando exausta desses idiotas!
— O Li está incluído entre eles?
— Se está incluído? Ele é o maior deles, o mais inconsequente e o mais burro também!
— Estamos falando do mesmo Jihan?
— Hm… você já o conhecia anteriormente, certo? — perguntou Glória.
— Sim…
— Então o que te faz pensar diferente de mim assim? Não acha que ele é um idiota suicida?
— Bem, se você colocar dessa forma… — Selene sorriu levemente. A mulher mais velha percebeu que falar de seu companheiro aliviava um pouco da aura ruim que pairava sobre a conjuradora. — Ele realmente é inconsequente, sabia que durante o último teste ele destruiu uma ponte para separar-nos dele?
— Uma ponte? Por que ele faria isso?
— Tinham esses homens seguindo a gente e ele tentou resolver tudo sozinho! Quem ele pensa que é, algum tipo de herói?
O rosto fofo e rosado da menina avermelhou-se. Engatando no assunto, ela começou a discorrer sob tudo que acontecera durante o teste, destacando alguns pontos e ocultando outros sobre os quais não queria falar.
— Então ele já tentava bancar o herói antes de vir para cá? Achei que fosse algo novo.
— Não só ele, o grupo de treino do Jihan era famoso por pegar missões arriscadas e sempre ficar entre a vida e a morte!
— Ele tinha um grupo de treino?
— Hm? Ele não falou sobre isso… — respondeu, cabisbaixa. — Bem, não é de se estranhar…
— Não falou… o que aconteceu exatamente?
— Não sei os detalhes, mas obviamente devido à natureza de sorteio do último teste, os três foram separados, mesmo assim… até hoje não entendo o porquê de o homem de cabelo branco ter agido daquela forma…
— Homem de cabelo branco?
— Ah… outro dia falamos sobre isso, talvez seja melhor se o próprio Jihan te contar sobre.
Glória concordou acenando com a cabeça. “Li… quem exatamente é você?” pensou.
— De qualquer forma, nós já chegamos.
Um arco de pedra lotado de inscrições e runas antigas se erguia em frente a Selene, do outro lado da construção apenas um pátio vazio se estendia por algumas dezenas de metros.
— Um lote? — questionou.
— Hahaha, parece de fato uma piada, mas tudo que você precisa fazer é atravessar a passagem.
URGH!
Subitamente, um grupo de pessoas saiu de dentro do arco de pedra, como se tivessem surgido do nada, a aparição repentina quase fez Selene tão jovem ter um infarto. Glória, que já estava acostumada, gargalhou da reação da menina.
— Viu? Pode confiar em mim, é só entrar.
Envergonhada pela sua própria reação, Selene olhou de relance no rosto da mulher mais velha e, fechando os olhos, deu alguns poucos passos para frente. Quando abriu novamente, a vista a fez perder a respiração.
Uma torre de quase um quilômetro de altura se erguia em frente a conjuradora. Feita do mesmo mármore preto da Guilda, a construção imponente não era apenas alta, mas também larga, estendendo-se a algumas dezenas de metros de diâmetro. Centenas de pessoas iam e vinham da torre, praticando magia ao ar livre.
— Seja bem-vinda, a Torre da Liberdade, Randuim!
— É… incrível! — exclamou. — Como uma construção tão magnifica está escondida dentro de Anpýrgio?
— Não pergunte a mim — riu. — Eu também não sei exatamente como funciona, magia está fora da minha alçada. Tudo que posso dizer é que ela possui um encantamento multidimensional, então não se surpreenda se vir alguns… seres diferentes por aqui.
— Não existe distinção de raça dentro de Randuim. — Uma voz feminina, velha e forte soou logo atrás das duas. — O estudo e ensino da mana é para todos.
— Madame Simone…
— Glória, como vai você?
A Mulher mais alta do que a latina a olhava de cima, um olhar petrificante atravessava aqueles olhos alaranjados. Seus cabelos loiros já estavam grisalhos, se não fosse pelas orelhas pontudas e postura esbelta, poucos diriam que aquela mulher já velha era uma Elfa. Não somente qualquer elfa, mas uma Nobre.
— Melhor do que nunca!
— HUMPF! Soube que deu problemas para sua equipe, já te falei que deveria largar aquela arma bruta e voltar para Randuim.
— Os problemas já foram resolvidos — retrucou Glória, cerrando os punhos levemente. — Felizmente, meus companheiros cobriram minhas falhas. Estou perfeitamente bem.
— Ignorante, tanto talento jogado no lixo… de qualquer forma, quem é a menina?
— Ah… eu sou Selene… muito prazer! — Se embolando nas palavras após ver a discussão agressiva entre as duas mulheres, ela respondeu.
— Ela só está conhecendo o lugar…
— Não me interrompa — repreendeu Simone. — Acha que não consigo reconhecer uma novata quando vejo uma? Se está aqui para começar o treinamento, eu sou a melhor pessoa para testá-la.
— Madame, não queremos tomar seu tempo, tenho certeza de que a senhora está bastante ocupada…
— Besteira, alguns minutos para vocês não são nem milésimos para mim! Vamos logo com isso.
Glória ficou visivelmente incomodada com a atitude da Elfa, mas não conseguiu continuar argumentando, afinal, a pessoa com quem estava falando era uma das professoras de Randuim, mais do que isso, Simone era uma conjuradora de nono ciclo, estando apenas a um passo de alcançar o último. Seu controle de mana sozinho era equivalente a de um lorde. O único motivo pelo qual não se afiliava a nenhuma facção era sua devoção total ao estudo da mana.
— Me desculpe por isso… — sussurrou Glória para Selene, que não conseguia ver o lado ruim, visto que a Elfa a sua frente parecia genuinamente incrível.
— Venham logo vocês duas, parem de conversinha.
Ambas as mulheres rapidamente aceleraram o passo atrás da Elfa.
— Para começar, deixe-me relembrá-la os fundamentos da conjuração.
— Madame, como sabe que sou uma conj…
— Não me interrompa, criança — ordenou Simone. — Como eu não saberia, já vi centenas de milhares de conjuradores na minha vida, além disso, a mana se comporta de maneira diferente, você não enxerga porque não tem essa habilidade ainda.
— Sim, senhora…
Glória andava ao lado das duas, mas se mantinha calada com medo de atrapalhar ainda mais a menina.
— Continuando, os fundamentos da conjuração são a velocidade, visualização e claro, poder. Uma magia de primeiro ciclo pode superar facilmente uma de segundo caso tenha a velocidade e a visualização correta… pode fazer sua pergunta agora — permitiu Simone, vendo que a menina estava aflita por uma resposta.
— Isso também é verdade para conjurações de alto nível?
— É claro! Venha rápido, criança, vou te mostrar o que conjuradores podem fazer! — disse a senhora, acelerando o passo ainda mais.
CLING
— Não perca o foco!
CLING
— Mantenha a postura, Li! — gritou Prado. — Lanceiros são frágeis a curta distância!
Ouvindo os conselhos do instrutor, Jihan rapidamente se aproximou e desferiu um golpe diagonal contra o seu oponente. No entanto, a pessoa contra quem estava lutando não era qualquer um, mas o líder da equipe, Matheus, que utilizava uma lança curta e um escudo celta como armas.
— Apenas tome cuidado com o es…
O homem rapidamente levantou sua defesa, defletindo a lâmina da espada. Aproveitando o rebote do golpe no corpo de Li, ele investiu rapidamente com o mesmo escudo, acertando fortemente o corpo de seu amigo e atirando-o a alguns metros de distância.
— Cudo…
O instrutor caminhou até o homem caído no chão e ofegante.
— Então, o que está achando do treino até o momento?
— Doloroso…
— Esse é o espírito!
— Desculpe… acho que te atingi um pouco forte demais, mas se serve de consolo foi instintivo — disse Matheus, se aproximando. — Realmente achei que estava em perigo na hora.
— Não se preocupe — afirmou Li, sentado no chão. — Eu que tenho que te agradecer por aceitar treinar comigo, acho que não está agregando em nada para o seu desenvolvimento lutar contra um novato.
— Não é bem assim, se você ficar mais forte, o grupo fica mais forte. Então, de certa forma estou ajudando a mim mesmo futuramente!
Matheus estendeu-lhe a mão e Jihan suspirou, segurando-a.
— Obrigado, líder.
Ambos iniciaram mais um round. Porém, uma quarta pessoa observava os três homens, não de fora, mas de dentro.
— Tédio… — disse a voz grave nas profundezas do corpo de Jihan. — Não é um absurdo utilizar do talento do garoto dessa forma… mas é tão limitado… talvez por ele mesmo não conhecer o quão ridículo é seu próprio potencial… devo dar uma ajudinha?