Spes Homini - Capítulo 14
De repente um homem misterioso começou a gritar, os seus olhos continham medo e na sua cara o suor escorria. Passados alguns minutos um sujeito abriu a porta da sala, ele parecia cansado como se tivesse corrido uma maratona.
— O que aconteceu? — perguntou o homem que entrou na sala segundos antes.
— Tive aquele sonho de novo, é a quinta vez este mês, talvez eu ainda não tenha superado.
O companheiro de imediato foi de encontro a uma cadeira, puxou-a e sentou-se ao lado do outro homem.
— Eu vou chamar alguém para te ajudar com isso.
— Obrigado, agradeço muito, o que eu faria sem você — sussurrou o sujeito deitado na cama ao ouvido do outro enquanto segurava a mão do mesmo.
Rapidamente ele tirou a mão que estava embaixo das outras e olhou para o relógio.
— Desculpa, mas parece que eu tenho de ir, está na hora de ir àquele local e acho melhor tomar um banho antes, não quero aparecer assim para o nosso novo membro.
— Podes ir não tem problema.
Ele então levantou-se, dirigiu a mão à maçaneta e rapidamente girou-a, com outro movimento fechou cuidadosamente a porta. À saída a sua expressão amigável mudou para uma séria, a sua cabeça em seguida encheu-se de pensamentos.
“Aquele manipulador de merda, como sempre ele tem-me na palma da mão”.
A cada passo ele ficava mais perto do final do grande corredor, as passadas ecoavam mais alto a cada metro percorrido…
— Parece que a Madame está um pouco enervada, — debochou o terrorista com as mãos levantadas para cima — qual o motivo de tanto ódio e violência?
— Já estou farto de te ouvir!!!!
John ao ouvir aquilo reparou no dedo da mulher, ele aproximava-se cada vez mais do gatilho. Lentamente o agente da Spes Homini aproximou-se dela, emitindo alguns gestos e gritando: — Para Evelyn!!!!!
Irritada, ela ergueu a mão que continha a arma, a mulher queria dar um golpe com tudo na cabeça de Dener.
Todavia esse era o objetivo dele. Ao sentir o rápido aproximar da arma ele se virou e com simples movimentos desarmou Evelyn. John tentou segurar Dener mas sem sucesso, acabou sendo recebido por uma cotovelada na boca. A agente da Spes Homini ainda mais desesperada acertou um chute na cara do criminoso. Mesmo que os danos do golpe fossem visíveis ele nem se mexeu e com um dos pés acertou a perna que equilibrava Evelyn no chão. Ela caiu de cara no solo, foi aí que Dener reparou no Michael que era transportado nas costas da mulher. Perplexo, ele correu em direção à arma, John de novo tentou agarrá-lo, contudo o assassino da Spes Homini retirou os apoios que o seguravam à Evelyn e já recuperado levantou-se.
— Olá Michael, meu velho amigo — expressou o terrorista com uma face assustada.
— Parece que fui de encontro aos meus dois objetivos.
— Michael, ainda bem que estás vivo, eu pensei… que estavas morto.
— E estaria se não fosse a Eve.
Enquanto eles falavam, Dener recuava lentamente para perto da ponte que passava pelo rio. Michael aproximou-se da arma, assim que a agarrou disparou dois tiros na direção do oponente, contudo ele desviou-se sem problema.
John e Michael seguiram Dener, eles estavam frente a frente, o terrorista retirou de imediato uma pequena adaga do casado e colocou-se numa pose de luta. John farto de tudo aquilo avançou contra o inimigo.
Ao mesmo tempo, a alguns metros dali os membros da ONU lutavam contra os soldados da Ouroboros, a luta era intensa, nenhum dos lados cedia. Jennifer dava o seu melhor, todavia aqueles eram o esquadrão de elite terrorista. James encontrava-se no chão baleado. Claro que a Dama de Ferro não iria deixar tal ato impune, a mesma segundos após esse momento abateu cinco inimigos.
— Parece que estamos a per… — falava um dos terroristas até ser parado por uma bala que atravessou o seu crânio.
— Filha da puta… ela é melhor do que eu pensava, se continuar assim vou sobrar apenas eu.
Ele tinha razão, em alguns movimentos os outros acabaram por cair no solo com os corpos cheios de buracos, muitos apenas feridos e outros mortos. Ao ver aquela cena o chefe terrorista proferiu uma longa sequência de tiros com a sua arma em direção à capitã, enquanto eles percorriam o seu trajeto o sujeito correu o máximo que conseguiu, a velocidade era imensa, os seus pés ao longo do trajeto em batiam no chão com bastante intensidade, ele queria levar a luta para um estilo corpo a corpo.
O seu rápido aproximar foi notado de imediato pela oponente que mesmo escondida para não ser acertada percebeu tudo. Ela então saiu do seu esconderijo, contudo já imensamente próximo o chefe inimigo acertou um soco na cara da rival. O corpo levado pelo impacto recuou alguns centímetros, todavia o seu punho surgiu embaixo do rosto do terrorista, a impressionante força com que ele acertou o queixo fez a pele contrair. Todavia ele não podia esperar o que viria pela frente, um fortíssimo golpe.
A sua cara gélida misturava-se com o sangue morno que escorria de um enorme golpe feito pelo soco. A fim de se recuperar do dano ele retirou-se alguns metros. Na sua boca uma junção de sangue e saliva era formada e em alguns segundos ele cuspiu-a na roupa da capitã da ONU.
— Podes ser uma boa lutadora, mas nada que eu já não tenha visto.
— Acho que não devias-me subestimar.
Ao ouvir aquilo, o terrorista encheu todo o espaço de enormes risos. Jennifer com uma expressão nada amigável levou a mão ao bolso e numa pequena fração de tempo ela arremessou uma faca no meio da testa do chefe da Ouroboros. O seu corpo tombou diante do chão, era imenso o quente líquido que saia da sua cara, isto marcava o final daquele conflito, com vitória da ONU.
Neste curto espaço de tempo que durou a luta foi o necessário para começar outra, John e Dener disputavam um grande embate de artes marciais. O agente da Spes Homini trespassava o ar com os seus socos, o seu braço estalava de tão esticado e de tanta pressão que ele fazia. Enquanto isso, Dener executava pequenos movimentos com a sua faca, mesmo sendo leves e calmos eram destruidores, o fio da sua lâmina estava mortífero, ele perfurava partes importantes do corpo com um simples balançar da sua arma.
— Foda-se, eu não consigo fazer nada… — sussurou Michael cocentrado na luta, mas sem conseguir intervir.
— Dá-me isso agora, vou acabar com ele de uma vez, — gritou Evelyn ao entrar por aquela sala a dentro com um ar ameaçador.
O assassino sem grande escolha arremessou a arma na direção dela, sem grande esforço aquele pedaço de metal foi parar nas mãos da agente.
Ao mesmo tempo Dener e John continuavam sua intensa luta, nenhum dos lados parecia querer recuar, contudo o agente da Spes Homini perdia cada vez mais sangue derivado dos cortes da faca do oponente, todo o líquido perdido deixava a sua cabeça tonta e os seus golpes bastantes impotentes. O terrorista ao reparar nisso aproveitou-se, levou a sua arma em direção ao peito do inimigo, ele desviou-se calmamente, mas o seu soco que veio em seguida já tinha sido previsto, sem grande esforço o terrorista deu a volta no oponente e meteu a faca a poucos milímetros do seu pescoço.
Evelyn ao ver aquilo disparou em direção a Dener, todavia um misera ferida foi o que a bala fez. Michael lentamente aproximou-se, mas foi parado por um berro de terrorista: — Nem mais um passo a diante ou eu vou cortar a garganta dele.
— Calma, não precisamos chegar a esse ponto — exprimiu calmamente o assassino enquanto levantava as mãos.
— Se é assim então diz-lhe para baixar a arma.
— Evelyn baixa isso imediatamente.
— Não, eu vou matá-lo, não importa como!!! – gritou ela irritada com aquilo, ela balançava as mãos de indignação com a ordem do superior.
— Evelyn agora — enquanto dizia a frase a expressão do Michael mudou totalmente.
A mulher mesmo sendo contra a ordem não conseguia opor-se, a pressão psicológica era imensa, devagar ela meteu a arma no chão e com um chute mandou-a para longe.
— Agradeço a vossa colaboração.
— Olá Michael, o que se passa? Estás parado há algum tempo — questionou o chefe da Spes Homini ligando para o assassino através da pulseira.
— Estamos com alguns problemas aqui, melhor ligares mais tarde…
— Eu liguei na hora certa, deixa-me falar com o Dener.
— Passa-me isso agora — disse o terrorista ao gesticular para ele se aproximar.
Michael aproximou-se e atirou o aparelho, Dener esticou o braço e apanhou-o sem qualquer problema.
— O que queres de mim?
— Eu queria pedir para te retirares desta cidade.
— Chefe, mas o objetivo era eliminá-lo? — perguntou o assassino revoltado com tal decisão.
— Não precisas de fazer isto para me salvar . O Michael tem de o matar, ele não merece fugir.
Todos tentavam mudar o chefe, contudo ele não cedia, foi então que o terrorista deu finalmente a sua resposta.
— Não sei, porque eu faria isso?
— Pensa, esta guerra sem sentido já dura há muito tempo e parece que nenhum de nós tem nada a ganhar. Além disso, a tua voz mostra que não estás lá muito bem.
Ao ouvir aquilo o terrorista levou a mão ao peito e a colocou sobre a parte ferida do corpo, ele conseguia sentir o seu fim, era um golpe mortal e naquelas condições ele não seria salvo.
— Acho que podemos negociar — falou ele de cabeça baixa.
— Não esperava outra resposta. Eu proponho que abandones o local, deixes tudo para trás, tens a minha palavra que não tentaremos nada contra a tua pessoa.
— Eu aceito, contudo preciso de alguma coisa para a dor — exprimiu Dener enquanto segurava a dor o máximo que conseguia.
— Michael por favor dê um remédio a ele.
— Não…
— Previsível, John podes dar-lhe um remédio por favor.
— Claro que sim, aqui — ele levou a mão ao bolso e deu-o ao inimigo.
Evelyn ainda incrédula com aquilo correu de encontro ao seu oponente, todavia acabou impedida por John, ele agarrou-a o mais forte que conseguiu, ela mordia-o, arranhava-o e batia-lhe. A agente da Spes Homini não acreditava no que conseguia ver, o homem que quase matou quem ela amava fugiu com a ajuda do seu chefe.
— Bem, adorei negociar com vocês, até a próxima.
A parede atrás do terrorista abriu-se de repente, os tijolos caíram um por um. Ele caminhou até ela e como último aviso exclamou: — Se não quiserem explodir, aconselho que se afastem da parede.
Ao ouvirem aquilo todos recuaram alguns metros. Segundos depois a passagem foi destruída por uma enorme explosão. Abalados saíram daquele local, porém ao saírem pela porta viram Jennifer, ela ouvira toda a conversa. Rapidamente ela apontou uma armas para eles e exclamou por respostas, mas quem respondeu foi o chefe que ainda escutava tudo.
— Acalma-te por favor, se queres respostas eu vou dar-te. Nós somos a organização nomeada de Spes Homini e podemos dizer que a situação saiu um pouco do controle.
— Mas que porra, eu pensei que vocês eram a policia da cidade.
— E somos, fazem anos que eu comprei toda a cidade, sou a primeira pessoa no mundo a fazer algo assim.
— Obrigado por toda a informação, contudo parece que vos vou levar a todos presos.
— Acho que eu não faria isso, porque neste momento tens duas alternativas, ou morres ou juntas-te a nós.
— Sinceramente morrer não estava nos meus planos, acho melhor aceitar mesmo trabalhar com vocês.
— E se alguma coisa sair daqui, acho que vamos ter de fazer uma visita a uma tal de Emily Maez, talvez conheças?
Os olhos da chefe da ONU arregalaram-se, uma expressão de medo surgiu, ele baixou a cabeça e calmamente juntou-se aos outros para saírem daquele local.
— Morrer numa estrada no meio do nada não é assim tão mau, dá para sentir o efeito do remédio a passar e a dor a vir… Quanto será que falta até ao hospital… Mas que hospital, pessoas como eu só tem a morte há espera…
Ao longo que o Dener percorria a longa estrada em direção ao fim ele sentia a agonia do ferimento a dominar o seu corpo. Dezenas de carros passavam por ele, mas nenhum se importava. Minutos depois as suas forças foram-se embora e ele caiu sobre o gélido chão da rua. Quase inconsciente ele já aceitava a sua morte…
— Olá, tu és o Dener? Gostaríamos de te levar a conhecer um sítio.