Spes Homini - Capítulo 15
No lado de fora da sala o assassino acelerava os seus passos em direção ao final do corredor, o eco emitido por eles percorria todo o lugar. Enquanto isso, do outro lado da porta o chefe olhava pensativo para todo o caos que abalava a cidade, contudo aquele momento de reflexão foi abalado pela intimidadora entrada de Michael.
De um buraco que estava no teto do lugar caiam pingos de água que caíam dentro de um balde, aquele gotejar irritante era escutado pelos dois.
ping… ping… ping…
— Que porra foi aquela? Deixar um terrorista fugir…
Mesmo com o grito atravessando a sala o chefe não tirou o foco da cidade e alguns segundos depois ele respondeu: — Eu sei bem o que eu fiz… eu salvei o John, naquele momento eu recebi uma interferência vinda do aparelho de sinais vitais dele e percebi tudo o que estava a ocorrer. O aparelho indicava que os batimentos cardíacos dele estavam bastante altos, algo estranho para quem deveria estar preso como refém numa cela, descartei essa possibilidade de imediato e fui ver as vossas informações. A Jennifer estava a andar calmamente por um corredor, com isso apenas restavas tu. Tu estavas nervoso, contudo tentavas controlar ao máximo esse sentimento, então eu pensei que talvez ele pudesse estar em perigo já que raramente tu ficas assim e parece que estava mesmo certo.
— Achas mesmo que compensou, deixar um criminoso como ele solto no mundo — Michael baixou o seu tom de voz para dizer a sua fala, assim que a concluiu aproximou-se lentamente do chefe.
— Claro que sim…
Instintivamente o líder da Spes Homini virou o seu rosto, contudo apenas viu o punho do assassino acertar a sua cara, o seu corpo acabou deitado no chão, o sangue veio à sua boca mas foi cuspido de imediato. Com um sorriso no rosto ele levou a mão ao bolso e retirou um cigarro.
— Desculpa-me, mas tinha de descontar a minha raiva.
— Não faz mal, todavia peço que acredites que o que eu fiz foi o mais certo, a nossa organização está a passar por problemas sérios e não quero começar uma guerra interna por algo tão estupido.
Michael estendeu a sua como forma de auxílio, o chefe de imediato segurou nela e usando um pouco de força ele o puxou do chão, dando um lenço em seguida para limpar o sangue.
— Espero que continues com a promessa que fizemos naquele dia…
Ao mesmo tempo longe do hospital Jennifer andava calmamente por entre os prédios procurando Robert, a única pista que ela tinha era que ele tinha ido embora algumas horas antes. Por onde passava verificava os becos e as casas com fácil acesso. Procurava no meio dos corpos espalhados às centenas pelas ruas. A cada passo a esperança dela o encontrar vivo era cada vez mais pequena.
Contudo, ao fundo de uma das ruas ele viu fumo e mesmo pequeno decidiu verificar. Diante dos seus olhos uma leve chama se fazia arder com os restos mortais de alguém. Com as suas botas ela apagou os últimos pedaços do fogo.
— Faz pouco tempo que isto está aqui, será que?
Rapidamente ela começou a revirar os restos mortais, de entre as cinzas e os pedaços de pele Jennifer não conseguia encontrar algo, mas foi então que…
— Não pode ser, é o colar que eu lhe dei… — expressou ela enquanto retirava calmamente o objeto do pescoço do cadáver.
Por segundos a comandante da ONU observou silenciosamente a expressão dominada pela dor que estava no rosto de Robert. Quanto mais tempo passava, mais lágrimas surgiam no canto do olho, elas escorriam pelo rosto até banharem o chão.
Com as suas últimas forças ela agarrou o corpo do companheiro, Jennifer não podia aceitar aquilo, tudo o que podia fazer era chorar e berrar. Jennifer implorava que fosse como nas histórias que ela escutava na infância, ela queria que as suas lágrimas ao tocarem no corpo queimado do amante o revivessem.
John e Evelyn numa sala de espera olhavam constantemente para o relógio, a hora de reverem o Nicolai estava cada vez mais perto.
— Será que ainda vai demorar muito? — perguntou a agente da Spes Homini.
— Acho que não, se eles nos ligaram é porque em minutos vais poder vê-lo.
Foi então que duas enfermeiras surgiram na sala, elas estavam acompanhadas por um médico que de imediato explicou a situação.
— Os sinais vitais finalmente estão estáveis, contudo mesmo que ele esteja acordado peço que não façam movimentos bruscos com o corpo dele, nem que perguntei nada que possa afetar a mente dele.
— Entendemos senhor, prometo que não faremos nada que prejudique o seu paciente — expressou John enquanto fazia um gesto em agradecimento ao profissional.
Os dois então levantaram-se dos bancos onde estavam sentados e seguiram o médico pelo corredor, terceiro andar quarto número oito, era onde o Nicolai se encontrava. Ao abrirem a porta observaram o atirador acordado, mas bastante ferido.
— Nicolai!!!!!!!!!! — gritou Evelyn ao vê-lo bem enquanto corria na direção dele.
Nesse momento John puxou a roupa dela para a impedir, dizendo em seguida: — Parece que não escutas-te o que o médico falou ainda à pouco.
Ao perceber que o agente era de confiança o médico acenou com a cabeça e foi embora fechando a porta.
— Pronto já podes abraçá-lo — sussurrou ele ao largar a roupa dela.
Ao ouvir aquilo Evelyn pulou de alegria para cima do seu amante, abraçando-o e dizendo: — Eu estava preocupada contigo, pensei que ia perder-te.
— Vá-lá John tu também queres abraçar-me, vem cá.
John foi em direção dele e junto de Evelyn abraçou-o, esboçando um leve sorriso, mas foi então que nesse momento Nicolai se lembrou do que ocorria antes dos seus ferimentos e confuso os abraçando de volta questionou: — O que aconteceu depois que eu apaguei?
— O Dener dizimou toda a cidade, mas no final nós o derrotamos, mas infelizmente ele fugiu.
— Sim, eu tentei vingar-te, contudo não fui forte o suficiente. Vou treinar mais para que da próxima vez ele não escape — falou a agente da Spes Homini ao mesmo tempo que roçava a cabeça no braço dele.
John de imediato puxou uma cadeira e sentou-se. Nicolai encontrava-se muito confuso, todavia o aperto no coração antes sentido agora tinha cessado, saber que todos estavam bem fazia-o feliz.
— Acho que finalmente encontrei o meu lar — sussurrou ele.
Ao ouvir aquilo Evelyn ficou com o rosto corado e perguntou: — O… o… que tu disses-te?
— Nada.. “Acho que falei alto demais”… nada demais.
Ao concluir a sua frase ele envergonhado virou a cara para a janela.
— Ya lyublyu tebya Evelyn. (Eu te amo Evelyn)
Ao perceber o que ele dizia John soltou uma leve gargalhada, expondo logo depois: — Não pensei que eras assim tão meloso.
Ela, perdida, fixou o seu olhar no atirador e como um gato ficou tocando na cabeça dele.
— O que tu dizes-te, fala… fala…
— Não vou falar, nunca.
— Não quero interromper o casal, mas acho que vou tomar um banho, temos uma reunião marcada para daqui a umas horas e eu não quero chegar nela parecendo um vagabundo.
Ao concluir ele levantou-se da cadeira e abriu a porta.
— Adeus — disseram os dois amantes.
De imediato ele fechou a porta, deixando os dois a sós, nesse momento um grande silêncio percorreu a sala, todavia ele acabou sendo quebrado pela agente.
— Sabes, ele pode parecer frio como o comandante Michael, mas ele não é. O John só não gosta de se aproximar das pessoas, por ter medo de as perder.
— Eu sei, eles ensinaram-me a ser assim no exercito, mas eu não consegui. Eu gosto de conhecer todos, saber dos seus sonhos e motivações.