Spes Homini - Capítulo 17
Era de madrugada, o corredor militar da ONU fortemente armado entrava em Washington, muitos soldados dormiam para compensar o cansaço sentido nos dias anteriores, um deles era Jennifer que descansava um pouco sobre o ombro de John. Conduzindo, ele tomava total atenção para não acordar a companheira.
No horizonte o sol surgia, iluminando os campos verdes poluídos, contudo dentro da urbanização os seus raios eram ofuscados pela majestosa altura dos prédios que cobriam todo o lugar. Nas ruas, as primeiras pessoas saindo de casa dirigiam-se para o trabalho, muitas delas tiravam segundos do seu tempo para acenar aos bravos heróis nacionais.
— Acho que somos heróis agora, — expressou ele enquanto esboçava um leve sorriso — isso chama mais atenção do que eu gostaria.
Foi então que o agente sentiu que algo o observava, espreitando pelo canto do olho para baixo ele viu os globos oculares reluzentes de Jennifer o encarando, intimidado ele perguntou: — Olá Jennifer, tudo bem?
— Onde nós estamos?
— Basta olhares para a frente — falou ele ao mudar o sentido dos seus olhos, de baixo para o que acontecia diante de si.
Ao escutar aquilo, a Dama de Ferro levantou a sua cabeça e focou o seu olhar no enorme vidro da frente do veículo, defronte da sua visão estava a maravilhosa capital americana, recheada de pessoas e construções.
John então pegou no recipiente de metal onde guardava o café, dando um gole e questionando em seguida: — Queres um pouco?
Quase caindo no sono de novo ela tentou alcançar o objeto, porém não tinha força para tal. O agente ao perceber o nível de cansaço dela, inclinou um pouco o recipiente para que a mulher consegui-se segurar. Sem hesitar, a mão dela saltou sobre aquele pedaço de metal quente, levando-o à boca e bebendo muito do que estava lá dentro.
— Que bom um café quente de manhã, parece que afinal tu serves para alguma coisa — disse ela troçando do novo companheiro.
— Certo, agora foca-te na estrada, isto aqui parece estar divertido.
A rua principal pela qual eles seguiam estava coberta de moradores que impedidos por cercas olhavam os seus salvadores de longe, atrás deles os vidros gigantes que cobriam as paredes dos arranha-céus espelhavam as dezenas de homens e mulheres que ali se encontravam. O clima de festa acordava os soldados mais preguiçosos que ainda dormiam. Muitos dos bravos soldados da ONU saiam dos seus veículos e iam de encontro à população para festejar.
De súbito o celular da Jennifer começou a tocar, era o secretário-geral da ONU, António Guterres.
— Bom dia Jennifer, obrigado por puderes ir até à capital, o presidente disse que queria falar com vocês. Quando terminarem eu estarei aqui há vossa espera.
— Certo, iremos para aí o mais depressa possível, se é só isso vou desligar.
— Ah… já agora, os meus parabéns…
Sem responder ela desligou, John sem perder tempo provocou-a: — Que mal-educada.
— Eu não fiz mais nada que a minha obrigação, não preciso de elogios.
— Não foi isso que pareceu na reunião que tivemos ontem — retrucou ele com um pequeno sorriso na cara.
— Não penses que só porque eu tava mal emocionalmente que eu sou sempre assim — respondeu a Dama de Ferro de imediato enquanto encarava ele ameaçadoramente.
— Entendido chefe.
O agente então calou-se e olhou para a frente, perante eles estava a Casa Branca cercada por milhares de pessoas saltando e cantando de alegria. No portão principal alguns guardas vigiavam a passagem, eles ao verem Jennifer no primeiro veículo acenaram para a comitiva da ONU entrar, um por um cada carro blindado entrou no espaço e estacionou, os soldados de imediato saíram e aglomeraram-se atrás da Comandante.
— Bom dia, como todos sabem o presidente solicitou a vossa presença aqui, na Casa Branca. Infelizmente não serei eu que vos vou acompanhar ao local e sim o meu colega Jonathan, peço que o sigam e façam tudo o que ele mandar. E mais uma coisa antes de ir, os meus parabéns.
Após concluir o seu discurso de instrução aos homens da ONU ele comprimentou-os com um gentes e calmamente retirou-se e indo de encontro aos seus outros companheiros que guardavam o portão.
— Bom dia, eu sou o Jonathan, acho que ele já disse o essencial, então por favor sigam-me.
Parecendo crianças visitando um museu, eles o seguiram até à entrada da Casa Branca, esta era magnífica, assemelhava-se aos antigos templos gregos. Em cada lado da porta, guardas armados mantinham a segurança. Ao entrarem todos foram revistados, como esperado nada foi encontrado, fazendo todos seguirem em frente.
Aquela beleza sem tamanho que cercava os olhos deles fazia-os recordar dos antigos tempos, era como uma exposição, repleta de quadros. Jennifer e John eram os únicos que pareciam não dar a mínima, seguiam olhando reto e sem desviar o foco do que tinham ido lá fazer.
Após dezenas de passos lá estava o Salão Oval, à frente deles mais guardas, Jonathan então deu a ordem para ambos os líderes do batalhão da ONU entrarem, levando os outros para outro cômodo.
John encarou a maçaneta um pouco intimidado, a Dama de Ferro ao perceber a hesitação dele interrogou-o: — Vais demorar meio ano a abrir a porta.
Ele então segurou a esfera com força respondendo em seguida baixinho: — Há anos que eu não venho aqui.
O membro da Spes Homini deu uma forte suspirada e mais calmo rodou a maçaneta, abrindo lentamente a porta em seguida. Do outro lado, o presidente dos Estados Unidos da América aguardava-os animado.
— Sentem-se por favor.
Os dois de imediato puxaram duas cadeiras, sentando-se em seguida. O homem na sua frente então continuou a sua fala.
— Bom dia, deve ter sido uma viagem complicada. Desculpem-me ter vos chamado assim de repente com isto das medalhas, porém eu precisava mesmo de falar com vocês dois.
— Não há qualquer problema, mas que assunto seria esse? — perguntou John ao mesmo tempo que mexia embaixo da mesa do presidente.
— Antes disso, esta informação é um segredo, então por favor peço que não saia daqui.
— Claro que sim, dou-lhe a minha palavra que nada do que será dito aqui sairá da sala.
Ao escutar aquelas palavras, o homem mais importante dos Estados Unidos cruzou os braços, revelando tudo em seguida: — Fazem alguns dias que tudo aqui tem estado estranho, existe uma grande possibilidade de haver um traidor dentre os meus homens.
— Se o senhor desejar eu posso investigar — propôs o agente da Spes Homini de imediato.
— Seria de grande ajuda, eu já nem sei em quem posso confiar.
Logo a seguir o presidente suspirou fundo e virou-se para a janela.
— Todas aquelas pessoas lá fora são o que eu tenho de proteger, se realmente a nossa democracia estiver sendo ameaçada pode ser um problema grave. Vocês dois prometam-me que mesmo que eu morra que darão as vossas vidas pelo país, até os vossos corpos não aguentarem mais.
— Que conversa mais sem sentido, eu não vou deixar-te morrer — revelou a Jennifer.
Pasmado com a resposta apressada da velha amiga ele apressadamente respondeu: — Sim, vamos evitar que isso aconteça.
— Bem, já está quase na hora da entrega das medalhas, acho que devemo-nos retirar Jennifer.
— Ah… Claro que sim, vemo-nos lá…
Rapidamente os dois levantaram-se e dirigiram-se à porta, saindo sem olhar para trás e com apenas um movimento fechando a porta. Segundos depois, um homem, o chefe da CIA, entrou no Salão Oval com uma caixa, colocando-a em cima da mesa.
— Eu não posso fazer mais nada, ele foi morto, o nosso melhor agente, decapitado…
— Como assim?
— O senhor mandou-me investigar aquela organização e eu fiz isso, mas hoje de manhã recebi a cabeça dele na minha casa — explicou ele ao abrir a caixa — Estamos num buraco sem saída, sem corpo e sem pistas.
O presidente de imediato bateu na mesa com toda a força e levou as mãos ao rosto.
— Porra, parece que dá tudo errado nesta merda. Que ódio.
Assim que ele terminou o chefe da CIA aproximou-se e ao ouvido sussurrou: — Acho que o senhor devia desistir da recanditura — com uma leve risada ele acabou saindo da sala assim que a sua fala acabou.
“Estranho ele saiu sem dizer nada, será que ele percebeu as escutas?” — perguntou-se o agente da Spes Homini enquanto escutava a conversa.
— Vamos John, eu não quero chegar atrasada.
— Eu estava só a ver uma coisa, podes ir na frente.
De imediato ela colocou-se em primeiro e acelerou a velocidade dos passos, indo de encontro aos restantes membros do pelotão da ONU que aguardavam lá fora a chegada do presidente. Colocando-se em último na fila, John e Jennifer ficaram parados como soldados implacáveis. Perante eles milhares de pessoas os observavam. Foi então que de uma das portas, alegre, saiu o presidente, acenando para a população, do lado dele um homem carregando várias medalhas.
— Bom dia a todos os presentes, eu presidente dos Estados Unidos da América, estou aqui para engrandecer os nossos poderosos heróis da ONU, que mesmo num mundo caótico como o nosso estarão do nosso lado protegendo a paz a todo o custo. Viva a América.
Após o seu discurso a multidão fora da Casa Branca perturbou o silêncio citadino com milhares de palmas direcionadas ao seu presidente. De imediato ele aproximou-se dos poderosos guerreiros e um por um foi dando as medalhas, comprimentando-os a seguir.
Depois de vários apertos de mãos lá estava, John defronte dele, ele então abaixou um pouco a cabeça possibilitando o homem colocar a medalha. Logo depois o agente da Spes Homini esticou o braço em direção ao sujeito avante de si. Em segundos ambos comprimentaram-se, John então colocou a mão no ombro dele no meio do aperto de mão.
— Iremos fazer de tudo para que tu consigas a tua recanditura — exprimiu o John baixo.
O homem então esboçou um leve sorriso e partiu de encontro a Jennifer, colocando o pedaço de metal à volta do pescoço dela e abraçando-a.