Spes Homini - Capítulo 22
Depois da saída dos jornalistas, os homens de negócios, todos aqueles convidados por Joseph, dirigiram-se a uma espaço, onde um enorme banquete os aguardava.
Diante dos olhos deles, uma mesa repleta das mais caras e deliciosas iguarias; trufas brancas, ostras e queijo pule, estes eram alguns dos nomes que povoavam a requintada mesa. Esta era decorada por uma toalha que cobria toda a superfície feita de um tecido caro e bastante fino que impressionava o mais filantropo dos homens.
Ao fundo da sala, um músico, que sentando as suas vestes sobre um grosso banco de veludo, ressoava com um enorme piano uma melodia harmoniosa, acompanhada de um violinista que mesclando com as notas emitidas pelo instrumento do seu companheiro fazia passar um arco de madeira sobre as cordas.
Todo aquele espanto fez a sala encher-se rapidamente, com isso confusão e barulheira preencheram o lugar. Todos os grandes nomes da sociedade americana comunicavam entre si , trocando ideias e revelando aquilo que lhes ia no coração.
— Já estou na sala de jantar, parece estar tudo calmo por aqui — revelou o chefe da Spes Homini para as pessoas do outro lado do comunicador acoplado ao ouvido.
— Eu e o Nicolai estamos a fazer a vigia da rua, nada a reportar até agora…
— Eu estou a ver-te chefe, se precisares de alguma coisa avisa. Quanto há Jennifer ela está noutro setor do edifício, então dificilmente conseguiremos contacto — respondeu John.
— Certo, fiquem atentos a qualquer movimentação suspeita, se acharem algo estranho reportem.
Apressadamente ele desligou ao notar que David vinha ao seu encontro, junto dele Barbara Wallace, uma mulher conhecida pela sua gigantesca rede de prostituição. O amigo de Paul vinha bastante animado do lado dela, talvez segundas intenções pesassem na hora de falar com aquela mulher.
— Bom noite Paul, há quanto tempo que não nos víamos, se não me falha a memória desde aquela noite no hotel Atlantis — falou ela toda animada já segurando um copo de vinho na mão.
David de imediato franziu a sobrancelha e intrigado perguntou: — O que vocês dois faziam num hotel sozinhos?
— Nada que seja da tua conta querido… Mas foi uma noite maravilhosa naquele quarto tenho de admitir…
Barbara então sorriu para o homem com quem tanto tinha aproveitado aquela noite, mas ele parecia não se importar, revirando os olhos. Uma reação que fez a mulher elevar a sua abordagem, demonstrando leves sinais de fraqueza fez-se cair e foi de encontro aos braços de Paul.
— Meu querido, podíamos repetir algum dia… — sem nem pensar aproximou os seus finos lábios dos de Paul. O rosto delicado dele parecia chamar por ela, talvez fosse o alcool a falar, mas parecia ser tão real que não foi capaz de recuar por um segundos.
Notando o avanço descontrolado da mulher, ele apenas conseguiu recuar alguns passos, deixando entre ambos algum espaço de distância.
— David, acho melhor ela ir para a enfermaria, consigo sentir daqui o cheiro a álcool que vem da boca dela. Nesse ritmo ela vai desmaiar no início da festa.
O empresário, tendo tomado gosto há mulher, relutou um pouco contra as palavras do seu amigo mentalmente. Todavia não podia discordar da certeza contida nelas, nem percebendo tomou para si a opinião dele, respondendo em poucas palavras: — Deve ser o melhor para ela.
O homem de coração partido agarrou na senhora e entrou pelo meio da multidão, abrindo um pequeno caminho pelas aberturas que as pessoas faziam dar. Contrariada e dominada pelo fervor da bebida ela olhou para a alma daquele que mal conhecia mas já amava e como palavras de despedida gritou: — Eu ainda vou ter-te só para mim meu Paul… — todos em seu redor gastando um pouco do seu tempo focaram os olhares naquela mulher, não faltou tempo até ela ser tomada como tema de conversa nos grupos formados em toda a sala.
O chefe da Spes Homini fixou a sua atenção de imediato na pequena brecha formada no meio da gigantesca multidão, pensando: “ Barbara Wallace… Lembrei-me agora, realmente foi nesse hotel que nós nos encontramos para discutir sobre um acordo entre as nossas empresas… “ — no entanto aquele pensamento foi interrompido com a passagem do opositor do atual presidente.
Esgueirando-se pela multidão diminuiu a distância entre ambos, notando com quem ele tanto discutia, era o seu candidato. Ambos tinham uma conversa amigável rodeados de seguranças dos dois lados.
Joseph de bebida na mão agitava calmamente o vinho enquanto ressoava calma palavras sobre o adversário: — A última sondagem pareceu certeira, vitória minha.
— Sim, é o que eles dizem. Contudo eu ainda acho que tenho chance, existem algumas cartas que eu posso jogar ainda — com um sorriso amargurado ele finalizou a sua fala, dando um certeiro gole no whisky que bebia.
— Boa noite meus senhores…
Os dois olharam para o redor, notando o homem que se dirigia a ambos. Elegante como sempre, seria difícil não o reconhecer.
— Paul, meu amigo — espantado com o aparecimento repentino dele o presidente saltou com os seus braços sobre o terno que o homem empunhava — Se tivesses alguém como ele terias chance, Donald.
De sorriso amargurado, o político tentou abreviar a provocação de Joseph, envolvendo o seu discurso no passado: — Eu conheço-o bem, já trabalhamos juntos algumas vezes, não é?
Acabando de sair do envolvente abraço, viu diante do seu olhar um aperto de mão, executado com firmeza ao oponente de Joseph.
— Sim, foram bons anos no Afeganistão.
De novo ele levou o copo à boca e deu outro gole, continuando em seguida o tema de um tempo compartilhado por ambos, mesmo antigo seria o suficiente para levantar questões sobre aquele homem na mente de Joseph: — Foi apenas mais um dia a mostrar o nosso poder contra aqueles primatas. Terroristas de merda — sem conseguir conter o riso ele foi consumido por uma enorme gargalhada.
— Não posso falar sobre, infelizmente não pude lutar na altura.
— Também só foi mais do mesmo, morte… — concluiu o chefe da Spes Homini recordando na sua mente os tempos de guerra.
” O Dener ainda contiua a lembrar-me dessa altura, talvez seja pelo terrorismo… ” — faziam dias que ele pensava e debatia consigo mesmo quem era realmente aquele homem, mesmo desaparecido o perigo que ele podia causar era devastador.
— Por falar em terrorismo, soube que a tua cidade foi atacada. Os meus pêsames aos cidadãos.
— Obrigado Donald, tudo está a ser resolvido, agora vamos ter o máximo de cuidado.
Terminando a bebida, o oponente colocou o copo sobre uma das mesas da sala, sujando o material de enorme riqueza com os restos do líquido. Falando logo depois para ambos: — Bem Joseph e Paul, alguém aqui tem de trabalhar, vou falar com algumas pessoas aqui. Até mais.
Ao voltar as costas os seus seguranças seguiram com ele, formando uma longa passadeira vermelha imaginária para a sua passagem. Dos lados as pessoas tiravam fotos, Donald era um famoso da televisão, conhecido pelo seu papel em diversos filmes e participação no exército.
— Ainda não me conformei com esta estratégia, ter este homem aqui dá-me arrepios — notando a distância Joseph abriu-se ao seu amigo, engolindo seco momentos depois.
— É simples. Como eu disse antes, mantém os teus amigos perto e os teus inimigos ainda mais perto.
— Acho que temos inimigos maiores que ele, os russos e os chineses fizeram uma aliança inquebrável. Talvez a guerra seja iminente — de cabeça baixa ele suspirou. Só de falar neles o seu peito começava a aquecer e o suor a escorrer. Bastou isso para rezar para a brisa leve o ajudar a afastar o calor.
No meio da conversa frases começaram a soar dos aparelhos dos seguranças, eles demonstravam-se agitados com o que ouviam. Paul tentava focar-se nas palavras que entravam como agulhas no seu ouvido, mas era difícil com som por todos os cantos da sala.
O mais à direita, talvez o chefe, colocou a mão sobre o ombro do presidente e sussurrou-lhe algo ao ouvido.
Percebendo o que se passava o rosto do homem modificou-se totalmente, sendo dominado pelo medo. O quente que lhe tomava o peito antes agora era uma aflição ao saber de tal facto, a cara negra começou a usurpar para si tons roxos.
— Paul acho que vou ter de me retirar, surgiram alguns contratempos.
— Tudo bem, assim que estiveres com tudo resolvido liga-me.
Sem nem o deixarem ouvir a fala do chefe da Spes Homini os seguranças levaram-no embora por dentro da multidão. Poucos foram aqueles que notaram, seria um problema demasiado grande se aqueles homens que tomavam-se como mais importantes verem o todo poderoso da América a fugir. Talvez demonstrava que o plano inimigo avançava a todo o vapor.
— A todas as unidades da Spes Homini, o presidente foi retirado da sala, eles estão a movimentar-se, se preparem — comunicou ele para os seus três subordinados ali presentes.
O tempo após a saida do presidente parecia escorrer pelas mãos de Paul que deleitado nos seus pensamentos observava a multidão perdido.
“Eu só tenho de confiar neles os três agora, está tudo nas mãos deles. Mesmo que quisesse, eu sozinho não conseguia impedi-los”.
— Aquela Barbara é meio maluca, não achas?
Perturbado, não entendeu nada, aquelas palavras invadiram o seu pensamento repentinamente e fizeram-o retornar à realidade. De mente na terra olhou para tudo em seu redor, apenas viu diante de si David, de olhar triste e cheiro de álcool. Roupas bagunçadas e batom vermelho no pescoço. Aquela meia hora que se fez desaparecido revelava-se ser bem aproveitada pelo mesmo.
— Eu diria que sim, mas parece que entendeste da pior forma.
— Eu podia ter aproveitado mais um pouco, mas um homem estava à tua procura — a cara carregada de desgosto em segundos reformulou-se numa expressão de ânimo. Apenas a insinuação ao ser misterioso fazia a cara dele brilhar.
Estranhando a mudança nada habitual de humor daquele homem a curiosidade consumiu a cabeça do terceiro homem mais rico do mundo, que de pestana levantada perguntou: — E quem seria essa pessoa?
A mão da David ergueu-se e o dedo apontou para trás das costas de Paul. Um homem belo, loiro de olhos azuis assim como o próprio chefe da Seps Homini. No seu corpo um terno do mais alto requinte era exibido.
Aquele homem era familiar, mais do que ele se conseguia lembrar. Contudo as poucas memórias da sua infância que não tinham sido perdidas com o tempo o faziam hesitar na sua análise.
Porém, sem ele mesmo se mover, a sua mão mexeu-se sozinha e apontou para o sujeito e da sua boa simples palavras saíram: — Eu lembro-me, tu és…
Segurando levemente a mão exaltada, o homem aproximou a sua boca ao ouvido do bilionário suavemente e com poucas palavras expressou a sua resposta: — Eu sai diretamente daquele inferno para te arrastar de volta.
Paul caiu sobre o chão e sem se conseguir controlar dezenas de berros saíram diretamente da zona mais profunda do seu corpo, todos ali ficaram apavorados e caíram com os seus olhares sobre o corpo no chão em agonia. John, do outro lado da sala, viu toda a multidão formar-se e correu o máximo que podia em auxílio, mesmo não conseguindo perceber o que se passava.
Calmo, o homem desconhecido, apenas abandonou a roda que cercava o bilionário, encarando a multidão que cada vez mais aumentava junto do corpo. A feição dele permanecia igual em todos os momentos. Revelando ser com um boneco no seu interior, com uma expressão facial imutável.