Spes Homini - Capítulo 24
Dentro do Hotel os corredores pareciam cada vez ficar mais estreitos. Ao mesmo tempo que o rasto que seguiam parecia cada vez mais recente, as pegadas adversárias eram rápidas e trêmulas.
— Aquele nome na faca… Professionnelle Mörder, conheces? — Ryan desconfiou do olhar que Michael soltou há adaga quando a segurou, pareciam velhos amigos de batalha.
O assassino parou e segurou o seu companheiro pelo braço. Do lado esquerdo uma porta entreaberta, que ainda se movia. Com um tom baixo dirigiu o seu discurso ao agente que o interrogava: — Todas as portas que nós passamos estavam fechadas, é meio estranho estar apenas esta aberta — avançou alguns passos encostando as costas na parede do lado direito da abertura — Aos três entramos.
Concordando com a cabeça, Ryan tomou o lado oposto da parede para sim, agarrando a maçaneta. Michael levantou a mão e começou a contar com os dedos, subiu um dedo, dois dedos, três dedos.
Ryan empurrou a porta para dentro e entrou com a arma levantada pronta para atirar. Parecia não haver nada dentro daquela sala digna de um filme de máfia. O agente da Spes Homini seguiu os passos do companheiro.
— Limpo…
Michael olhou o resto do espaço, tudo parecia estar no lugar, intocado. Apressadamente escolheu uma das portas e sussurrou: — Eu vou ver o quarto, fica com o banheiro.
Ambos colocaram-se nas posições, a chance era grande de estar ali atrás alguém. Ryan encarou a porta e suspirou fundo, agarrando a arma firmemente em seguida. Atrás de si escutou o assassino a arrombar a porta com um simples chute, o som entrou pelo ouvido dele como um tiro de tão alto.
O quarto parecia de relance limpo, Michael de pistola na mão revirava os armários e observava debaixo da cama. Após uma avaliação mais detalhada concluiu o que já tinha tomado como certo desde o início.
Voltando ao mesmo ponto de onde estava quando entrou naquele espaço, virou as costas e andou alguns passos em direção à sala para auxiliar Ryan. Ele junto da porta do banheiro estranhava a teimosia dela em girar a maçaneta, parecia que alguém a trancava do outro lado.
Ambos trocaram olhares de certeza. Michael apontou de imediato para o pé e em seguida para a porta. Recebeu um aceno do seu companheiro que com um simples movimento levantou a perna. O pé estava a poucos centímetros da porta e movimentava-se bastante rápido, quem quer que estivesse do outro lado ia levar com a ela em cima.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH…
Ryan caiu sobre o chão enquanto gritava de dor. Michael não entendeu nada e aproximou-se para ver. Diante dos seus olhos estava uma lâmina a passar a porta e na perna que a iria chutar escorria um rio de sangue.
Apontando a arma para a madeira, o assassino descarregou a munição inteira. Mesmo não tendo uma boa pontaria sabia que alguns dos tiros poderiam acertar.
Ao ouvir o barulho da pistola sem qualquer bala atirou-a para longe e do casaco retirou a faca que havia encontrado no cadáver.
Empurrou aquilo que ainda sobrava da porta e viu do outro lado um homem baleado encostado a uma banheira, cobria os ferimentos dos tiros com as mãos e pintava de sangue tudo aquilo que tocava.
— Professionnelle Mörder, como eu previa. Pensava que tínhamos um acordo — Michael ajoelhou-se à frente dele.
— Tu és… o Michael… ele falou-nos de ti — o homem juntou as últimas forças e cuspiu na cara do assassino — Filho da puta, traidor de mer… — nem pudendo terminar a frase sentiu a faca perfurar o peito e a mão fria do assassino cobrir-lhe a boca e o nariz. Tentou lutar para sentir o ar prencher de novo os pulmões. Contudo não tinha qualquer chama para o fazer mexer, o corpo estava fraco. Os olhos começaram a lacrimejar e a visão mudou. Ali estava agora o seu pai, onde antes havia quem o matava. Recordava-se da vez que aquele homem que o tinha feito surgir no mundo lhe batia, mas aquela que via na cabeça era especial. Como um animal furioso, o homem que amava esfaqueava-o quando ainda era criança. Michael vendo que não tinha mais resposta do inimigo afastou a mão e em seguida retirou lentamente a faca, voltando as costas para o corpo — Pai… mesmo que me deixes eu ainda te amo… — as palavras finais dele voaram junto da brisa e desapareceram nas costas do assassino que nem tomou do seu tempo para as ouvir.
— Será que o John conseguiu alguma coisa? — perguntou em tom de monólogo o chefe da Spes Homini.
Jeniffer tomou aquela pergunta como se fosse para si e tardou pouco a responder: — O John é alguém capaz de encontrar aquele homem, eu sei bem disso.
Ao ouvir aquilo ele olhou para baixo, visualizando o tecido branco que havia em cima das suas pernas. Todavia a mente era coberta pelas incessantes memórias de John a ser capturado semanas antes.
— Não precisa de ficar assim chefe, não é como se alguém tivesse morrido. Muita coisa ainda pode acontecer e nós certamente vamos dar a volta por cima.
Ele escutou aquelas palavras atento e deu como resposta o silêncio. Com um único movimento retirou de cima de si tudo o que o aquecia e sentou-se na cama.
— Jennifer tu ainda me culpas? — questionou com o olhar preso nela.
Sentada numa cadeira, ela sentiu a pergunta espalhar-se como sangue pelo corpo. Sentia a sensação de ódio chegar à boca e cobrir as palavras: — Eu vou ajudar-te no teu plano, mas eu prometo que te vou matar — ela levou a mão à arma e apertou-a — Ele não era para ter morrido lá, nem daquela forma — lágrimas começaram as escorrer pelo rosto frio dela.
Paul caiu da cama e tomou-a nos seus braços. Sentia o gélido das gotas tocarem-lhe na pele.
— Eu compreendo — aproximou a boca do ouvido dela — eu dou-te permissão para atirares em mim quando achares melhor… — o abraço ficou mais forte e o calor começou a ser sentido por ambos.
A sala de festa parecia calma, mesmo que Paul tivesse desmaiado minutos antes. Parecia também que a falta do presidente não tinha sido notada.
John procurava no meio da multidão por alguém que se assemelhasse ao homem descrito pelo seu chefe. Contudo os poucos que tinham características iguais diferiam em algum outro aspecto.
“Provavelmente ele já não está aqui. Alguém queria afetar a mente dele para o tirar do jogo e parece que conseguiu” pensava John confiando cada vez mais na sua intuição.
Mesmo assim, os seguranças afirmavam que ninguém tinha saído da sala. John tinha dito a todos que nenhuma pessoa a não ser por ordem sua ou do presidente podia sair dali. Isso intrigava-o, e tornava o seu raciocínio confuso e talvez fraco.
Patrulhando junto de uma das mesas viu David com Bárbara. Esse homem estava com o chefe da Spes Homini antes de ele cair no chão, talvez ele soubesse de algo, deduziu.
— Olá David, gostaria de fazer algumas perguntas sobre o Paul, podes acompanhar-me?
Bárbara olhou para o forte homem e mostrou o dedo do meio dizendo em seguida no meio de sons incompreensíveis algumas palavras: — Seu filho da… puta… o David — pensou um pouco para saber o que estava a falar e continuou — meu…
— São só algumas perguntas, senhora. Venha comigo David, por favor.
— Claro que sim, quero ajudar o quanto puder — respondeu, tentando colaborar com o máximo que sabia.
Bárbara de novo interveio colocando-se na frente do homem, apertou o braço do segurança e começou a gritar: — Ele é meu porra!!!!! Meu… Meu… E meu…
— Eu já entendi, senhora, eu vou só ali com ele e já volto. Enquanto isso para eu não a levar presa faça o quatro por gentileza.
— Não, não. Eu não quero ir presa.
John perdendo tempo com tudo aquilo deu um longo suspiro e respondeu: — Então faça como eu mandei.
O agente agarrou no braço de David e levou-o para uma zona mais afastada do centro da festa. O amigo de Paul ao olhar para trás conseguiu ver apenas Barbara caída no chão sem qualquer reação.
— Bom, acho que aqui é tranquilo — encostou-se ao canto da sala — Eu queria perguntar-te sobre um homem loiro de olhos azuis, viste-o?
David fez um olhar pensativo para cima e respondeu com pouca energia: — Eu estava com ele… eu acho… mas não me lembro muito bem.
— E para onde ele foi? — perguntou o agente apressado.
— Eu não sei, perdi-o de vista à um bom tempo. Talvez esteja com o presidente, ele parecia querer muito falar com ele.
John enquanto ouvia as frases do homem notou algo logo atrás que lhe chamou a atenção, no meio de um pequeno grupo de aristocratas um homem. Parecia familiar, com uma pala no olho e um terno no corpo. Era uma sensação que nem mesmo ele conseguia explicar, era amedrontadora.
— Senhor… Senhor… Eu posso ir embora, a minha amiga deve estar a precisar de ajuda…
— Ah sim, desculpa-me — voltou a atenção de novo para onde estava o homem — Podes ir sim.
A cara do agente mudou rapidamente, parecia não entender algo. David notou isso nos olhos dele e curioso perguntou: — Aconteceu alguma coisa? — olhou para a direção que os olhos de John se focavam.
— Eu só… jurava que estava ali uma pessoa agora mesmo… — esfregou os olhos e tentou observar de novo a figura misteriosa — Talvez tenha sido um delírio meu.
— Muito provavelmente, mas bem, eu vou indo. Adeus — o homem acenou e em seguida voltou às costas ao agente que nem notou pela saída dele.