Sua Alma Amada - Capítulo 25
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Thome sai de cima de Jack e enquanto desce, vai fazendo carinho nele, Jack retribui com pequenas lambidas e pequenos saltos, com uma de suas mãos faz carinho na cabeça do lobo, e mesmo todo bruto vai lá e o abraça.
— Muito obrigado pela caminhada, você foi incrível nessas últimas horas.— Thome é interrompido pelo latido de Jack — pelo visto você gostou né.
Zac toma cuidado para sair de cima de Holly, pois além de ela estar um pouco menor, ele também está carregando o contrabaixo de Thome.
— Vocês dois, eu até pensei em levar vocês para meu mundo astral, mas acho que hoje não tem necessidade, creio que será melhor guardar para quando estivermos dentro do deserto. — Ao terminar de falar, Kyron da uma caminhada envolta do lugar, ele percorre um raio de 17 metros.
— Pode ser, mas para mim não muda muita coisa, já que independente do tempo está escuro.
Zac aproveita o momento para reunir Jack e Holly, então rapidamente dá um abraço neles, como forma de agradecimento.
— Podem descansar — Zac faz dois movimentos com suas mãos, seus olhos voltam a coloração normal, enquanto uma fumaça negra que formava os animais é puxado para dentro do grimório, um barulho de latido muito alto é gerado, mas algo estranho acontece, tudo começa a ficar preto e distante, uma sensação de desmaio vem sobre ele e antes de cair no chão, Zac arruma a força que tem para falar — Thome ajuda instrumento.
Ao perceber o que estava acontecendo, Thome parte em direção ao jovem e consegue segurá-lo antes do impacto com o chão.
— Eu tinha esquecido, esse rapaz ficou horas usando não somente seu poder, mas também amplificando ele, além de carregar um peso considerável em suas costas. KYRON, vem cá, seu aluno caiu.
— O que houve? — Kyron se aproxima com uma certa velocidade — Ele ficou exausto né, estava pensando nisso, você também sentiu a quantidade de energia que ele estava liberando todo esse tempo né?
— Sim, não quis falar nada, mas você também sentiu que ele estava controlando algo longe daqui né?
— Senti sim, na verdade eu estava sentindo algo muito fraco, mas como tive contato com essa presença não foi tão difícil identificar.
— Antes de continuar, vou deixar o jovem em lugar tranquilo, aliás me ajuda que ele é cria tua — Thome retira o contrabaixo das costas de Zac e entrega para Kyron — Segura aí pra mim.
E com muito cuidado, Thome coloca Zac no chão, e percebe que o jovem rapaz está tendo alguns espasmos musculares.
— Eh rapaz, você chegou no seu limite, não queria nem saber como seria se continuássemos. Teu pupilo é muito maluco — Thome aproveita e se senta no chão. — Então o que ele estava controlando todo esse tempo?
— Ele tem uma ave que uma vez usou para matar um rapaz, me recordava que ela tinha uma energia parecida com a que sentimos, então eu fui para o quarto branco (Universo Astral do Kyron) e confirmei que realmente é ela.
— Ele já matou alguém? As crianças de hoje em dia estão complicadas, o peso da morte nesse mundo é mais complicado para quem mata do que para quem morre.
— Não, ele não chegou a matar. Mas essa parte não importa, eu estava conferindo a energia e fui tentar monitorar para ver onde estava, mas era algo perto da província dominada pela família de Zeus. Provavelmente tem algo relacionado com Dionísio.
— HAHAHA, esse jovem é muito curioso, imagina se ele fosse capaz de esconder a presença da energia dele. Agora entendo a urgência quando ele me contatou.
— Sim, mas vamos deixar esse assunto pra depois. Eu queria prosseguir a noite no deserto, mas como o Zac já estava ficando exausto, acho melhor descansarmos um pouco. Ter vindo com os lobos nos ajudou bastante.
— E você cheio de medo de cair do lobo, tu acha que ele não percebeu né. Aliás como tu ficou no seu mundo astral, você deve estar descansado, vou só ajudar o rapaz e descansar também.
Kyron coloca o contrabaixo perto dos dois, e após dar três passos à frente, estende sua mão esquerda e com sua mão direita faz alguns movimentos suaves, como se estivesse pincelando uma obra. E na na sua mão esquerda começa a surgir uma pequena bola branca que flutua enquanto vai aumentando o seu tamanho, dentro dessa bola que se comporta como uma gota de água que cai na terra seca e cria uma camada que a protege de explodir, Kyron prende algumas partículas e usando sua afinidade com tempo, ele faz com que algumas viajem para o futuro enquanto outras viajam para o passado.
Ele faz uma espécie de acelerador de partículas, sem utilizar velocidade, e sim utilizando o tempo de milhares de anos. Ainda flutuando em sua mão, ele pega a bola que se comporta como água e gira em 360º graus, o giro faz com que a bola continue girando no mesmo eixo. Porém no momento que ele gira, uma luz muito forte começa a ser gerada na parte interior, o movimento gerado fez com que as partículas se chocassem, formando uma espécie de supernova.
Kyron então, com muita sutileza, joga essa bola para o alto e quando ela está ganhando altura, Kyron toca novamente nela e a camada de água torna-se gelo e fica travada no tempo, ela fica ali parada sem subir e nem descer.
— Não vai mudar muita coisa para você, mas vai ser melhor quando o rapaz acordar ter uma luz. Sei que nessa parte daqui não mora ninguém, mas vou só dar uma olhada por aí — Kyron termina de falar e sai andando para dentro dos prédios feitos de alta tecnologia, seu caminhar segue em passos lentos e elegantes.
— É garoto somos só nós, dá pra ver que seu corpo está cansado mas sua alma está mais agitada que nunca — Ele olha para o corpo de Zac que não para de produzir espasmos musculares.
Thome pega seu contrabaixo e ali mesmo começa a tocar uma melodia suave, mas ao mesmo tempo impactante. Zac e Thome são embalados por uma ritmo que vem da alma, a visão de Zac começa a se abrir novamente, ele então começa a notar que está diferente, tudo ao seu redor está colorido, mas as cores estão em movimento, como se seguissem as ondas musicais.
— O que aconteceu? Quebrei teu contrabaixo? Cadê o Kyron — Zac olha um pouco melhor, ainda confuso tentando entender a dinâmica entre sons e cores, percebe que Thome está tocando o contrabaixo, o que quebra completamente sua pergunta.
— Como imaginei, seu corpo tá um caco, mas sua alma está bem.
— Onde eu tô? — questiona Zac.
— Olha para baixo rapaz, você está no meu universo astral.
Zac olha para baixo e vê que seu corpo está caindo no chão, e que ainda está produzindo vários espasmos musculares.
— Que loucura essa, cadê o Kyron?
— Ele foi dar uma volta, colocou uma espécie de lâmpada e falou que daqui a pouco volta. Então eu não sou um bardo de ofício, mas devido a alguns estudos eu consigo fazer uma coisa ali e outra aqui, sendo assim, creio que em algumas horas você fique bem.
— Mas o que aconteceu? Porque eu cheguei nesse estado?
— Então rapaz, além de ter um vasto poder, parece que seu corpo não aguenta ele por completo, sem falar que parece que ele já está sofrendo assim a alguns dias. Uma pergunta séria, nos últimos dias tu parou para descansar?
— Já me falaram sobre a incompatibilidade do meu corpo com meu poder, mas acho que tudo é treino. E sobre descansar, acho que só quando eu tava na enfermaria.
— Aproveita um pouco e ouça, como falei lá atrás, parece que temos algo em comum, nosso coração bate por causa de um belo sorriso. Mas antes de contar minha história, sinto no meu coração de lhe contar sobre uma que acho muito linda.
— Tá bom, não é como se tivesse muito que fazer também né.
— Tem razão, mas te garanto que aqui as histórias ficam ainda mais legais — Thome começa a dedilhar em um tempo diferente e o som projetado pelo instrumento começa a mudar a cor de todo o local — porque aqui você não vai apenas ouvir mas também vai ver o que a história tem a contar.
Zac se encanta com a mudança, cada dedilhada gera uma cor diferente que ecoa, linhas saem do contrabaixo e ao se propagar no espaço começam a se entrelaçar, numa espécie de show pirotécnico.
— Jovem, como lhe falei, vejo no seu olhar que somos parecidos, mas antes de lhe contar, gostaria de mostrar uma história que é muito importante, ela começa assim: Era uma vez um jovem casal… — as falas de Thome se mesclam com o ambiente e Zac já não consegue ouvir o que Thome está cantarolando, mas ele consegue ver um jovem casal caminhando bem na sua frente.
Tudo ocorre de forma fluida, é como se o casal estivesse dançando, mas a sensação para Zac é estranha, porque ele sabe que nada disso está acontecendo e que Thome está bem na sua frente tocando a música, e a sua voz se mescla com o ambiente.
Mas na verdade o casal não estava dançando, o rapaz estava segurando a mulher para que ela não caísse no chão, pois ela andava com muita dificuldade, não conseguia se apoiar em lugar algum.
— Ele já vai nascer — gritou a mulher que estava desesperada de dor.
— Aguente firme, pois estamos quase chegando no estaleiro.
A mulher estava grávida e sua dor vinha das contrações que estavam cada vez mais fortes, todo seu corpo latejava, limitando o seu movimento. Entretanto com muita dificuldade eles chegam em um local, extremamente simples, onde alguns animais dormiam por perto.
A cada nota tocada por Thome, Zac via as ondas se propagando e o local aos poucos ia se formando, uma espécie de estábulo, alguns animais deitados, outros se alimentando e no meio disso tudo o casal sem saber o que fazer.
O rapaz vê lá no canto um local que usam para depositar comida para animais, uma espécie de manjedoura, ele se apressa para limpar, mas a cena de sua esposa é de cortar o coração, ele corre e coloca um pouco de feno e alguns tecidos.
Entre gemidos e contrações, a mãe suporta uma dor, mas a mesma não compreende a dor que um dia seu filho irá suportar. A bolsa se rompe, o bebê é retirado e logo em seguida é envolto por tecido, o choro do bebo ecoa para além do estábulo.
— Nasceu — gritou o rapaz — Desculpe por não lhe propiciar tamanho conforto.
A mulher coloca o bebê dentro da manjedoura, ainda fraca, se escora e fica com os joelhos no chão. Sua mente voa, ela lembra da voz suave dizendo que ela receberia uma benção maravilhosa, o rapaz se aproxima e com cuidado faz carinho no bebê, enquanto serve de apoio para sua mulher, mas de fundo eles ouvem passos de aproximando.
— É aqui que nasceu o rei? Estávamos seguindo uma estrela que apontava para cá, desculpa a minha falta de educação, me chamo Belchior, esses aqui do meu lado se chamam Baltasar e Gaspar.
— Prazer, como Belchior falou me chamo Baltasar e vim aqui celebrar a vinda do rei, trouxemos presentes.
— Me chamo Gaspar, nós trouxemos incenso, mirra e ouro. Eu posso ver o bebê?
O casal se assusta, mas novamente a mulher se lembra da promessa e ao olhar para o bebê compreende que o Emanuel está ali, ela segura no braço do marido e dá um sorriso.
— Podem sim, sejam muito bem vindos, desculpe não ser um lugar à altura de vocês.
— Eiii Zac, está entendendo a história? — questiona Thome.
— Eu acho que sim, só não entendi muito bem o porquê você está me mostrando, no início achei meio confuso, mas acho que comecei a entender melhor.
— Fique atento, rapaz.
Os três se aproximam da manjedoura, os rostos deles se enchem de lágrimas, eles entregam os presentes ao casal, mas neste momento todos ali no recinto são surpreendidos por criaturas aladas, que carregam com si instrumentos musicais e com suas vozes angelicais cantavam:
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor.”
Naquela noite, os grandes artistas da época dormiam sem saber que estavam perdendo o maior espetáculo de canto em coro já visto pelo homem, até então.
Thome vai diminuindo o ritmo as coisas vão se desfazendo, o som continua ecoando mas de forma mais sútil.
— Sabe rapaz, eu nunca vi essa cena, um dia eu sonhei com essa história, sabe a música que você ouviu eles cantando? Eu que criei, não tenho qualificação suficiente para me comparar com o que foi feito naquela noite.
— Uau, entendo um pouco mais sobre o amor que você tem para com a música.
— Agora vou lhe contar um pouco sobre minha vida — Thome começa a aumentar o ritmo, fazendo com que ondas vibrantes saíssem dele.
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