The Endless - Capítulo 3
Kevyn e Améli estavam caminhando pela cidade. Ali era um local bem frio e com neve em toda parte. Olhares cercavam o garoto, que já estava acostumado e apenas ignorava.
Não era comum ele sair de casa e Améli sabia disso. Por isso, ela decidiu que, antes de comprar a arma dele, seria melhor que eles caminhassem um pouquinho.
Eles passavam por uma ponte, olhando para o rio que estava congelado. O garoto subia no vão da ponte ao mesmo tempo que olhava para Améli.
— Você já decidiu qual arma vai comprar? — Améli segurava a mão dele, para ele não cair.
— Eu acho que vou comprar uma espada — Kevyn movimentava sua outra mão como se estivesse cortando algo.
— Que nem a sua mãe? — Ela riria pela pequena semelhança.
— Sim, a mamãe tem uma bem bonita, não tem?
— Sim, eu já vi ela em ação uma vez. É uma espada bem especial e dizem que só os dignos conseguem erguer ela.
— Será que eu conseguiria uma igual? — Os olhos dele brilhavam.
Améli pensou: “Ele realmente está ignorando o braço. De toda forma… o pessoal daqui não gostaria de uma criança com uma arma.
Astéria quer que ele treine e saiba se proteger, principalmente pelo tanto que ele vale e os outros países que sabem a importância dele, ela mesma não vai conseguir protegê-lo pra sempre”.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Após saírem da ponte e caminharem por algumas horas, eles finalmente foram para a loja de armas, mas não era uma loja comum.
Eles passam por um beco e chegam até uma porta. Os dois entram e Améli vai até o vendedor, mas Kevyn, animado ao ver diversos acessórios, andou pela loja.
— Olha só, se não é a Améli! — O vendedor observou o garoto.
— Olha só, se não é o Jeremy! — sorriu.
Um homem alto, de cabelo longo e ruivo. Ele encarou o garoto com suas íris amarelas.
Percebendo um olhar analítico vindo dele, Kevyn o olhou de volta e sentiu a presença assustadora que ele tinha.
Os olhos do homem brilhavam ao olhar para ele, mas o garoto estava ocupado demais, andando pela loja inteira, vendo as coisas que havia ali.
— Ele dá muito trabalho? — Ele voltou seu olhar para Améli.
— Trabalho ele não dá não, mas é bem curioso pensar na maldição que tá no braço dele.
— Sim, eu tô vendo. É uma maldição inquebrável, pelo visto.
— Inquebrável?! — Ela se assustou.
— Bem, deixando isso de lado, o que vai comprar?
— Trocando de assunto? — cruzou os braços. — Vim comprar uma espada pro garoto.
— Foi ela quem pediu, né? — O sorriso no rosto de Jeremy se desfez.
— Sim, foi.
Observando mais um pouco, Jeremy terminou de analisar e retirou uma espada debaixo de seu balcão.
— Essa é perfeita para o garoto — Ele colocou uma espada negra em cima do balcão.
— Ei, Kevyn! Vem ver a espada.
O garoto correu até o balcão e tentou ver a espada, mas o balcão era maior que ele. Améli pegou a espada e se ajoelhou, mostrando a arma.
— Aqui!
— Ah… ela é tão… — Os olhos dele brilhavam, enquanto ele passava a mão sobre o meio da espada — Ela é meio torta, mas é tão charmosa.
— Torta? Haha — Améli riu, mas olhando melhor, percebeu ser realmente torta.
— Eu amei ela! — sorriu.
— Tem certeza? — levantou.
— Tenho.
— São 25 mil grafos — Jeremy olhou para ela com um sorriso.
— Esse seu sorrisinho, você já sabia, né? — Disse botando o dinheiro no balcão.
— Não sei? — Ele pegou o dinheiro ao mesmo tempo que colocou a outra mão no queixo.
— Vamos, Kevyn! — Pegando a mão do garoto, ela ergueu a espada e colocou-a em seu ombro.
— Vamos!
Após saírem da loja, eles retornam pelo mesmo caminho, aproveitando cada momento antes de chegarem na mansão.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Depois de algumas horas, eles retornam. Chegando à mansão, os dois foram recepcionados por Astéria, que olhava para a espada com seus olhos brilhando.
— Essa espada… — Astéria cruzou seus braços.
— O que tem ela? — perguntou preocupada.
— Não, nada. — Ela virou-se de costas e saiu andando.
— Será que aconteceu alguma coisa? — Kevyn olhou para Améli confuso.
— Não, provavelmente não. Vamos para o campo. — Ela caminha na frente do garoto.
— Uhum! — Disse energeticamente, seguindo-a.
Chegando ao campo, Améli olhou para o garoto e jogou a espada para ele.
Ele reagiu o mais rápido que pôde, mas ao tentar pegar no cabo, a espada bateu com o meio sem lâmina em sua testa — “Bonk” — Um som era emitido pelo impacto.
Améli tentou segurar, mas começou a cair na gargalhada.
Kevyn, sem reação, estava com a espada ainda em sua testa.
Ele caiu de joelhos enquanto grunhia: — Arhh! — lacrimejando.
— Hahahhaha!!!! — Améli se agachou na frente dele ao mesmo tempo que ria, apontando o dedo em seu rosto.
Kevyn não conseguiu segurar a espada por ser muito pesada.
Ele lentamente tirava ela de sua testa, em seguida, cravou-a no chão e usou-a para se levantar.
Améli retomava a compostura enquanto se levantava. Ela definitivamente não esperava que aquilo fosse acontecer.
Kevyn olhava para ela.
— Ela é pesada, é? — sorrindo.
Cabisbaixo, Kevyn demora alguns segundos antes de responder: — … Sim.
— Coloca ela no seu ombro, você consegue?
— Ela é maior que eu, mas calma… — Ele lembrou de algo: — Espadas não deveriam ter 1 kg?
— Materiais afetam o peso, mas ela tem 160 cm também.
— Ela é feita de quê?
— Talvez obsidiana, parece ser um metal negro fundido com obsidiana. Ela deve ter uns 11 kg.
— Ela é pesada…
— Ela até pode ser pesada, mas tenho certeza que você consegue!
— Tá bom, lá vou eu! — Com extrema dificuldade, ele ergueu a espada.
Botando-a em seu ombro, Kevyn se desequilibrou com o peso e acabou caindo para trás.
Caindo sentado de maneira descuidada, ele teve seu ombro cortado.
Com o próprio sangue manchando suas roupas, Kevyn definitivamente achou que não iria conseguir.
Améli percebeu e foi até ele para confortá-lo. Ela se ajoelhou e pegou Kevyn em seu colo, abraçando e se sentando.
— Tá tudo bem, você só precisa melhorar — Ela cruzou as pernas, abraçando-o e o deixando sentado em seu colo.
— T-tá bom — Não acostumado com qualquer tipo de afeto, Kevyn ficou um pouco tímido.
Améli percebeu o desconforto do garoto, então tentou parar de o abraçar, mas Kevyn segurou seus braços antes.
Percebendo, ela voltou. Ele não sabia o que fazer, então acabou não retribuindo o abraço.
— Obrigado por ser uma mãe pra mim — Ele escorou a cabeça no peito de Améli enquanto fechava os olhos.
— A-ah… — Améli se surpreendeu, não sabendo como reagir; ela fez um cafuné nele.
Kevyn ronronava, mostrando suas orelhas.
Améli se sentia realizada, mas para sua infelicidade, ela não podia simplesmente tomar a guarda dele.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Alguns minutos depois, Kevyn iria tentar de novo.
Ele erguia a espada, mesmo com dificuldade.
Dessa vez, ele sabia melhor o peso dela. Ele gentilmente a colocou em seu outro ombro, não sendo cortado dessa vez.
Kevyn olhou para Améli que dizia: — Agora quero que você corte o ar.
— Calma, isso é difícil! — Ele empunhava a espada com as duas mãos, tentando não cair com ela de novo.
Kevyn dá um passo à frente e faz um corte na diagonal.
Com o peso, a espada leva ele junto. Para tentar não cair, o garoto acaba rodando com a espada na diagonal.
Vendo a deplorável situação do garoto, com apenas uma de suas mãos, Améli para a espada.
Pela freada repentina, Kevyn é jogado para longe, caindo e rolando pelo chão.
Apesar de tudo, ele já esperava esse resultado e ficou deitado.
— Hm… eu preciso fazer outras coisas por enquanto, vou te dar 50 tentativas. Quero que você golpeie o ar de maneira perfeita até eu voltar — Ela fincou a espada no chão e saiu andando do campo.
Se levantando, o garoto encarava a espada — Ah…~ — suspirou e caminhou em direção dela, falando: — Você precisa me ajudar, ok?
Kevyn respirava fundo, agarrando e retirando a espada do chão. Levantando-a aos céus, ele daria dois passos para trás enquanto a colocava em seu ombro.
Kevyn pensou: “Na primeira vez, você me cortou, o sangue deve selar nossos laços. Vou te chamar de Night, como a noite”.
O centro da espada brilhou em um tom roxo, ele não percebeu, pois estava perdido em seus pensamentos.
Ele suspirou de novo e, com toda sua força, puxou a espada de seu ombro.
Night estava leve como uma espada de uma mão e, quando percebeu, Kevyn destruiu todo o chão à sua frente.
— A-AH! — surpreso, ele se afastou, soltando Night ao mesmo tempo que tropeçava em si, caindo e olhando para as próprias mãos — E-eu sou tão forte assim?
Olhando, ele percebeu que o campo se regenerava, aquilo era uma novidade para ele. Se aproximando, ele pegava Night com apenas uma de suas mãos.
Finalmente entendendo, ele disse: — Você… — fechando os olhos, ele pensou: “Eu não sei o que você é, mas se você me aceitou, eu prometo cuidar bem de você”
Kevyn sorria, percebendo estar falando com uma espada.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Após alguns minutos, Kevyn estava cortando o ar diversas vezes.
Ele percebeu que Night não era pesada apenas para ele, tornando seus ataques devastadores para qualquer coisa que acertava.
Da entrada do campo, observava Klei. Ele ouviu pelas sombras que Kevyn não estava conseguindo sequer erguer a espada, então aquilo era uma surpresa para ele.
Com suas expectativas sendo quebradas, Klei veio a se questionar: “Então é isso que chamam de fazer o impossível? Erguer uma espada maior que si, estar aguentando a maldição… Isso me deixa curioso”.
Com seus braços cansados, Kevyn fincou Night ao chão, enquanto se sentava e suspirava: — Fuuh~ Isso é tãããooo~ Difícil.
Em seu meio, Night brilhou em tom roxo. Percebendo, Kevyn se aproximou, mas antes que pudesse falar algo, Klei apareceu, o aplaudindo.
Klei sorria, falando em tom de deboche: — Ohoho, você é realmente um dragão formidável, garoto!
Kevyn tomou um susto com a voz dele, mas no mesmo momento se recompôs e virou com um semblante sério — O que você tá fazendo aqui?
— Vim apenas te parabenizar pela espada. Você parece… feliz — desfazendo seu sorriso, Klei o encarou com nojo — Você ainda tá com a maldição, por que parecia tão sorridente?
— Isso não te interessa — Se levantando, Kevyn retirou Night do chão.
Klei sorriu, pegando algo debaixo de seu sobretudo. Antes de poder fazer qualquer coisa, seu pescoço foi cortado. No mesmo momento, regenerado.
Olhando para trás, o homem vê Astéria guardando sua espada em sua bainha.
Klei pensou: “Ela não estava brincando. Preciso me conciliar com o garoto”.
Ele ignorou o corte enquanto colocava a mão na cabeça do garoto, acariciando-o.
Kevyn, em choque, acaba com seu cabelo ficando arrepiado.
Ele levantou suas orelhas e tentou perfurar a perna de Klei, mas era como tentar cortar titânio.
Klei olhando sua perna ser atingida, começou a rir: — hihihihi… Garoto, você me odeia tanto assim?
— Sim — Com um olhar de peixe morto, o cabelo de Kevyn se abaixou.
— Como eu posso pedir desculpas, hein? Hoho
— Morre — Espetando a perna dele de novo.
Klei parou de rir e percebeu que não iria ser tão fácil assim — Tudo bem, eu já entendi.
Tirando a mão da cabeça do garoto, Klei se retirou do campo, encarando Astéria, que observou tudo.
— O garoto vai ser meu.
— Apenas me dê motivo para te matar logo, já está indo longe demais — Ela se virou e foi para o lado oposto ao de Klei.
Vendo seus pais saírem do local, Kevyn olhava para Night sorrindo, enquanto voltava a treinar, tentando melhores jeitos de se movimentar com ela.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Algumas horas atrás, Mind estava no escritório de Astéria.
A sala, que era reforçada com campos de força, estava fria. A mesa onde estava Astéria era cercada por duas grandes estantes que guardavam documentos importantes.
Mind estava de pé, bem na frente da mesa onde ela estava.
— Senhora Astéria, eu finalmente consegui o dinheiro para ir à universidade de magia em Twilight.
— Entendo, fico muito feliz, Mind, mas o que pretende? — Como sempre, Astéria a encarava, não demonstrando nenhuma emoção.
— Eu… — Mind se ajoelhou — Irei deixar Aradam sobre os ensinos do Kevyn. Deixo tudo o que ela deve ensinar em um diário.
Aradam, como secretária de Astéria, ao ouvir a afirmação de Mind se assustou.
— Q-QUE?! — Desnorteada, ela se apoiou na mesa de Astéria — E-eu ensinando o filho, d-da Astéria?
— Por favor, Aradam. É a única coisa que vou te pedir em toda minha vida.
— Vocês duas, me deem um momento — Astéria suspirava, colocando a mão na testa e terminando de ler um documento — Tudo bem, podem conversar.
— Mind, eu nem sei o que falar — nervosa.
— A Améli se responsabiliza por ensinar combate pra ele, você vai poder ficar mais perto dela — Mind se levantava, enquanto olhava para ela com um sorrisinho bobo.
— A-a-ah… — Corada, Aradam desviou o olhar — S-se é isso que a Astéria quer.
Percebendo que seria algo bom para Aradam, Astéria disse: — Tudo bem. Mind, seja feliz na universidade, espero que seu sonho se torne realidade.
— Muito obrigada, senhora Astéria.
Aradam a encarou, afinal, ela era secretária dela — Mas, Astéria…
— Tá tudo bem, Aradam, eu já fiz esse trabalho por milhares de anos.
Aradam pensou: “Ela aceitou tão rápido! Isso que é patroa boa”.
— Só não deixe o Kevyn ver o seu romance com Améli — Astéria fechou seus olhos enquanto suspirava.
— E-eu nunca deixaria! — Aradam prestava continência.
— Um amor proibido, é? Hihihi — Mind riu ao mesmo tempo que saiu do escritório.
Mas antes dela ir, Astéria disse: — Mind, não se esqueça de se despedir do Kevyn.
— Ah… — Mind parou na porta enquanto voltava um olhar triste para ela — Eu não vou.