The Endless - Capítulo 4
Ainda no mesmo dia, após praticar bastante a como se movimentar com Night, Kevyn estava almoçando na biblioteca. Uma figura adentrou ao local, era Astéria, que também estava com um prato de comida em mãos.
O garoto olhou para ela, que sentou-se à sua frente. Os dois almoçaram em um silêncio ensurdecedor.
Para quebrar o clima, Kevyn falou: — Você é bem ocupada, tem tanto trabalho assim?
— Sim, preciso lidar com os projetos governamentais de Seyfu.
— A nação de Ryū-Seyfu é tão importante assim?
Fechando seus olhos, suspirou dizendo: — Um dia você vai entender.
— Eu só queria que você passasse mais tempo comigo.
— O tempo gasto estando com você, poderia ser tempo investido em função de ajudar Seyfu.
— Se você se importa mais com aquela nação, por que você me colocou no mundo?
— Quem disse que eu queria te pôr no mundo?
Em choque, forçando para não chorar, Kevyn continuou comendo. Depois de um tempo, Astéria terminou e se levantou, mas antes de sair disse:
— Sei que pode ser doloroso, mas mesmo não querendo, eu ainda me importo com você, assim como o povo de Seyfu. Um dia, você o governará, quando esse dia chegar, você entenderá.
Kevyn se manteve em silêncio e cabisbaixo, sem saber o que pensar ou falar. Astéria percebeu e continuou:
— Como meu primogênito, cabe a você me mostrar o quanto é forte. Não se deixe abalar por coisas tão fúteis, me dê orgulho. Quero ver o quão forte você será.
— Tudo… bem. — Erguendo sua cabeça um pouco, Kevyn fez contato visual com ela por alguns segundos, mas voltou a desviá-lo.
— Faça isso por aqueles que ama — Astéria virou-se e saiu do local.
Kevyn olhou pela janela da biblioteca e pensou sobre o que Astéria disse: “O que eu deveria fazer para orgulhá-la?”.
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Após o almoço, ele ficou na biblioteca lendo um pouco. Terminando uma página, lembrou-se de Night, mas não sentia vontade de fazer nada.
De repente, Mind entrou na biblioteca. Fechando seu livro, Kevyn encarou-a, percebendo que não estava com seu uniforme.
— Kevyn… — Caminhou até mais perto, escondendo algo atrás das costas.
— Oi! O que tem pra mim? — sorriu.
— Eu… — Sabendo que não poderia esconder, Mind fechou seus olhos, suspirando e dizendo: — Não vou mais trabalhar aqui.
Com a alegria de Kevyn sendo quebrada, incrédulo perguntou: — … quê?
— Eu consegui o dinheiro, lembra que eu te falei?
— Eu não vou mais te ver, né? — Tentando não desfazer o contato visual.
— Não… — Mind não sabia o que dizer e nem como entregar o presente a esse ponto.
Segurando o choro, Kevyn levantou-se, erguendo sua mão em direção a ela e dizendo: — Eu não quero que você vá embora.
Abraçando-o, ela acariciou suas costas e disse: — Pessoas vêm e vão. Muitas vão aparecer na sua vida e infelizmente sou uma que partirei. Talvez nós nos encontraremos no futuro, então não precisa ficar tão triste.
Começando a chorar, Kevyn não conseguiu falar, sentindo sua garganta presa — E-eu…
— Eu também vou sentir sua falta — Deixando o presente em cima da mesa, Mind percebeu que não tinha muito tempo até sua embarcação chegar. — Eu… preciso ir.
Tentando tomar a compostura, Kevyn se esforçou para falar: — E-vou para a universidade!
Vou te esperar lá. — Sorrindo, Mind beijou sua testa, soltando-o do abraço e saindo. — Estude bastante, viu?
Forçando um sorriso, Kevyn fechou seus olhos, acenando com a cabeça — Eu prometo!
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Passou-se um tempo e estando mais calmo desde que Mind saiu da mansão, Kevyn tentava usar o presente dela. Era um pequeno caderno que podia ser escrito através da mana.
Entrando na biblioteca, Améli encarou o garoto que estava tentando usar um osso para escrever.
— Você está bem? — Ela se aproximou.
— Eu consegui cortar o ar. — Fechando a mão e pressionando, em instantes o osso foi absorvido.
— Você tá aprendendo rápido. — Sorriu orgulhosa.
Fechando o caderno, Kevyn se levantou pegando Night que estava escorada no lado da mesa — Mas você veio falar algo importante, né?
Suspirando, pensou: “Ele sempre está perdendo algo, né?”, Améli pegou um livro de uma das estantes e bateu de leve na cabeça dele. — Consigo ver tristeza nos seus olhos, seja forte.
Abaixando a cabeça, respondeu: — Eu vou.
— Quem vai te ensinar, será a Aradam. Então já vai se preparando. — Repôs o livro em seu lugar.
— A A-Aradam? Ela vai me matar! — disse enquanto se arrepiava após ouvir o nome dela.
Améli deu-lhe um cascudo dizendo: — Não seja rude! Ela pode até parecer má, mas não é… não tanto.
Coçando no local da dor, encarou-a emburrado: — Tá bom, eu vou aceitar por enquanto.
— Esse é o espírito, mas só de você estar erguendo a espada sem problemas, me deixa feliz. — Disse sorrindo ao mesmo tempo que saia da biblioteca acenando.
Suspirando, Kevyn recolheu o presente e saiu da biblioteca. Caminhando para seu quarto, ele esbarrou em uma mulher alta, caindo no chão ao impacto.
Fixando seu olhar nela, vendo seu cabelo negro, olhos negros e uma foice. Kevyn reconheceu Aradam principalmente por sua franja tapando seu olho esquerdo.
Encarando-o sem sequer ter movido um músculo, ela percebeu o quão frágil o garoto era. Pelo menos em proporção aos seus pais.
— Se levante, garoto.
Com medo, Kevyn rapidamente se levantou e olhou-a debaixo. — E-tô indo pro meu quarto.
— Siga em frente, em breve nos veremos. Você terá um desafio, prepare-se — fechando os olhos e cruzando os braços. Aradam empinou o nariz, abrindo seus olhos que agora estavam vermelhos, encarando-o.
Percebendo que aquilo não era normal, o garoto se afastou um pouco empunhando Night — Preciso treinar mais antes de desafios.
— Não é o que parece. Vá em frente, me ataque! — Agarrando sua foice e girando-a, Aradam apontou em direção a ele.
— Você tem certeza de que isso é necessário? Sabe… a gente tá no meio do corredor.
Percebendo que já estava caçando confusão, ela disse: — Perdão… outro dia darei o desafio. Treine bastante. — Pondo a foice em suas costas, ela fingiu que nada aconteceu e continuou andando.
Confuso, Kevyn vê ela indo embora, ao mesmo tempo que pensava: “Isso não foi nada prático para uma primeira interação”.
Chegando até seu cubículo de quarto, ele sentou-se na cama e ergueu a mão para a parede.
“Vai, osso, sai!”. Ele tentou atirar um osso, mas falhou.
Criando um osso, Kevyn tentava moldá-lo, mas não conseguiu.
Finalizando, ele tentou fazer o osso ser levitado, mas qualquer tentativa era fútil.
Com raiva, ele se debateu contra a cama. Após um pequeno momento de birra, ele suspirou, percebendo que aquilo não iria ajudá-lo.
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Já era meio da tarde e ele não conseguia parar de pensar na Mind.
Se levantando, ele tentou lembrar de quando ela utilizava sua mana no meio das aulas. “Ela não usava só o catalisador, né? Já sei!”.
Fechando seus olhos. Em meio a passos lentos, Kevyn copia as danças ritualísticas ocidentais — Humanos não podem usar sua mana sem algum catalisador ou feitiço, isso por terem uma quantia mínima de mana.
Descendente de uma raça dita “superior”, ataques vão ser fortificados através da canalização. Se você disse isso, então boto em prática! — Como um chicote, abriu os olhos e moveu seu braço em direção à parede. No mesmo momento, lança um osso em uma velocidade razoável.
Night brilhou em roxo após realizar seu incrível movimento. Percebendo, Kevyn sorriu suavemente com seu ataque um tanto medíocre.
— Não vale rir de mim, eu ainda sou muito novo, viu? Aposto que ninguém consegue fazer o que eu consigo! — Fechando seus olhos e pondo as mãos na cintura. Ele demonstrou o quão superior era, mas Night novamente brilhou.
Percebendo estar falando com uma espada, Kevyn coçou a cabeça, pegando seu livro. Ele o abriu e começou a escrever sua mais nova descoberta: “Minha espada é estranha e eu preciso dançar enquanto luto”. Ele não fazia ideia do que poderia fazer, mas estava afirmando que deveria dançar enquanto lutava.
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De noite, Kevyn estava dormindo após diversos testes e… danças.
Sentado em um trono ósseo, uma coroa de mesmo material estava em sua cabeça. Durante esse tempo, ele anotou toda sua linha de aprendizagem, finalmente sabendo como moldar sua mana.
Entrando no quarto, Nick se deparou com Kevyn e o seu trono. Em sua cabeça, pensava: “Por que eu ainda trabalho nesse lugar?”. Pegando-o em seu colo, Kevyn despertou e a encarou antes mesmo de dar um passo.
— Desde quando você aprendeu a moldar ossos? — disse observando o trono.
— Eu usei meus olhos.
— Os olhos, é? Agora faz sentido o porquê desmaiou. — Deitou-o na cama.
Esticando sua mão ao trono, Kevyn o absorveu e disse: — Meu controle melhorou, não acha?
— Sim, é bem perceptível. Aliás, cadê sua espada?
— Eu tô deitado em cima dela. — Fechou os olhos.
— Ei! Sai de cima dela… você vai se machucar. — Indo até a porta. — Tira essa coroa também.
— Tá bom. — Absorveu a coroa girando para o lado.
— Boa noite, Kevyn. — Ela saiu e fechou a porta.
Bocejando, Kevyn respondeu: — Boa nooite~
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Dia 27, de Cheia-From-Above, ou Cheia-Above. Realmente precisam melhorar os nomes dos meses. Em condições reais, 27 de outubro.
Abrindo seus olhos, um brilho intenso quase cegou Kevyn, que acabou de acordar.
“Por que não posso ter um dia normal?”.