The Endless - Capítulo 9
Dando um passo para trás, Gray sentiu um arrepio por todo seu corpo. Arregalando seus olhos, ele não conseguia fazer nada além de tremer.
Com seus lábios trêmulos, ele viu Kevyn se aproximando. “A restrição foi quebrada?!”.
Aterrorizado com a presença do que estava na sua frente. Gray lentamente afastou-se, mas antes, mãos ósseas saíram do chão e pegaram seus pés.
Uma voz feminina se misturou com a de Kevyn, que não estava mais em posse de seu corpo: — Você me fez rachar a alma dele, então vou tirar um pedaço da sua.
Começando a chorar, Gray caiu de joelhos ao chão: — M-minha alma?! Po-por favor, eu não queria fazer isso de verdade!!! Eu só fiz isso pela minha mãe!
Tocando-o em seu ombro, com desprezo, disse: — Eu não me importo.
— H-hm?!
Um círculo roxo formou-se ao campo e, dizendo: — Fragmentação.
Gray sentiu um frio em seu estômago, algo parecia errado mas: “Nada aconteceu?”, olhando para Kevyn, percebeu-o retirando sua mão de seu ombro que começou a formigar.
— Haha Seu inúl- — disse apontando o dedo em direção a ele, mas quando percebeu, sua pele estava apodrecendo.
Gritando, segurou seu pulso, mas com seus músculos se rompendo, sua respiração ficava densa conforme não conseguia suprimir a dor. Rangendo seus dentes, Gray tremia e encolhia seu corpo, não suportando mais, desmaiou.
Vendo o braço do garoto se desintegrando, a possessão se acabou e, percebendo que conseguiu derrotá-lo, Kevyn sorriu antes de cair, também desacordado.
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Aplaudindo, Klei se aproximou gargalhando: — Ohohoho… que interessante! Pelo visto essa espada te comprimen-
Com uma espada atravessando-o, uma voz perguntou: — Isso é sua culpa?
— Hm… Zeo… como está o Gabriel?
Retirando sua espada, O lorde caminhou até seu filho dizendo: — O Gabriel pretende ver o irmão dele e tirá-lo de perto de você.
— Ah… que pena. — Regenerou seu peito.
— Cure meu filho.
Movendo os braços em dúvida, Klei debochou rindo: — E se eu não quiser?
— Eu vou ter uma conversa com a Astéria, afinal, você deve saber o quão é imprudente isso foi, não sabe?
Mudando para uma fase séria, o homem ergueu as sobrancelhas dizendo: — Foi seu filho quem escolheu lutar contra o meu. Perder o braço foi só uma punição — Virando-se de costas para o homem, saiu do campo terminando de falar: — Se quer ter sua honra manchada, vá em frente e confesse para Astéria.
Pegando seu filho no colo, o lorde percebeu que o local desintegrado não sangrava e estava fechado. Suspirando aliviado ele encarou Kevyn pensando: “Eu sei que não foi sua culpa, não guardarei rancor… futuro rei”.
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Ao anoitecer, Kevyn acordou em seu quarto. Ele sentou-se e viu Astéria com a cabeça escorada em sua cama, aparentemente dormindo.
“Por que ela tá aqui e… o que aconteceu? Ah… sentada desse jeito vai acabar com dor nas costas… de onde ela tirou essa cadeira? Hm… é da enfermaria”, pensou, puxando sua mãe para deitar-se na cama.
Ela era mais leve do que ele pensou, conseguindo com facilidade: “Hm… ela parece ser mais fria que eu, talvez porque eu tenha puxado mais meu pai”, lembrando de Mind e Améli, Kevyn abraçou sua mãe tentando transmitir o mesmo sentimento: “Sem emoções… deve ser angustiante”, voltou a dormir.
Abrindo seus olhos, Astéria encarou-o sem saber muito o que fazer.
Acariciando o garoto, ele ronronou e perdida, ela pensou: “Isso é ter um filho? Talvez eu estivesse sendo rigorosa demais? Eu… não entendo…”, caindo com tamanha confusão, Astéria apenas continuou acariciando-o.
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Ao amanhecer, Kevyn acordou, mas sua mãe já não estava mais lá.
Levantando-se, ele percebeu que o quarto estava bem mais frio do que o comum, pensando: “Ela é tão fria que meu quarto quase congelou”, tremendo, ele foi ao banheiro e, ao sair, procurou por Night.
— Hm… vem cá! — Erguendo sua mão, chamou-a, mas sem resposta. — Estranho…
Saindo do quarto, o garoto caminhou pelos corredores procurando por alguém até achar Aradam, que com um sorriso perverso disse:
— Como está, pequeno dragão?
— Cadê a Night?
— Hm? Sua espada, né? Ah… sua mãe vai saber te responder.
— Cadê o Gray? Eu não lembro de nada que aconteceu, só que a gente teve uma batalha.
— Kevyn, deixa isso pra lá, tudo bem?
— Mas…-
Interrompendo, ela sorriu dizendo: — Vem comigo, vou te mostrar o presente que aquele pivete te deu.
— A-ah… tudo bem.
Pegando a mão do garoto, Aradam caminhou dizendo: — Larga de ser bobo, Kevyn, eu sei que ele te menosprezou.
Desviando o olhar, respondeu: — Eu não tô triste por isso.
“É a espada… sinto muito, mas segundo a patroa, ela é muito perigosa”. Chegando na biblioteca, ao entrarem, Aradam disse: — Bem-vindo ao seu inferno!
Toneladas de livros estavam empilhados em volta das mesas: “Por que tem tantos livros aqui?”, arregalando os olhos, Kevyn encarou sua professora que, sorrindo de uma orelha a outra, disse:
— Quanto é vinte cinco vezes doze?
— É-é… trezentos? — engolindo seco, o garoto entendeu.
— Podemos começar?
— Posso fazer um pedido antes?
— Hm? Você não está com medo?
Cruzando seus braços, deu um passo à frente, erguendo o queixo e dizendo: — Aposto que vamos ter aulas práticas, afinal, você não acha que só me passar esses livros vão me ensinar alguma coisa, né?
— V-você quer aulas práticas ainda?
Sorrindo, Kevyn fez sinal de silêncio com as mãos e respondeu: — Você quem quis fazer isso, não é?
Caminhando até uma das mesas, nervosamente, Aradam pegou uma caixa e voltou até ele entregando-lhe o presente.
— Você é uma criança interessante, mas… como você pretende ler todos esses livros?
Encarando a caixa, Kevyn pegou-a e respondeu: — Olha… eu pretendo usar meus olhos.
— Seus olhos… vocês Calamith’s são bem dependentes deles, né?
Pensativo, inclinou a cabeça dizendo: — Eu não tenho certeza, mas é mais fácil reter algumas informações com eles.
— Ah… ok, ok. Vamos ver o que aquele pivete trouxe.
Indo até uma das mesas, Kevyn colocou o presente e o abriu. Se aproximando e vendo o que era, Aradam pôs as mãos sobre o rosto e começou a rir de nervoso.
O presente era um terrário com uma aranha não muito comum.
Se afastando, Aradam tirou as mãos do rosto gaguejando: — Ke-Kevyn, ac-acho melhor a gente se livrar de-dela.
“Aracnofobia…”, pensou, pegando a aranha e deixando-a subir por sua mão.
— Kevyn! Não deixa ela subir em você! Vai acabar te mordendo!
Emburrado, encarou-a e respondeu: — Eu gosto de aracnídeos, tá?! Ela não vai me morder se não mostrar ameaça!
— Ah… — Quieta ela pensou: “Ele é um garoto muito estranho, mas definitivamente eu não quero essa aranha perto de mim!!!!”.
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— Você acha que pode oferecer algum risco?
— No momento não, mas você deveria ter deixado-a impedir.
Com uma cerveja em sua mão, Astéria estava de frente para um elfo. Segurando Night, ele analisava-a delicadamente.
— Sinceramente, receio que vá o machucar. Mesmo assim, traga-a daqui um ano para fazer ajustes.
Tomando um gole, a mulher cruzou seus braços, respondendo: — Você ainda não tem certeza?
O homem que tinha evidente sardas, volta seu olhar azulado para a mulher.
— Você havia me dito que seu filho era apegado a ela, não?
— Sim, está certo.
— Você não acha que ele ficaria triste, minha majestade?
— Tem razão, mas como que eu trarei ela aqui?
— Por que não conversa com o rei de Lycky? Talvez possamos criar algo a partir disso.
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Deitado, Kevyn olhava o céu pensando no que andava acontecendo: “Meu pai, a Night, Mind… tudo aconteceu tão rápido… será que foi o efeito dominó do meu aniversário?”, uma pequena vibração era feita ao lado de sua cabeça.
— Ah! Verdade! — Sentando-se, olhou onde vibrava, vendo sua aranha — Você vai se chamar… hm…
Encarando-a, Kevyn centralizou sua atenção em duas características. A primeira, sua cor azul e a segunda, seu meio, que era marcado por diversas listras brancas.
Fazendo pequenas vibrações no chão, ele tentou se comunicar com ela: “Seu nome será… Blade. Do francês, bande. Do alemão, Blau!”.
Após um tempo parada, através das vibrações, Blade respondeu: — Meu caro condizente, como podes me dar um nome rusticamente complacente?
Após minutos em silêncio, suando frio, Kevyn pensou: “Ela tem um jogo de palavras muito refinado”.
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Sem sequer perceber, o dia se passou. Com o pôr do sol, Klei observou o garoto e sua aranha.
“Qual é a graça de fazer amizade com um animal que em menos de 1 ano vai morrer? É tão… pouco tempo”, com seus olhos semicerrados, mantinha-se neutro.
Uma voz veio das costas do homem, que só de ouvir já reconheceu: — Você também acha estranho? Aquele animal é tão letal que mata humanos em uma hora. — Era Astéria com Night em mãos.
Parando ao lado de Klei, eles encaravam o garoto que estava se comunicando com sua aranha através das vibrações.
Suspirando— Ele vai ficar triste quando a ver morrer.
— Isso faz parte Klei. Perder alguém sempre vai doer.
Incomodado, o homem olhou para ela com certo desdém: — E você por acaso sabe algo sobre perder alguém?
— Não, mas depois de anos vendo pessoas sofrerem, sabemos o quanto elas se machucam.
— É, você deve estar certa. — Voltando seu olhar para o garoto, ele aparentava estar dormindo. — E essa espada? É segura deixá-la com o moleque?
— Desde quando você se importa? — Encarou Klei.
Sorrindo, o homem deu de ombros e voltou seu olhar para ela, dizendo: — E você?
— Não importa, apenas vim deixá-la com ele — disse entrando mais afundo do campo e cravando Night ao lado de Kevyn. Virando de costas, Astéria caminhou para fora, mas antes de realmente sair, disse: — Eu também queria saber como eu consigo me importar mais do que você.