The Paradise Tower - Capítulo 1
— Aahh?!
Ele se levanta assustado. Olha para a direita, para a esquerda e por fim para o lustre simples, mas bonito acima de sua cabeça.
— Onde eu estou?
Um mês atrás…
Um clima agradável na cidade, não muito quente nem muito frio. O bar parecia estar lotado. Suas paredes eram sujas, o piso pegajoso com cheiro de mofo e bebida. As janelas permaneciam fechadas, dando um tom de terror para o local sempre escuro independente do horário. Nina e Crown estavam sentados bebendo cervejas, o que não deviam já que não eram adultos.
— Caracaaa! Essa cerveja é boa mesmo, hein?! — Nina se balançava na cadeira grande e maciça, fazendo seus longos cabelos vermelhos baterem em suas costas e os músculos de suas pernas ficarem destacados.
— Eu te avisei, aqui eles vendem as melhores. Aonde será que ele se meteu? — sussurra Crown, movendo seus olhos pelo local com dificuldade devido ao seu peso um pouco acima do normal.
A taverna estava movimentada. Conversas altas, copos brindando e cadeiras sendo arrastadas. A porta se abre e um menino todo sujo e com arranhões passa por ela se abaixando um pouco para não bater a cabeça. Ele veste um longo casaco que cobre quase todo seu corpo.
— YURI????
Seus colegas no fundo do local gritam tão alto que fazem quase todos ficarem em silêncio.
— Ei,ei, falem baixo — diz Yuri com vergonha tampando seu rosto.
— O que aconteceu com você cara? — Crown parece surpreso.
— Verdade, tá todo ferrado — comenta Nina, passando a mão nos cabelos sujos de Yuri.
Nina e Crown não pensam duas vezes antes de começarem a cair nas risadas.
— Que merda. Eu falei que precisava de dinheiro, acham que é fácil achar qualquer um que esteja com uma bolsa moscando? — resmunga Yuri.
— Hunm, enfim. Pelo menos deu tudo certo? — pegou a grana? — questionou Crown.
— Peguei.
— Bora dar no pé desse lugar — sugere Nina, tirando o cabelo vermelho dos olhos.
Os três se levantam e correm entre as mesas roubando qualquer coisa de valor que viam pela frente. Eles são ágeis e rápidos, menos Yuri. Haviam causado uma confusão, Yuri se atrapalhou e derrubou diversas mesas e bebidas. Quando menos esperam, a taverna toda os está perseguindo em direção às ruas não muito movimentadas de Wishton.
— Rápido! Eles tão vindo — gesticula Crown.
— Hahaha, você é lerdo demais Yuri
— Calma, calma, calma!! — grita Yuri sem fôlego. Seus pulmões parecem estourar.
Logo após virarem a rua, eles se deparam com uma grande quantidade de pessoas, o já esperado pelas ruas estreitas e curtas de Wishton, Yuri esbarra correndo sobre elas, tentando despistar a multidão atrás de si. O terreno era irregular, o que fez Yuri quase tropeçar e perder a pouca velocidade que tinha.
— Peguei!
Quando percebem, uma mão estava próxima ao tornozelo de Yuri, ele é puxado e cai com o rosto no chão.
— YURIII!! — exclama Nina, sendo agarrada por Crown em seus braços.
— Ah, merda… — sussurra Crown, levando Nina para longe do local.
Alguns minutos se passaram, Nina e Crown estavam retornando próximo ao mercadinho local onde Yuri foi deixado. Lá está ele, deitado no chão com sangue em seu rosto, parecia não se mover.
— Cara, eles te pegaram de jeito, você tá legal? — pergunta Crown, preocupado.
Pequenas risadas são ouvidas vindo de Yuri deitado no chão.
— Eu apanhei feio, mas olhem o que eu consegui pegar.
Yuri esvaziou de seus bolsos diversos sacos de dinheiro e carteiras roubadas.
Os três logo ficam com os olhos brilhando.
— Temos dinheiro o bastante pra ir pro festival! — exclamam.
Eles começam a rir no meio da rua como se tudo o que tivesse acontecido não fosse nada demais.Os dois ajudam Yuri a se levantar, dividem a quantia e voltam para suas casas. Yuri está com a barriga doendo.Enquanto estava caído no chão, foi pisoteado loucamente pelos homens que os estavam perseguindo, resultando em diversos hematomas.
Em Wishton, uma cidade dominada pela pobreza e por bairros imundos, existia um festival anual de recrutamento de pessoas para um sacrifício da cidade em nome dos deuses, que antigamente salvaram esta terra. Cem pessoas são chamadas para servirem nesse festival e não podem negar sua participação. Elas são jogadas em uma torre que é basicamente uma floresta subterrânea.
Dentre essas cem pessoas, somente três saem vitoriosas. Os jogos são individuais, sem a formação de grupos na seleção, mas nada que proíba a formação de grupos dentro dos jogos.
O sol já tinha se posto e estava começando a ficar frio, Yuri chega em casa com certas dificuldades. Vivia se metendo em brigas e roubos pela cidade por ser pobre e ter uma irmã para cuidar. Apesar dos problemas financeiros e de todo o resto, nunca olhou para trás ou pensou em desistir.
— Yui, voltei! — diz Yuri entrando manco pela porta.
— Bem vindo de volta, Yuri — diz sua irmã arrumando a bagunça de revistas e latas de comida pela sala.
Essas palavras diárias, que recebia sempre que retornava a sua casa, nunca deixavam de aquecer seu coração e o faziam se esquecer da dor dos hematomas.
No caminho de volta, pegou parte do dinheiro que conseguiu e comprou algo para sua irmã comer. Ele não comia há dias, mas não se importava.
Após ter trocado suas roupas, ele decide ir para cama, afinal, o festival de abertura com a seleção dos cem candidatos seria no dia seguinte, ele e seus amigos estavam ansiosos para desfrutarem pela primeira vez da sensação de ir ao festival. Ele rapidamente pega no sono, seus olhos estavam pesados e direcionados para o teto. A fome estava deixando sua visão embaçada, sua consciência estava sendo perdida. Seus olhos finalmente se fecham.
Dentro de seus pensamentos pessoas estão correndo, parecem gritar, mas não podem ser ouvidas, ele está em um local fechado, sozinho, mas sombras o encobrem por trás. Yuri acorda assustado com seu rosto todo suado.
A manhã do dia seguinte
— Um ótimo dia a todos, senhoras e senhores. Espero do fundo do meu coração que estejam todos ansiosos para a seleção deste ano. Como todos sabem, mas sempre é revisado, se forem convocados para a seleção não poderão desistir. Vocês devem cumprir com a palavra e entregarem suas vidas aos nossos antepassados.
O clima do local estava agitado, alguns falavam baixo, outros gritavam mais do que suas cordas vocais aguentavam e outros não se importavam.
Yuri e Nina passam entre a multidão, o calor entre as pessoas e a quantia delas impedia um pouco sua mobilidade.
— Eles já começaram, já começaram — sussurra Nina.
— Ei, para de me empurrar, Nina.
— Ando logo, você é muito lerdo. Vai, anda logo.
O festival de abertura tinha um preço de entrada que normalmente só os mais ricos pagavam, ou seja, uma bela ocasião para fazer dinheiro com objetos caros que poderiam ser roubados. Em frente ao grande palco, o homem continuava.
— Esse ano faremos uma seleção diferente das anteriores. Analisamos a situação que temos passado durante todos esses anos e decidimos fazer algumas alterações. Dessa vez, pessoas mais jovens serão convocadas, esses corpos são mais saudáveis e farão nossos deuses mais felizes. Pessoas com mais de 25 anos não participarão.
Cochichos eram ouvidos de ambos os lados dos espectadores, todos pareciam surpresos com a mudança repentina.
— Decidimos agradar nossos deuses com um sabor novo para o paladar. Nossos deuses não são cachorros nem porcos para comerem sempre da mesma comida. Não concordam?
O local de encontro do evento era no centro da cidade.Toda a população era obrigada a comparecer no local para serem feitas as escolhas para o sacrifício.
Gritos eram ouvidos de ambos os lados, tanto das arquibancadas com os ricos, ou da multidão no centro. Muitos não viam sentido nos jogos, nunca souberam ao certo o porquê de anualmente terem que fazer isso. Sempre que alguém se recusava a ir na seleção, essa pessoa era levada e normalmente nunca mais vista na cidade. Uma coisa era certa, os deuses eram idolatrados demais por meros “lixos” de uma cidade minúscula.
Ao longo de todo o país, jogos do mesmo tipo eram feitos em diferentes lugares, mas com datas iguais. Crown era de uma cidade vizinha, por isso não pode estar presente com os dois hoje. Ele possuía a própria seleção em sua cidade.
Yuri e Nina corriam entre as pessoas e pegavam tudo de valor que conseguiam ver. Os bolsos já quase cheios, fazendo com que seus corpos ficassem pesados, achavam que era hora de saírem. Até que foram paradas por homens grandes que tiveram seus pertences roubados.
— Ei, me solta.
—Me larga!
Yuri e Nina haviam sido erguidos por esses homens, fazendo seus bolsos lotados rasgarem e derrubarem os itens de valor.
— Ora, ora. O que se passa aqui?
O olhar do apresentador com maquiagem nos olhos do qual ninguém sabia o nome ficou encarando os dois.
— Acho que temos dois voluntários que parecem animados para nosso evento — fala o homem com um sorriso perverso no rosto.
— Oi? Como?
— Só pode ser brincadeira.
Os dois estavam desacreditados. Algo que os geraria um lucro para suas vidas acabou sendo levado para um caminho capaz de retirá-las.
Yuri e Nina andavam pela estrada de suas casas afogados em pensamentos. Ele nunca tinha reparado, mas Nina realmente possui um belo rosto com cabelos leves e lisos que balançavam com o vento. Seu corpo era magro,a falta de comida interferia um pouco, mas isso não tirava toda sua beleza presente.
— Como isso foi acontecer? — retruca Nina.
— Depois de tudo o que a gente passou pra conseguir o dinheiro.
— Você está bem com isso?
— Como eu poderia estar, Nina? A gente se meteu na maior merda possível. A gente já não vive direito nas nossas próprias casas, como diabos vamos sobreviver lá?
Um silêncio é colocado sobre os dois, o ar parece pesado e a atmosfera preenchida.
— Bom, não tem muito o que possa ser feito — bufa Yuri, como que cansado.
— As largadas começam mês que vem não é?
— Acho.
— Temos tempo para treinar pelo menos — sugere Nina.
— Treinar? Nina, o que exatamente você acha que vai acontecer com a gente lá dentro? Aquilo é o inferno. Não da pra fugir.
— Mas eu não vou desistir — ela suspira baixo, quase como um sopro.
Por um momento o tempo parou para Yuri, o que ele estava fazendo? Ele que sempre viveu no próprio inferno, ouvir isso vindo de sua amiga era um tanto quando desagradável.
— É, você está certa. Por pior que seja não podemos desistir.
— Você nem poderia, não é?! Você ainda não me levou pra sair como tinha prometido!
Sendo sincero Yuri nem lembrava de ter dito coisa do gênero, andava preocupado com coisas mais importantes. Mas sim, gostaria de sair com ela.
— Bom, vou indo por essa direção agora, espero te encontrar de novo antes dos jogos.
— Ok, até.
— Cumpra sua promessa… Foi dito tão baixo que Yuri não escutou.
Ele estava perdido, sem um rumo para seguir, o que ele poderia fazer ? Alguém que sempre só consegue as coisas depois de apanhar e quase morrer diversas vezes. Mas ele tinha um mês, um mês que poderia mudar o rumo no qual as coisas estavam sendo direcionadas.
Yuri segue seu caminho na estrada congelante sobre o vento cortante.
A porta se abre.
— Bem vindo, Yuri! — diz sua irmã com os longos cabelos pretos quase encostando nas pernas.
— Ah, oi, Yui.
— Aconteceu alguma coisa? Acabou apanhando de novo?
Sem ele perceber, suas bochechas estavam quentes, sentia algo escorrendo, não sabia o que era e nem o porquê de estarem ali.
— Yuri?
— Yui… Acho que você vai ter que aguentar por um tempo sozinha. Eu não sei se vou voltar tão cedo dessa vez.
Silêncio…
— Me desculpe Yui, eu juro que vou…
Yui com a cabeça baixa o abraça.
Agora quem estava com as bochechas molhadas e quentes era sua irmã. Ela estava lamentável, com os cabelos bagunçados, olhos já quase roxos e rosto vermelho.
— Não, não, não vai. Eu não quero que você vá.
— Eu também não queria Yui. Mas, não dá, de verdade.
— Eu vou no seu lugar, por favor, eu vou. Eu te protejo Yuri!
— Hahaha, não seja boba. Se você fosse o que seria de mim? Eu não ia ter mais um motivo pra voltar pra casa.
— Eu vou, eu vou, você não vai.
— Escuta, Yui. Lembra quando o papai e a mamãe morreram?
— …Sim.
— Lembra de o que eu te disse quando entramos nesta casa?
— Que você ia me proteger?
— É, eu vou! Pode apostar que eu vou.
Yuri continuou um bom tempo com sua irmã entre seus braços, ela estava quente e com o rosto molhado. Yuri a abraçou até ela pegar no sono. Depois de colocá-la na cama ele subiu para o telhado, local que sempre gostava de frequentar quando estava sozinho. Estava frio, capaz de até pegar um resfriado, mas ele queria esse tempo, ele precisava. Olhar as estrelas brilhantes sempre o acalmava e fazia pensar melhor.
Diante dos pensamentos vagos e rasos sua única escolha era continuar, afinal, haviam pessoas esperando sua volta. Pessoas no qual ele gostaria de ver o sorriso pelo menos mais uma vez.
Meus pais sempre diziam para eu erguer a cabeça independente da situação. Meu pai em específico era meio rude, mas hoje eu entendo todas suas preocupações.
Um passado distante.
— Levanta daí, moleque!
— Tá doendo, pai! Meu braço tá doendo.
— Eu te avisei que não era pra você roubar. O pai está trabalhando para conseguir dar o melhor pra vocês. Você não precisa continuar com isso, logo, tudo vai melhorar, por isso… por favor, para.
Meu velho sempre me dizia para não roubar, acho que continuo ignorando até hoje. Eu não aguentava ver a situação em que estávamos, minha mãe doente, minha irmã recém nascida e meu pai com problemas para nos sustentar. Minha única ajuda era roubar comida e trazer pra casa, claro, isso não o deixava feliz.
Vivíamos em um pequeno vilarejo que hoje não existe mais, acabou pegando fogo junto com a minha casa. Devido às dívidas do meu pai e a minha fama de ladrão, muitas pessoas nos desejavam o mal. Minha mãe continuou na cama mesmo com o incêndio, ela não tinha condições de andar. Meu pai tentou salvá-la, mas logo antes de conseguir sair… a casa desabou.
Me lembro de seus olhos grandes olhando para mim até hoje. No dia, eu não estava em casa, tinha saído para pegar comida com minha irmã. Quando cheguei, presenciei aqueles olhos me encarando. Consegui entender na hora o que ele queria me dizer, estava claro.
“Proteja sua irmã.” Foram as palavras que ficaram gravadas nas memórias de Yuri.
Pouco tempo depois, Yuri retornou para sua cama. Ele tinha somente um mês, mas um mês que poderia mudar seu futuro. E foi nisso que ele apostou.
15 dias até o início do festival.
— Mãos pra cima, Yuri. Mão pra cima!
— Ahh, eu estou cansado disso, tio. Aguenta um pouco aí.
— Que mané aguenta pirralho?! Tu não me deu um tostão e eu ainda resolvi te treinar e te abrigar aqui. Você só tem que fazer uma coisa, que foi você mesmo que me pediu. Treinar.
— Acha mesmo que vou conseguir?
— Moleque… você é um merda. Não vai sobreviver 10 minutos lá dentro.
— O que ? Precisava ser tão sincero?
— Hahahahaha, é por isso que você tá aqui não é? Pra durar mais de 10 minutos.
— Sua confiança em mim chega a me dar arrepios.
Diante todos os acontecimentos, Yuri decide pedir ajuda a um morador de seu antigo vilarejo. Seu Wasabi, era um velho de pouco mais de 70 anos que tinha uma banca de comidas. Depois do incêndio, acabou se aposentando e decidiu cuidar dos peixes do jardim, no tempo livre treina meninos e meninas com seus conhecimentos básicos de artes marciais que praticou na infância.
Cedeu um local e treinamento grátis para Yuri devido ao seu longo relacionamento com seu falecido pai. As coisas estavam indo melhores do que o imaginado, Yuri ao invés de desmaiar com somente um soco, agora caia com dois. Um grande progresso,acho.
O tão esperado dia do festival.
A cidade parecia mais cheia do que o normal. Foram montadas arquibancadas de área V.I.P para os mais ricos que pagavam por um lugar melhor na hora dos jogos.
Yuri não via Nina desde o dia da convocação, foram longos 30 dias. Também não deixou sua irmã aparecer no local, ele não achava que conseguiria olhar para ela antes de partir para o inferno. Haviam muitas pessoas. Não foram mencionados os nomes dos cem participantes que se encontrariam na arena.
— Meus senhores e senhoras! O grande dia mais esperado está para começar.
A apresentação e comentários foram passando com o tempo, Yuri estava nervoso demais para ouvir ou entender o que estava sendo dito. Sua barriga tremia, suas entranhas reviraram, sentia que poderia vomitar a qualquer momento.
— Ah, merda. Vuiv0mitdr.
— Caros participantes, gostaria de agradecer por estarem se entregando aos deuses como nossos antepassados faziam. Saibam que nossos deuses ficarão muito felizes com a presença de todos vocês dentro da arena. Como já foi dito, apenas três participantes sairão vitoriosos. Esses são chamados de ” Os grandes reis“, aqueles que foram mais fortes que a vontade de nossos deuses. Agora, um passo à frente de todos os cem participantes. Recebam-os com uma grande salva de palmas.
Cem crianças se aproximaram das arquibancadas, o caminho entre elas foi aberto. Todos pareciam confiantes, como se já tivessem com sangue nos olhos antes mesmo de começarem.
Cabines foram retiradas do chão, uma em frente a cada criança. Cem no total.
— Entrem por favor, essas cabines os guiaram até nossa arena. Antes do tempo começar, uma luz se acenderá com alguns comentários que deverão ser seguidos.
O público aplaudia, como se estivessem realmente gostando daquilo. Bem, alguns estavam.
Todos entraram em suas cabines e foram jogados para o solo. Yuri ia de mal a pior.
— Ferrou… AHHHHHHHHHH.
Estava escuro, eles não enxergavam nada, somente a sensação de estarem sendo transportados a uma velocidade incrível.
Todas as cabines chegaram ao seu destino… A famosa Arena estava na frente de todos. Yuri não sabia o que fazer, não pensava direito, não respirava com facilidade e tinha se esquecido de tudo que foi treinado no último mês.
— Eu to ferrado — sussurra com um aperto no peito.
Ao olhar para os lados, nota crianças com diferentes comportamentos. Alguns muito agitados, outros até mesmo desmaiaram, e uns que pareciam calmos até de mais para a situação em que todos estavam.
Ao olhar para sua frente avista um menino, aparentava ter a mesma idade que Yuri, o moleque o estava encarando com uma intensidade frenética nos olhos. Ele estende sua mão para Yuri e a rasga com sua própria unha e lambe o sangue. Sussurra palavras em um ritmo lento que pode ser entendidas facilmente :
— Vo-cê ta mor-to bi-xi-nha!
Yuri parecia ter morrido por alguns segundos.
Uma luz vermelha acende em volta de todos ali presentes.
— Alou? Pois não? Conseguem me ouvir?
Um telão gigante,que será apresentado para os espectadores, é avistado no céu com a imagem de todas as crianças.
— Recados finais serão dados, prestem a atenção.
Um “bip” extremamente alto era ouvido de dentro das cabines, como que uma contagem regressiva.
— Vocês foram organizados em um círculo gigante. No centro, a alguns metros, estão equipamentos que ajudarão em sua sobrevivência durante esses exatos sete dias na arena. Armas brancas serão encontradas dentre esses equipamentos e poderão ser utilizadas para o bem que entenderem.
O coração de Yuri estava cada vez mais acelerado.
— Nina?
Uma imagem de longos cabelos vermelhos soprando com o vento passam por sua mente.
— Estão prontos? Dentro de cinco segundos as cabines serão abertas e todos estarão livres.
— Mãe?
— 4!
— Pai?
— 3!
— Nina?
— 2!
— Crown?
— 1!
— Yui?
— Livres! Sejam livres para viverem e deem prazer para nossos deuses.
Durante a abertura de todas as cabines, todos saíram correndo em direção ao centro, onde podiam ser vistos diversos equipamentos. Com o passar de alguns segundos se ouviam gritos vindo de diferentes localizações. Dez segundos tinham se passado e Yuri continuava congelado dentro de sua cabine. Para ele, o tempo havia parado, como se somente sua alma, respiração e batimentos do coração poderiam ser ouvidos. A imagem de todos lhe dando apoio passou por sua cabeça, Nina também estava no meio dessas crianças à sua frente. Sentiu um leve aperto por não ter se encontrado com ela, poderia ser tarde demais.
Os olhos grandes e inchados em meio às chamas reaparecem em sua memória :
— Proteja sua irmã!
Em poucos segundos, seu primeiro passo fez o mundo voltar ao normal, descongelando tudo e todos ao seu redor..
— Pelos que eu amo… Por aqueles que me amaram… Por mim mesmo!
Yuri sai em disparada em direção ao centro com somente uma coisa em mente.
— Eu não vou perder!!!