The Paradise Tower - Capítulo 2
Seus pés disparam em direção ao centro, seus músculos parecem gritar, sua mente não acompanha e seu corpo não aceita. Mas ele só tem uma coisa que pode para ser feita, vencer. Então ele corre, seus pulmões gritam devido a forma errada de respirar.
Vamos, vamos pernas, mexam-se. Eu nunca te pedi nada.
Ao levantar sua cabeça vê uma cena extremamente terrível, corpos por todos os locais no qual passava com o olho, pessoas chorando, facas e machados cobertos de sangue, escorrendo a vida daqueles que estavam no chão. As caixas com armamentos no centro haviam desaparecido, não restava nada, somente cadáveres.
— Ah merda, o que eu faço? — resmunga Yuri varrendo seus olhos pelo local.
Passos são escutados vindo em sua direção, está nervoso demais para identificar a localização. Um vulto pequeno é visto de canto de olho.
— MORRAAAA!!! — grita a pessoa vindo em direção às costas de Yuri.
Yuri se agacha rompendo seus tendões dos músculos da perna.
— Grhn — geme com o som de músculos rasgando.
O vulto continua a se aproximar repetindo loucamente as mesmas palavras.
— MORRA, MORRA, MORRA!!
Alguns pareciam ter perdido sua sanidade pouco tempo depois do início da prova. Quem estava vindo pra cima de Yuri era um menino não muito amedrontador, baixo, cabelo curto e escuro, físico pequeno, não muito mais forte que Yuri.
O machado novamente vem em sua direção, ele esquiva-se com dificuldades.
— Espera, espera, espera — grita tentando uma conversa com o louco a sua frente.
Sua situação não parecia nada bem, estava com a perna machucada, mente bagunçada e com os braços e mãos tremendo.
O menino estava coberto de sangue, principalmente nas mãos.
Será que alguém machucado caiu em cima dele? Ele não pode ter matado alguém com as mãos, não pode, né?
O menino tinha um cinto de utilitárias no qual estava preso uma machadinha em suas costas. Yuri não percebe de imediato, mas sim após alguns movimentos mais bruscos. A machadinha gira em seu corpo e o cinto inverte, ficando exposta para Yuri.
Quando menos percebe, o objeto está vindo em direção ao seu rosto, bem no centro da garganta.
Mais passos são ouvidos de diversas direções.
O machado de repente para no ar. Yuri fecha os olhos já aceitando sua morte, um grupo de pessoas está se aproximando do local. O menino na sua frente… está morto?
— Hein? Ei, você tá bem? — pergunta Yuri com os olhos semicerrados.
O sangue escorre pela boca do garoto, seus olhos parecem mais abertos que o comum. Yuri não está entendendo o que acabou de acontecer.
O menino se ajoelha, ele tosse e se engasga com o sangue. O corpo está ajoelhado e com os olhos inchados. Yuri quase vomita.
— Poff. — O corpo se estende no chão fazendo um barulho como um passo em uma poça de água.
— Ai meu deus!! Não!
Yuri olha para o corpo e avista uma flecha cravada bem no centro da nuca. A visão de Yuri em poucos segundos se torna vermelha. Gritos e risadas são ouvidos vindo da floresta.
— Aeee!!!
— Caraca! Você acertou mesmo hein.
— Puff, eu estava mirando no moleque que estava sem arma, pra ele não sofrer demais.
— Hahahaha, então você tem uma péssima mira.
Yuri congela ao avistar três desconhecidos vindo em sua direção.
— Estavam tentando me acertar? — Yuri sussurra para si mesmo.
— Ei, moleque?! — O maior dentre os três grita.
Suas mãos tremem, suas pernas não se mexem.
— Acho que você deveria agradecer a gente por ter te salvado, né não? — fala um deles..
olhos
Espera? Ter me salvado? O merda do seu amigo queria me matar! O que eu faço, o que eu faço?
Yuri percebe seus braços e pernas começarem a perder forças. Sua visão era branca e sua cabeça um redemoinho.
— Ei pirralho, o Junks tá falando — diz um dos estranhos, irritado.
— Ei, tá me ouvindo? — O outro completa.
Sua cabeça estava girando e sua visão ficando turva.
Merda, eu vou morrer sem nem ao menos me defender? Que inútil, sou inútil. Não consigo nem me proteger, como vou proteger os outros? Me desculpem pessoal, eu falh-…
Yuri cai com toda a força de cabeça no chão. O branco embaçado que enxergava, agora já tinha se ido.
Sua mente está no vazio.
— Onde eu estou? Eu morri? Puta merda, eu morri! Aqui é o céu? — diz Yuri com uma voz assustada e vagando com os olhos para o local onde estava.
Suas mãos tinham parado de tremer e sua perna parado de doer, não ouvia mais os gritos e choros vindo dentro da floresta.
Sentiu-se um pouco aliviado com isso, mas não com o fato de ter que morrer para isso acontecer.
Sentia-se um leve cheiro de queimado.
— Até no céu eu sinto cheiro, menos mal. Posso imaginar uma picanha que o cheiro vem? Como funciona? — Yuri tentou, mas não obteve resultado.
Tudo em volta de si estava preto, sem cor e sem vida. Ao virar para trás avista uma pequena casa familiar.
— Essa é a minha casa. A casa dos meus pais?!
Seus olhos brilham, sua emoção é muito grande. Permanece sem piscar por um tempo, admirando o passado que está à sua frente, o que faz seus olhos arderem e logo voltarem a piscar.
— Sempre imaginei que no céu as coisas iam ser boas. Se eu pensar em picanha eu sinto cheiro de picanha (ou não) e agora eu ainda estou no lugar que eu mais amei minha vida toda. Foi bom eu ter morrido, é, foi muito bom
Ele decide dar seu primeiro passo em direção à casa. Está se sentindo incrível, suas mãos não tremem, suas pernas se mexem e seu coração bate normalmente, até o cheiro da carne continua com uma leve sensação de calor agradável. (ou era o que ele imaginava)
Ele chega em direção às escadas que o levariam para a porta de entrada. Quando vai dar seu passo…
— Ué? Quê? Eu morri e não posso encostar nas coisas? Brincadeira não?
Nada podia ser tocado por ele, um mundo perfeito, o paraíso de seus sonhos, mas sem a sensação do toque. Resolve dar meia volta e fica surpreso. O vilarejo de quando era criança está ali, bem em sua frente, estava… vazio? Aparentemente era noite, mas porque sua memória foi gravada neste momento? O que estava acontecendo?
— Yuri, Yuri, espera por mim! Eu vou com você. — A voz de sua irmã surge diante seus ouvidos, mas ela de fato não está ali.
Espera, Yui? O que você tá fazendo aqui? Onde você vai?
— Vem logo, a gente tem que comprar comida!
Quem estava ali presente em sua frente era ninguém mais ninguém menos que o seu eu do passado. Estava ali, correndo em meio ao vilarejo em uma noite aparentemente normal, sairia para buscar comida e voltaria para sua casa, esse era seu objetivo naquele dia.
— Vamos, Yui!
Yuri assiste às duas crianças sumirem em meio às barracas de comidas armadas no local.
Uma lágrima escorre pelo seu olho, parecia mais quente que o normal. Seu coração não acelerava, seus dedos não tremiam. O que exatamente estava acontecendo?
Yuri volta seu olhar para a casa. Era grande, paredes recém pintadas de branco com janelas de madeira que sempre achou que eram seu charme..
De repente é possível ouvir pessoas conversando, cinco em específico. Elas rodeavam a casa.
— Ei!Vocês, o que estão fazendo? — grita tentando chamar a atenção dos desconhecidos.
Os cinco cercam a casa. Um tira de sua jaqueta um galão de gasolina, está despejando pela estrutura toda.
— Parem! O que estão fazendo?! Eu mandei parar! — mais uma tentativa fracassada de chamar a atenção.
Quando menos percebe seu corpo se move sozinho. A sensação de proteger aquele lugar era maior que sua consciência. Ele chega até os homens e os tenta empurrar.
— Eu falei com vocês! Seus merdas, o que pensam que estão fazen… Ahn?
A mão de Yuri atravessa seus corpos como se fossem fantasmas.
— É mesmo… eu não posso tocar em nada.
De repente um dos caras tira uma caixa com fósforos de sua jaqueta de couro e distribui entre os cinco.
Yuri já tinha noção do que estava acontecendo, e por isso mesmo tentava impedir com todas suas forças. O calor aumentava.
Em um instante a casa está pegando fogo. Sua parede branca, como nuvens, agora estão pretas e caindo. Sua janela de madeira grossa e vidros limpos, no qual o velho pagou uma fortuna, estão quebrando. Sua casa estava em chamas, seu amor, sendo destruído.
Yuri, fica estático, respirando com dificuldades, o calor aumentando.
Passos e respirações pesadas são ouvidas vindo em sua direção..
— Não, não venham até aqui. Por favor, não venham — Yuri de joelhos, com os olhos encharcados de lágrimas, implora.
Yui e “ele”chegam em frente ao local em chamas. Já está tudo destruído, não resta nada, seus sonhos foram queimados mais rápidos que fogos de artifício na virada do ano.
Um barulho é ouvido dentro da casa.
Seu velho pai, lá está ele, a poucos metros da saída com sua esposa no colo.
Seu eu do passado se aproxima da entrada.
Yuri já não aguenta mais, o calor é sufocante. Suas lágrimas já deixaram de ser controladas a um tempo.
Yui está parada, em choque, olhando para a parede com seus desenhos feitos com giz de cera no qual foram um problema para serem removidos. A parede foi pintada por esse motivo, mas traços dos desenhos ainda podiam ser vistos.
— Yuri… — proclama o homem sobre a entrada da casa.
Seu corpo estava na entrada da casa, a poucos metros da saída. Pegava fogo e destroços estavam sendo empilhados sobre ele.
— Filho… proteja sua irmã! — São as últimas palavras de seu pai.
O calor já é extremamente insuportável, a fumaça começou a enroscar em sua garganta.
Eu não devia estar no céu? Por que tudo isso está acontecendo? Eu tô no inferno?
Sua consciência já não está mais ali presente, mesmo ali, um local onde tudo deveria ser sua consciência. Ele apagou. Suor escorrendo pelo seu rosto já muito vermelho. Tosse extrema por causa da fumaça. Sua mente se apaga ali. Ajoelhado, vendo a si mesmo e sua irmã no passado lamentar, ele não sabe mais o que fazer, nunca soube.
— Levante. — uma voz grossa desconhecida exclama.
— …
— Levante, Yuri! Não abaixe sua cabeça agora! Siga em frente, persista, persista e faça. Faça ser real. Você não pode morrer aqui!
A tosse já havia passado do tempo de ser suportável, seus pulmões não aguentavam mais. A voz continuava.
— Levante e lute, Yuri! Você tem que salvá-los!
— LEVANTE!!!
Sua consciência volta como um raio.
—Ahh!!? — geme Yuri assustado.
Vozes eram ouvidas vindas do escuro, a silhueta de três pessoas próximas à fogueira podiam ser avistadas, mas Yuri não sabia dizer quem eram. Sua cabeça ainda estava doendo.
— Caralho, apaga isso, vai pegar fogo em tudo — diz uma voz desconhecida, mas fresca nas memórias de Yuri.
Como? Ué?
As vozes e rostos ainda não identificados continuavam resmungando e discutindo.
— Meu Deus, você só faz merda. Apaga isso logo, vai chamar atenção demais! — retruca uma.
— Como eu apago? — pergunta a outra.
— Sei lá, joga alguma coisa em cima, rápido.
— Não grita!
Que merda tá acontecendo? Que calor é esse? Quem são eles?
Yuri se levanta lentamente, sua cabeça está confusa e girando.
— Hunm? O que está acontecendo aqui? Onde eu tô? Eu não morri? — pergunta Yuri sem a intenção de receber uma resposta.
— Hahahaha, e não é que a bela adormecida acordou?! — um deles diz.
— QUEEEE??? — grita Yuri assustado
Pouco tempo depois.
— Se acalmou moleque? Pelo amor, cala a boca logo — diz o maior entre eles com uns olhos de peixe morto..
— Eu falei pra gente deixar ele lá, vocês não me escutam. Ele só vai atrapalhar — é dito por uma voz resmungando e fina.
— Que nada, deixa ele aí — concorda o maior.
— A gente só pode sair daqui com três pessoas, porque salvou ele sendo que não vai dar pra levar? — diz o mais afastado entre todos, próximo a fogueira.
— Puts, não pensei nisso — os olhos de peixe dizem.
— Bora matar ele? — A voz aguda novamente.
— Hunm? Eu tô ouvindo vocês, sabia? — tosse Yuri levantando sua mão como um gesto de presença.
— Merda… — os três sussurram ao mesmo tempo.
Depois de um longo tempo de conversas e risadas entre os três amigos na fogueira, as coisas começam a fazer sentido.
— Então, vocês me salvaram porque não matam sem necessidade? — questiona Yuri pela terceira vez.
— Exato! — exclama um deles (pela terceira vez)
— E o cara que levou uma flechada no meio da nuca? — cutuca Yuri.
— Bom, tinha necessidade, não? Você ia morrer se ele não morresse — respondem de maneira seca.
— Faz sentido… mas de qualquer forma — Yuri tenta argumentar.
— Escuta aqui, você tá vivo, não tá? Não precisa questionar o porquê disso. Quer morrer no final das contas? — o mais estressado entre eles disse.
— Ah, não, não, obrigado. Só me senti um pouco confuso quando acordei e dei de cara com vocês.
As coisas se encaixaram até mais rápido do que o esperado. Em resumo, os três amigos salvaram Yuri pois, assim como ele, não acreditavam nos sacrifícios e não gostavam de matar . Matar pessoas sem um motivo plausível para eles é algo errado. Não que matar com motivo seja certo, mas pequenos detalhes a parte.
— Bom, a partir de agora você anda com a gente! Meu nome é Junks. Prazer — o maior entre eles se apresenta.
— Pr-prazer. Yuri.
— Esses caras de merda aqui são Leon…
— Opa! — responde Leon, levantando a mão em comprimento.
— E Richard.
— Hnm. — Continuava próximo a fogueira e não mostrava interesse.
Richard, o arqueiro de antes, não parece ter gostado muito de Yuri, não o olhava nos olhos desde que acordou. Sendo sincero Yuri também não gostava nem um pouco dos três. Os nomes que ouviu foram modificados automaticamente para :
Assassino 1, Assassino 2 e Assassino 3
O Assassino 1,vulgo Junks. Não aparentava ser de má índole, estavam em uma situação péssima, mas desde que Yuri acordou não parou de sorrir e provocar seus amigos. Tinha um corpo grande, não muito musculoso, cabelo raspado e uma tatuagem nos ombros. Algo como um tigre.
O Assassino 2, vulgo Leon, magro com cabelos longos amarrados por um elástico, tinha uma cara um pouco séria, mas no fundo sempre ria das piadas e se fazia produtivo com os afazeres. E pelo o que parece, também tinha uma tatuagem de tigre no braço.
O Assassino 3, vulgo Richard, era bom com arco e flecha, magro, mas alto, tinha o cabelo verde com uma franja que cobria a maior parte de seus olhos. O mais sério entre todos, sem dúvidas. E… também tinha uma tatuagem de tigre?!
Yuri resolveu não perguntar nada sobre as avaliações que foram criadas por eles em sua cabeça, agora, menos confusa..
— Tá com fome? — exclama Junks, em um tom de voz amigável.
— Vocês tem comida com vocês? Não sabia que podia trazer coisas conosco.
Os três se olham.
—Você apagou, então provavelmente não lembra de nada. Seguinte, aparentemente vão ser distribuídas comidas e novos armamentos ao longo dos dias. A gente tem que aguentar sete dias aqui no inferno, comida pelo menos eles dão — explica Junks.
— Mas como vocês pegaram tantas? — fala Yuri indignado com a quantia.
— Quando a gente tava te tirando do centro as cabines começaram a apitar e algo como uma caixa de som “soltou” a voz daquele apresentador bizarro.“ Suplementos para suas necessidades de sobrevivência mínima serão soltos no centro da torre. Aproveitem para ficarem cheios, os deuses gostam de carne extra”. Foi o que ele disse. — Completa Junks com a boca cheia de feijão.
— Eu tenho medo desse cara — Yuri suspira baixo, cansado.
— Não é mesmo?— exclama Leon com um leve sorriso no rosto.
— Toma aí! — O braço se move, arremessando alguma coisa.
Uma lata é arremessada na direção de Yuri. Ainda sente uma leve dor de cabeça, mas consegue se sentar pra comer.
— Seguinte… — começa Junks.
— Nós te salvamos por interesse próprio, não porque você ia morrer ou algo do tipo, foi porque quisemos — continua Junks.
— O-Ok.
— Então, você pode no mínimo ajudar a gente a sair daqui — sugere o maior, em físico, pois sua mente aparentemente não pensava direito.
Pera, eu ouvi direito? Eles querem que eu ajude os três a chegarem no final?! Significa que se eu chegar com eles eles vão me matar?
— Calma, calma, calma. Tá me dizendo pra ajudar vocês a fugirem para no final eu morrer que nem um merda esquecido?
— Sim — exclama Leon, sem muitas preocupações além de sua própria comida.
— Sincero demais! Ai meu deus. — A respiração de Yuri falha e ele quase engasga com o feijão.
Yuri acabou de acordar de um pesadelo e já tem outro. O mundo é uma bola de neve de problemas.
— Porque acham que eu iria aceitar algo do tipo?
— Bem, como eu disse, nós te salvamos — Junks estava em pé sobre uma rocha, demonstrando que era o líder.
— Pra me matar no final? Que diferença faz se eu tivesse morrido no começo então?
— É, Junks, ele te pegou nessa — exclama Leon, com sua lata de feijão quase vazia.
— Cala boca! — Junks grita em um tom um tanto triste.
— Fala baixo gente, outros podem nos ouvir — murmura Richard.
— Cala a boca!! — gritam Leon e Junks.
— E-ei, gente?
— Cala a boca!!! — Os três estão gritando.
— Meu Deus, desse jeito não vamos chegar em lugar algum — suspiros são ouvidos.
— Eu falei pra deixar ele morrer.
— Enfim, seguinte… Yuri,né?
— Isso, Yuri.
— Poderia por favor nos ajudar? Pelo menos um pouco, não precisa seguir a gente até o final. Se chegar lá antes de nós, vida que segue.
— Hum, tá. Acho que tudo bem, acho.
— Beleza! Pega aí.
Uma lata de feijão é arremessada nas mãos de Yuri. Ele abre e os quatro ali presentes começam a comer. Leon pelo jeito já acabou.
Yuri não consegue tirar os olhos das tatuagens dos braços de seus novos “companheiros”, eles não notam o olhar, mas Yuri vez ou outra o desvia.
A noite passou tranquila, sem mais gritos, choros, ou um vermelho sendo escorrido. Só as latas de feijão,agora vazias, e a fogueira em meio ao acampamento provisório.
Todos eram simpáticos, não aparentava nenhum perigo tê-los por perto.
A noite foi se aproximando, eles não tinham relógios ou algo do tipo, mas a lua estava bem em cima de suas cabeças. Não tinham dito mais nada estranho ou direcionado para Yuri, o que o deixou confortável para relaxar.
Yuri não conseguiu dormir, afinal seu primeiro dia na torre foi uma tremenda dor de cabeça. Ele decide subir um pouco as árvores para olhar para a lua. O clima estava bom e o céu estrelado e brilhante. A última vez que Yuri olhou para as estrelas foi há um mês, quando ainda estava em casa com sua irmã. Era um passatempo que gostava, admirar as estrelas sempre foi uma paixão desde pequeno.
Ele escala uma árvore próxima com facilidade, no topo de um galho encontra Richard.
— Ah, não consegue dormir também? — diz Yuri.
Sem resposta.
— Gosta de olhar a lua?
Sem resposta.
O clima desde o começo parecia pesado entre os dois, nenhum motivo aparente até o momento.
— Você…— uma palavra foi dita.
— Eu…?
— Porque está aqui? — foram as primeiras palavras de Richard para Yuri.
— Hunm. Deixa eu lembrar. Ah, eu fui pego roubando no festival de abertura, me expus demais e acabei sendo chamado. — Coçando a cabeça, ele demonstrou um sorriso bobo.
— Que motivo merda.
Caralho, que escroto. Vai disputar quem teve a vida mais merda agora?
— Como é? E você? Porque veio pra cá?
— Meu irmão — silaba Richard
— Seu irmão?
— Sim, meu irmão.
Richard parecia querer de certa forma conversar, mas não demonstrava isso, não conseguia.
— O que tem ele? — diz Yuri recuando.
— Meu irmão foi campeão dessa torre uma vez.
Um silêncio que parecia durar eternidade foi construído sobre os dois.
— Calma, seu irmão ganhou isso?
— Achei que iria ficar mais surpreso.
Ele estava, estava até demais, mas tinha ciência da situação em que estavam. Mais um grito e uma flecha poderia vir de qualquer lugar e acertar a testa de alguém.
—Como foi? Me conta — Yuri pergunta apoiando os cotovelos sobre as pernas e colocando a cabeça entre as mãos.
— Há uns anos meu irmão foi convocado por uma seleção. Diferente de como foi nesse ano. Ele voltou para casa exausto, parecia morto. Estava todo machucado, com os braços sem força, perna e joelho quebrados, além de uma enorme cicatriz no ombro. Eu estava esperando que ele fosse ficar feliz quando voltasse pra casa, mas não foi o que aconteceu. Meu irmão abandonou tudo que gostava de fazer e começou a vagar por outras cidades para roubar ou brigar com desconhecidos. Um tempo depois soube que meu irmão matou muita gente no festival. Isso deve ter subido para sua cabeça e o abalado. Poucos meses depois, meu irmão voltou pra casa com uma tatuagem no ombro, para cobrir a cicatriz, uma tatuagem de tigre.
— Ahh, então é isso?
— Sabia que você estava reparando, não falei nada pra não te deixar desconfortável.
— Nossa, eu sou tão previsível assim?
—Sim, muito.
Essa foi a primeira vez que os dois riram juntos.
— No próximo ano meu irmão foi chamado novamente para a torre, por indicação de supervisores dos jogos passados. Ele morreu no mesmo dia que os jogos começaram. Eu, Leon e Junks já éramos próximos na época, então fizemos as tatuagens em homenagem ao meu irmão. Mas prometemos uma coisa depois que ficaram prontas : “ Nós nunca vamos matar pessoas por prazer, vamos mudar o mundo com nossas mãos limpas”. Foi o que dissemos.
— Nossa… Vocês parecem motivados.
As estrelas brilhavam mais do que nunca nesse dia. Um laço de uma grande amizade estava sendo formado em um tronco de árvore.
— Quer saber porque salvamos você?
— Ah, então realmente teve um motivo!?
— É… claro que teve.
— E qual é no final? — pergunta Yuri quase não conseguindo segurar sua ansiedade.
— Meu irmão antes dos jogos era muito engraçado e desengonçado, não fazia nada direito, mas até o final ele lutava, era o mais cansado, mas não entregava nada de mãos abertas.
Um silêncio novamente recai sobre os dois
— E você Yuri… Você é igualzinho a ele — exclama Richard com os olhos fechados olhando para as estrelas.
A noite foi se afastando e o sol se reerguendo acima das pequenas montanhas e pinheiros no local.
O segundo dia no inferno estava prestes a começar.
O começo do dia foi agitado, com alarmes parecendo sirenes acordando todos que ainda permaneciam dormindo. O anúncio do alarme foi dito logo após alguns segundos do término do barulho.
— Bom dia meu senhores, sejam bem vindos ao segundo dia dos nossos jogos. Vejo que muitos ainda estão de pé. Nossos deuses possuem a paciência de esperar até sete dias. Sejam rápidos e não deixem eles com fome. Hoje, serão jogadas mais caixas com comidas e algumas reservas de água para vocês, aproveitem e sejam rápidos. Um bom segundo dia a todos.
— Meu deus, esse cara de novo não — exclama Junks, com o rosto ainda sonolento.
Yuri prestou atenção em tudo que foi dito, mas algo ali o chamou a atenção.
— Ei, o que foi isso que ele disse de “sete dias”?
— Ah, verdade, eu não te contei. Quando meu irmão veio pra cá ele me disse que o único jeito de sair daqui é no elevador que aparece no centro no sétimo dia. Os três que ficarem lá dentro até a última chamada da cabine são salvos e os outros sobreviventes são deixados aqui sem comida até morrerem — explica Richard.
— Então, temos sete dias para sair daqui. Podemos conseguir sem matar ninguém! — Afirma Yuri animado com a possibilidade.
Os três amigos se entreolham com uma expressão séria em seus rostos.
— Yuri, todos aqui já matamos alguém no começo do jogo. Você é o único de nós que não tem sangue nas mãos.
Yuri parecia mais surpreso do que o esperado. Ele tinha isso em mente, mas ouvir da boca dos outros é realmente muito pior.
— Ei! Se escondam, rápido! — sussurra Junks.
Passos podem ser escutados vindo em sua direção, parecem cinco. Uma luta quatro contra cinco, ainda mais com Yuri nessa situação, poderia complicar para seus lados.
Os passos parecem se separar e irem em outra direção. Richard entrega uma adaga que conseguiu no primeiro dia nas caixas centrais.
— Qualquer coisa usa isso. Pode ficar pra você. Eu tenho outra — sussurra Richard para Yuri.
Os passos se aproximam e parecem estar logo ao lado. O coração de Yuri começa a acelerar e suas mãos a tremerem
Junks percebe e fala com uma voz tranquilizante.
— Deixa com a gente, fica abaixado e se esconde.
Os passos finalmente vêm em sua direção. E quando esses menos percebem, têm suas gargantas cortadas por Leon e Junks. Yuri estava começando a se esquecer desse cheiro e da cor vermelha que não parava de sair. Ele se esforça para não vomitar.
— Pronto! Bora dar o fora daqui, pegue todas as comidas que conseguirem e coloque na bolsa.
Junks aparentemente era o líder dentre os três. Com certeza era o que passava mais confiança.
— Vamos — diz Richard puxando Yuri para longe dos corpos.
Richard no dia anterior antes de todos irem dormir tinha dito :
“ — Você não sabe lutar, olha, quando for mirar pra matar,mira na garganta, na garganta.”
Foram as palavras que fizeram Yuri ter pesadelos. Richard mencionou outros fatores importantes, mas Yuri estava com sono e nervoso para se lembrar agora.
Logo atrás deles os passas que tinham se separados são ouvidos.
— Ahhh merda — exclama um dos estranhos
— Eles pegaram alguma coisa?
— Sim, toda a comida que estava com eles.
— Nãooo! Essa era nossa última reserva.
Aparentemente tinham três pessoas, mas só duas estavam conversando.
— Não dá em nada, hoje eles disseram que vão reabastecer.
Yuri e os outros não poderiam ficar ali por mais tempo, corriam risco de ficar mais expostos.
Após tomarem uma boa distância, os quatro saem em disparada para a floresta.
Yuri lança um olhar para trás para ver do que estavam se escondendo.
— Cabelos…vermelhos? — fala para si mesmo.
Os outros acabam percebendo os vultos circulando pela floresta, decidem manter posição e ficarem atentos. A menina com cabelos vermelhos segue com os olhos por um bom tempo os vultos. Por uma fração de segundos sua respiração para e sua atenção é concentrada totalmente para eles, o último da fila, correndo entre as árvores com sua franja balançando e seu sobretudo marrom voando contra o vento. As palavras saem, mas não com força para serem ouvidas:
— Yuri!!?