The Paradise Tower - Capítulo 4
Capítulo 4 – Despedida dolorosa.
— Ei, Yuri. Vamos sair daqui rápido, o alarme já tocou, isso vai virar um caos em alguns segundos.
Junks estava atento a todas as direções.
— Como está sua perna? Ainda dói muito? — pergunta Richard.
— Não, ela está bem. Vamos indo.
Os quatro estão se afastando do centro, o alarme havia tocado e passos podiam ser ouvidos de muitas direções. Precisavam tomar cuidado.
— Vamos nos abrigar em cima das árvores. Creio que seja o lugar mais seguro — sugere Junks.
Eles possuíam muita comida, estavam próximos quando o primeiro alarme tocou no dia anterior, conseguiram pegar quase tudo para si. Não precisavam se preocupar até o final dos jogos se conseguissem distribuir igualmente.
Eles acharam um bom local para ficar e se acomodaram. Árvores grandes e apertadas umas às outras construíam o ambiente, folhas e gravetos para todos os lados. O verde pintando o chão e o marrom sua visão, era um bom lugar. Decidiram permanecer ali até a perna de Yuri melhorar. A maneira mais fácil de não se encontrarem com ninguém era se escondendo, ou era o que eles pensavam.
Os dias após isso passam normalmente, o número de pessoas parece ter diminuído drasticamente. Gritos não eram ouvidos. A quantidade de corpos pela floresta era grande, apesar de não terem visto nem 50% do local inteiro.
Evitaram os combates diretos com outros grupos, afinal Yuri ainda estava com a perna um pouco machucada e estava se recuperando.
Quatro dias se passam sem grandes ações, faltam apenas mais dois para o dia final dos testes.
— Ei. Acorda, acorda!
Yuri é acordado por Junks desesperado. Estava suando e com os olhos arregalados.
— Junks? O que aconteceu? — pergunta Yuri esfregando os olhos.
— Eles sumiram, merda.
— Sumiram? Quem?
— O Richard e o Leon. Eles não sairiam sem falar com um de nós pelo menos.
— Não deixaram nada para trás? — Yuri se levanta e olha ao redor.
— Errado! Tudo está aqui, esse é o problema.
— Merda! — Olha para suas bolsas próximas à fogueira.
— Consegue se mexer? Sua perna está melhor? — Junks segura Yuri por um braço, mas tem sua mão removida.
— Sim, está curada. Vamos procurá-los.
Quando estão prestes a saírem Yuri sente um calafrio e para. Junks o observa e percebe que algo está acontecendo.
Arbustos de mexem, galhos são pisados. Yuri e Junks se mantêm atentos e em silêncio.
— Vamos,Yuri. Por aqui…quieto, não faça barulho — sussurra Junks com sua faca em mãos.
Yuri se ajeita e empunha sua faca, assim como Richard havia o ensinado. Os dois estão tensos, o coração de Yuri se acelera com um tempo.
Merda, merda. Isso é ruim, meu corpo está ficando duro por causa do nervosismo, preciso me soltar. Relaxe corpo… relaxe.
Mais barulhos são ouvidos vindo em direção aos arbustos. Junks e Yuri ficam de costas um para o outro, em formação de defesa, eles continuam andando com passos silenciosos.
Yuri está olhando as costas de Junks e Junks as de Yuri. Eles estão atentos. Poderia ser tanto Leon e Richard como um grupo de pessoas.
Mais galhos são quebrados perto de onde estavam. A floresta está em silêncio, somente suas respirações podem ser ouvidas. Seus olhos estão atentos, não piscam nem por um segundo.
Algo se aproxima da moita…
— Ei, Junks! Alí! — aponta Yuri.
Os dois se viram e acompanharam com os ouvidos os passos vindo em sua direção. Algo está saindo da moita, entre as árvores.
— Richard? — pergunta Yuri — O que aconteceu com você cara? Porque seu rosto está machucado?
Richard permanece entre as duas árvores, seu corpo não está amostra, somente seus braços e cabeça.
— Richard… — comenta Junks com uma voz leve.
Ele parece surpreso.
— Me desculpem pessoal, me desculpem — uma voz fraca é dita.
— Ei seu merda! Está se desculpando pelo o que? — retruca Junks, irritado.
— Eu não fui forte o suficiente. Junks, Yuri. Me perdoem.
Os olhos dele estão vidrados no rosto de Richard, sangue está escorrendo pela sua boca e pelo o que parece, está com o nariz quebrado e braços com cortes na parte dos ombros.
— CERTO, CERTO. Acho que você já falou demais. Matem-o!
— Richard…
A garganta de Richard é cortada, junto com suas mãos que estão apoiadas nas árvores, fazendo seu corpo cair no chão. Está com o peito e costas machucadas, foi perfurado por algo afiado diversas vezes. Ele se manteve firme até o último segundo.
— Hein? Como…— observa Yuri, em choque..
A voz de antes é dita novamente.
— Tragam o outro merda também..Coitado, não conseguiu se manter de pé por 10 minutos.
O corpo de Leon é arremessado em meio aos arbustos, caindo em cima do de Richard. O sangue dos dois se juntam e começam a formar uma enorme poça de sangue.
— Certo, obrigado por terem nos guiado até aqui. Peguem os dois restantes — ordena o rapaz coberto de roupas pretas.
Diversas pessoas saem de dentro da floresta com facas e facões. Todos cobertos de sangue, provavelmente de Richard e Leon.
Um deles parece familiar aos olhos de Yuri.
— Olha só se não é o “bixinha” que eu prometi matar no primeiro dia.
Não…não pode ser verdade. Esse cara, é ele mesmo ? Ele está com os cabelos totalmente cortados e com ferimentos leves por todo o rosto. Mas não há dúvidas, só pode ser ele.
Eles avançam contra Yuri e Junks. Yuri fecha os olhos.
O tempo para.
O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço? Vamos mesmo todos morrer? Depois de chegar tão perto, vamos morrer assim? Leon e Richard morreram pelas mãos dessas pessoas. O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?
Seus olhos são abertos, o tempo continua congelado. Ele olha para seu lado. Lá está Junks, com os olhos cheios de raiva e tristeza, mas com uma expressão que não condiz com esses sentimentos.
— Eu não posso morrer agora… não antes de saber se a Nina está viva — pensa em sua mente.
Yuri empunha sua faca e dá seu primeiro passo. As coisas voltam a se mexer. Algumas das pessoas avançam diretamente para cima de Junks, que é o primeiro a correr em direção a elas. Junks tem um bom físico e boas habilidades, em poucos segundos duas pessoas das quais avançaram estão no chão com buracos em suas barrigas. Sua expressão não muda, como se estivesse acostumado a matar.
— O “bixinha” é meu!!
Numa fração de segundos o menino vem em direção a Yuri em uma velocidade absurda, quebrando galhos e pequenas moitas que estavam em seu caminho. Ele está armado com uma faca de caça. Yuri o observa, seu corpo não se mexe. Seus olhos estão acompanhando os movimentos dos pés e das mãos de seus adversários. Ele fecha seus olhos. Uma lembrança passa em sua cabeça.
— Ei, Yuri. Pega essa faca aqui, vem comigo.
— Hein? O que a gente vai fazer.
— Vou te explicar o básico na hora de uma luta.
O sorriso radiante de Richard naquele momento não sai de suas memórias. Seu cabelo verde musgo tampando os olhos, mas não atrapalhando sua visão.
— Então, você é péssimo em coordenação e não é rápido…
— Ei!
— Estou mentindo?
— …
— Como pensei. Seguinte, mantenha os olhos abertos, você precisa enxergar o movimento do seu inimigo, mesmo que não consiga acompanhar, veja o que ele vai fazer, leia-o. Quando for atacar, mire na garganta, somente uma vez é o suficiente, um golpe bem dado.
— Parece fácil pra você, mas pra mim não. Eu só sabia roubar e apanhar. Meus olhos estavam sempre fechados.
— Então abra-os! Mantenha eles atentos. Não abaixe sua guarda.
— Como vou mantê-los abertos sabendo que algo está vindo na direção do meu rosto e que vai me foder muito?!
— Hum, pense em algo importante pra você.
— Algo importante? — pergunta Yuri colocando a mão sobre o queixo.
— Sim. Visualize essa coisa como se fosse a última vez que ela estará em sua frente.
— Uma coisa importante… — Seus dedos fazem movimentos repetitivos.
…
Seus olhos se fecham por um momento e logo se abrem. No pequeno tempo em que ficaram fechados, muitas coisas passaram por sua visão. Nina, Yui, Crown e até mesmo seus novos amigos que estavam lhe ajudando até agora.
— Visualizou? — Richard está se arrumando para uma posição ofensiva.
— Acho que sim…
— Certo, agora mantenha os olhos abertos para não perdê-la, para que não fuja. Pronto? Vou te dar um soco, tente desviar.
— Ah? Espera, espera, como é…
— Lá vai!
Um soco vem em sua direção, sente como se estivesse vindo com toda a força que Richard poderia colocar, talvez estava. Os cabelos de Yuri balançam e a sensação de algo vindo em sua direção é demais para ele conseguir manter os olhos abertos.
…
— Ah… merda. Junks, ! Trás alguma coisa pra estancar o sangramento no nariz do Yuri. Rápido!
— Meu deus do céu, tá doendo muito. Porque fez isso??
— Eu falei pra manter os olhos abertos. Você fechou. — Richard faz um gesto de perdão e abre um sorriso.
Os dois estavam rindo e pareciam felizes. Yuri se lembrou dessa memória… “ Mire na garganta”
Quando abre os olhos o inimigo está mais próximo do que deveria, sua velocidade era absurda. Mas os ensinamentos de Richard faziam sentido. Essa era sua última chance de sair dali e encontrar Nina.
Leia seus movimentos.
O menino se aproximava cada vez mais.
Visualize suas ações.
Agora mais perto. Ele gritava como um louco, corria como um animal, seus músculos chegavam a assustar. Mãos grossas,ainda cortadas devido ao ferimento da unha no início do teste. Mas Yuri não ia se dar o luxo de desistir, não podia.
Pense em seus movimentos
Os passos eram largos e em poucos segundos estaria frente a frente com Yuri.
Ache uma abertura!
O menino enfim estava a três passos de Yuri. Este deu um pulo com os braços girando loucamente e com a faca entre as mãos.
— EU TINHA JURADO TE MATAR!!! — grita caindo da insana altura do pulo.
Seu corpo estava esticado, braços sem formação e pernas suspensas no ar, nada o protegendo. Diversas aberturas, mas uma em específico passou pelos olhos de Yuri, a garganta. O animal estava caindo em direção ao peito de Yuri. Gritando loucamente.
Yuri ajusta a empunhadura de sua faca, flexiona seus joelhos e mantém sua postura reta.
— VOCÊ TÁ MORTO!! — diz o menino a poucos centímetros de Yuri.
Yuri manteve seus olhos abertos, visualizando à sua frente tudo que mais lhe era importante. E vendo que não encontraria mais o sorriso de quem agora estava no chão, mexeu seu corpo com uma suavidade surreal. O braço do menino passou por cima da cabeça de Yuri, arrancando alguns fios de cabelo. Seus músculos não estavam acostumados, então sua perna anteriormente machucada sentiu um leve choque. E com pequenos movimentos sussurrou para o animal caindo em direção ao chão.
— Aberturas demais…
De início o corpo se manteve em pé, mas parado, a sede de sangue presente havia sumido.
— Que merda você fez bixin… — sangue é escorrido e tossido da garganta.
Ele cai de joelhos em meio ao gramado, sua regata branca logo é tingida de um vermelho vivo. Sua voz parecia ter sido calada.
Yuri havia mantido os olhos bem apertos e com atenção nos movimentos de seu inimigo. Visualizou a abertura e por fim atacou de uma forma limpa e rápida, cortando a garganta em quase duas partes.
Um dos problemas estava no chão. Yuri mantinha os olhos bem abertos, visualizando todos aqueles que não podia perder e o sorriso daqueles não mais presentes.
Manteve-se estático por segundos, sua expressão havia mudado, estava sério. A única coisa que transmitia emoções, eram seus olhos.
— Esse moleque… matou o Jean — diz um dos meninos do grupo.
— Quem é ele? — dizem se afastando.
Cochichos eram ouvidos vindo dentre o grupo ali presente. Yuri ficou parado, ninguém ousaria chegar perto dele, estavam com medo.
Junks estava determinado, sua expressão também não havia mudado. Ele tinha um objetivo e seguiria adiante para conquistá-lo.
— Vamos, vamos, depressa! Eles são somente dois, peguem eles! — ordena novamente o maníaco de preto.
Outros estavam vindo para a direção de Yuri. Yuri os acompanhava com os olhos, mas seu corpo se mantinha parado.
Em poucos segundos foi cercado por 3 pessoas, também com facas de caça. Esses avançaram ao mesmo tempo em uma tentativa de confundir Yuri.
As palavras não saem de sua mente.
Visualize seus movimentos
Yuri, se agacha, sua perna recebe outro choque. Em um instante outros ataques estão vindo em direção ao seu rosto e costas.
— Yuri!! — grita Junks lutando contra os outros dois.
Ache suas aberturas
A faca da mão de um dos inimigos é puxada por Yuri em uma tentativa de desarmá-lo, mas falha ao ter sua mão impedida..
Merda. E agora? Pense…
— Não fique pensando que somos igual a aquele idiota. Ela faz tudo sem pensar, não passa de um animal — grita um dos integrantes do grupo.
Um deles avança em direção a Yuri.
Yuri se esquiva e o prende com os braços, imobilizando e quebrando seus dedos. A faca cai no chão e Yuri consegue pegar, logo em seguida fura o peito desde desarmado.
— Ora, seu…hnm? — outro avança.
— Muitas aberturas.
Sangue da garganta é jorrado no rosto de Yuri, sua faca completamente de vermelho. Suas mãos não tremem, seu coração não acelera e seus olhos continuam abertos.
O excesso de sangue polui sua visão o fazendo afastar. O último dentre os três à sua frente aproveita a chance e corre em direção a Yuri balançando em movimentos rápidos sua faca. Ela para perto de seu pescoço. Uma mão a esta segundo.
— Junks ? — chama Yuri revirando os olhos pintados de sangue.
— Ei, você tá bem? — uma mão é colocada sobre a cabeça de Yuri o puxando para perto.
— Me solta seu desgraçad…
Junks em segundos quebra os braços e mãos do indivíduo restante. Este se estende no chão e desmaia com a dor. Yuri olha para suas mãos e as de Junks. Estam cobertas de sangue, lesionadas e com dedos quase quebrados e roxos.
— Como é possível?! Impossível, quem são vocês? O que vocês querem? — o maníaco de preto está no chão, rastejando para trás. Seus olhos tremem e seus braços querem afastar seu corpo para o local mais longe possível.
Junks e Yuri se entreolham. Pegam o maluco e o colocam de joelhos. Seus companheiros acabaram de ser mortos e ele só ficou observando.
— O que vocês querem? Comida? Tenho um monte de suprimentos dentro da nossa base. Posso guiar vocês até lá. O que acham? — negocia com um sorriso e suor escorrendo pela testa.
Yuri se ajoelha e fica na mesma altura do menino em sua frente. Percebe que tem olhos castanhos e um cabelo loiro, seu rosto não está nem um pouco machucado, sua pele branca em excesso demonstra isso. Uma faca está sobre sua garganta, a ponta está dentro. Este geme de dor.
— O que você quer? Me fala! — grita com a faca sobre sua garganta.
Yuri olha para os corpos jogados no chão. Pela primeira vez seus olhos se fecham, lágrimas são escorridas pelos seus olhos e pingam em seu joelho.
— Você encontrou uma menina de cabelos vermelhos? — sussurra Yuri.
— Menina? Que menina?
— Responda!
— Ah…ah. Eu vi algo do tipo perto do riacho — responde o menino quase chorando sem certeza.
— Em que direção? — pergunta Yuri sacudindo o moleque.
— Eu não sei…
— Em que direção!? — repete.
— Próximo ao centr…
Mais sangue é jogado nas mãos de Yuri. Sua tristeza e raiva controlaram totalmente seu corpo. Uma mão é posta sobre o ombro de Yuri, ajoelhado em uma poça de sangue e chorando em soluços.
— Ei. Vamos embora… Deixe os corpos deles aí.
— Junks… Porque eles tinham que morrer? Porque? — mais lágrimas são escorridas.
Sua voz é retratada por uma tristeza imensa, nunca se sentiu tão sozinho assim antes.
— Levante-se daí, vamos embora. — diz Junks puxando Yuri pelos braços.
Junks não demonstra tristeza em sua voz, mas na verdade, lágrimas estão escorrendo nas costas de Yuri. Ele morde os lábios vermelhos com tanta força que os corta ao meio. Ninguém poderia estar mais triste do que Junks.
— Venha, levante-se. Vamos embora — repete mais uma vez.
— Junks.
— Fala.
— Minha perna. Não consigo andar.
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— …Como você está? Se sentindo melhor.
— Um pouco.
Os dois saíram da floresta sangrenta e foram em direção a um riacho ali presente. Lavaram os rostos e comeram em enlatado que encontraram na bolsa dos corpos.
O que aconteceu? Por que eu matei todos daquela maneira? O que foi que deu em mim? Eu senti algo estranho no meu peito, algo mais complexo que raiva. Meu deus, será que agora eu sou um assassino? Não. Não quero, por favor.
Seus pensamentos estavam confusos no momento. Até pouco tempo atrás só pensava em uma única coisa, sair vivo de lá. Isso se realizar, em sua mente, era algo impossível.
— Ei, Junks. Está tudo bem responder uma pergunta minha?
— Claro, diga.
— Eu virei um assas…
— Sim! — diz Junks diretamente lambendo o enlatado.
— EU NEM COMPLETEI!
— Cara, o que deu em você? Como lidou com todos daquela maneira. Parecia outra pessoa. Fiquei até com medo.
— Meu Deus, já não basta meus pensamentos confusos e desanimadores. Porque eu fui falar contigo?!
— Sabe cara, você é uma pessoa bacana…
— EI! NÃO IGNORA MEUS PENSAMENTOS COMO SE NÃO FOSSEM NADA. Obrigado.
— Haha. Certo, certo.
Junks mantinha seu sorriso e bom humor, seus olhos haviam voltado ao normal. A intenção assassina vindo deles havia sumido.
Ele age tão naturalmente, chega a dar medo. Seus olhos podem estar normais, mas eu sei, o buraco no seu coração nunca mais será preenchido novamente.
— Consegue mexer a perna? — aponta Junks com os olhos preocupados
— Acho que si…
Um barulho é ouvido da floresta em direção a eles. Está se aproximando, rápido demais. Respirações ofegantes podem ser ouvidas.
Merda, mais gente louca? Eu definitivamente não vou conseguir brigar com alguém. Depois de tanta merda eu vou realmente morrer? Porque isso acontece comigo meu Deus?
Lágrimas escorriam internamente, estava chorando, mas somente em seus pensamentos.
Logo depois que eu me achei forte por ter acabado com uns caras. Ai meu deus, olha meu sobretudo, manchou tudo de sangue! Quem vai lavar pra mim?
Os passos pararam de repente.Voltaram em uma velocidade menor. Vozes baixas podem ser ouvidas.
— Se esconde! — fala Junks. — Rápido!
— Meu Deus!!! Minha perna tá doendo para um caralho. Ajuda, ajuda, ajuda — grita, mentalmente, Yuri puxando os braços de Junks.
— Vem logo seu merda — Junks o puxa com força.
Yuri se escondeu atrás das pedras do riacho junto com Junks.
Os passos chegam. E as conversas podem ser ouvidas.
— Meu Deus, meu Deus. Porque? Porque?
Os dois atrás das pedras se olham e fazem um simples sinal com a sobrancelha, que significava: “ Está chorando?”
O sinal foi tão momentâneo que só poderia ser entendido pelos dois. Junks tenta se levantar para dar uma olhada melhor e ver quem são essas pessoas. Ele escorrega e pisa na perna de Yuri.
— Merda…— sussurra.
Yuri não podia gritar, caso gritasse, estariam mortos. Mas isso não impediu seus pensamentos de inundarem em sofrimentos:
Puta que pariu, meu deus do céu, alguém me mata. Que dor é essa?Eu vou morrer, não é possível, eu vou morrer, ou perder minha perna. Junks filho da puta, cretino. Misericórdia que dor.
Ele olha para Junks com a boca aberta gritando internamente, seus olhos estão lacrimejando de dor. Junks lança um “desculpa”, que só irrita ainda mais Yuri. A conversa entre as duas pessoas parece ter se interrompido. De repente escuta-se um:
— Tem alguém aí? — a voz se aproxima lentamente em meio às sombras.
É uma menina, mas não a que estava chorando. São duas meninas?
Junks e Yuri deixam suas facas em um ponto de fácil acesso. Quando a menina se aproxima um pouco mais, Junks se levanta e fala.
— Para trás, não estamos afim de matar ninguém. Só viemos pegar água e nos lavar.
A menina permanece quieta. Yuri não consegue ver, mas ela está de mãos levantadas,
demonstrando que está desarmada e aparentemente não quer confusões.
Yuri tenta levantar para dar uma olhada mas não consegue, o que acaba fazendo seu corpo bater no chão, fazendo barulho.
a pessoa levanta.
— Ei! Parada aí, eu não vou avisar novamente — Junks direciona-a faca.
Ela está indo em direção a pedra que Yuri está. Ele pega sua faca e fica pronto para qualquer ataque. Cabelos são a primeira coisa que vem a sua visão com o vento forte os balançando.
— Não se atreva a chegar perto dele! — exclama Junks. — Não tire-o de mim também, por favor.
Sua voz soou pesada. Yuri se sente mal.
O sol bate nos olhos de Yuri ,impossibilitando ver como é a figura que se aproxima de ser corpo jogado no chão.
— Eu sabia…— diz a menina.
Ela se ajoelha ao lado de Yuri. O sol vai baixando e a sombra de seu corpo sumindo. Sua visão está ficando nítida para vê-la.
— Cabelos vermelhos…? — sussurra a primeira palavra que vem em sua mente com relação a figura a sua frente.
— Eu sabia…— é dito mais uma vez.
— Ei! Eu disse para não encostar nele!
A figura pega Yuri pelos braços de seu sobretudo e os puxa para seu peito. Yuri pode ouvir seus batimentos acelerados.
O sol se foi e o vento diminuiu.
Yuri estava nos braços da pessoa. Sendo abraçado com uma certa força.
Junks parece surpreso, fica congelado sem dizer nada por alguns segundos.
— Ei, calma. — diz Yuri se afastando dos peitos da menina.
Seus olhos se concentram nos cabelos voando com a leve brisa e seus olhos inchados de chorar.
Não, não pode ser…
— Nin…Nina?
Ele é abraçado novamente.
— Eu sabia, eu sabia, eu sabia. — é repetido diversas vezes com soluços e choros.
— Nina, é você? É você mesmo?
Seus olhos em pouco tempo se derramam em águas..
— NINAAAAA ! É VOCÊ MESMO?? — exclama Yuri a abraçando de volta.
— YURIIIIII!!!!
A menina despencou em lágrimas e soluços. Depois de todos esses dias cheios de confusão, os dois estavam ali, vivos e juntos.O reencontro de Nina e Yuri finalmente havia acontecido.
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— Então você finalmente o encontrou!
Ela ainda não havia parado de chorar.
— Cristhine!!! Ele está aqui, bem nos meus braços, está vivo!
— Estou vendo, na verdade está quase morto, olha, está sem ar — aponta Cristhine.
Nina estava se esquecendo de que ele era humano. Estava tão feliz em vê-lo vivo em sua frente que não parou de abraçá-lo por 10 minutos. Yuri realmente estava ficando sem ar, quase desmaiou em um momento, mas a sensação do peito quente de Nina o recebendo com muita alegria fez valer o risco da morte.
Eu não acredito que é mesmo a Nina! Quem é essa mulher que está com ela? Tomara que não tenha feito nada de estranho. Nossa olha, ela tem uns peitões. Não, não, não. Agora não é hora de pensar nisso.
— Nina, tudo bem? Como você está?
Ela parece um pouco triste por dentro, seus olhos estão dizendo isso.
— Bem! — ela responde com um sorriso.
Yuri decide não insistir, quem sabe outra hora ela possa contar.
— E você? Como sobreviveu sendo tão lerdo? — pergunta Nina sorrindo.
— Bem, você sabe. Sou lerdo mas sou muito fort…
— Eu salvei ele. — corta, Junks.
— Eiii ! Era o meu momento. Não atrapalhe!
— Achamos ele quase morto logo no início no centro, estava lutando e estava todo ferrado, quase morrendo — completa olhando para Yuri envergonhado.
— Certo, eu lhe imploro, eu faço qualquer coisa Junks, poupe meu orgulho.
— Hahaha
Todos riram em voz alta. Esquecendo-se de onde estavam. O tempo foi passando e a noite se aproximando. Os quatro mantiveram uma conversa por um bom tempo. A situação em que todos estiveram é dita por cada um. Inclusive a morte de Rebeca, Dank, Justin, Leon e Richard.
Yuri e Junks se entreolham quando as características dos meninos são citadas por Rebeca. Não iam comentar nada sobre, mas seus olhares já dizem tudo.
“ Boca fechada” pensam em sincronia um para o outro, como uma telepatia.
A noite chega, curativos foram feitos na perna de Yuri por equipamentos que Cristhine possuía junto com algumas ervas. Em poucas horas, a dor tinha sumido em parte.
O céu estava estrelado e vagalumes eram vistos em meio a floresta. Estavam acampando perto do riacho, um local com poucas árvores, fazendo as estrelas parecerem ainda maiores e mais bonitas.
Yuri não consegue dormir e decide olhar as estrelas subindo em uma árvore próxima. Ao chegar no topo, nota uma silhueta sentado olhando para as estrelas.
— Richard? — pergunta abrindo um sorriso sem perceber.
Foi inevitável. Ele amava ver as estrelas, seu sorriso passa por sua cabeça.
Pelo jeito eu estou pior do que imaginava.
— “Richard”? Yuri, sou eu.
— Ah, Nina. Perdão. Fazia tempo que não te via, seu cabelo cresceu.
— Você não sabe disfarçar mesmo hein — diz essa soltando os cabelos vermelhos que balançavam sob o vento da noite.
— O-oi ? Como assim?
— Bom, realmente faz um mês que não nos vemos, mas eu cortei o cabelo antes de vir para cá.
Não está tão longo quanto antes.
Como eu digo para ela que não notei diferença nenhuma? Se eu falar ela vai ficar triste não é? Melhor eu não falar nada.
— Ah, é mesmo. Está menor — fala sem pensar.
— Hihi.
Uff…
— Não consegue dormir, Nina? — pergunta Yuri se ajeitando sobre a árvore.
— Não é isso… Eu só não quero dormir.
— Por que?
Yuri se aproxima e senta-se ao lado dela no topo. A cabeça de Nina é apoiada em seu ombro.
— Sabe… quando a gente foi convocado para vir pra cá, eu estive pensando que tudo foi minha culpa.
— Não diga isso. Nada disso foi sua culpa, não foi culpa de ninguém.
— Como não? Foi ideia minha ir para o festival. Foi ideia minha roubar para ir pro festival. Foi ideia minha roubar no festival. Estávamos contando com Crown… estávamos tão felizes que esquecemos que ele era de outra cidade. Tudo aconteceu por minha culpa. Nada disso era para estar acontecendo.
— Mas está! Não fique se culpando por coisas que não podem ser mudadas, já aconteceu.
— Então está dizendo que realmente foi culpa minha?
Nina parece nervosa. Pequenas lágrimas saem de seus olhos.
— Não foi culpa de ninguém. Todos que estavam lá aceitaram fazer isso. Todos riram quando viram eu jogado no chão com o dinheiro para entrar para o festival. Todo mundo que estava lá é culpado. Pode ter sido somente um mês atrás, mas éramos burros, sem noções. Não se culpe por tudo… — Explica Yuri com um tom de voz leve e claro.
Nina permanece em silêncio enquanto escuta as palavras de Yuri. Quando ele acaba, ela o abraça, chorando novamente.
— Eu estava com tanto medo de te perder Yuri. Estava assustada, sem rumo para onde ir. Não sabia o que fazer, procurei desesperadamente por você.
— Eu sei que procurou… fique tranquila.
— Não! Como vou ficar tranquila? Você poderia estar morto agora! Tudo por que eu não ia conseguir te salvar.
— Mas não estou…
As simples palavras de Yuri fatiaram o coração de Nina como pequenas frutas sendo cortadas por facas de chefes de cozinha.
— Eu não sei o que eu faria, você não podia morrer, não antes de eu te falar as coisas que estavam pensando
Yuri permanece em silêncio por um bom tempo enquanto Nina fala.
— Você sempre era chato, ficava fazendo brincadeiras com coisas perigosas e sempre se machucava. Ficava se metendo em brigas que não podia ganhar. Roubando coisas que não podia carregar e querendo coisas que não ia comprar. Sempre foi um desleixado e burro, lerdo, insensível, sem coração. Mas no final eu sempre estava olhando para suas costas como o caminho que eu queria seguir — fala Nina com um sorriso e lágrimas nos olhos.
Yuri continuava olhando para as estrelas.
— Você… sempre foi alguém que eu admirava, alguém que eu queria que estivesse na minha frente…para sempre.
— E eu consegui? — questiona Yuri pela primeira vez.
— Haha — Nina dá risadas de sua inocência.— Sim, você conseguiu. Seguiu até aqui sozinho.
— Eu não estava sozinho, estava muito bem acompanhado — corrige ele.
— Pois é…
Nina se deitou no colo de Yuri e os dois permanecem olhando as estrelas. Yuri leva sua mão em direção a cabeça de Nina e a faz carinho. O clima daquela noite parecia o mais belo dentre as anteriores. Aquele momento, aquele lugar, aquela vista e aquelas palavras… estava tudo perfeito.