The Paradise Tower - Capítulo 5
Capítulo 5 – Últimos passos.
A manhã do último dia finalmente chegou.
— Ei, acordem. Precisamos sair daqui.
O primeiro a levantar foi Junks. As coisas estavam organizadas e prontas para partirem.
— Para onde vamos exatamente? — pergunta Yuri.
— Heheh… nós vamos para o inferno! — responde Junks com um sorriso malicioso.
— Certo, prestem atenção. Hoje as coisas vão ser diferentes do que foram até os dias atrás. A descarga de alimentos não acontece e em seu lugar, o elevador para a saída é posto no centro da torre. Ele aparece poucos minutos até a virada do dia, ou seja, temos até 23:59 para entrarmos nele — Explica Junks.
— E como vamos saber exatamente o horário? — A cabeça de Nina vira como que confusa.
— Hoje eles colocam um temporizador digital no centro. Dá pra acompanhar por lá — completa Junks apontando para o céu.
Informações eram trocadas seriamente no grupo. Hoje seria o final, o final que todos estavam esperando.
— E como exatamente vamos escolher os três que vão entrar? — pergunta Cristhine. — Acho que podemos nos separar e…
— Não! Vamos ficar juntos! — insiste Nina cortando outras possíveis falas de Cristhine.
Yuri não iria abandonar ninguém, ele não podia depois de tudo o que todos fizeram por ele.
Merda… o que a gente pode fazer? Não vou deixar a Nina ou o Junks para trás, mas essa Cristhine é amiga da Nina, o que eu faço?
Cristhine insiste em continuar.
— Mas temos que pensar em algo. Não podemos simplesmente desistir por um deles, não é Nina?
Nina mantinha-se em silêncio, como que negando o que Cristhine havia falado.
— Eu não posso abandonar o Yuri, não depois de tudo o que aconteceu. Eu só cheguei aqui porque queria encontrar ele vivo. E agora estamos decidindo quem vamos deixar para trás? Não brinque comigo.
— Viveu por isso? Se não fosse por mim estaria morta a muito tempo!
Cristhine tampou sua boca após dizer isto. A sensação de que ela tinha dito algo péssimo corria pela espinha de Yuri. Ele continuou em silêncio.
— Ei, ei, ei, esperem. Não precisamos abandonar ninguém, muito menos brigar por isso — interrompe Junks. — Podemos sim entrar na cabine, nunca houve relatos de o que aconteceria se quatro pessoas entrassem. Vamos descobrir.
— Você está doido? Só pode ser brincadeira. O maluco que eu conheci a menos de um dia quer dar as ordens e “supor” o que deveria acontecer? Não me faça ruim.
Cristhine não parecia estar gostando da ideia. Algo nela incomodava Yuri. Ele permaneceu olhando fixamente para ela, ela percebe.
— O que foi, hein? Perdeu alguma coisa?
— Ah, não, nada de mais, só estava pensando.
— Então diga-nos o seu pensamento — é dito com o queixo erguido.
— Eu acho que devemos ficar juntos, assim como Junks falou. Nós não sabemos o que acontece se mais de três pessoas entrarem na cabine, não seremos mortos por tentar isso!
Todos assentiram para as palavras de Yuri, menos Cristhine que sussurra para si.
— Se já não estivermos mortos até lá…
— Certo, certo, certo. Vamos fazer o que Yuri disse. Eu já arrumei as coisas, vamos achar um local melhor para ficarmos, aqui é muito exposto — diz Junks fazendo movimentos de “vamos logo” com as mãos.
Junks distribui as mochilas e equipamentos. Os quatro saem em caminhada no meio da floresta. Atrás da fila, Yuri e Nina conversam.
— Ei, Nina? Tá tudo bem?
— Ah… sim. Só estou um pouco cansada disso tudo.
— Eu te entendo. Isso foi bem pior do que eu esperava, quero dizer, a morte é pior né?
Nina ri. Seus cabelos estavam secos, suas bochechas sujas, unhas compridas, mas continuava muito bela. Yuri fica a encarando enquanto ela está distraída. Seu sorriso, apesar de tudo o que havia acontecido, estava brilhando como sempre. Ela percebe.
— Yuri?
— Ah-ah, nada, não é nada.
Ele desvia seu olhar com vergonha, estava vermelho,como um tomate, e isso era mais vergonhoso ainda.
Ahhhhh…. eu fiquei encarando ela na cara dura. Como eu sou horrível. Como posso pensar em algo desse tipo no meio do que estamos? Morra,eu. Morra,eu.
Nina ri novamente, desta vez com mais intensidade.
— Ei, Yuri.
— O-oi?
— O que você quer fazer quando sair daqui?
— O que eu quero fazer?
— É. Como uma coisa que você só vai poder fazer quando sair daqui.
— Hum,bem… quero tomar um banho.
— A-ah,o que eu quis dizer é alguma coisa que você normalmente nunca faz ou fez.
— AHH, é mesmo, é mesmo.
Morra,eu! Morra,eu!
— Não sei… eu não tenho pensado no mundo lá fora nesses últimos dias. Acho que quero levar a Yui para um lugar legal de passar o tempo.
— Como um parque de diversões?
Nina parece empolgada.
— É, risos, como um parque de diversões. Quer vir com a gente?
— Eu adoraria!!
— Certo, então iremos para um parque de diversões.
Nina e Yuri continuam caminhando dando risadas, a visão à frente deles é algo realmente belo. Uma parte da floresta que parecia não ter sido atingida pelo jogo. Não havia nada vermelho ou destruído. Era uma grande área verde com pinheiros por todos os locais que olhavam, um rio com uma ponte natural, criada por uma árvore que caiu. Os quatro passam por cima do rio sorrindo, aquela visão era realmente muito bela. Não havia animais na torre, o que tirava um pouco o estilo “natureza”, mas em compensação, havia pessoas insanas com mais fome de sangue que animais carnívoros. Nina para em meio a ponte e Yuri fica observando.
— É… fazia tempo que eu não respirava um ar tão fresco como esse.
— É mesmo, né? Aqui parece diferente de qualquer outro lugar que a gente andou. É mais vivo.
— Pois é.
— E você, Nina? O que quer fazer quando sair daqui?
— Quero me declarar!
Ela é direta, até demais.
— Se declarar?
— É. Tem um menino que eu gosto desde pequena, ele sempre foi o meu herói. Depois que sair daqui, a primeira coisa que quero fazer é abraçá-lo bem forte.
Ai merda,a Nina tem um cara que gosta e eu fico olhando indiscretamente para ela. Que lixo de pessoa que eu sou.
— Bom, espero que ele te receba de braços abertos.
Yuri é lerdo demais para entender, ele fala sorrindo, sem intenção alguma de tentar entender. Nina acha engraçado e também sorri.
— É, espero que ele abra bem seus braços…
— Ei vocês dois, podem parar de rir tão alto? — grita Junks.
— Desculpa, desculpa.
— Mas é você quem tá mais gritando, Junks.
— Como é?
Os três se divertem e dão risadas, Cristhine é a única que não conversou com ninguém desde mais cedo após a discussão. Ela resolve falar alguma coisa.
— Onde exatamente vocês querem chegar?
— Hunm, ah, o mais próximo do centro, num local não muito exposto. Estamos pegando esse caminho para não encontrarmos outros possíveis grupos — responde Junks varrendo o local com os olhos.
— Eu já passei por esse local. Vamos por aqui me sigam.
Cristhine sai em frente a todo mundo. Eles decidem acompanhá-la. Após alguns minutos andando, eles chegam em um campo aberto, sem árvores ou vestígios de outras possíveis pessoas.
— Aqui é…
— O centro dessa torre, o meio exato. Ninguém nunca vem aqui.
— Como você sabe desse lugar? — pergunta Yuri apreciando a vista da área ampla.
— Foi aqui que eu me encontrei com Dank e Justin.
Nina ficou tensa, não havia esquecido o que seu amigo tinha dito. Foram eles que a perseguiam. Decide não falar nada.
— Uau! Olha só para esse lugar.
Justin parecia animado, seus olhos brilhavam e ele rodopiava pelo campo aberto com seus braços estendidos. Nina o acompanhou, os dois ficaram tontos e acabaram caindo na grama.
— Ei! Os dois aí, podem parar de brincar?
— Vem também Junks, é macia.
— Como eu consigo aturar isso? Vamos, levantem-se. Ajudem a arrumar as coisas, vamos ficar por aqui. Cristhine, aqui é próximo do centro da cabine, certo?
— Sim. Eu vim correndo em direção a floresta quando achei esse lugar, havia somente duas pessoas antes de mim.
Vieram correndo para cá na mesma direção e chegaram primeiro que ela ? O local pode sim ser alguns metros mais longe dependendo de onde sua cápsula foi posicionada, mas… não a ponto de estarem relaxando.
— Ei, Cristhine — chama Yuri.
— Sim?
— Quando chegou aqui o que eles estavam fazendo?
— Hunm? Não me lembro muito bem. Acho que estavam arrumando suas coisas.
Arrumando suas coisas? Como poderiam ter tantas coisas para arrumarem se chegaram primeiro que ela no local? O primeiro local que ela foi em direção foi esse, eles teriam tempo para pegarem equipamentos no centro e chegarem com tanto tempo de antecedência?
— Por que a pergunta? Não me sinto confortável falando deles.
— Ahh… desculpa.
Cristhine não tocou mais no assunto, nem falou mais nada desde que chegaram ali. O tempo foi se passando. No momento era cerca de meio-dia. O sol estava mais forte do que nunca, estavam suando e com suas barrigas roncando. Todos decidem ir para debaixo de alguma árvore, a sombra com certeza iria refrescar.
— Ei, Junks. Tem comida na bolsa? É nosso último dia aqui, não é mesmo? Podemos comer à vontade — aproxima-se Yuri rastejando com os olhos na bolsa.
— Não seja idiota. Você acha que vai chegar lá quando a cabine estiver aberta e entrar sem qualquer obstáculo? Se comer demais vai se atrapalhar na hora de lutar.
— Verdade, tinha me esquecido.
Duas latas são jogadas nas mãos de Yuri.
— Mas você tem razão, finalmente podemos comer até ficarmos satisfeitos.
— Um brinde por termos chegado até aqui.
Todos no círculo pareciam muito animados, brindaram suas latas de feijão e ensopado e comeram. A tarde seria tranquila, sem problemas, nada de brigas, nada de mortes e nada de choros.
Cristhine parecia inquieta, ela não respondia a maioria das perguntas feitas por eles.
Quando respondia, concordava com a cabeça ou negava. Yuri não pode perceber sua inquietação, ela fica se movimentando, mesmo depois de ter comido, como se estivesse preocupado com algo.
Yuri decide ir falar com ela.
— Ei, você tá legal?
— Por que não estaria?
— Não sei, você me parece agitada. Se sentindo desconfortável?
— Quem não estaria em uma situação dessas? Vocês são todos idiotas, “entrar os quatro na cabine” que ideia mais besta. Não consigo aceitar, tudo por sua culpa.
— Minha culpa?
— Deixa pra lá.
— Como assim? A Nina te ajudou até agora, não ajudou? Vocês estão vivas e na reta final para saírem desse lugar, porque está tão irritada?
— Exato! Eu e a Nina, nada de vocês.
Então o problema era com eles. Cristhine não devia se sentir confortável perto deles, afinal, eram estranhos a menos de um dia. Yuri também deveria desconfiar, mas alguém que de fato ajudou a Nina não poderia ser julgado de maneira rude.
— Certo, certo. Entendi seu ponto. Não quer que fiquemos no caminho, né?
— Façam o que quiserem, eu não ligo pra isso…
Cristhine se afasta, com seus cabelos batendo em suas costas e com veias na testa saltadas, deveria estar se controlando de raiva por ter se juntado com dois estranhos que nunca ouviu falar antes. Junks enxerga Yuri sentado sozinho na pedra e se aproxima.
— Ei.
— Ei.
— Como ela está?
— Nada bem, ela nos odeia. Acho que tudo isso foi por causa que nós aparecemos.
— Que? Aquela…
— Eu não julgo. Não podemos fazer nada. O que você pensaria se no último dia eu chegasse com mais duas pessoas para o grupo?
— Eu mataria vocês.
— Não precisa ser tão sincero.
— Mas sabe, eu gosto de ajudar as pessoas. Leon e Richard sempre me falaram que a bondade algum dia seria retribuída e acharemos alguém para nos ajudar.
— E esse dia chegou alguma vez?
Junks dá um pequeno sorriso vindo de uma leve risada.
— Claro que chegou, afinal, estou com você.
Yuri fica estático por um tempo, como se não ouvisse o que lhe foi dito.
— Fala alguma coisa Yuri ! Eu vou te matar seu merda.
— Ah, claro, claro, fico feliz que tenha achado e que seja eu. Pronto? Não me mata, tá?!
Os dois passam um tempo conversando sob a pedra. O clima estava fresco agora, com uma leve brisa batendo em seus rostos. Yuri percebe que Junks nunca foi capaz de falar sobre o que ele fazia antes de entrar naquele lugar, então decide perguntar.
— Ei junks, o que você fazia antes de ser convocado?
O silêncio permanece por alguns segundos.
— Eu ajudava meus pais na loja deles.
— Ahh, então você trabalhava.
— Você não?
— Eu era um ladrão vagabundo que só apanhava.
— Bom, esperado — Junks não chega a dizer, mas seus lábios podem ser lidos.
— Como é?
— Nada.
— Bem, eu nunca arranjei emprego. Roubava pra dar comida pra mim e para minha irmã. Você tem algum irmão?
— Tinha…
— Aconteceu alguma coisa?
— Foram mortos ontem.
— E-eles eram seus irmãos?
— Não de sangue, mas sim de laços. Sempre estiveram comigo desde pequenos. Quando eu tinha quatro anos, meu pai apresentou eles para mim. Sempre brincávamos na loja do meu pai. No final do dia a gente ia encontrar o irmão do Richard, e cara, ele era incrível. Sempre se metia em briga para proteger a gente, mas no final apanhava. Depois que ele saiu dessa maldita torre, ele mudou completamente. Nunca mais brincou com a gente e sempre deixava todos com quem brigava à beira da morte. Nunca entendi como uma simples semana poderia mudar completamente uma pessoa, mas agora eu entendo, isso não é um simples jogo. Nós podemos morrer, temos que matar e não comemos direito. Estão nos jogando aqui dentro para brincarmos com a vida de outras pessoas.
Junks estava com uma expressão séria. Ele realmente sentia o peso da vida de todos e não os tratava como objetos que podem ser mortos.
— Bom, eu tenho uma irmã. Ela é literalmente um anjo, a pessoa na qual eu mais amo nesse mundo. Eu prometi para mim mesmo que iria sair daqui e voltar para ela. Não quero que minha última memória sobre ela sejam suas lágrimas em meus braços.
— Nós vamos sair daqui e você vai encontrá-la novamente, fique tranquilo. Me apresente a ela a qualquer hora.
— Tá maluco? Seus olhos vão queimar se verem um anjo em pessoa. Queime criatura nojenta, roubadora de irmãs anjo.
— Cala boca idiota.
Os dois pareciam estar se divertindo, haviam passado por momentos difíceis, mas agora poderiam rir, pelo menos por um momento.
— Ei, Yuri.
— O que foi roubador de anjos?
— O que acha de fazer essa tatuagem quando sairmos daqui?
Junks retira seu casaco e ergue a manga de sua camiseta. A tatuagem de tigre é mostrada em seu ombro. Seu design é em estilo tribal, um tigre sério, com olhos bem abertos, sempre atento ao seu redor. Era muito bonita aos olhos de Yuri.
— E-eu posso mesmo carregar isso comigo?
— Claro, afinal, agora somos irmãos.
Junks dá um sorriso e estende sua mão para Yuri. Ele parece sério, seus olhos estão determinados a seguirem com a companhia de Yuri.
— Certo, estou contando com você, irmão.
Os dois são um apertado aperto de mãos, seus bíceps se definem e suor é escorrido de suas testas.
— Certo, devemos nos preparar, já está quase entardecendo.
— É, vamos nessa.
Cristhine havia passado o tempo todo atrás das árvores, escutando a conversa dos dois. Ela estava vigilante demais.
O tempo foi passando e todos resolveram tirar um cochilo, o local era tranquilo, não havia riscos. No caminho até ali, nada de estranho parecia ter acontecido.
Cristhine não dormia,não conversava e mal quis comer, estava com um comportamento estranho demais para quem poderia morrer se não se alimentasse. Em poucas horas, eles iriam estar em um campo de batalha, não se alimentar e não manter contato com o grupo em uma situação dessas não era algo que deveria estar acontecendo. Yuri com o canto dos olhos observava.
Cristhine, aparenta ter em média 20 anos, cerca de três anos mais velha do que eu. Cabelo na altura das costas e ombros e braços finos, sem postura alguma para lutar. Quem é essa mulher? Como sabia o local em que estávamos, o que ela diz não bate com os acontecimentos. Chegamos no local em menos de 10 minutos correndo. Ela sabia a localização exata desde o início? Ela não para quieta com o corpo e sempre fica olhando ao redor das árvores, apesar de ter tido que nunca foi vista vindo nesta direção. Algo me incomoda sobre ela.
Yuri fica nervoso, fica encarando demais, logo, percebe e revira seus olhos para a figura de Nina. Lá está ela, deitada cochilando, sem preocupação alguma. Nina sempre nunca se ligou das situações em que estava. Quando Yuri comentava em roubar alguma coisa, ela sempre sorria e concordava sem nem retrucar uma única vez. Ela era meiga, aos olhos de Yuri, uma princesa. Seus cabelos estão soltos na grama. Seu corpo parece relaxado, seus peitos apertados pelos braços, Yuri se sente desconfortável, mas permanece olhando. Está com o rosto sujo, mas mantendo sua beleza natural.
O clima ali está tão bom, os olhos de Yuri começam a fraquejar, a figura de Nina dormindo transmite sono. De longe, nota uma figura sentada, olhando para o céu. É Cristhine. Yuri ainda se sentia desconfortável sobre as atitudes dela, ele não podia dormir, precisava ficar de olho nela.
Seus olhos são fechados, vezes e vezes. Ele está com o corpo mole. Não se lembra de ter gasto tanta energia. Quando olha para o outro lado, Junks, que também está dormindo com o corpo leve até de mais.
— Eu não posso… dormir…
Yuri, que estava sentado, acaba caindo com o rosto sobre a grama. Seu corpo estava sem energia, mas sua mente ainda estava consciente.
O que está acontecendo? Porque eu estou dormindo? Não estou com sono. Vamos corpo, levante, abra os olhos. Passos são ouvidos vindo em sua direção. Seu braço se mexe poucos centímetros em direção a faca na parte de trás de seu cinto. Segundos depois, sua consciência também é levada pela onda de relaxamento. Não ouvia mais nada, os passos sumiram, o cansaço sumiu, seus braços não o respondiam e seu corpo e mente estavam em um espaço gigantesco. Ele não pensava, não se mexia. Naquele instante, sua consciência não estava ali na terra.
— Yuri…Yuri…acorda…Yuri!
Uma voz de fundo era ouvida, sua consciência estava retornando aos poucos. Seu corpo ainda não se mexia.
Yuri foi abrindo os olhos lentamente, a voz ainda o chamava de fundo. Depois de alguns segundos seus olhos foram abertos. Estava escuro, o sol e o vento fresco já haviam desaparecido.
— Yuri, ei! Yuri, responde cara — Junks o estava chacoalhando.
— Onde eu estou? O que aconteceu?
— Todo mundo apagou, cara. Rápido levante-se. Precisamos ir. Veja o céu.
Yuri aos poucos retorna com os movimentos do corpo. Seus braços parecem pesados e suas pernas cansadas, seu machucado ainda lhe dava uma pequena dor. Ao céu, números gigantes.
— O que é aquilo? — seus olhos se arregalam e seu corpo se mexe sozinho.
— O relógio, vamos, temos menos de uma hora até a cabine abrir.
Yuri consegue se levantar, sua cabeça está meio tonta, não conseguindo se direcionar direito. Seu rosto estava ardendo devido a pancada de quando apagou. Ele olha para os lados, mas não encontra quem gostaria de ver.
— Nina Cadê a Nina?
— Calma, elas devem estar bem. Nina e Cristhine saíram sem nós. Os enlatados que comemos devem ter algum efeito que nos fez dormir por muito tempo — aponta Junks para a montanha de latas.
— Está dizendo que Nina e Cristhine nos abandonaram? Fomos deixados para trás?
— Sim! Quando acordei, somente você estava aqui.
— Mas eu vi a Nina dormindo antes de acordar. Ainda ouvi passos… passos?! É isso!
— O que?
— Cristhine, ela era a única acordada quando todos nós estávamos dormindo.
— Não pode ser… ela saiu para passar com a Nina e nos deixou aqui?
— Não, acho que não foi isso.
Os dois se olham e Yuri levanta com olhos focados e sérios. Deixam seus equipamentos pesados de lado, penduram no corpo facas. Junks retirou sua jaqueta de couro.
— Não vai tirar seu sobretudo? Pode atrapalhar.
— Não posso.
— Como assim?
— Foi um presente da minha mãe.
Junks o encara por uns segundos antes de assentir.
— Certo, vamos ao centro!
Os dois saem correndo em direção ao centro, sem saberem a exata localização, somente se baseando em suas memórias.
O corpo de Yuri parece bem, sente-se mais leve e com a mente limpa. Conseguiria enxergar tudo que quisesse.
Está chegando a hora, o momento final dos últimos aqui dentro. Aqui vou eu Nina!
Sua cabeça está pulando, seus membros estão soltos e balançando com a corrida, alguém a está segurando.
— Ah, Nina, acordou?
— Cristhine?
— Desculpa te levar desse jeito, mas era a única coisa que eu podia fazer.
— Levar? Como assim? Para onde estamos indo?
— Vamos para o centro sair desse lugar.
— Espera… cadê o Yuri e o Junks? — Nina balançava e tentava olhar aos arredores.
— Eu os deixei para trás.
— Os deixou? Porque os deixou?
— Nina, aquele menino não é mil maravilhas. Ele matou Dank e Justin.
— O Yuri? Ele não mataria ninguém sem um motivo!
— Não, não o merdinha. O outro. O Junks. Ele é mais perigoso do que parece.
— Do que você está falando? Eles ficaram com a gente até agora. Não fizeram nada, se quisessem realmente nos matar já teria feito isso faz tempo — afirma Nina, confusa.
— Mas foi ele que matou Justin e Dank.
Nina está nervosa, sua cabeça ainda girava e não conseguia se mexer, Cristhine era mais forte do que aparentava, estava levando seu corpo e correndo sem muitas dificuldades. Nina acaba deixando suas emoções falarem.
— Quem se importa com a morte de dois assassinos?!
Quando percebe, é tarde demais. Algo que estava em sua mente esse momento todo finalmente saiu, mas em uma péssima hora.
— Nina… como assim “dois assassinos”?
— Eles que quase mataram Rebeca! Ela estava sendo perseguida e estava toda machucada. Aqueles dois fizeram isso com ela.
Cristhine havia diminuído a velocidade e ficou em silêncio
— Nina. Está insinuando que meus irmãos mataram aquela menina?
— Irmãos?! Eles eram seus irmãos?
— Olha Nina, tem muitas coisas que precisam ser esclarecidas entre nós.
O corpo de Nina estava se sentindo esmagado, uma força não antes presente estava-o apertando freneticamente. Nina estava ficando sem ar. Sua visão estava ficando embaçada e sua garganta seca.
— Nina, nós te salvamos para que pudéssemos nos ajudar. Você parecia ser uma boa pessoa.
— NINA!!!
Ouve-se o grito de Yuri, ele estava na mesma direção que elas.
— YURII! ME AJUDE!
Yuri havia ouvido o seu grito, só não sabia exatamente em que direção estava. Seus ouvidos ainda zumbiam.
— Sua… desgraçada.
Um pano foi colocado no rosto de Nina, impossibilitando sua respiração. Em pouco tempo, havia perdido sua consciência.
— Achei!
Junks pula com um chute entre as costas de Cristhine, a derrubando no chão. Nina cai junto, Yuri chega para ajudar.
— Nina, Nina, Nina, por favor acorde, acorde Nina!
Cristhine se levanta com seu rosto ralado, parte de sua boca estava escorrendo sangue, havia batido em um tronco de árvore no chão.
— Porque fez isso? Estávamos todos juntos para sair daqui, um ajudando o outro, nós tínhamos um plano — comenta Junks na tentativa de um possível diálogo.
— Um plano sem sentido algum! Nada se encaixava, mesmo assim iriam seguir. Todos iriam morrer, todos, não há escapatória para vocês, fracos.
— Fracos? Você correu enquanto nós estávamos inconscientes.
— Claro! Se alguém tem que sair desse local sou eu, não vocês!
— Nina, por favor Nina, acorde, não morra assim tão perto do final.
— Final?
Uma risada alta é dada por Cristhine. Sua insanidade estava a consumindo.
— Todos deveriam morr… AHHHHH
Junks perfura o peito de Cristhine com um galho encontrado no caminho, sangue escorrendo pela boca e pelo buraco que atravessa seu peito. Ela cai de joelhos sobre o gramado. Um silêncio é estabelecido no local.
— Chega de problemas — sussurra Junks olhando para o enorme ponteiro no céu.
— Nina! Nina, vamos, acorde.
— Deixe-me vê- la… Ela está respirando, só perdeu a consciência. Pode parar de chorar já.
— Eu não estava chorando, é que a Nina poderia ter morrido!
— Isso não é chorar? Enfim, vamos logo, deixa que eu carrego ela, sua perna ainda está machucada.
Yuri se levanta e dá alguns passos em direção ao corpo estendido no chão, ela ainda se mexe, mas seus movimentos estão mínimos. Ele se agacha e solta palavras em seus ouvidos.
— Até mais, Cristhine…
Yuri e Junks partem em direção ao centro com Nina em seus braços. O ponteiro marcava meia hora até a chegada do elevador, mais tempo que necessário. Eles partem em direção ao sul, perto do riacho onde encontraram com Nina, e agora um cadáver, Cristhine.
O local ficava a poucos metros do centro de início, conseguiriam se preparar e esperar Nina acordar. O centro já podia ser avistado de longe, um certo nervosismo percorre pelos órgãos de Junks e Yuri.
O começo de todo esse pesadelo. O final, estava a poucos metros deles.
— Agora é a hora final, Yuri.
— Pois é, vamos sair daqui.
— Vamos , irmão.
— É!
Nina se levanta pouco tempo depois.
— Nina !
O primeiro a recebê-la é Yuri, que parece realmente aliviado em vê-la acordar.
— O que aconteceu? — seus olhos se abrem aos poucos.
— Cristhine, ela nos deixou. Nós dormimos e ela te levou, estava levando você sozinha.
— Como assim? Ela nos traiu?
— Sim… Mas não precisa se preocupar, estamos bem agora — explica Yuri passando a mão na testa de Nina.
— Nina… é o seguinte — começa Junks. — Está vendo aquele relógio em cima de nós? Ele marca o tempo que falta para o elevador subir. Quando ele chegar em zero, isso tudo vai virar um caos.
Nina está assustada, acabou de acordar. É muita informação para ser entendida. Ela menciona.
— Mas ali só faltam 10 minutos para acabar — aponta.
— Exato! Nina, temos 10 minutos para ficarmos prontos, entendeu?
— Certo.
Ela assente, em poucos segundos está de pé, parece bem.
— Muitos outros grupos vão se juntar nesse local, não podemos ficar expostos.O elevador vai subir quando os números chegarem em zero, ou seja, precisamos já estar lá quando isso acontecer.
Nina e Yuri assentem. Seus olhos estão mais focados que nunca.
— Vamos indo, o inferno está para começar — exclama Junk e Yuri ao mesmo tempo.
Quando estão se aproximando, outras pessoas são vistas vindo na direção oposta. Poucas pessoas, grupos de 3 ou 4 integrantes. Todos se encaram, em poucos segundos o local está parecendo uma arena. Pessoas com tochas, facas, colares de dentes. Nina se assusta ao ver aquilo. Yuri pega em sua mão e diz em tom baixo.
— Vai ficar tudo bem, certo? Eu estou aqui.
— É… você está.
— Tá me excluindo porque seu merda? — Junks lhe dá um tapa na cabeça.
— Cala a boca! Não tá vendo que eu to num momento importante aqui?
Os três riem, o que alivia suas tensões.
— Vamos! — afirmam.
Outras pessoas estão se dirigindo ao centro. Estas são pegas pelas costas, seus integrantes do mesmo grupo os apunhalam,diminuindo seu número gradativamente.
O terror havia começado. O relógio acima de todos fazia um “tic tac” a cada segundo, aumentando a tensão de todos que estavam ali.
Yuri, Nina e Junks pegam suas facas e vão em direção ao grupo em sua frente. A batalha iniciada de maneira solitária, virou uma batalha de times, onde os com os laços mais fortes ganham.
Duas pessoas vêm para cima de Yuri.
— Yuri! — grita Nina.
— Deixa ele, ele sabe o que está fazendo. Se concentre nos que estão na sua frente. — Junks a puxa retirando sua atenção de Yuri.
Yuri está de olhos fechados. Aquele é o seu momento.
Imagens e memórias são passadas por sua cabeça, enquanto isso, o mundo a fora está congelado, com os dois caras vindo para cima de Yuri. Eles estão tremendo de medo, devem estar nervosos. Yuri sorri mentalmente.
Seu tempo com as memórias é único, nada nem ninguém pode impedir de o tempo ser paralisado.
Certo… concentre-se nos movimentos, preveja o que irão fazer. Ache a abertura!
O primeiro passo de Yuri é dado, o mundo volta a se mexer. Os dois se aproximam mais de Yuri, ele abre seus olhos…
— Muitas aberturas…
A mão que empunhava a machadinho de um dos inimigos é cortada como um golpe em câmera lenta, seus movimentos são leves e intensos.
— Seu merda! — sangue escorre descontroladamente sobre as juntas cortadas.
— Você tá morto moleque! — Muitos viam pra cima de Yuri, como em uma escada.
O outro avança um pouco descontrolado, seus movimentos são rápidos devido a adrenalina.
Yuri não percebe, mas o outro o está cercando por trás. Logo quando percebe…
Um chute é dado no meio de seu estômago, o fazendo ficar de joelhos e quase vomitando. Ele olha para o chão, sua visão está embaçada. Ele fecha os olhos novamente.
— Sua cabeça é minha! Membro por membro! — berra o menino sem mão.
Yuri abre os olhos e direciona seu peso para trás forçando seu corpo a cair. Muda de direção e acerta uma rasteira derrubando quem estava armado, o outro continua desferindo chutes em suas costas e barriga.
— Seu desgraça…
Yuri está com uma faca presa em seu cinto nas costas, escondida por de baixo de seu sobretudo. Essa é arremessada e presa na testa do outro. Antes que o que estava no chão se levanta, a faca é retirada da testa e mirada na garganta de quem está no chão. Yuri sussurra.
— Não fique se achando pirralho! — Um menino de cabelos brancos e com roupas claras,grita.
Suas mãos já estão escorrendo sangue, essa sensação não o agrada, mas também não o faz se sentir mal.
Nina parece impressionada quando olha para trás e vê três corpos jogados ao lado de Yuri, ele parece diferente, sua franja está sobre seus olhos e seu sobretudo com as mangas puxadas, isso a dá calafrios.
Junks e Nina estão correndo em direção ao centro. O relógio está marcando 7 minutos para a chegada do elevador, eles estão um pouco longe, a briga com outras pessoas pode acabar atrasando o processo.
— Então quer dizer que você é forte? — venha, tente me matar.
Um rosto diferente aparece atrás de Yuri. Esse parece normal, os outros só falam coisas como “você é meu” ou “vou te matar”. Yuri ri.
Ele vira sua cabeça em horizontal, deixando seu pescoço grosso em destaque, seus músculos dos braços estão mais definidos que antes. O treinamento antes do primeiro dia deve ter tido algum resultado.
Seus cabelos balançam, seus olhos estão negros, sem emoções nenhuma. Todas as emoções estão guardadas em suas memórias. Os rostos de Yui, sua mãe, seu pai, de Richard e Leon.
Todos estavam torcendo por ele. Ele fecha os olhos.
Imagine, leia, adivin…
Um vento forte é sentido em suas bochechas. Uma faca está vindo em sua direção, o inimigo é rápido, com certeza mais que Yuri. Seus olhos são abertos bem na hora. O objeto pontiagudo é passado em câmera lenta por seus olhos, ele sente a ponta encostando em sua bochecha, um pequeno rasgo é aberto.
— Risos. Uau, estou impressionado. Nem mesmo os que mantêm os olhos abertos saem vivos depois desse ataque. Você estava com eles fechados, mas percebeu a tempo, estou desacreditado. Meu nome é Fuutaro, prazer — se apresenta o indivíduo de cabelos roxos e compridos. Suas roupas estão praticamente vermelhas e secas.
Um sorriso malicioso é dado por esse homem, ele realmente é diferente dos outros, ele parece… já ter passado pela torre.
Nina está acompanhando os movimentos de Junks, que está lutando com outros que veem em sua direção. O físico de Junks realmente é diferencial, seus braços são fortes e largos, derrubando inimigos e os deixando no chão com socos. Furos são desferidos com a faca na outra mão, sempre indo em direção ao peito, ou garganta.
— Nina! Vai, corre! — exclama Junks segurando as pessoas que tentaram ir atrás de Nina.
— Como?
— Só corre! Você precisa chegar até o elevador.
— Eu não posso te deixar aqui! — ela olha para o elevador, suas mãos tremem e seus olhos hesitam.
— Só vai logo, eu consigo te alcançar. Yuri me disse que você é boa em correr, então corre!
Junks é pisoteado quando cai no chão por outras quatro pessoas, mas ele não desistiria tão facilmente assim. Sua força puxa algumas das pessoas juntas para o chão. Com suas grandes mãos, seus braços são quebrados e têm seus peitos perfurados. Junks parece cansado, mas ainda faltam 5 minutos.
Nina está correndo o mais rápido que pode, afinal, tudo vai depender de sua velocidade.
Ela tem o pé puxado por uma pessoa que está no chão, a fazendo escorregar e cair. Esta fala com uma voz afogada.
— Me ajude, por favor…
Pouco depois tem sua cabeça dividida ao meio por um machado. Nina grita assustada e sai em direção ao centro. Ao seu lado diversas árvores estão pegando fogo devido as tochas jogadas nas florestas, o clima está ficando quente e o local muito iluminado. Atrapalhando a visão de alguns que estão lutando.
O chão está se tornando como lava. Vermelho é visto por todo o local. Braços, pernas e corpos inteiros são vistos jogados. Nina fecha seus olhos e corre em direção ao centro. Logo atrás dela Junks está correndo com um dos braços cortados, provavelmente por uma facada. Seu rosto está com sangue, sua boca cortada, mas nada sério. Eles chegam perto do elevador. Parecem os primeiros (sem considerar os que chegaram e morreram por flechas de alguma direção), eles se mantêm atentos.
Yuri parece estar com problemas. Outro chute atinge o queixo de Yuri, fazendo com que caia novamente no chão. Yuri não estava desatento, mas sim tentando olhar o relógio em cima de si, por isso correu um pouco em direção ao centro onde encontraria Junks e Nina.
A uma distância razoável, Yuri tenta fechar novamente os olhos, essa é sua forma de se concentrar, mas não há tempo para isso. Outro chute. Sua boca já está pingando sangue e toda cortada. Ele sente o gosto metálico quando engole, o que lhe causa um desconforto.
— Vamos, vamos, se esforce mais! Você parecia tão determinado — diz Fuutaro com as mãos nos bolsos.
Yuri impulsiona seu corpo, jogando a força para seus ombros e punho. Um nariz é acertado. Mais sangue escorrendo pelo chão.
— Era disso que eu estava falando! Vamos lá, acerte outro — Fuutaro parecia estar se divertindo mesmo sangrando.
Estava claramente superestimando Yuri, que já estava quase sem energia. Ele olha para cima: 3 minutos.
Seu corpo está doendo, sua boca tem gosto de sangue e sua perna começou a se rasgar novamente. Ele não respondia às provocações de Fuutaro, estava sem tempo. Ele avança com sua faca.
Acerte a garganta.
Fuutaro desvia facilmente.
Yuri resmunga cuspindo no chão.
— Vamos, seu corpo não aguenta mais? Já se cansou?
Yuri está quase se ajoelhando, mas mantém-se firme mesmo com suas pernas tremendo.
— Cala a porra da boca — outro cuspe sobre o chão.
— Vamos, morra de vez, certo?
Outro chute é dado em sua barriga. Ele vomita sangue. Seus joelhos se rompem e Yuri cai no chão. Ajoelhado, com os braços apoiando seus ombros, diversos golpes são dados a mão nua por Fuutaro. Ele também estava sangrando, mas não com danos tão sérios iguais aos de Yuri. Ele continuava apanhando, mas engatinhando em direção ao elevador. Nina e Junks estavam com posse total dele. Diversos corpos estavam bloqueando a entrada de várias pessoas, Junks havia matado muita gente, seus psicológico deveria estar queimando.
Só mais um pouco, só preciso chegar no elevador.
Fuutaro pega a faca de Yuri e a enfia em sua perna. Yuri grita muito alto com dor. Sua perna já machucada foi atingida, sua faca estava grudada nela o mais fundo possível. Sangue começando a se espalhar por suas roupas, nesse ponto, seu sobretudo deveria estar imundo.
Me desculpa. Yui, mãe, pai, Leon e Richard…
Richard?
Uma memória é passada rapidamente por sua cabeça. Lá está Richard, limpando o seu nariz depois de ter dado com um soco com toda sua força e falar “Abra os olhos” na maior causalidade. Ele está sorrindo… “Acerte a garganta”
— Meu Deus, alguém tão fraco não deveria ter matado meus companheiros. Sabe, eu tenho um sonho quando eu sair daqui… — Fuutaro estava viajando em pensamentos olhando para as estrelas.
Fuutaro estava olhando para o céu, como se estivesse com a mente em outro lugar da terra.
Yuri olha para a faca em sua perna, está doendo muito,mas é sua única opção. Ele apoia as duas mãos sobre a faca… e a puxa. Sangue é jorrado para todos os lados, sua dor é surreal. Ele não desiste, se levanta, sua calça está tingida de vermelho, por debaixo dela, um buraco feito por uma caça de uma faca de quase 30 centímetros. Fuutaro está exposto, sem arma qualquer. Yuri se levanta e corre em direção a ele. Sua mão é segurada.
— Não pense que poderia me matar tão facilm… — seus dentes são manchados de vermelho.
— Não pense que eu avançaria sem pensar em nada. — Yuri está segurando a faca na garganta de Fuutaro com toda sua força restante.
Suas mãos estão tremendo e seus movimentos não respondem como ele gostaria. Yuri tirou sua faca reserva de seu sobretudo, ele diz “obrigado mãe”.Ela está cravada debaixo do queixo de Fuutaro no momento, Fuutaro se engasga com o sangue e cai no chão, se debatendo.
O ponteiro está marcando 1 minuto. O caminho está livre.
Eu consegui! Eu consegui! Vamos todos sair daqui. Já consigo ver Nina e Junks, eles estão dizendo alguma coisa? Ah, deve ser isso, faltam 10 segundos para as portas se abrirem. Vamos todos sair. Finalmente.
— YURIIIIIII!!!! RÁPIDO!!! — gritam Nina e Junks
— Vamos irmão!!! Rápido! — Junks estende seus braços e mãos todos machucados.
Nina e Junks gritam em sincronia.
— Rápido!
Eu posso vê-los, as portas estão se abrindo. Eu posso vê-los.
— Aonde você pensa que vai? — Uma voz atrás de Yuri aparece de repente.
Um taco de baseball atinge a cabeça de Yuri com toda a força. Ele cai no chão a poucos metros do elevador.
— YURI!!
Gritam Nina e Junks. Atrás de Yuri caído no chão… está Cristhine com uma faixa no peito, cobrindo o buraco causado por Junks.
Ela olha para os dois já dentro do elevador e fala.
— Eu falei para vocês, eu avisei. Esse plano nunca ia dar certo, não tem como quatro pessoas entrarem no elevador. Nunca ia dar certo. E eu tentei te salvar Nina, mesmo você andando com eles, eu iria te juntar ao meu grupo. Temos muitas pessoas que cuidam muito bem umas das outras.
Nina chorava dentro do elevador e gritava desesperadamente.
— Não, não, por favor não, me entregue o Yuri!
— Mesmo depois de eu ter drogado vocês com as comidas, nada adiantou, você seguiu eles Nina, me traiu. Então… eu ganhei, o amor da sua vida se foi, sua última lembrança será ele agonizando em dor.
Cristhine estava ruindo muito alto, estava completamente louca. Junks e Nina olhavam para Yuri e começavam a chorar. Yuri deitado no chão, com sua pele coberta de sangue, seus olhos bem abertos, imaginando e lembrando de todas as memórias. Ele estende sua mão para Nina e Junks. Pode ser lido o que é dito de seus lábios antes de a sua cabeça cair desacordada.
“ Eu não fui rápido o bastante”
Yuri cai no chão com um sorriso no rosto. Junks não consegue se controlar, está batendo loucamente no vidro da porta que não quebra. Yuri vai perdendo sua consciência e sua visão vai ficando branca. Seu rosto é deitado no chão. Sangue está escorrendo de sua nuca.
—YURI!!! NÃO! NÃO MORRA, NÃO MORRA.
Socos são dados no vidro, Nina está jogada no chão com os olhos inchados de lágrimas. A mão de Junks parece quebrar, ele não desiste.
A consciência de Yuri finalmente se apaga. O elevador começa a descer… Seu corpo está flutuando, no mesmo local onde viu sua casa pela última vez.
— Ué, estou aqui de novo? O que aconteceu? Como vim parar aqui?
Ao se esforçar para lembrar sua cabeça dói, uma dor atrás da nuca. Ele desmaia no mundo do vazio novamente.
Uma voz pode ser ouvida por sua cabeça. Uma voz alta e grave. Yuri não consegue pensar nem se mexer, seu corpo está em completo vazio.
A voz fala, como que dentro de seu cérebro.
“ Yuri,não desista. Você não pode morrer aqui. Levante-se, siga em frente, continue correndo.”
Um silêncio é estendido por alguns segundos.
Se você se acha fraco, fique forte;
Se se acha burro, fique esperto;
Se não quer cair, fique em pé;
Se se acha lento, fique rápido.
Não desista Yuri, eles estão esperando por você…