Trabalhe! - Capítulo 67
Dia 19
Na verdade! Como um estalo, uma ideia surge na minha mente.
— Caio, vem na minha sala rapidinho.
— Ok, já estou acabando por aqui mesmo.
Ele vem bem relaxado, na verdade, é muito comum eu chamar gente para minha sala. Isso sem contar a Ana que já tornou a minha sala uma extensão da sala dela, entrando quando bem entende.
— O que aconteceu? — Caio pergunta curioso.
— Apenas queria te perguntar algo, não, na verdade, te oferecer um trabalho. — Sorrio simpaticamente.
Ele me olhou em absoluta dúvida. Claramente, ele espera que eu explique melhor. Mantenho o sorriso e explico;
— Logo receberemos um novo funcionário, ele vai ficar aparecer por 3 semanas esse ano, para se aclimatar e tals, então vai começar a trabalhar de verdade ano que vem.
— Então quer que eu cuide dele ou algo assim?
— Na verdade, isso é meu trabalho, queria saber se você quer fazer isso?
— Tem algum motivo para isso? — ele pergunta.
Já esperava uma pergunta como essa, mesmo quando tive essa ideia, me perguntei isso, era por preguiça? Definitivamente não, eu juro. Mesmo que minha palavra não tenha muito valor, enfim..
Os motivos eram vários, os principais: nada garante que estarei aqui ano que vem, essa era realmente uma boa oportunidade de crescimento para o Caio, porque eu realmente tenho andado ocupado, juro de pé junto!
— Nada em particular, apenas achei que fosse uma boa oportunidade de crescimento para você, acho que terá de fazer isso algum dia mesmo.
Dentre as várias razões possíveis, escolho dizer a mais confortável, dessa forma tem mais chance dele aceitar.
Ele pareceu pensativo por alguns segundo, realmente espero que ele aceite, não quero causar problemas para o futuro, por isso seria melhor não me envolver tanto assim com coisas relacionadas ao ano que vem, ou mais para frente.
— Se você disser assim, não tem como eu recusar.
— Haha! Verdade, esse é seu estilo sempre procurando melhorar. — Coloco a mão no ombro dele. — Mas não precisa se preocupar tanto, no fim, isso é responsabilidade minha, sinta-se à vontade para recusar ou pedir ajuda.
— Entendo, vou dar o meu melhor.
— Uma resposta motivada, assim vou acabar criando muitas expectativas.
— Por favor não faça isso, não tenho muita confiança.
Isso é bom de ouvir, bem diferente do confiante Caio que conheci no primeiro dia, fico muito feliz de ter o cuidado desse jeito, confiança é bom, mas quando ela é infundada se torna um problema.
— Mesmo assim não entendo por que já quer me empurrar esse tipo de coisa?
Entendo a implicação na sua pergunta, ele quer saber se algo aconteceu, ou seja, se eu estou para ser demitido, promovido, ou se ele está em uma dessas situações, o que nos deixaria com pouco tempo juntos,
— Juro não estou sendo preguiçoso. — Entendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas não dou a mínima e dou uma resposta merda.
— Entendo. — Ele parece desanimado por não ter uma resposta.
— Não se preocupe tanto com isso, jovens deveriam ser inconsequentes, idiotas e impulsivos, não é justo você já terem melhor disposição, inteligência e aparência, se ainda tiverem um cabeça melhor que a dos mais velhos, então o que sobraria para mim.
— Você é no máximo 10 anos mais velho que eu, não exagere!
— Acredite, para pessoas como eu, que nunca cuidaram bem de seu corpo, esses 10 anos foram suficientes, meu futuro próximo é ser cercado por branco. — Branco = hospital.
— Não saia morrendo facilmente assim. — Nossa! Ele entendeu minha piada ruim.
— Ok, ok. — Operação mudar de assunto realizada com sucesso. —Caio, apenas mais uma coisa —o chamo quando ele estava prestes a sair. — Apenas uma pergunta, qual é o seu motivo para trabalhar?
— Por que isso?
— Normalmente acreditamos nos entender bem, mas, sabe, tem coisas que realmente são importantes de pôr em palavras, senão nunca vai entender de fato.
Só que merda eu estou falando?! Bem, eu até acho que isso seja verdade, mas me sinto péssimo dando lição de moral, quando, na verdade, tudo o que quero é usar a resposta dele como referência, por não saber o que quero para o futuro.
— Entendo…
Ele parece compenetrado em pensamentos, como sempre, um cara sério. Mesmo quando eu faço uma pergunta inconveniente ele dá o seu melhor para responder.
— Pessoalmente amo ver meu esforço virar algo, sempre fui do tipo que ficava alguns minutos olhando as coisas que construía, como meus castelos feitos com lego, me sentindo realizado, faz sentido?
— Como esperado de um perfeccionista…
— Haha! No fim, apenas amo ver o resultado do meu trabalho, faz parecer que minha vida tem um propósito, acho.
— Entendo, mas, sabe, mesmo um resultado falho ainda é fruto do seu esforço, uma fonte de aprendizagem, não os negligencie, ok?
— Vou manter isso em mente.
Curioso, eu tinha feito a mesma pergunta para Eyichi, na época, recebi um pergunta paradoxalmente parecida, se fosse resumir seria:
— Me sinto realizado quando sinto que estou dando meu melhor para algo, quando sinto que gastei tudo que eu tinha, sinto como se cada dia que faço meu melhor é muito significativo, bem diferente dos dias desperdiçados no sofá, ou algo do tipo. Mas, claro, só me sinto assim por ter encontrado um trabalho que posso fazer com gosto, não poderia me esforçar assim por algo que odiasse!
— Propósito ou completude… — murmuro essas palavras para ninguém.
Alguém pode realmente definir objetivamente se algo tem significado ou não? A resposta é óbvia: não.
Alguns consideram causar bem para sociedade algo importante, útil. Naturalmente, muitos consideram de valor coisas mentirosas, no fim se frustram ao notar isso.
Enfim, talvez se dedicar a algo que ame seja uma boa resposta, o problema é que…
— Nada pode ser considerada útil ou inútil, nesse caso será que existe algo realmente útil nesse mundo?
Literalmente tudo pode ser útil e provarei:
Ficar ocioso sem se esforçar tende a nos fazer questionar, a própria filosofia grega surgiu da escravidão, que deu muito tempo para uma galerinha pensar.
Se dedicar a video games, não é tão diferente de se dedicar a qualquer outro esporte, se for um treino verdadeiramente sério, dessa forma ambos podem ser considerados úteis, claro só vão gerar dinheiro, se tiver alguém interessado em te ver jogar.
Perder seus dias pintando, desenhando, escrevendo, em geral, é inútil, mas pode acontecer de algum idiota ficar comovido, mudar de vida e parabéns você impactou a sociedade.
Ou seja…
Se nada verdadeiramente inútil existe, nada verdadeiramente útil existe… acho.
Mas foda-se, não sou Nitiche para pensar nisso, foda-se o nilismo, foda-se essa merda, muito trabalho.
E desisto de pensar.