Trabalhe! - Capítulo 68
Dia 20
Estava um pouco cansado, mas decidi não pular nenhum dia esse mês.
Por que?
Simples, deu vontade e, mais importante, porque já estamos quase lá.
Dia 21 e 22
Mais uma vez, fiz um pouco de tudo, queria achar qual minha fonte de propósito, jogar, esportes, arte, solidariedade…
Adivinha?
Nada! Porra! Assim fica foda.
Não que não tenha gostado das coisas, mas ainda não sinto que é a decisão certa, fico meio na duvida.
Dia 23
Dou um longo e prolongado suspiro.
Como pensei, mesmo que não exista nada inútil, acho que em todos os casos é preciso esforço. Já está óbvio que apenas fazer coisas aleatoriamente é uma merda.
Assim, isso até pode, por um curto tempo, acabar com o sentimento de desperdiçar a vida, mas, a longo prazo, volto a me sentir vazio.
Eu não me esforcei para nada daquilo, apenas passei o tempo me ocupando o máximo possível.
De novo, apenas me sinto jogando fora o pouco tempo que tenho.
Minha conclusão é que devo mudar de estratégia. Só tem um problema: qual seria a nova estratégia?
Se possivel, queria não sentir que meus dias são inúteis, farei o possível para escapar desse sentimento, queria algum tipo de propósito, mesmo que seja apenas para auto satisfação.
Enfim, acabo mais um dia sem graça.
A propósito, no mínimo, comecei a ir para a academia, serve para passar o tempo e para minha saúde. Já alimentação, bem… a gente vê depois… talvez.
Dia 24
— Humm! Muito boa comida aqui.
— Sim.
Então, aconteceu uma coisa, depois outra, no fim, acabei em um restaurante vegano com a Bia. Porra, se quer emagrecer suave, mas o que porra eu tenho a ver com isso?!
Suspiro! Não importa, meio que fiz isso acontecer, no fim não conheço muitas pessoas mesmo, por isso não tem muitos que possa ouvir como referência. Claro que tem a internet, mas prefiro poder olhar nos olhos das pessoas para perguntar sobre seus propósitos de vida.
— Você parece estar bem mais feliz agora, acho que é melhor assim, mas não deixe isso interferir no seu trabalho, ok?
Ela estava até agora animadamente me contando sobre seu namorado, ou outras coisas, não que eu me importe, por isso vamos forçar o assunto principal, se possível.
— Não se preocupe, prometo manter minhas obrigações. — Ela dá um sorriso animado e confiante, por isso vou confiar.
— Ok, eu acredito, afinal fez isso mesmo na sua época mais turbulenta, quando… — Ela me cortou dizendo que não quer nem falar do ex. — Haha! Mas eu avisei.
— Sim, sim avisou. — Vendo a forma perigosa como ela está segurando uma faca no momento, creio que entendi porque dizem para não usar a fatídica frase: “eu avisei”.
— Ahan! Mudando de assunto, agora percebo, acho que, num geral, o seu nível de entrega sempre foi o mesmo, o que me faz querer perguntar, o que te motiva a trabalhar?
— Responsabilidade.
Olho de forma interessada, meio que dizendo: sinta-se à vontade pra falar quanto quiser, ou melhor, diga mais logo!
— Eu, particularmente, escolhi algo que gosto de fazer, mesmo assim não tenho um grande interesse por trabalhar, de certa forma, faço para poder viver.
— Se é só pelo dinheiro, por que não levar com a barriga?
— Tem certeza de que um chefe deveria estar falando isso? Enfim, como disse, faço as coisas pela responsabilidade, sinto que é meu dever fazer meu trabalho corretamente, senão seria um grande incômodo para todos.
Uma forma exemplar de se pensar, por favor, Deus, por que não dar uma exterminada de leve em todo mundo que não é assim? Bem, eu não estou afim de morrer tão cedo, então, pensando bem, sem pressa, ok?
— Acho que entendo, mas nesse caso, pra que você realmente se esforça?
— Pode parecer idiota, vindo de alguém com mau gosto como eu, mas em geral a família, esse é meu objetivo, sempre quis formar uma família feliz, por isso o trabalho é só uma importante responsabilidade, mas…
— Mas não é prioridade, né? — Pronto, já abri o 1 x 0, dei a primeira completada na frase alheia, enfim… — Acho que posso entender essa forma de pensar, acho que ela é boa enquanto você não se descuidar e se entregar de mais.
— Já sei disso, aprendi minha lição, ok? — Ironicamente, sorri para ela.
Depois não tocamos mais no assunto, não era necessário, tinha ouvido tudo que ela tinha para dizer, agora o que fazer com isso era comigo.
Viver para dar o seu melhor e progredir, viver para alcançar uma meta, por um resultado, viver para construir laços, ou seja, por uma meta imaterial.
Qual deles eu prefiro? Viver pelo processo, por um resultado, ou por memórias?
Com isso, resumi as formas de viver que descobri, bem, no caso da Susi é especial, diria que ela forma laços só por existir, vive para dar seu melhor no processo, se superar todos os dias, ama ver um resultado perfeito,. Bem, a sintaxe correta seria algo como: viver por um ideal de si próprio.
Todos os dias ser a melhor versão de mim, todos os dias me dedicar a criar algo incrível, todos os dias viver o seu melhor, todos os dias viver com os outros, qual é melhor?
Claro, eles podem todos se sobrepor, ainda devem ter outras possibilidades… Que saco! Por que o número de opções só aumenta?
Bem, acho que posso eliminar a caminho da Susi, ele dá muito trabalho…
Mas será que não seria a dificuldade que dá valor à vida?
Quem pode dizer, acho que eu só queria usar o meu tempo de existência de forma significativa, mesmo assim…
— Uaaaaaah! Já estou ficando com sono, isso é muito trabalhoso.
Até o fim para nosso cérebro projetado para continuar vivo, não importa nem um pouco um significado para a vida. Pense, contanto que eu me reproduza mais e mais, meus genes passaram.
Agora o que esse caso gera? Bem, nesse caso, nossos genes que em grande parte nos governam, serão sem dúvidas preguiçosos sempre que puderem. Para que eles iriam querer se dar ao trabalho de trabalhar, se conseguirem a oportunidade de serem transmitidos sem isso?
E é isso, cansei.