Trabalhe! - Capítulo 69
Dia 25
Mais uma vez devo ir trabalhar, mais uma vez meio que quase atrasando, no fim eu realmente preciso de um carro, não que eu tenha o dinheiro para comprar de qualquer jeito.
Na verdade, agora que penso nisso, estou trabalhando a um bom tempo sem remuneração, mas qual será que meu salár…
— Esses números…
Fecho o computador, essas são coisas que não preciso ver, cairei em tentação e deixarei esses números me afetarem, não tem como esses valores não segarem a visão de alguém, principalmente alguém que nunca foi exatamente rico.
— Olha se não é o cara que foi preso por furto, por não ter dinheiro”. Dito por… Tá ninguém disse isso, só achei que fosse ser engraçado, desculpa, tenho péssimo senso de humor eu sei.
Me prostro mentalmente, então o dia parece acabar magicamente.
Dia 26
Acabei não conseguindo fazer nada de útil ontem, não que eu ache necessário viver todos os dias como se fossem o último, não tem problema ser preguiçoso uma vez ou outra, mas no meu caso, cada dia é realmente um dos 40 últimos pelo menos.
A propósito não gosto tanto do carpe diem, por ser fã do planejamento, convenhamos, ninguém se planeja para daqui 5 anos, achando que pode morrer amanhã e também… olho o relógio, já não tinha tempo.
Pensando em muitas coisas inúteis mais uma vez, perdi boa parte do dia… Apesar de que, na real, ainda estar no meio da tarde, tenho tempo de sobra, por outro lado, não sei, não quero só começar algo para ter que acabar amanhã, entende?
A noite chega e se não entendeu explicarei de forma simples, eu inventei uma desculpa simplesmente por preguiça, só isso mesmo, estou me sentindo mal por isso agora, mas já é muito tarde (olha aí! Outra desculpa, haha!)
Plin!
Mensagem: podemos conversar amanhã.
Da Ana uma mensagem chega, faz tempo que não fico até tarde no trabalho e… Ops! Eu esqueci de perguntar para ela qual seu propósito, apesar de eu não ter muitas expectativas também.
Dia 27
— Suspiro! Já é sexta.
Olho para o calendário, um pouco de medo me aflige, mais um final de semana e uma singela segunda, isso é tudo que me resta antes de dezembro.
Me troco. Surpreendentemente, não estou atrasado hoje. Olho as pessoas pela janela do Uber, alguns apressados, outros calmos, uma pessoa passa correndo, se exercitando com um sorriso.
Por algum motivo, o tempo parece em câmera lenta hoje. Uma eternidade, passa. Chego ao escritório, abro a porta, não tem ninguém, nem a secretária chata. Ok, cheguei cedo demais nessa merda.
Me sento, abro o computador, buaaaa! Um bocejo necessário. Bebo um copo de água, depois disso me sinto totalmente acordado. Logo uma lista de pendências é formada, itens são riscados. Minhas costas doem um pouco por causa da posição.
A porta abre, um após o outro eles chegam, dou algumas instruções, mais itens riscados. Me sento, agora, de volta ao trabalho…
2:30
Me espreguiço, finalmente acabei a porra do trabalho. Hoje até que o trabalho foi rápido.
Pego uma caneta, brinco com ela um pouco, meio que procurando o que fazer. Que saco! Por que o tempo não passa? Só queria chegar logo ao fim do expediente, falar com a Ana, voltar para casa e jo…
— Suspiro…
Mas, se for assim, estarei apenas desperdiçando tempo, eu não deveria fazer algo de útil? Imagino que sim. Mas o que? Claro, não havia ninguém para me dar uma resposta.
Tortura, minha mente parece a mil, talvez pelo prazo me pressionar, mas não sinto que posso chegar a qualquer lugar, ou melhor, nem sei por onde começar a pensar.
Será que realmente existe algo que quero fazer?
Bem, se eu for considerar os meus objetivos do passado, aqueles quando ainda estava no orfanato, só queria ser reconhecido e sair daquele lugar de merda, talvez posso continuar com eles?
Assim, existem milhares de formas de ser reconhecido, a mais fácil para mim… hummm! Sem dúvidas seria ajudar a Susi, como seu assistente poderia adquirir dinheiro e reconhecimento.
Não sei se tenho talento ou habilidade suficiente para algo como isso, mas pouco importa, ainda acho que com esforço seria possível, até por que eu teria a ajuda dela.
Teria algum mérito nisso? Sem dúvidas sim. Mas é o que eu quero? É um objetivo legal de infância e tudo mais, porém…
Tic! Toc! Não importa quanto me agonie sozinho, o ponteiro vai de um lado para o outro, mesmo que me pareça lento hoje, ele ainda vai vigorosamente de um lado para o outro.
Só mesmo o tempo para ser mais implacável que o patolino. Olhando para o relógio, essa frase de pura iluminação vem à minha cabeça.
Dou mais um longo suspiro mental e..
— Hey! Hey! Dá para voltar do mundo da lua rapidinho?
— Mas eu só fiquei lá um tempinho, ainda quero construir uma base, daqui é mais fácil de lançar foguetes para marte. — Não procure nexo nessa minha resposta, tanto que, ao ouvir isso, meu interlocutor me dá um golpe de karaté na minha cabeça. Inclusive, para que tanta violência?!
Como deve imaginar, aquela que veio falar comigo do nada é Ana. Por fim passou a desgraça do tempo, foi um pouco torturante, mas passou.
Pera! Na real, não era para ter passo, estou mais perto de dezembro agora, merda! Porra! Fudeu.
— Desculpa por ficar dizendo coisas aleatórias, o que quer? — para evitar mais golpes de karate, digo isso.
— Susi me disse que, talvez, você não esteja mais aqui ano que vem. — Maldita! Era só ficar de boca fechada.
— Sobre isso, não se preocu… — Pensei em acalmá-la, porém vendo seu olhar que mistura ansiedade, medo, gentileza e preocupação, prefiro só falar a verdade. — Não sei ainda, mas pode acontecer mesmo.
— Entendo. — Internamente, Ana parece desmoronar um pouco. Eu realmente preciso parar com esse hábito de falar a verdade, só serve para criar problema! — Posso perguntar o porquê?
— Bem, já reparou que não sou exatamente um bom chefe? Então…
Acabo contando uma parte considerável da história, omiti alguns eventos irrelevantes, tipo eu ser preso, orfanato e várias outras coisas muito dramáticas, mas expliquei como consegui esse trabalho injustamente e esse tipo de coisa.
Ana ri um pouco de toda a história, até porque contei para ela a versão light e divertida. — Que história mais peculiar… — murmura para ninguém. — Pessoalmente, não acho que seja um chefe ruim.
— Não, não, pense bem, você apenas não tem referência, posso te garantir que sou um mau chefe. — Tenho confiança em dizer que sou ruim em quase tudo o que faço.
— Não vai conseguir mudar minha opinião tão fácil! — Diante de tanta determinação, apenas dou de ombros.
Também não pretendo ficar negando elogios, mesmo os que não fazem sentido são bem vindos. Sabem quantos eu recebo por ano? Menos do que consigo contar com uma mão.
— Você não parece convencido. —
— Porque não estou.
— Como posso te convencer, droga! — Dou de ombros, esse assunto é realmente inútil. —Leve a sério! Estou sendo honesta e isso é importante, quero que continue trabalhando aqui. — Olhos importantes me fitam.
— Tem certeza, vai ter alguém melhor no lugar se eu sair?
— Não importa! Foi você que conseguiu acalmar os ânimos por aqui, falar com um por um, as coisas funcionam harmoniosamente por causa disso e, só com essa harmonia, consigo me sentir confortável.
— Isso é apenas o básico, se alguém não conseguir fazer nem isso, então não iria conseguir nem liderar um grupo de ratos.
— Mas esse é o problema, eu não conseguiria, o Caio provavelmente não, isso está um pouco além do que aprendemos na faculdade, entende?
— Primeiro, nenhum de vocês fez cursos ligados a isso, mais importante, o que lhes falta é experiência, depois de anos trabalhando, indo de uma lado para o outro e conhecendo pessoas, vão ficar melhores nisso.
— E como que o sr. nunca tive um trabalho antes conseguiu aprender isso?
Desvio o olhar. — Eu devo ser um gênio, né? Haha!
— Não é isso que quero dizer, você aprendeu isso em algum momento, se fosse apenas talento não seria capaz de me explicar, sabe muito bem, que quando está sérios, fica consciente de todos só se gestos corporais, e sabe o efeito de cada um.
— Tá, tá, isso é algo que aprendi, mas e daí?
— Para de se fazer de burro, você já entendeu.
Acho que não dá mais para me fazer de idiota. Ela apenas está dizendo algo como: não importa se não é capaz de fazer o que faço, afinal sua função é gerenciar pessoas, fazer com que elas rendam, mesmo que seja um completo inútil em todo o resto, nada disso importa, sua única função é nos gerenciar.
— Suspiro! Até posso entender, mas não acho que seja bom o suficiente para valer todo esse investimento, mesmo que pior do que eu, alguém que pudesse ajudar mais vocês no trabalho deveria ser melhor, não?
Droga ainda não fiz a pergunta que queria, merda! Já está ficando meio tarde.
— Acho que não vai acreditar em mim, mas gostaria que levasse minhas palavras pro seu coração. — Odeio esse olhos, mas odeio ainda mais essas palavras.
— Já está tarde, vou pensar sobre isso, vamos nos encontrar amanhã, que horas prefere? — Prefiro dar uma fugida.
— Por que já está assumindo que eu aceitei? — Pergunto de novo que horas ela prefere para o encontro. Ela bufa irritada com minha atitude. — Tá, tanto faz, às 11 da manhã no café aqui perto.
— Ok.