Trabalhe! - Capítulo 70
Novembro 6
Dia 28
Acordo, me arrumo rápido, já estava quase na hora, precisava sair às pressas, mas, como sempre, dou um jeito de…
— Chegou um pouco tarde — ela diz. Claro, chegar atrasado como sempre. Não tem como esperar algo diferente vindo de mim.
— Não, não, você que chegou cedo de mais. — Para variar, não ia admitir meu erro, mais fácil inventar alguma desculpa.
Depois da nossa breve troca, me sento, peço algo para beber, ela faz o mesmo. Pronto, estavamos um na frente do outro.
— Agora, me diga porque pretende sair. — Pô, e o “oi, tudo bem?” um “como está?” Sei lá, qualquer coisa! Para que partir direto para o importante? As pessoas deveriam aprender a enrolar mais e fugir dos problemas.
Dou um suspiro cansado, minha mente se cansa só de pensar em pensar sobre o assunto. Ana me encara fortemente, não é assustador como a Susi, mas… Ok, não adianta tentar mentir, é só fofo mesmo.
De qualquer forma, levanto as mãos em rendição. — Ok, ok, já vou responder, não precisa ter pressa. Enfim, antes, poderia responder uma pergunta minha, juro que está relacionado a resposta que te darei.
Ana pensa por alguns segundos. — Acho que não é um problema.
— Entendo… — A olho mais sério, sem dar espaço para fuga, uso os truques que aprendi com a Susi. — Por que você trabalha?
— Isso, não sei direito…. Bem, deve ser porque eu preciso, sabe, para sobreviver e comprar coisas.
A resposta foi meio ruim, por isso fico em silêncio. Ao que parece, Ana parece de mais tempo para pensar sobre o assunto. Olho para ela inquisitivamente, então ela finalmente pensa um pouco mais e diz:
— Acho que só escolhi algo que gostava, sempre amei isso, adorava estudar isso na faculdade, pensei que fosse uma boa tranformar em um trabalho, assim cheguei aqui hoje. Mas, se tivesse dinheiro, não trabalharia, ficaria só programando coisas que quero… acho.
Paixão, hein? Como eu esperava, é uma resposta inútil para mim, isso não é algo que tenha. Alguns simplesmente nascem para serem bombeiros, médicos, engenheiros, já outros meio que não ligam muito, não acho que posso mudar isso. Claro, pode se esforçar tanto quanto alguém que ame isso, mas não pode simplesmente desenvolver esse nível de paixão por um ofício, simplesmente pode nascer com.
— Ei! Ei! Terra chamando.
Bem, talvez todos tenham esse tipo de amor por algo, apenas não nos entregamos de verdade, ou não encontramos as coisas certas… quem sabe? Será que faz sentido procurar pelo trabalho ideal que eu ame fazer?
— Então você ama trabalhar? — pergunto.
— Você ouviu a última coisa que disse? — Ana parece incomodada, mas continua sua resposta. — Não, nem um pouco, tenho prazos apertados, nem sempre posso fazer as coisas como quero, é cansativo, tenho que lidar com várias pessoas e… — Quando ela fala assim, começa a bater uma certa culpa em mim.
— Ahan! Haha! Entendo, entendo.
Tento acabar com o assunto, mas ela não está disposta a parar de reclamar, por isso me corta e continua dizendo:
— Além do mais, vai ficar ainda mais cansativo se um certo alguém sair! — E, de novo, esses olhos implorando.
Paro por um momento, inclino minha cadeira, fico enrolando.. quer dizer, pensando, por alguns instantes, então digo:
— Ok, ok, já entendi o seu ponto e tomei minha decisão… acho. — Até quero falar com mais certeza, mas não dá.
Ana me olha cheia de esperanças… Não sei lidar bem com esse tipo de olhar, começo a perder a confiança no que ia falar.
— Sabe, por que eu não tinha certeza se ia continuar? — Ok, vamos dizer as coisas aos poucos, assim dá tempo de mudar de ideia.
— Falta de confiança.
— Humm! Até teve um pouco disso, mas o principal é por eu estar procurando algo que quero fazer. — Para para respirar. — Não sei se sabe, mas eu provavelmente vou me casar com a Susi; nesse caso, realmente não precisaria trabalhar, entende?
Se mostrando menos surpresa do que eu esperava, Ana apenas concorda com a cabeça. Ei! Essa não é a hora que ela deveria perguntar várias coisas? Me dê a chance de me gabar sobre minha esposa! Enfim, não tem o que ser feito, Ana parece achar isso esperado. Continuo falando:
—Estava pensando no que queria fazer, já que, bem, minhas opções são quase ilimitadas agora.
— De fato, parece complicado, mas estarei feliz em contar com você de novo ano que vem — ela diz com um sorriso. Dou um joinha como quem diz “sem problemas. Em resposta, Ana sorri um pouco mais.
Droga! Ela parece feliz de mais, poré ainda não é hora para isso, ainda não acabei de falar, porra! Nõo chegue a conclusões precipitadas sem ouvir tudo antes, idiota!
— Êh… vou pedir demissão. — O rosto da Ana se contorce em surpresa. Merda! Deveria ter conduzido as coisas de um jeito melhor, agora estou me sentindo mal por dar esperanças falsas. Enfim, não tem mais o que ser feito. — Disse que já tinha decidido, mas, em nenhum momento, disse que tinha decidido continuar.
— Buaa! Maldoso! — O combo de biquinho e choro infantil é muito poderoso, sinto que serei destruído pela culpa.
— Não chore, vou me sentir mal assim.
— Quero que se sinta. — Que crueldade! O que fiz para merecer tanto ódio? O pior é que, mesmo com o tom de brincadeira, ela parece bastante triste, estou me sentindo mal agora. — Ahan! Posso pelo menos saber o porquê disso?
Respiro um pouco, olho para o lado, mas não tinha nenhuma forma de escapar, realmente, uma infelicidade. Me viro para Ana e digo:
— Bem, acho que será melhor assim para todos.
— De novo com isso, já disse que… — Sou interrompido. Quando eu tento colocar em palavras essa confusão que é minha cabeça, sou interormpido, porra!
— Deixa eu falar! — reclamo e Ana fica quieta. — De forma simples, acho que isso vai te ajudar a crescer. — A garota na minha frente não parece nem um pouco convencida. — Estou falando sério, além do mais já tem meu número, acho que será melhor assim.
— Ok, mas e o seu futuro, ainda tem esse detalhe, não tem que decidir sobre ele? — Isso é vingança? Será que ela está me atacando com essas perguntas cruéis, só porque vou abandoná-la.
— Sim, sim, ainda tenho que pensar sobre isso, mas, por agora, tenho certeza de que essa é a melhor decisão para ajudar você a crescer.
— Hummm… Então está tomando essa decisão por mim? — Ana parece não confiar nem um pouco nas minhas palavras. — Desde quando você é gentil assim? Alguém substituiu meu Iky!
— Haha… — Não tem argumentos para negar ela.
O dia acaba, no fim, acho que já ensinei a eles o que podia, já aprendi com esse trabalho o que podia, prefiro deixar isso para trás e procurar outra coisa.
Foda é achar essa outra coisa!