Trabalhe! - Capítulo 72
Dezembro 1
Dia 1
Os números mudam, meia noite, um novo mês começa.
— Então o que quer fazer da vida agora? — Não tem nem tempo para respirar, a pergunta já vem como uma voadora na minha cara.
Como já estava muito bem preparado para esse ataque, respondo com um sonoro silêncio. Mergulhando em pensamentos, não consigo nem encontrar uma piada para mudar de assunto.
— Apenas admita que não sabe se for o caso. — Sem hesitar, aceito a oferta dela e admito minha incapacidade de responder. — Ok, ok, não tem o que ser feito, vou fazer algumas perguntas para te ajudar, ok? Primeiro, você odeia alguém?”
Sem me dar qualquer chance de contestar, magistralmente Susi domina a conversa. Não tenho nem o que falar, apenas posso humildemente tentar responder a pergunta.
— Hummm! Que eu me lembre, não. Bem… talvez Deus… e a pessoa que criou o trabalho! Ah! Também odeio o macaco que inventou de andar bípede por aí, tenho dor nas costas por culpa dele! Além disso…
— Tá, tá, foda-se. — Sem querer ouvir mais minhas piadas ruins, Susi coloca vinho na taça. — Continuando, você odeia alguma coisa?”.
— Segunda, café, carros, acordar cedo, poeira, lugares apertados ou muito escuros e tatuagens…Só isso, acho.
— Ser famoso ou rico? — Ela ignora minha resposta e segue para a próxima pergunta. Escolho, óbvio, ser rico.. — Por que? — E a próxima pergunta já vem, ela não dá nem tempo para respirar.
— Ser famoso pode, melhor, vai te deixar rico, contanto que administre bem a própria imagem e, eu sei, ser reconhecido tem suas vantagens, mas é muito trabalho, responsabilidade, pressão, ou seja, é muito problemático.
— Não posso deixar de concordar — murmurou para si mesma. Olha para a taça por alguns instantes antes de continuar. — Talentoso ou sortudo?
— Sortudo… acho. — Dessa vez, parecendo surpresa, Susi me pergunta “por que?” de novo. — Primeiro, talento exige esforço para dar frutos, além do mais, sorte é uma das poucas coisas que, não importa quanto eu me esforce, não poderei mudar. Claro, o melhor é ter os dois.
Ela ouve, pensa por meio segundo e toma um gole de vinho. — Qual a diagonal de um cubo, cuja aresta mede 4m?
— 4 raiz de… Espera! Para que essa pergunta?
— Sei lá, não pensei em nada antes de vir aqui.
— Pera, então eu estava apenas respondendo perguntas aleatoriamente?
— Sim! — Que maldade! Diante da situação reclamo honrosamente com a Susi, que me ignora solenemente. — Pode desistir dessa sua ideia idioa, não vou decidir por você, nem resolver tudo magicamente.
Dou o suspiro mais longo da minha vida. — Eu sei… infelizmente, eu sei.
Não posso deixar de responder seriamente, no fim, só eu posso fazer isso, só eu tenho a responsabilidade de decidir a minha vida.
— Mas tem certeza de que não rola de você decidir?
— Não!
— Buu! Tem certeza de que não quer virar minha dona Estou à venda baratinho, haha!
Susi toca no meu ombro e sorri. — Prefiro morrer!
Me pergunto o que farei? Não tem ninguém além de mim, que possa tomar essa responsabilidade por mim, isso é pesado, uma pressão opressora.
— Não precisa se preocupar tanto, não é como se tivesse que decidir agora. — Por algum motivo, Susi decide mostrar seu lado gentil.
— Eu sei, mesmo se chegar o ano novo e eu não tiver escolhido, o que vai mudar? Nada, mesmo assim… — Olho para ela diretamente por um tempo. — Sinto como se precisasse fazer isso agora. Se não decidir nada, vou me tornar um inútil, acho que preciso dessa pressão, senão vou acabar desistindo ou fugindo.
— Se diz… — Toma um pouco de vinho, faço o mesmo.
— Além do mais, por mais que nunca seja tarde demais para mudar, o fato é: se demorar demais, logo existirão coisas que não sou mais capaz de fazer.
A garota sorri, parece concordar com o que disse. — Posso entender no que está pensando, nem que seja para errar, é melhor tentar mudar.
— Por isso eu juro que vou conseguir decidir até o dia 31!
Com isso acho que podemos encerrar o dia, já me sinto exausto só por causa disso, além do mais já é de madrugada, prefiro ir dormir logo de uma vez, pensar melhor sobre isso…
Então um arrepio percorre minha espinha. Algo ruim, algo muito ruim vai acontecer! Refletindo no vinho, um demônio retorna ao mundo humano, invocado das profundezas do inferno para trazer o caos!
Tenho certeza de que fudeu, sinto isso. Meu coração acelera, busca pelo escapatória, ela não existe. Fudeu muito!
Sem escapatória, as ondas sonoras viajam da boca da Susi até os meus ouvidos. Posso me debater o quanto quiser, mas ainda ouço seu sussurro infernal:
— Não quero esperar, decida hoje! — Sim, do nada, literalmente do absoluto nada, um demônio brota na minha frente! Com seu sorriso diabólico, olhar poderoso e hipnotizante e seu sadismo de sempre.
Tremo! Como poderia derrotar tal criatura? As trevas são poderosas demais para serem enfrentadas. No fim, tudo que posso dizer é:
— Que?! Por que? — Meu corpo paralisa no medo e surpresa.
O sorriso fica mais gentil, não! Não se deixe enganar! Pode parecer gentileza, mas na verdade é sadismo.
Os olhos fecham, o gestuário é quase de uma mãe gentil que faz cafuné no seu filho… A diferença?! Estamos falando de um demônio! Suas próximas palavras provam a maldade escondida em seu coração:
— Vamos, dê a sua resposta, não era você que queria pressão? Vou te dar o que quer, hehe! — Agindo como se fosse gentil, seus olhos me fitam de forma assustadora. — Não vai escapar.
— Mas…
Again… digo, mais uma vez, seu olhar me desafia. Mesmo que estivesse pensando em me impor uma deadline, não esperava uma tão curta, isso é o que? Olho no relógio. No melhor dos casos, tenho 23 horas e meia.
Fudeu!