Trabalhe! - Capítulo 74
Dia 1
Chega, chega e chega! Volta a se focar, Iky! É foda, agora preciso bringar comigo memso e ainda fico recebendo petelecadas.
Bem, até o fim, é inevitável que eu me perca em pensamento de forma idiota. A esse ponto, já aceitei que é assim que minha mente funciona, mas já chega disso, não dá para ficar só enrolando.
Se tenho que pensar na vida como um todo, acho que preciso de alguns critérios. Basicamente, a ideia é chegar em algo que vai me aproximar mais da felicidade. O problema é que entro na encruzilhada da maldita pergunta: que é felicidade?
Esse negócio de propósito na vida não funciona comigo. Ser moral e tudo é daora, mas para mim não rola. No orfanato, gastei muita da minha energia buscando o melhor para todos e já estou exausto disso.
Por mim, meio que foda-se o mundo! Bem, também não preciso ser drástico, mas, de fato, não tem como eu viver assim de novo, nem a pau! Se for para me dedicar algo, será para ajudar pessoas próximas a mim, não todo mundo.
Agora, partindo desse critério, por mais vago que seja, quais os primeiros passos para aumentar o nível de felicidade na minha vida?
Provavelmente , para começo de conversa, minhas experiências de vida dizem: para ser mais feliz, é fundamental ter bons amigos. Já deu de ter aqueles caras estranhos do culto como únicos amigos, ou pior, uns trolls qualqueres na internet
Sim, no final não tem como, a única escolha certa é ser agricultor! Cultivar as melhores amizades.
Continuo pensando sobre outras coisas, eliminando opções e procurando as melhores formas de seguir, mas…
Tá fritando! Daqui a pouco, vou preparar miolos fritos para a janta… Ou seria para o café da manhã? Depende de quanto tempo demorar para fritar.
Enfim, pode não parecer, mas pensar e escolher é desgastante, principalmente quando você usa uma máquina velha e ruim como o meu cérebro. Me sinto como um laptop vagabundo tentando rodar um jogo em 4k com um monte de efeito. Vai realmente queimar essa porra!
— Posso fazer uma pausa. — Humildemente, faço um olhar de cachorro piducho, uma técnica poderosa.
— Claro, isso é apenas natural. — Divino! Aparentemente, um anjo derrotou o demônio que habitava minha casa.
Num evento mais raro do que ganhar na loteria, Susi age gentilmente, até faz cafuné na minha cabeça.
Aproveitando o momento, ajo ainda mais como um filhotinho: encosto minha cabeça em seu ombro, então recebi um cafuné agradável.
— Seu cabelo é bem duro e ressecado, já pensou em um shampoo melhor pro seu tipo de cabelo? — Desde quando cabelo tem tipo? Não é tudo a mesma bosta, tipo, é literalmente só queratina acumulada, como podem ter tipos?
Como o esperado, é impossível a Susi manter sua gentileza por muito tempo.
Enfim, não é como se a crítica me incomodasse, não ligo nem um pouco, mas… Onde será que eu procuro tipos de shampoo? Espero que o São Google possa me salvar… ahan! Quer dizer, não me importo, definitivamente não me importo!
Entre trabalho, hobby, sonho de criança, alguma dessas categorias tem que conter a minha resposta, né? Por que é tão difícil decidir o que fazer da vida?
Minha mente passa por algumas opções rapidamente: serviços sociais, arte, trabalho mais classicão e outras coisas.
Nada.
Aparentemente, meus olhos não brilham para absolutamente nada. Porra! Não é possível que eu não tenha vontade de fazer nada? Nada, porra!
O pior, em tenho aqueles sonhos de criança, quando era muito novo, só pensava em fazer meu melhor para garantir o futuro, não tinha tempo para ficar tendo sonhos bonitinhos.
Bem, tem sempre a opção de ir estudar, finalmente acabar a faculdade, mas…
Meio merda, né? Faculdade é um treco muito engessado.
Claro, por sorte, tenho outra opção: ficar aprendendo por conta, melhor, conseguiria contratar os melhores professores particulares.
Bem, considerando minha personalidade, ficaria só enrolando e sairia muito pouco do lugar. Absolutamente negado!
Por fim, tem a categoria hobby. Sobre ela, bem…
Só não!
Hobby é legal porque é um hobby, quando vira a sua vida, fica chato, não quero estragar minhas pequenas diversões.
Só para acabar, faço um bate bola rápido com algumas opções que me vem à mente:
Ser um médico haha!?
Não, odeio biologia!
Tentar meu melhor em algum esporte?
Já estou muito velho e sedentário. Não dá mais tempo de competir de verdade. E, se for pela saúde, já decidi fazer isso.
Tentar me tornar um cientista?
Não sou muito fã disso.
Realmente, não nasci para trabalhar. Não é possível que não exista nada que quero fazer, saco!
Por fim noto algo, não importa quanto eu procure, provavelmente nunca encontrarei uma resposta. Desde sempre, fui muito racionalista, não tem como a mente que treinei para ver o lado bom e ruim de tudo, magicamente encontrar algo perfeito.
— Não sei… não tenho a menor ideia. — Meus ombros baixam desanimados, meu olhar mareja e a técnica do filhotinho implorando por algo e elevada ao máximo. Sinta o poder da minha implorada fatal!
— Esperava um pouco mais, cada aquela pessoa determinada a achar a resposta hoje? — Essa pessoa nunca existiu! Ainda assim, esse demônio consegue me destruir com seu olhar gélido e palavras. Não tem nem como responder, ela estava certa. — Mas sei que está dando seu melhor, por isso quero ajudar de alguma forma, então… — Fofa!
Do nada, as trevas são destruídas! O inferno congela, Deus está entre nós de novo! Susi fica meio vermelha, não parece saber encontrar as palavras certas, mas me encara de forma muito fofa. Extremamente fofa! Absurdamente fofa!
Para a fofura personificada, conto todos os meus pensamentos. Deve ter sido um saco ouvir tudo, além de confuso.
— Entendo. — Ela ouve atentamente, dando o seu melhor para entender.
Me pergunta quanto tempo foi que fiquei falando sem parar? É foda, minha boca até ficou seca…
— Desculpa deve ser um saco.
— Sim, sim, foi pior ainda, com essa escuridão que deixou a casa, eu quase dormi, tive que me esforçar muito.
Danos críticos, me sinto culpado.
— Mesmo assim ouviria de novo quantas vezes fossem necessárias.
— Susi! — Pulo bela quase chorando.
Ela dá um chute me impede de chegar perto. — Claro, se eu achasse que não está tentando melhorar, bem então…
Glup! Não tenho nada a declarar! Meu corpo treme de medo. Definitivamente, minha preguiça ainda vai levar a minha morte e será uma muito dolorosa.
Suzana esfaqueia o marido! Já consigo até imaginar a manchete.
— Obrigado — digo baixinho.
— Nem precisa agradecer, mas bem que podia acender as luzes, cansei desse breu! Enfim, é apenas algo pequeno, além do mais, espero a mesma dedicação de volta, por isso não fique todo agradecido e vá pegar café para mim.
Susi parece querer esconder o rosto, ela está meio vermelha. Fofa!
— Haha! Sem problemas, sou um desocupado mesmo! — Ainda faço como ordenado, valorizo minha vida, por isso não comentarei da vermelhidão dela.
Depois de tomarmos café e darmos uma pausa, Susi e eu sentamos no sofá, um do lado do outro.
— Já imaginou que aconteceria se não tivéssemos perdido contato? — Susi começa a puxar assunto, mas não sei o que responder. — Sabe, no momento estamos em pontos diferentes, eu já construí meu próprio sucesso, fracassei, tentei, tentei e cheguei, pude ter minha própria jornada e experiências.
Olhando para um longínquo nada, a garota encosta a cabeça no meu ombro. Sem ter a menor ideia de onde isso vai dar, ouço tudo com atenção.
— Provavelmente já fiz o suficiente, no mínimo muito mais que a maioria tenta na vida, ainda tenho algumas metas a cumprir, tenho muitas perguntas, mesmo assim já caminhei muito, por outro lado…
— Eu fiquei para trás, né? Eu provavelmente preciso começar a construir algo da minha vida, estamos em fases bem diferentes.
— Infelizmente… — Que raro! Pela primeira vez, vejo Susi triste com nossa diferença, ao invés de me zoando. — Já pensei muitas vezes nisso, como tudo poderia ter sido diferente. Lembra como várias vezes trabalhamos juntos na infância? Por isso sempre me pergunto como as coisas teriam sido, se tivesse você para me ajudar, se estivéssemos trabalhando juntos.
— Mas não aconteceu, é inútil pensar sobre isso… — Tento escapar do assunto, já sei onde isso vai dar, mas…
— Eu sei, mesmo assim… — De repente, Susi para de falar. — Não, desculpa, não queria influenciar sua decisão, é apenas que… — Glup! Quando ela me encara, me sinto tão conquistado. Malditos olhos! Por que são tão poderosos?
Uma memória vem à minha mente! Então várias outras invadem minha alma. Não tem como negar, já pensei nesse “e se…” tantas, mas tantas vezes.
— Bem, não tenho nenhuma resposta melhor, por isso, por enquanto, acho que posso te ajudar um pouco… — Para variar, não falo as coisas com a convicção necessária.
Uma resposta fraca, inconclusiva, mas é o melhor que posso conseguir. Sorrio relativamente satisfeito. Tudo bem, mesmo se for um erro, basta continuar pensando, que eventualmente refinarei essa resposta.
Cansado e sem café, caio no sono depois de concluir a tarefa. Susi apenas faz um pouco mais de cafuné e dorme no sofá também. Assim pegamos no sono com a cabeça de um encostada na do outro.