Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 17
Perdi a noção do tempo me mergulhando nos antigos mitos, buscando saber mais sobre os santos. “Um Rei Sangrento” e “A Pomba do Norte” foram os que mais me chamaram atenção.
Infelizmente nenhum santo conhecido poderia ter uma “cura” para a marca…
— Roro o que você está lendo? — A Lili fala descendo cuidadosamente as escadas.
— Queria saber mais sobre os santos e suas origens, achei que talvez encontra-se uma solução neles.
— Interessante sua hipótese Roro, talvez você tenha razão, no entanto eu não procuraria pelos santos, eu procuraria as lendas. — O Mestre fala em resposta.
— Onde eu poderia encontrar livros relacionados a eles?
— Roro, nem todas as histórias são contadas pelos livros, uma lenda ganha vida após passar por varias vistas, e é provável que mesmo saindo de boca em boca não encontremos lendas verdadeiras, ou a que você deseja.
— Existe alguma outra forma?
— Infelizmente não, as lendas sempre foram contadas por uma pessoa que diz ter presenciado algo, às vezes esse algo é real e às vezes não, caso não seja real apenas a fé das pessoas poderá trazer vida para a lenda e caso ela não seja alimentada, acabará por enfraquecer e morrer.
— No caso dos seres de asas, eles são lendas reais?
— Sim, seres conscientes que nasceram do vazio do mundo sem um objetivo real em mãos, podendo viver apenas pelo desejo. O vazio sempre tem que ser preenchido com algo, por isso a guerra, a fome e as mortes… — O Mestre permanecia cabisbaixo enquanto falava. — Mas vocês dois não precisam se preocupar com isso tão cedo. — E junto de um sorriso caloroso, a tristeza se vai de seu rosto. — Vamos nos preparar, a nossa convidada deve estar chegando já.
Sem falar mais ele se vira e segue para as escadas, eu olho para a Lili que se demonstrava aflita, me aproximo aos poucos dela, vendo seus olhos marejados observando as costas, que já partiram, do Mestre.
— Lili vamos nos trocar?
— Sim…
Deixando o destino que nos acorrentava de lado, trocamos as nossas roupas por túnicas que o nosso Mestre tinha preparado para esse tipo de situação, as túnicas eram avermelhadas com seus detalhes em preto, indo em seguida para a sala de entrada da torre.
— Vejo que já estão prontos, espero que vocês se comportem hoje.
— Como que ela é?
— Roro, é provável que ela possa ter respostas para os problemas que você terá que enfrentar nos próximos anos, então não se preocupe.
Não demora muito até que três batidas leves são dadas na porta, o Mestre da um passo a frente e a abre aos poucos, revelando do outro lado uma pálida mulher com um manto preto detalhado em vermelho que se estendia até o chão, cobrindo sua cabeça deixando seu cabelo prateado escorrendo para fora dele, o resto de seu corpo sendo coberto apenas por suas roupas intimas de tonalidade preta.
— Como foi a sua viagem Sinaberm?
— Tivemos uma vinda tranquila Milorde, meninas não precisam ter vergonha, se apresentem. — Sua voz era tranquila, transmitindo paz em meu peito.
Após o cumprimento, duas meninas, mais ou menos da minha idade, saem de trás de seu manto, ambas vestiam roupas estranhas que eu nunca tinha visto em minha. A mais alta toma a frente com o seu longo cabelo avermelhado escorrendo pelos ombros e começa a falar:
— Prazer, eu me chamo Scramblery e essa ao meu lado é a Djinskrel, agradecemos por sua hospitalidade. — Ela se curva em reverencia.
A outra se aproxima agitando o seu curto cabelo dourado logo após, e faz o mesmo que Scramblery.
— É um prazer, conhecer vocês duas. Esses dois são os meus aprendizes: Roro e Lili. Espero que vocês quatro se deem bem enquanto trato de assuntos importantes com a mão de vocês.
— Então você é a Lili da qual Milorde citou anteriormente, vejo que cresceu bastante desde que veio morar junto de Milorde.
— A-agradeço o elogio…
— E você deve ser Roro, não se preocupe eu trouxe boas noticias e logo devemos resolver o seu problema.
— Certo…
— Lile, Roro, vocês poderia acompanhar as meninas? Enquanto eu converso com a senhorita Sinaberm nos andares superiores.
— Sim Mestre! — A Lili responde com um sorriso esplendoroso enquanto os dois subiam as escadarias.
Após um tempo de silencio e entre olhadas, Scramblery começa a falar:
— Então você é Roro, aquele que carrega a marca?
— Sim…
— Você não sente raiva disso? Por culpa deles você foi envolvido em uma guerra que provavelmente irá te fazer apenas sofrer!
— Como assim?
— Serei direta com você, por culpa dessa guerra idiota nós nunca chegamos a conhecer o nosso pai! Ele nos abandonou para poder lutar nessa guerra idiota!
— Irmã… Nós não… Devemos brigar… — Uma voz silenciosa como a brisa interrompe o discurso de Scramblery.
— Eu não estava brigando com ninguém, apenas contando o que aconteceu. — Djinskrel balança a cabeça em negação.
— O Papai… Não nos… Abandonou…
— Você tem que aceitar a realidade… De qualquer forma, Roro! Você tem que lutar pela sua eternidade! Não deve aceitar o destina que já foi escrito!
— Eu não sei se quero ser eterno… Isso seria triste, as pessoas ao meu redor iriam morrendo aos poucos, até que sobra-se apenas iguais a mim.
— Você que sabe, mas pelo menos sobreviva! O seu Mestre não deve ter te falado, mas você está sendo caçado pelo “outro”.
— Está tudo bem, o Mestre irá nos proteger! — A Lili grita dando um passo a frente.
— Você ainda acredita nisso? Ele é como os outros, eles são seres egoístas que só pensam neles mesmos!
— O Mestre não é como os outros seres de asas!
— Lili… Talvez ela tenha razão, mas não acredito que ele seja assim por ser um dos seres de asas. Ele nunca teve uma razão real para me salvar, acredito que eu seria um sacrifício pequeno até.
— Nesse caso não teria o porquê dele ter te ajudado desde o começo.
— Você deveria perguntar diretamente para ele?
— Não, pelo menos não agora… Acho que não estou pronto para saber…
— Livro… — A Djinskrel fala tentando mudar o rumo da conversa.
— Você quer ir até a biblioteca?
— Ela tem a mania de se prender nos livros, eu não sei o que ela vê de tão interessante neles, mas acho que seria interessante. Lili acompanha ela, por favor? Eu gostaria de falar algo com o Roro.
— Certo, vem comigo Djinskrel, temos um monte de livros antigos aqui na torre.
A Scramblery espera até que as duas saiam de nossa vista e começa a falar:
— Roro, eu sei sobre o que a Sinaberm está falando com o seu Mestre, e não é uma forma de como te libertar.
— Então, por que ela disse aquilo?
— Ela planeja te matar para liberar os poderes dele, a guerra tem se aproximado cada vez mais, acredito que devem chegar aqui daqui três dias para ser mais exata.
— Isso significa…
— Exatamente, em breve todos os arredores dessa torre não passaram de um mar de morte e destruição, eles não perdoaram ninguém, mataram desde o mais adoecido até o mais jovem dos moradores dessa vila… Talvez do reino todo.
— Nós temos que ajudar o povo!
— Com que força? Você sabe o motivo dele ter se fechado nessa torre? Não é porque ele perdeu seu poder, é porque apesar de ser capaz de acabar com mundo inteiros ele é incapaz de matar inocentes.
— Como assim?
— Se ele ver que a pessoa não está agindo daquele jeito por querer ele irá ignorar o fato de estar sendo atacado, por isso ele precisará ser corrompido.
— Corrompido? Acho que eu já li algo falando sobre uma doença chamada de corrupção…
— Isso mesmo, diferente dos seres normais às divindades não adoecem, no entanto podem ser consumidas pela corrupção, isso faz eles agirem fora do normal, iniciando guerras ou destruindo tudo o que estiver em seu caminho, dos sete irmãos do pico, seis foram consumidos por uma doença que poderia trazer o fim do todo.
— No entanto o sétimo irmão matou cinco dos seis, os libertando. Eu conheço essa história.
— Em outras palavras, se ele for corrompido, ele será controlado por sua verdadeira natureza, no entanto fazer isso pode ter um alto preço.
— Eu pensei que você odiasse a guerra e ele.
— Eu não o odeio, mas não posso dizer o mesmo da guerra, ele acabou sendo envolvido em algo de proporções inimagináveis.
— Existe algo que eu possa fazer, para ajuda-lo?
— Morrer ou se tornar forte o suficiente para ajuda-lo a eliminar o verdadeiro vilão.
— Certo! Scramblery, você poderia me ajudar?
— Não, mas posso te orientar sobre algumas coisas que você ainda não deve saber. Roro como você já deve saber, dentro de seu corpo tem um quinto do poder dele, no entanto, diferente do que é contado, esse poder não está selado em você, não, você é o poder em si.
— Mas como eu o uso?
— Isso não tem como eu dizer, não é eu quem tem o poder. Vamos nos unir as outras, acho que falei o suficiente já.
Subimos para o piso superior, onde a Lili permanecia entretida no livro rúnico e Djinskrel se cercava por livros de variados gêneros.
— Tem algo sobre os mitos antigos aqui?
— Irmã… — Djinskrel pega um dos livros ao seu redor e alcança para Scramblery.
Eu procuro por um livro que pudesse dar mais informações sobre a guerra, os santos e o “todo”. Escondido em meio a uma prateleira uma pequena caixa com cinco livros dentro, acredito que nunca a tinha visto antes ali, o que não era surpresa, vendo que de tempos em tempos o Mestre trocava alguns dos livros.
O primeiro era encapada por um couro avermelhado, com um escrito em Rumemaro dourado no meio da capa, “Santo é aquele que busca sua paz no mito”, curioso sobre o seu conteúdo o abro e começo a lê-lo.
“Muitos se perguntam o motivo de estarmos cercados pelas mais nefastas criaturas, mesmo sem saber a própria origem.
Dizem que uma lenda pode se tornar viva a partir da fé das pessoas, no entanto como saberemos se nós mesmos não somos lendas?
Alguns acreditam que depois dos deuses veio os humanos, no entanto será que isso não está errado? Humanos não são a única espécie de ser racional que possui existência, mas ninguém pensa nisso no reino humano, e o mesmo se repete com as outras raças.
Talvez a decisão do mundo esteja na mão dos sete irmãos, mas acredito que até eles mesmo possam ser lendas das quais acreditamos tanto que ganharam vida.
Os nossos deuses não passam de lendas e formas de nos confortarmos em um berço solido, mas acredito que não passamos de uma fé de outro povo, e isso se segue até os povos mortos que seriam a verdadeira origem de tudo.
Ter fé que você possa ser o ser mais forte de todos não o tornará mais forte, mas caso muitos pensem isso você será aquilo que pensam.
O mundo é apenas um grande tabuleiro, onde aquele que receber a fé dos de mais poderá se tornar aquilo que pensam, o que tornaria qualquer esforço inútil.
Os deuses são apenas uma fé viva? As lendas são seres reais? A resposta seria “não” no caso da fé tornar tudo verdadeiro, mas isso é uma mentira dos Primeiros, eles criaram esse mundo para nos prender.
A única forma de fugir dessa realidade falsa é utilizando um artefato antigo deixado por eles, à questão é onde ele se encontra.”
Talvez esse artefato seja o cubo que eu vi em meus sonhos, mas como ele sabe tanto sobre isso?
Vou até o a ultima pagina do livro onde o nome do autor poderia ser encontrado, na forma de assinatura, e lá estava “Guesme Lamatino”, o que levaria uma pessoa a pensar assim?
“No mundo antigo existia uma lenda que falava sobre um cubo que poderia te levar para vidas passadas caso não fosse cuidadoso.
Acredito que esse cubo seja o artefato que poderá trazer a verdade para o mundo, no entanto o efeito colateral que ele carrega consigo é um grande perigo, vendo que você poderá ser aprisionado no passado e nunca mais retornar para o seu tempo original.
Pedi para o líder de uma das tribos me levar até o objeto, jurando que só faria pesquisas sobre os seus efeitos, tive a sorte dele aceitar sem cerimonias.
O objeto em si era magnifico, um cubo perfeito tendo as suas arestas com quarenta centímetros ao todo, e seu corpo inteiro preenchido por runas Astemachas, os seus escritos seriam traduzidos como.
“A ordem do esquecido”
“O inicio de uma ordem”
“O retorno da água”
“O fogo de Reus”
“Saturn e Merch, as deusas”
“O badalar do fim”
Cada lado com um significado único, mesmo essa linguagem é conhecida por ser traiçoeira, acredito ser essas as respostas do que está escrito de cada um de seus lados.”
— Então eu nunca conseguiria traduzi-lo…
Se o que o livro dizia fosse verdade, a menos que eu soube-se mais sobre a língua eu nunca poderia traduzir as runas que encontrei, cada escrita tem a sua combinação e forma de escrita própria.
Mesmo que eu soube-se do significado de cada runa separado, ainda teria que descobrir como ela foi feita à escrita do cubo, mas a Lili leu e sabia o que estava escrito…