Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 18
— Então já sabem sobre a minha vinda… Não poderia esperar nada a menos do que isso de mim mesmo.
Os pesadelos continuam a persistir desde que a marca surgiu em minha mão direita, quem era aquele das roupas negras se não eu mesmo em um tempo diferente, tenho ódio do que tive que passar em um futuro distante, mas a linha tênue do destino não pode ser movida…
— Lamatinos, você deve ir, liberte-se desta maldição e una-se a mim.
A menos que você esteja do lado certo do campo. O guerreiro branco, o ultimo dos seis irmãos corrompidos, só ele poderá libertar-nos do sofrimento que Kardurins nos causou.
— Sim, meu senhor!
Você pagara por todo sofrimento que eu passei por causa de sua marca…
Caminhando entre os corredores que um dia pertenceram a um deus impiedoso, vou até o meu quarto, me preparar para um combate que custaria a minha vida.
— Há… Hahahaha… — Começo a gargalhar ao pensar no destino que me ligava com o demônio. — Finalmente poderei me libertar dessa maldição… Mas antes… Farei aquele maldito sofrer um pouco mais…
A armadura posta sobre a mesa, feita de aço negro e couro, me protegeria de poucos golpes durante um combate direto e ao mesmo tempo não limitaria muito a minha movimentação, e a arma que seria usada, uma espada de dois gumes feita do mesmo material, o que garantia uma leveza maior que o natural.
— Você tem certeza que deseja isso mesmo? — A voz que permeava em minha mente desde que a marca aparece na minha mão, começa a falar com seu tom sínico.
— Pensei ter me livrado de você…
— Você não foi o único, ainda me pergunto por que apenas a minha consciência não foi selada, será que o mesmo ocorreu com os outros?
— Se os amaldiçoados tiveram sorte, provavelmente não.
— Me diga, para que tanto ódio?
— Essa história novamente? — Rosno. — Foi por causa dessa maldição que vi muitos ao meu redor caindo ao longo desses anos… Cada paixão, cada vida…
— Mas isso poderia ocorrer com qualquer um, mesmo tendo uma curta vida, você deveria apenas aproveitar o momento, antes que ele venha te buscar, ou poderia acabar com a sua dor aqui mesmo.
— Isso não seria o suficiente…
— Você que sabe, mas acho que isso será uma perda de tempo.
— Não lhe devo explicações.
Por fim ele se cala, uma voz irritante que surgiu desde o primeiro dia que obtive essa maldição. Nos primeiros dias nós éramos como amigos, mas quando percebi que o ciclo da vida e da morte só atingia aqueles ao meu redor jurei a minha vingança, por que ele tentou me impedir na época?
Prendo o bracelete esquerdo com firmeza, assim finalizando a minha troca, pego a espada e a coloco na bainha de meu cinto. Caminho até o cabide que ficava preso ao lado da mesa, onde uma capa negra ficava exposta com o brasão estampado em suas costas.
O brasão da justiça de Rarmeche, um quadrado com um triangulo quebrado apontando para dentro, com cinco estrelas ao seu redor, nas duas pontas as runas que indicavam “eternidade” e “liberdade”, e outra runa mais acima no centro com o nome “Rarmeche”, um dos demônios causadores dessa guerra odiosa.
Coloco a capa sobre os meus ombros, escondendo minhas costas e braço esquerdo com ela. Saio do quarto e caminho calmamente até os estábulos, onde ponho a cela sobre um dos animais, fechando os ganchos com firmeza para não escapar.
Guio o cavalo até o lado de fora do estabelecimento onde monto nele, iniciando a cavalgada rumo a Kardurins, seriam dois longos dias de viagem até me encontrar frente a frente com o meu destino.
No inicio da minha vida eterna eu acreditei que seria algo incrível, todos sonham com a possibilidade de não morrer ou envelhecer, e eu fui amaldiçoado com isso, uma eterna vida onde eu via crianças nascendo, crescendo, casando, procriando e morrendo, em um ciclo interminável de quatrocentos anos… Mas eu poderia a qualquer momento esquecer tudo o que tive de passar…
A voz de minha cabeça sempre incentivou uma vida de prazeres, mas isso era algo inalcançável para mim, não poderia me apaixonar por um mortal, pois em breve ele partiria, não poderia deixar a minha prole, se não ela sofreria em meu lugar.
Me encontrei com a culpado muitas vezes, no entanto ele nunca aceitou me matar, ele me olhava com culpa e pena e sempre permitia que eu fosse embora, mas sempre fazendo falsas promessas de libertação.
Ao completar o meu trecentésimo aniversário já estava no pico da loucura, não conseguiria sobreviver por mais tempo como um imortal, foi quando tentei retirar a minha própria vida, mas falhei, apenas fraturando os meus ossos e causando mais dor.
Quando estava para desistir de tudo, me largando em um estado vegetativo, Rarmeche me encontrou e prometeu retirar a dor assoladora que impregnava em minha carne, nunca acreditei verdadeiramente em suas palavras, no entanto sabia que se estivesse ao seu lado poderia em fim morrer…
E logo esse futuro do qual busco poderá se concretizar, matarei, queimarei e destruirei tudo e todos que entrarem no meu caminho. Pressiono o cavalo para aumentar a velocidade.
— Não teremos descanso, te matarei de tanto correr!
Rarmeche me ensinou sobre a energia e o combate com as mais derivadas armas, tudo para eu causar o máximo de dano no Kardurins quando o reencontra-se, perdendo a minha “inocência” e me tornando um pecador merecedor de ódio.