Uma Nova Lenda Surge - Capítulo 21
Lendas, histórias que são passadas de geração para geração, sendo algumas iguais as de outras regiões, algumas mais cruéis do que outras, mas essa lenda… O cavaleiro negro é a única lenda que mesmo tendo as suas mudanças demonstra as suas garras como um demônio.
Não sei dizer por quantas vidas eu já passei, mas sei que em todas eu pequei… Em todas eu demonstrei o sangue dos outros.
Aprendi com as minhas outras vidas, vi as verdades e mentiras ditas por todos, mas não sabia dizer quem era o verdadeiro vilão… Pois no final ambos causaram a destruição.
Por que eu matei a criança, mesmo sabendo que ela era eu? No final a resposta é apenas a insanidade de um assassino que busca por desculpas pelo seu ato.
Foram tantos anos de vida, de sofrimento… E tudo isso para que? Tombar deuses? Destronar reis? Tudo não passou de um orgulho próprio incumbido de uma falsa justiça.
O Cubo nunca serviu para demonstrar suas vidas passadas e sim para demonstrar os seus pecados verdadeiros, preguiça por desistir da guerra e se esconder? Acho que não!
Preguiça por não dar o seu verdadeiro eu para as lutas que teria de lutar, esse seria o meu verdadeiro pecado, matar, destruir e simplesmente sorrir, por esse motivo eu fui sucumbido por tamanha dor, por esse peso e sofrimento em meu peito.
Vou abrindo os meus olhos aos poucos, relembrando das cidades que destruí, das pessoas que matei, tudo por negligenciar o meu verdadeiro eu.
Eu tinha voltado para aquela gruta, onde o cubo permanecia girando em minha frente, sobre grandes cristais purpuras.
— Eu sei que você está ai, pode sair…
Saindo de trás de alguns cristais, como se os atravessa-se, uma jovem garota de cor branca, sem rosto e vestindo um vestido longo branco, que cobria até seus pés, como se fosse parte de seu corpo, se aproximou de mim.
— Saudações Mestre Kardurins.
— Por que me mostrou isso Lili?
— Eu não quero que o que ocorreu naquele dia se repita, apenas isso…
— Está tudo bem, eu sei o que tenho de fazer agora, eu sei quem eu fui, eu sei o que eu fiz… Quem diria né? Um pecado verdadeiro, um pecado eterno.
Sem duvidas foram muitos pecados os que eu cometi no passado, e é provável que eu não me lembra-se de tudo ainda, mas esse não era o fim da minha jornada.
— Obrigado por me mostrar à verdade, pegarei isso emprestado por agora.
Me aproximo novamente do cubo e dessa vez eu estava mais preparado que a ultima.
— Se não estou errado era algo assim… — Eu estendo os braços e uno as duas mãos formando uma ave com elas, enquanto a palma apontava para o objeto. — skeneste la camucino djarknasl lehape pkiminor.
E assim como o objeto já havia sido uma vez ele retornou a ser, um pequeno cubo de cinco por cinco por cinco. Aproximo-me aos poucos dele, o pegando e colocando-o em minha bolça para retornar até a pequena casa que Rodzerm havia arranjado.
— Se cuida Lili, cumprirei essa promessa, pois não irei mais me conter. — Falo dando as costas para ela e seguindo para os grandes corredores da instalação.
Nada havia mudado e o caminho pelo qual eu tinha vindo agora era claro, pois eu já havia estado ali. As imagens do meu passado consumiam aos poucos a minha visão.
Os corredores que uma vez eram brancos com tons azulados, agora era um campo de batalha, com corpos amontoados pelos cantos, alguns ainda estavam vivos, mas ou se encontravam a beira da morte ou com seus corpos decepados.
O sangue cobria as paredes e o chão, a lamina em minha mão estava coberta pelo sangue de todos ali, tudo por estarem no local errado, na hora errado e do lado errado.
O berro de agonia de alguns era quase como uma sinuosa musica vindo de um disco riscado, os gritos que pediam por ajuda já mais poderiam ser ouvidos naquele fim de mundo.
Saio das instalações sem nenhum encontro indesejado, e junto de um trovão que treme a terra, gotas de água começam a cair sobre mim e sobre a vegetação ao meu redor.
— Como naquele dia…
Com as memórias ainda me consumindo, consigo ver a água da chuva limpando o sangue da minha espada de dois gumes, de minhas roupas e pele.
Sigo caminhando pela estrada em meio à mata, pisando sobre grandes possas de lamas formadas pela forte chuva, que cobria minha visão.
Uma vez um tolo em outra um demônio, a minha vida nunca foi certa. Já perdi a conta de quantas vezes morri e de quantas matei, só sei que as duas não se comparam.
Sigo o meu caminho, seguindo as minhas memórias, o chão marcado pelas cinzas e o sangue derramado de moradores locais. Quantas vezes eu já havia seguido por essa estrada, deixando restos para trás?
Até que no final da estrada eu retorno para pequena casinha de madeira, onde em outrora dois homens brigavam entre si, dois pecadores que mereceram o gosto de minha lamina.
— Enfim retornou, encontrou o cubo? — Rodzerm me esperava ansioso em frente à pequena casa.
— Sim, esta dentro da mochila.
— Vejo que encontrou mais do que apenas ele.
— Não negarei, mas ainda estou confuso, eu fui um assassino que deixava corpos por onde passava, usando a desculpa de uma falsa justiça para justificar meus atos.
— Você sempre teve esse problema mesmo, sempre pensava de mais, para se arrepender no final, sendo que era apenas ter lutado pelo que acreditava, invés de inventar apenas desculpas falsas.
— Todos na história lutam por uma razão lógica, por um amor inalcançável, e nós? Pelo que nós lutamos?
— Sendo sincero tudo se resume a uma palavra, “verdade”, mas isso não passa de uma mentira para nos retirar da verdade, tudo pelo que passamos, tudo o que desejamos, é apenas poder e a dominância sobre todos, mesmo não necessitando.
— Então no fim, só lutamos para mostrar a nossa força… É decepcionante pensar isso.
— Mas essa é a realidade para quem já pode tudo, e quanto antes você aceitar isso, melhor para todos, agora se não se importa, me passe o cubo e resolverei o seu problema.
— Certo… — Entrego o cubo para ele e entro na casa indo para um dos quartos esperar por noticias.
Durante os dias seguintes, segui a minha leitura, enquanto anotava em outro livro as experiências que tive nos últimos tempos, afinal agora eu sabia quem eu realmente era e quem eu deveria me tornar.
Em menos de uma semana a resposta vem junto de um batalhão, que nos escolta da pequena casa até a grande fortaleza de pedra.
Eu retorno para o meu quarto onde me mergulho em meio às montanhas de livros que já o cercava, as lendas locais, os mitos do universo a minha verdade, tudo não passava de histórias contadas para assustar as pessoas.
“Um cavaleiro que cavalga para o cemitério ao norte das muralhas, sempre carregando consigo um buque de flores brancas manchadas em vermelho, para entrega-los a sua amada.”
“Um antigo mago que conhece sobre tudo e todos, vive após a colina ao leste, ele nunca se revelou, mas sempre ajudou o povo do vilarejo.”
“Um demônio que surge após a terceira lua em meio às guerras, apenas para obter o sangue dos tolos que permanecem nela, sugando as suas almas e destruindo seus corpos.”
Três histórias contadas em reinos diferentes, mas todas sobre a mesma pessoa, e todas mentindo sobre a sua verdade.
O cemitério era um ponto de encontro com seres das sombras que reviravam as catacumbas atrás de comida, o que eu fazia era levar um pouco de carne humana em troca de informações relevantes.
O vilarejo foi destruído por descuido próprio ao envolve-lo em uma guerra que nunca teve seu fim.
Não negarei o fato de ter me envolvido nas guerras humanas, mas isso por que do outro lado sempre havia algo superior em meio, e meu trabalho era acabar com eles.
Três batidas rápidas são dadas na porta de meu quarto, vou até ela e abro calmamente, deixando ela semiaberta, vislumbrando a figura em minha frente, Cheine segurava com suas pequenas mãos os dois livros que eu havia pedido na noite anterior.
Ela me olhava preocupada, talvez por causa do tempo que eu fiquei trancado em meu quarto sem ver a luz do sol ou sair para comer.
— Kardurins, acho que você deveria parar com isso…
— Ainda não está na hora, acho que eu deveria demonstrar para você, só assim para acreditar em minhas palavras.
Tento guia-la entre as pilhas que se amontoavam em torno de todo quarto, e lá mostrei para ela as minhas anotações, sobre o cubo, sobre as lendas, sobre mim e sobre a verdade.
— Acredito que estou perto de descobrir o caminho para alcançar a verdade!
— Mas em troca disso você está condenando a sua vida, você às vezes deveria descansar um pouco e esquecer dessa busca.
— Cheine, eu sei o preço que estou pagando, mas se eu encontrar a resposta eu posso salvar a todos!
Após a minha frase o som de uma forte batida ecoou por todo cômodo, e meu rosto ardia fortemente onde ela havia me atingido.
— Idiota! Quantos anos mais você perderá atrás disso! Você tinha me prometido que pararia com essa busca e concertaria os seus erros, mas no fim a sua viagem só causou mais caos, estou certa disso?!
— Eu… Não sei… Infelizmente eu menti…
— Isso significa que você ainda não recuperou todas as suas memórias?!
— Não… Mas me lembro dos meus maiores pecados cometidos nos últimos milênios.
Ela suspira fortemente e volta a olhar as minhas anotações calmamente.
— Não sei se você ainda se lembra, mas antes de me unir a fortaleza final eu trabalhava com você nos campos de batalha.
— Eu me lembro de varias batalhas que enfrentei ao seu lado a ao lado de outros.
— Entendo… A verdade até os dias de hoje nunca chegou a ser revelada, e o projeto se encerrou junto à construção da aliança dos sete, que assumiu o controle completo de todo o espaço utilizando o nome da Fortaleza Final como simbolismo.
— A mesma que em outrora eu tentei destruir…
— Exatamente. Mas por algum motivo uma das pessoas que te seguia prosseguiu com o projeto, utilizando as suas filhas como peões para a exploração.
— A Morte?
— Ela hoje atende por esse nome então? De qualquer forma, se hoje existe uma verdade a pessoa que pode te ajudar a chegar a ela foi quem te entregou até a vida no passado, Sinaberm.
Após o termino da guerra entre os de branco e os de preto, muitos tiveram que mudar seus nomes para seguirem vivendo entre as divindades ou entre os homens.
— Isso é tudo que eu posso te dizer no momento, espero que você acabe com essa guerra sem fim com essas poucas informações.
— Cheine, resolverei tudo o mais rápido possível antes de retornar.
— Estarei na biblioteca caso precise de algo. — Ela segue para a porta do quarto me deixando ali sozinho.
No final, essa história tem que retornar para o seu inicio para ter o seu fim…
— Sinaberm…
Após uma longa noite de sono, saio de meu quarto antes do nascer do próprio sol, seguindo para o refeitório, pegando um pedaço de pão preto indo logo após para uma sala de conferencia, onde esparramo alguns papeis sobre a mesa de aço luminoso.
— O sinal da Sinaberm foi perdido cerca de uma semana após o meu retorno, Dead e Shi são dois que devem saber a localização dela…
Me perco em meus pensamentos para iniciar essa operação, quase me esquecendo de dois pontos mais que importantes, que por sorte um deles chega até mim, me retirando do transe.
— Djinskrel bem na hora!
— … — Ela me olha atordoada após entrar na sala.
— Estava revendo os documentos de quando eu cheguei, além de outros mais, iremos atrás de sua mãe em breve!
— Kardurins… — Ela fala cabisbaixa. — É verdade?
— O que? — Falo encarando dois documentos sobre o avistamento de corvos em Kazi Cadere.
— Rodzerm me contou algumas coisas sobre o passado… Entre elas que você é o culpado pelo que ocorreu com a minha mãe! É verdade!
— Sim e não, ela me ajudou no passado em algumas pesquisas e atualmente ela é a que mais sabe sobre o assunto, por isso temos que resgata-la antes que os arquivos acabem vasando.
— Então…
— Ela acabou se envolvendo em algo muito maior… — Faço uma pequena pausa para focar em um dos documentos. — Encontrei!
Lá estava, após a captura e tortura, que trouxe a morte do corvo, descobriu-se sobre uma base de operações local dos corvos, mas no fim ele acabou não resistindo a tempo de ter a localização exata do local revelada.
— Avise a sua irmã, partiremos amanhã para o palacete do Dead!