Uma Rotina Escolar Comum Depois do Apocalipse - Capítulo 12
Festa fantasia
Taka abriu o último e-mail: uma fofíssima ameaça de morte com um vídeo em anexo. Engolindo o seco, deu play naquela porra com exatos 25 segundos de duração, mas foi interrompido por uma notificação, uma mensagem do Luca, algo curto e simples: “estou namorando!”
Não bastava botar o último prego, ainda resolveram chutar o caixão.
Mas não parou por ali, os ataques continuavam. Primeiro explicou como ela era bonita e legal, só pela empolgação das mensagens dava para sentir que ele tinha se apaixonado.
No caso, a tal garota, Kasane, era três anos mais velha e estava ajudando o professor Doji, um elfo que já dava aula de alquimia para o Luca e cuidava de alguns pacientes dentro da academia.
Ficou claro na forma como ele contou tudo que ela ser a primeira coisa que ele viu assim que acordou de uma quase morte, tinha influenciado na sua paixonite. De certa forma, a garota foi como um anjo gentil que o ajudou a lidar com a dor. No final das contas, mesmo com poções, a dor de um braço esmigalhado é horrível.
Mas calma que, para o Taka, piora. Luca ainda fez questão de o agradecer, a forma corajosa como ele agiu contra Juan, inspirou o amigo a, apesar de tímido, declarar seus sentimentos e ter um incrível sucesso.
Sim, depois de passarem umas 4 horas conversando, Luca se convenceu que ela era a mulher que ele queria. Foi um momento tenso, tinha medo de não se conhecerem direito, mas ainda falou com toda a alma o que sentia e conseguiu.
Mas o golpe fatal veio com a foto, primeiro porque era uma garota linda, segundo porque parecia a Shiori mais bonita, mais alta e um pouco mais velha. Sendo elas irmãs, era inevitável que se parecessem, mesmo assim as coincidências são surpreendentes.
Para acabar, Luca virou um defensor do carpe dien e parecia bem animado para fazer um monte de coisas. Taka, meio desanimado, sentiu certa inveja, não, na verdade, sentiu bastante inveja.
Por fim, para esquecer desses pequenos problemas e descontrair um pouco, ele resolveu voltar para algo menos problemático: a ameaça de morte… E foi aí que ele gelou de novo e lembrou que tinha recebido uma ameaça de morte. Com medo, deu play no vídeo.
Era um bait… provavelmente.
Resumindo, o vídeo era um convite para uma festa fantasia, onde as pessoas deveriam ir de uma forma que não fossem reconhecidas. Claramente, seria algum tipo de balada para pegação.
A propósito, os convidados, segundo o vídeo, tinham sido escolhidos por sorteio e, todo mundo que foi chamado, tinha direito a convidar mais uma pessoa. Melhor dizendo, deveriam chamar mais uma pessoa, pois só era permitida a entrada de quem fosse com mais alguém. Uma regra para evitar anti-sociais.
Taka decidiu que iria, era a chance de reerguer sua autoestima. Ai pensou em quem chamar, mas não tinham muitas opções. Luca estava no hospital e, com as outras pessoas que conheceu, ele ainda não tinha muita intimidade, ou seja, só restava o Yan.
— Amigo, quer ir a uma festa comigo? Recebi o convite e pensei em te chamar na hora. — E assim ele fez, mas não deu certo, o elfo já tinha outros planos.
A propósito, a tal balada seria já naquela noite, a ideia era não dar tempo do boato sobre a festa se espalhar.
Sem escolha, Taka desistiu de ir, até que encontrou um óculos no banheiro. O dono só podia ser um, por isso ele tirou uma foto e perguntou para Shiori se ela esqueceu. A resposta foi óbvia e ela disse que o queria de volta o quanto antes. O garoto pensou um pouco e acabou arriscando, disse que poderia devolver naquela noite mesmo, só que na festa.
“Haha! Ficou sem amigos para chamar? Ou não consegue esquecer minha beleza?” Shiori já respondeu com uma mensagem provocativa e continuou: “ Eu vou, mas não tenha expectativas”. Por fim, ela perguntou alguns outros detalhes, como horário, local e eles conversaram um pouco mais.
Assim, ficou decidido que Taka iria à festa com Shiori.
ооо
A hora de sair tinha chegado, Shiori foi se encontrar com o Taka no quarto dele, os dois se divertiram conversando um pouquinho e foram para o lugar.
Enquanto isso, escondida pela escuridão da noite, havia uma sombra observando Taka e não era a primeira vez que ela o seguia. Olhando para o frágil garoto, aquele ser abriu um sorriso ambíguo, talvez ódio, talvez felicidade.
Em seguida, sumiu na escuridão de novo, como se nunca tivesse existido. Nem Taka ou Shiori totaram nada; mas, naquela noite, o corpo de Juan sumiu para sempre. Por mais que ele estivesse preso numa mansão dos elfos, nenhum dos guardas conseguiu ver nada, isso sem contar o próprio sangue.
Sem poder abrir a boca, o brutamonte sumiu deste mundo para sempre.
Enquanto isso, Shiori já estava pegando um cara e Taka já estava em um canto sem fazer nada na festa. Com sua fantasia improvisada e toda preta, ele nem era tão notado assim. Pelo menos, escolher o Joker de persona não foi tão ruim assim.
Só que não.
Se a autoestima dele já tinha sido destruída e chutada, agora ela estava sendo torturada. De todas as coisas, o que Taka mais odiava era ser ignorado, o sentimento de ser só mais um ponto na multidão para o qual ninguém liga era solitário e frustrante.
Ou seja, tava uma bosta o dia e a festa.
Nem por isso ele ia se abalar; depois que viu uma garota bonita, pensou em se aproximar dela, mas foi interrompido. De canto de olho, uma pessoa irritada, desconfortável, claramente mal, chamou sua atenção.
Era um homem mais ou menos da altura dele, tinha cabelo azulado-roxo e orelhas de gato. Ou seja, um raro caso de demi-humano que, por um talento excepcional, estudava na academia. Só por isso, já era uma pessoa especial, mas não era isso que chamava atenção do Taka.
“Tem algo de errado com esse cara, isso não é bom, ele parece estar quase perdendo o controle.”
— Ei! Cara, você tá bem, acho que está perto de enfurecer? — Ele tentou avisá-lo.
Demi-humano podem, em alguns casos, entrar em um estado bestial, onde tem pouco controle sobre suas ações, isso era chamado de enfurecer. Para evitar isso era melhor respirar com calma e sair dali. Infelizmente, era muito difícil notar quando isso ia acontecer, muitas vezes o próprio não tinha ideia, muito menos as pessoas em volta.
— Não enche, eu estou de boa. — Se ele mesmo não notou nada de diferente no corpo, era difícil acreditar que um completo estranho teria notado.
— Espera, estou falando sério… — O garoto tentou perseguir aquele cara, não podia deixar ele ter um surto no meio de todo mundo, mas estava difícil.
Para o azar daquele homem-gato, Taka estava certo, em pouco tempo uma mudança maior aconteceu. Notando isso, e para evitar o pior, Taka prensou o homem contra a parede.
— Ei! Me solta idiota! — Com a voz já distorcida, o demi-humano começou a babar um pouco e seu olhar estava assustador. Já sem controle, se tornou mais agressivo, tentou resistir, mas seus instintos fizeram com que ele levasse a boca ao pescoço do Taka.
Com toda aquela comoção, as pessoas perceberam e começaram a olhar na direção dos dois, a suspeita de ser um demi-humanos descontrolado se espalhou por todos.
Para Taka, bastava gritar por ajuda e todos acabariam com aquele cara, mas ele sabia que, em parte, o preconceito contra os demais demi-humanos vinha das pessoas os acharem violentos.
“Merda! Se eu salvar esse cara aqui, vou ser um heroi foda, né? Posso ser como a Hina e defender os demi-humanos.”
Por alguns motivos idiotas, ele se resolveu: salvaria aquele cara. Agora, só faltava um plano e a capacidade de executá-lo, detalhe, ele tinha menos de um segundo para isso.
Por sorte, pensou em algo muito rápido, por mais tenso que devesse estar, Taka sempre se acalmava nessas horas. Para começar, sussurrou no ouvido do homem:
— Relaxa cara, só respira e deixa o resto para mim. — Mesmo mordido e com dor, Taka escondeu seus sentimentos e mostrou só gentileza. Não era o suficiente para conter o descontrole, mas ajudou o homem a recobrar um pouco de controle. — Só fuja daqui, rápido. — Sussurrou a última instrução e se virou para todos.
Óbvio, a plateia já suspeitava do que tinha acontecido e, para aquele cara babando sair dali de boa, ele precisava chamar atenção de todo mundo.
— Desculpe, parece que me descobriram, eu estava tentando dar uns pega nesse cara, só que ele tá difícil, não aceita de jeito nenhum. Pelo menos, ele é bem meu tipo, violento e peludo, inclusive, — ele olhou para um casal de masoquistas — será que tem como me emprestarem o chicotinho?
Assim, absolutamente todos os olhares ao redor estavam fixos em um ponto: Taka, quem foi para as nuvens. A quantidade imensa de atenção, a pressão de ter que pensar em como prosseguir, a adrenalina e medo, Taka amou esse momento.
Seu coração estava acelerado, ela quase sentiu medo, mas o sentimento predominante era o êxtase e a calma.
— Que foi, surpresos por ver a por verem o cara mais bonito daqui, inclusive, fortão com máscara roxa, tenho que dizer que seu tanquinho está maravilhoso. — Primeiro, Taka quis chamar um pouco mais de atenção, enquanto de canto de olho garantia que o demi-humano tinha desaparecido.
Fato curioso, Shiori tinha ido ao encontro do homem e o ajudou a sair dali em segredo. Se foi para ter informações para sua matéria de jornal e para vender ou se foi por bondade, deixo a sua imaginação, mas a resposta é óbvia.
Por outro lado, de todas as pessoas que podia escolher para paquerar, Taka escolheu bem Oto, o organizador daquela festa. Era um cara forte que se vestia de forma extravagante, com um shorts curto neon, algo que parecia com um biquíni da mesma cor, mas que tinha uma manga longa cobrindo seu braço esquerdo.
A propósito, esse cara era secretamente gay, mas isso é uma outra história.
— O que pensa que está fazendo. — Outra curiosidade, ele tinha uma namorada muito ciumenta que, no fundo, sabia do que ele gostava e queria afastar todos os amigos dele. Óbvio, ela ficou uma fera com a situação e partiu para cima do Taka, destruindo sua máscara com um socão.
A situação ficou pior, o número de espectadores aumentou e Shiori conseguiu uma boa foto do punho da mulher esmagando a cara do Taka.