Uma Rotina Escolar Comum Depois do Apocalipse - Capítulo 13
Carta de amor.
Tudo começou quando cheguei no hospital… não! Antes, talvez? Começou com a minha dor e medo… isso, foi tudo por causa daquela luta. Será que posso chamar de luta… ? Não, foi um massacre inquestionável. Infelizmente, minha mente fica nublada apenas de lembrar, uma névoa se forma e a minha cabeça lateja, lembro me de lampejos:
Havia um homem, um gigante bestial que encobria o sol deixando a sombra.
Ele estava… próximo, talvez, seus olhos estavam próximos, lembro que podia ver, refletido naquelas pupilas, o meu medo, o meu pavor… foi assustador.
Por algum motivo, enfrentei, melhor, apanhei, aceitei, “lutei” e… Ficou tudo vermelho, era meu sangue cobrindo a cara.
Perdi a consciência e começou a minha desgraça.
A dor de um pisão na barriga.
Meu braço foi destruído…
ou foi esmagado?
Ou retorcido?
Girei.
Meu braço virou corda; o corpo, ponta de chicote.
Tum!
Tum!
Tum!
Tum!
Tum
Tum!
Bati ali, lá, ali, lá. O chão até rachou.
Então…
Afundei.
Lá no fundo, no fundo de um oceano, nem a luz poderia alcançar mais. Era impossível mexer o corpo, não saia do lugar, podia tentar o quanto fosse.
Quando achei que estava perdido, tive outro lampejo, uma luz fina passou pela água. Até aqueceu um pouco meu corpo frio.
Teve sangue, pessoas, magia, tremor, luta, maca, carraro, branco, hospital, cama, dor, luz, curandeiro e…
Quando achei que já não teria mais como… Nem sei se estava tão mão assim, mas sentia a morte ali, tocando no meu cangote, seu cheiro pútrido, seu toque gelado. Tava escuro, preto, podia abrir os olhos e não fazia diferença, nem mexia mais o corpo, só afundava.
Foi péssimo, pior medo que senti, não movia nem ia mover mais. Para sempre parado, parecia que ficaria assim.
E você tava lá.
Tinha aberto, mais uma vez, os olhos, ou será que foi a primeira vez? A queimação na retina foi como a de alguém que ficou 6 meses na caverna. Nunca tinha visto tanta luz!
Quando tocou minha mão, era macio, quente e agradável, como a pele de um bebe. Algo puro, que traz uma sensação de calma para a alma, um flash de esperança que me puxou. Quando estava me afogando, foi você quem puxou minha mão e me tirou da água, obrigado.
Me acostumei com a claridade e pude ver, atrás dos seus óculos, lindos olhos castanhos; estavam próximos, ao ponto que eu podia ver meu alívio refletido em sua retina. Mesmo que péssimo e cheio de machucados, meu rosto já estava muito melhor.
— Acordou… — seu sussurro calmo chegou aos meus ouvidos, ao que respondi que sim com a cabeça.
Arqueando levemente a boca, seus lábios rosados mostraram um sorriso singelo de felicidade. Lembro bem daquilo da gentileza que carregava no olhar, preocupada, mas feliz com minha recuperação.
— Como está se sentindo? Pode me falar se tiver qualquer dor ou problema, sou Kasane e estarei a sua disposição para ajudar. — Achei fofa a forma como fingiu fazer uma saudação militar enquanto mostrava um riso mais alegre.
— Êh… — Deve ter sido vergonhoso, mas a timidez pode nos travar em momentos importantes. Também, em sua presença, já não tinha mais nenhuma dor que me incomodasse, apenas luz.
Demorou um pouco para as coisas irem bem, você até riu um pouco da minha cara, isso foi cruel! Brincadeira, não acho que importe, foi só uma troca de palavras qualquer. Contei como estava me sentido, falamos sobre tudo de séries de tv ao seu estudo de alquimia que está desenvolvendo. Inclusive, um muito interessante, estou muito empolgado para te ajudar um pouco com aquilo, faz tempo que não vou para as classes de… espera, posso ter me empolgado demais, desculpa.
Assim, me apaixonei por você.
Obrigado por ter sido um alívio naquele momento, quando acordei machucado na minha cama, estava realmente desesperado e, sim, isso é grande parte do motivo do meu amor, mas nem de longe o único.
Você é linda, sério, em todos os sentidos que posso pensar, uma pessoa boa, gentil, dedicada, com um rosto tão bonito, é como um anjo.
Mais importante, você é incrível. Tudo que faz é impressionante, a forma como teu sorriso pode acalmar qualquer um, sua calma e rapidez ao lidar com tudo, nem parecia uma assistente. Na minha opinião, já é uma médica completa, mais que isso, um anjo capaz de curar a alma.
E, acima de tudo, nunca me senti tão à vontade com alguém. É vergonhoso falar sobre isso, mas não sou exatamente bom em… socializar. Até posso trocar palavras com outros, mas não ideias. Por assim dizer, apenas conversas vazias são fáceis, mas nada além disso, nenhuma verdadeira conversa… Ou era assim, até te conhecer.
Eu te amo.
Para todos os possíveis sentidos da palavra. Quero seu bem, pouco me importa se a vida nos levará a estar próximo ou não. Tenho e sempre terei muito carinho por você, te adoro. Você é com quem me sinto mais confortável. Sua beleza e presença é, sem dúvidas, fascinante para mim. Claro, acima de tudo, quero estar com você para sempre
Assim, de forma covarde, acabarei de escrever esta carta, responda como…
OOO
— O que você está fazendo.
— Ah!! — Sou interrompido de repente, por isso escondo o papel o mais rápido possível. — Eu estava, bem… — Não consigo, é muito difícil pensar numa desculpa e acabo num silêncio vergonhoso.
Problema! Um sorriso brincalhão surgiu. — Ei! Eu vi, você está escondendo alguma coisa ai, me mostra… — Ela chega perto, perto demais!!!!
Até tento recuar, mas não tem como escapar dessa garota. — Calma, é um segredo! — Por isso, não tenho escolha a não ser pedir para ela parar.
— Buu! Não pode contar nem para mim? Vou ficar triste — ela finge chorar — achei que confiasse em mim. — Gesticulou animada. — Vamos! conta, do que se trata, não posso mais conter minha curiosidade, ok? — Por fim, ela chega perto do meu ouvido e sussurra. — Por favor, me conta.
— Êh… — Fico vermelho, a provocação é muito poderosa. — Ok, eu mostro…
— Hehe! Você é fácil de controlar. — Ela se afasta. — Não precisa me contar, relaxa.
Kasane é realmente incrível, ela sempre pode dizer tudo o que vem a sua cabeça sem nem hesitar. Tão fofa e admirável, eu realmente…
— Eu te amo! — Não posso mais ser covarde. — Qu-quer casar comigo?
A garota arregalou os olhos levemente e sorriu, no caso, quase gargalhou. — Hahaha! Você é bem fofo… Mas não, sem chance; no máximo, se quiser, podemos sair… aqui, meu número.