Uma Rotina Escolar Comum Depois do Apocalipse - Capítulo 14
Dia de merda
A situação ficou pior, o número de espectadores aumentou e Shiori conseguiu uma boa foto do punho da mulher esmagando a cara do Taka.
No meio de todo aquele caos, o garoto não tinha mais muito o que fazer. Primeiro teve que aguentar a dor dos socos. Depois teve a dor de fugir, com o corpo machucado, enquanto todos o olhavam com certo nojo. Por fim, caiu morto na cama. Foi uma noite de merda, uma das piores possíveis.
E ele acabou sozinho na cama, com medo de como seria o dia seguinte, até chorou um pouco, por mais que não admitiria e, claro, se questionou sobre sua decisão idiota de se sacrificar para ajudar outra pessoa.
Mas o mundo não liga nem um pouco para a tristeza alheia, o sol ainda invadiu o quarto dele. Querendo ou não, Taka foi, por fim, obrigado a acordar e se arrependeu de ter esquecido a janela do quarto aberta.
Cambaleou, porém não caiu e ficou pronto para mais um dia de escola. A dor nas pernas e corpo atrapalhavam muito, mesmo assim ele tinha que ir a aula. Ele sabia que já estava muito atrás da maioria, se começasse a faltar nas aulas, seria ainda pior.
Andou por aquele sol de rachar e já no caminho sentiu os olhares de canto de olho, por isso seu estômago embrulhou. A todo momento ele sentia que estavam falando mal dele e isso era doloroso.
Taka nunca foi tímido, se dava bem com multidões e coisas do tipo, só que naquele dia, tudo que ele desejava era não ver ninguém. O mar de pessoas, de olhares, de cochichos, isso o estrangulava.
Ao mesmo tempo, sua curiosidade em saber se estavam ou não falando dele, se estavam ou não olhando para ele, o torturava mais um pouquinho. Para ele, nunca antes andar um pouco tinha sido tão cansativo.
Seu corpo amolecia, a própria alma do garoto tinha derretido com o sol. Por isso, de frente para a porta da classe, exitou muito em abrir, ainda assim tomou sua decisão e, juntando os restos de força, abriu aquela merda lentamente.
Estava atrasado, só isso, já garantiria que todos olhassem para sua entrada, mas naquele dia foi pior, afinal não eram olhares neutros. Quase esmagado, o garoto nem quis dar mais um passo para frente, para entrar naquele terreno hostil.
— Até quando vai ficar aí, sente-se logo, moleque de merda! — Com sua voz grossa de general, o professor bateu na lousa e fez Taka se mexer.
O resto da aula foi uma tortura. Primeiro, que nem conseguiu falar com seus amigos/conhecidos, eles não estavam muito afim de papo e se afastaram. Se antes haviam dúvidas, ele chegou a uma certeza: todo mundo sabia o que rolou na festa.
Era absurdamente solitário, ficar sozinho, sentado, sem conseguir falar com ninguém direito. O medo de que as coisas continuariam assim para sempre, tomou o corpo do jovem que só queria sair dali. Era agoniante, como estar em uma sala vazia, cercado apenas pela escuridão e olhos na parede.
Taka até mesmo sufocou um pouco.
Sua respiração só voltou ao normal depois de tomar um soco de um colega de classe… A aula tinha acabado e o garoto, nem mesmo o sinal, tinha ouvido. Estava perdido, confuso em pensamentos e arrependimentos. Mas a dor lhe acordou; como um instinto natural, sempre que se sentia em algum risco, Taka esvaziava a mente e analisava tudo com calma.
Naquele momento, sentimentos não o afetavam mais, ele já tinha definido um objetivo, escapar do babaca que o atacou.
O valentão, ao ser encarado, sentiu um arrepio, era seu corpo avisando que tinha tomado a decisão errada. Claro, ele ignorou o aviso, achou que estava ficando louco, mesmo assim preferiu não encarar aqueles olhos assustadores de novo. Partiu para cima do seu alvo com um pouco de raiva e o prensou contra a parede.
O garoto nem reagiu, estava mais concentrado em analisar os arredores. Primeiro: “quem é o agressor?” ele se perguntou. Resposta: um cara alto, magro, com dentes esquisitos, não muito mais forte que o próprio Taka e… parecia o Waluigi, por isso Taka o apelidou carinhosamente de WL.
Em seguida, a sala. O professor já tinha saído, mas ainda tinham vários alunos em volta. Em especial, havia um grupo de garotas para o qual WL estava olhando. Elas não pareciam particularmente interessadas, mas sem dúvidas o vareta queria impressioná-las um pouco.
Quem mais estava lá? Alunos aleatórios, uma garota estudando sem ligar para a situação e… Por fim, ele encontrou a última peça: um grupo de caras mal encarados, no meio deles Toni, um baixinho qualquer, vinha de uma família importante e gostava de menosprezar todo mundo que podia, talvez para compensar a falta de auto-confiança.
E adivinhem em quem o grupo de garotas parecia prestar mais atenção? O grupo do Toni, do qual WL não fazia parte. Juntando tudo, Taka conseguiu centender a motivação do seu agressor:
“Esse babaca não tem nenhuma confiança e, como estou todo fodido, quer chutar cachorro morto para parecer um valentão. Agora não sei se é para impressionar o Toni e entrar no grupo dele, ou para chamar atenção das garotas… pode até ser só satisfação pessoal de sentir que está acima de alguém. Também, nem importa…”
Um sorriso um pouco assustador surgiu. Taka apenas assumiu que a motivação era uma mistura das três possibilidades, de qualquer forma, isso não mudava muito as coisas. Ele só precisava de uma coisa para escapar: acabar com os possíveis ganhos.
— Sim, isso, — gemeu — sabia que você era o… — aproveitou que estava sendo prensado na parede, para chegar mais perto e continuou com uma voz de gemido — melhor, cara, quer ir pro meu quarto?
Com uma atuação perfeita, Taka parecia honestamente adorar a situação. Assim, de uma vez só, acabou com qualquer ganho que WL pudesse ter. Como o garoto estava “gostando”, isso não seria bullying e ele não poderia ter a satisfação de estar acima de alguém. Sem contar, que se continuasse, as garotas e o próprio Toni, poderiam pensar que ele também era gay e isso só os afastaria.
Sem usar um músculo, o dono de um sorriso bastante louco, conseguiu acabar com WL que foi embora na hora, não sem antes o xingar um pouco.
Toni e seu grupo preferiram nem se aproximar, lidar com loucos dá medo. O grupo de garotas, por sua vez, apenas riu um pouco da covardia deles e qualquer admiração que tivessem foi destruída. Elas acabaram saindo também e os estudantes aleatórios seguiram. E a garota que estava estudando sem ligar para nada disso, claro, continuou estudando.
A sala estava praticamente deserta, até porque só haveria aula ali de novo em 30 minutos, ninguém tinha motivo para ficar. Dessa vez, Taka estava literalmente sozinho, tudo bem que ainda tinha uma nerd lá, mas releva.
Ele tinha se livrado do problema e resolvido tudo sozinho, mas lhe seria muito mais agradável ter sido salvo. Resolver tudo sozinho, também era solitário. Assim, mais e mais o medo de todo mundo odia-lo crescia.
— Ufa! Finalmente te encontrei. — E um elfo atrasado apareceu. Assim que ficou sabendo dos boatos e foi liberado da aula, Yan começou a procurar pelo amigo, que não respondia pelo celular, por isso ele teve que ir de sala em sala até o achar.