Uma Rotina Escolar Comum Depois do Apocalipse - Capítulo 15
Você é foda
Assim que encontrou o amigo, Yan o tirou da sala e o puxou para longe de todo mundo. Depressivo, Taka nem reagiu e apenas seguiu quieto.
Em pouco tempo, eles estavam livres de todos os olhares e uma enxurrada de perguntas começou:
— Você está bem? Ninguém quis te atacar? Não se machucou, né? Ninguém ficou tentando te humilhar, né? Por que veio a escola depois de tudo, não sabia que isso ia acontecer? Por que não me avisou sobre nada?
Taka riu um pouco daquele elfo superprotetor que parecia prestes a ter um infarto, mas não respondeu nenhuma das perguntas apenas o abraçou.
— Valeu por vir e desculpa não ter te respondido. — Acariciou aquele sedoso cabelo loiro enquanto sentia certa inveja, até o cabelo dele era melhor.
— Ok, agora pode me explicar o que aconteceu? — E Yan continuava completamente desesperado. O coração dele estava mais acelerado do que o do Taka quando lutava contra Juan, não, mesmo antes disso, o garoto nunca tinha tido um batimento tão forte, pelo menos não que lembrasse.
Acalmando o amigo, Taka explicou tudo. Começando por como foi seu primeiro dia de aula merda e o que tinha feito na festa. Apenas uma explicação rápida, sem dar muitos motivos, até porque o elfo ainda não estava calmo o suficiente para discutir as coisas com clareza.
Agora adiciona mais 10 minutos de respiração e “meditação”.
Finalmente, Yan estava calmo o suficiente para ser capaz de comunicação como um humano comum. Da última vez, conseguiu descontar toda essa raiva e ansiedade batendo no Juan; dessa vez, porém, não tinha essa opção e teve que seguir o caminho mais lento. A propósito, Taka já estava acostumado com esse jeito do amigo, por isso lidava com isso sem problemas.
— Agora, pode me contar com o que estava na cabeça? — A preocupação passou e só sobrou a raiva, ele mesmo respeitava muito o fundador, apesar de não gostar muito de regras sem sentido, respeitava muito as tradições.
Inclusive, esse conflito entre obedecer ou não as regras ainda o atormentaria muito, mas isso é outra história.
Olhando para baixo, Taka respirou fundo… nada, nem sempre é fácil colocar as coisas em palavras, principalmente algo sobre o que não pensamos muito. Ele nem sequer sabia por onde começar, apenas sair da fase de respirar já parecia bem difícil, não, até a parte de respirar estava complicando conforme sentia o peito apertar.
— Eu queria ajudar… — Sem formar frases apropriadamente, começou a explicar as coisas. Seu tom era baixo, não se sentia confortável para dizer com orgulho que fez aquilo para ajudar o demi-humano. — Eu só não queria que os outros notassem como aquele cara estava perto de explodir… acho.
As memórias, como um vapor, iam aparecendo e se dissipando na mente dele. Às vezes, dependendo do ângulo, as via com clareza; em outros momento, sumiam do nada. A pior parte, ele já nem tinha certeza do que aconteceu, lembrando ou não, era tudo muito distante, disforme, para começo de conversa, qual era o seu motivo?
Os pensamentos enxugaram sua cabeça. Ele queria fazer isso para impressionar alguém? Foi pelo seu senso de moral? Foi só para chamar atenção? Culpa da Shiori, talvez? Ele só foi enganado? Para começo de conversa, o que realmente queria para a vida dela? Aquela sensação tão boa, o que foi aquilo? E muito mais, sua mente trabalhava a todo vapor trazendo possibilidades, dúvidas, em uma incerteza com a qual o garoto não estava acostumado.
Assim a escuridão aumentava. Quanto menos ele sabia o caminho, mais se perdia naquela biblioteca enorme que chamava de mente, mais as velas se apagavam e mais caminhos errados tomava. Em particular, seu medo de acabar sendo só um fracassado solitário era muito doloroso.
“E se, no fim, todos me acharem inútil? E se, ao invés de provar para ela que sou incrível, eu provar o contrário?” Pensou.
— Taka, você está bem? — Yan tentou chacoalhar o amigo.
Sangue se espalhou pelo chão, o elfo gritou preocupado com o amigo, mas a resposta foi um sorriso um pouco bizarro. — Agora consigo pensar melhor.
Em um instante, Taka conseguiu sumir com todas as dúvidas, toda a escuridão. Como? Simples, um pouco de dor, foi só cortar a própria mão e, como sempre, a proximidade da morte limpava sua mente e fazia com que pensasse calmamente. Parecia até outra pessoa.
“Primeiro, um objetivo? Eu tenho um… né? Vou fazer todo mundo olhar para mim, todos se curvaram para o quão incrível eu sou? Mas…”
Ignorando o amigo, Taka se imergiu em pensamentos. Então, erradas ou não, chegou às conclusões…
— Entendo, foi por atenção… — ele murmurou para si mesmo. Virou para o homem que já tinha o curado. — Obrigado e desculpa. Acho que consegui pensar melhor, sou um inútil, né?
— Não você… — Taka fez um sinal para que ele calasse a boca.
— Calma, deixa eu falar até o fim. — Ele abraçou os próprio joelhos e ficou olhando para baixo, estava meio triste e não conseguia olhar para Yan. — Já faz tempo que me sinto um fracasso, nem sei quanto tempo e, desde que vim para cá, parece que os motivos foram se empilhando, sério, tive um mês de merda! — gritou para o mundo.
Yan, como instruído, não disse nada, apenas ficou ouvindo com toda a sua atenção. Seus olhos estavam até arregalados.
— Ai eu fui na festa, me senti desanimado de novo, até mais desanimado que o normal e, de repente, virei o centro das atenções, não podia perder aquilo, né? Foi só um impulso e agora me fodi. Também, por que eu tinha que ter esse talento especial para fazer merda? Bem, pelo menos, sou único nesse quesito, hehe! É isso, agora não sei como continuar e tô com medo que todo mundo vai me odiar para sempre e…
— Por favor, nunca sinta orgulho da sua capacidade de atrair problemas, sério, meu coração não vai aguentar. — Tinham infinitas coisas que Yan queria falar; mas, de todas, o mais importante era começar contendo Taka.
— Hahaha! Ok, ok, foi mal, prometo me controlar… — deixou o tom de voz muito mais baixo — se eu não mudar de ideia, claro.
O elfo levou a mão à cabeça pensando em todos os problemas que ainda lhe seriam causados. Yan não sabia se teria energia o suficiente para tudo.
— Só uma coisa, não precisa se preocupar, daqui a pouco esquecem você, olha o jornal da escola, a maioria das pessoas já estão falando coisas sobre a Hina e outros problemas, é só esperar outra notícia impactante.
— Ufa! — Taka se sentiu aliviado, ao mesmo tempo… — É meio frustrante as pessoas me esquecem como se eu nem existisse, queria ser especial, buu!
O elfo sorriu ironicamente. — Suspiro! Você é muito idiota, sabia? — Ele fez cafuné no amigo. — Mas também é muito especial. Algum dia vai acabar descobrindo, é só que talvez o exército não seja o melhor lugar para você.
Yan estava sendo absolutamente honesto, sempre considerou Taka alguém único, sua forma de pensar, ser, sua facilidade para aprender tudo, ele era incrível. Por outro lado, o exército era perigoso e ele tinha medo do Taka se machucar, por isso sempre torceu para o amigo desistir dessa ideia de ser militar.
— Entendo, vou pensar sobre isso, tenho certeza que posso encontrar um jeito de dar a volta por cima, serei o melhor soldado de todos. — Não deu nem um pouco certo. Mesmo que ainda sem brilho nos olhos, Taka já estava decidido sobre seu caminho.
— Você já pensou em ouvir o que eu digo, pelo menos uma vez, vai?
— Nunca! — E o sorriso feliz e normal também tinha voltado.
— Que saco! — Yan reclamou do fundo do coração. — Tá, tanto faz, vou contar algo que vai te animar. A escola vai montar uma atividade para os novatos, deve ser anunciado amanhã, por isso já vão esquecer você. Sabe o melhor, na atividade, 20 alunos fodas, vão escolher 5 novatos deste ano para formar uma equipe, a Hina já sabe disso e você está entre os possíveis escolhidos dela.
— Sério?
— Por que eu mentiria? Só não conta para ninguém, é segredo isso.
— Entendo, muito obrigado! — Estendeu a mão para dar um toca aqui com o amigo. — Me ajudou muito, queria poder fazer mais coisas por você, droga! Seja menos perfeito, por que você nunca tem problemas nem faz merda?
Yan suspirou profundamente. — Se você parar de causar problemas, já me ajudaria muito, sabia? — Só os problemas legais que teria que passaria para impedir que Taka sofresse qualquer punição, já eram suficientes para tirar o sono do elfo por algumas noites.
— Vou pensar no caso. — Taka disse isso com um sorriso puro, mas foi só chegar em casa que teve a brilhante ideia de falar com a Shiori e os dois combinaram de se encontrar um dia, para que? Óbvio, decidir como investigar, por conta própria, toda a história com as pílulas.
Enfim, isso é história para depois. Assim, a conversa principal acabou e eles até falaram sobre outras coisas, mas nada importante. Taka era alguém relativamente fácil de motivar.
Chegando em casa, Taka logou no jornal da escola na hora. E descobriu que era um página de fofoca, algo que nunca tinha visto, até porque o exército proibia quase todo tipo de jornalismo, só existia uma emissora e para comunicados oficiais.
O jornal da escola acabou sendo uma exceção, postando histórias em quadrinhos, fofocas, livros e até filmes feitos por alunos. Claro, apenas alunos daquela academia, ou seja, filhos de nobres e alguns poucos muito talentosos, podiam acessar aquilo. Bem, mesmo essa exceção era muito questionada por alguns diretores.
Enfim, Taka foi absorvida por aquele lugar e decidiu que, um dia, queria ser como a Hina, que monopolizava mais de metade dos posts. Vários, inclusive, falando mal dela, até porque ela namorava um demi-humano. História que Taka achou muito interessante, ele não conseguia deixar de pensar que tipo de cara foda conseguia namorar a Hina.
Assim, Taka perdeu sua noite inteira lendo fofocas e imaginando que, se chegasse no nível de fama e importância da Hina, sua mãe definitivamente iria o elogiar, talvez passassem o dia juntos comemorando e…
Resumindo, ele não aprendeu quase nada.
ooo
Em sua casa, sozinha, depois de analisar todos os 113, Hina finalmente decidiu os 10 nomes que gostaria de levar para a seleção final. Depois de pensar muito, ela decidiu não colocar Taka na lista final, ele era interessante, mas não podia executar nenhum papel, suporte, tanker, guerreiro de frente, ou mago, ele não podia fazer nada disso. Dar a ele a vaga, no lugar de alguém que poderia executar esses papéis, seria imprudente o time ficaria desequilibrado.
Então ela chamou a Lola, ainda queria consultar a amiga para pensar melhor no caminho que iria seguir.