Uma Rotina Escolar Comum Depois do Apocalipse - Capítulo 5
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Capítulo 5 – Os limites da mente
Depois de levar a Mila desmaiada até a enfermaria, Hina preferiu ir embora sem se recuperar direito. Estava com o braço bastante machucado, mas não queria perder muito tempo, por isso apenas colocou algumas fixas para proteger os cortes e parou o sangramento com magia.
Seguindo com a rotina do dia, foi até o maior edifício da academia onde sua melhor amiga estava a esperando. Lá, no imponente prédio, ficava o principal centro administrativo do exército e, por conseguinte, do governo que era controlado por soldados de alta patente.
Ou seja, Hina ia se encontrar com pessoas importantes e, por mais que não quisesse demonstrar, por dentro estava nervosa. Em sua mente, repetia religiosamente, “vai dar tudo certo”, era quase um mantra para impedir que qualquer outra preocupação invadisse sorrateiramente seus pensamentos.
Claro, os anos de prática, permitiam a vampira manter seus sentimentos sempre só para si. Mesmo Lola, por exemplo, não podia imaginar o que se passava na cabeça dela e assim continuaria a ser, Hina sempre se considerou responsável por liderar e acalmar as pessoas ao redor, logo não tinha o direito de ficar ansiosa.
Por sua linhagem, por seu talento, por sua posição, por todos esses fatores: Hina, quando as duas estavam finalmente de frente a uma enorme porta de madeira, foi quem deu o primeiro passo à frente e sempre deveria assim.
— Espere aqui, ok? Vou tentar acabar logo, te conto o resultado depois.
Por fim, a jovem pródiga e representante dos alunos entrou naquela sala. Só de pisar no lugar, seu sangue ferveu de uma forma que não esperava. Enquanto todos aqueles olhos analisavam-na, ela sentia uma raiva honesta e incontrolável no peito.
A própria não esperava se sentir assim, mas o nojo que tinha por aquelas pessoas era quase incontrolável, por um segundo, até pensou em matá-los na hora. Por sorte, outra emoção a parou, o medo, por mais frustrante que fosse, ela tinha mais medo deles do que ódio.
“Calma, preciso recuperar meu foco, eu posso enfrentar esse combate, não posso matar ninguém ainda, nem posso fraquejar.”
Já perdida no turbilhão da própria mente, a jovem tentava reunir as forças que ainda restavam no seu coração. Desde o início, a pressão era demais para ela sozinha, ela sabia disso, mas não queria aceitar.
Fugindo um pouco dos diretores, a ruiva vasculhou o entorno. Por mais importante que fosse, a sala era simples, apenas um imenso espaço vazio com 10 poltronas, 9 formando um semi-círculo virado para a entrada e uma, ainda maior que as outras, centralizada um pouco mais a frente.
Entre todas as coisas nas quais seus olhos podiam repousar, o vermelho forte e vivido daquele “trono” hipnotizou Hina. Aquele assento que estava, oficialmente, vazio há mais de 50 anos, mas que foi ilegalmente ocupado por alguns segundos, algo que ela não teve o prazer de ver.
Para ter o direito de receber aquela tão prestigiada posição, era necessário a aprovação de todos os 9 diretores. Bem, pelo menos assim foi até que uma garota baixinha, com um temperamento incontrolável e cabelos e olhos de sangue, apareceu.
Na época, ela era a representante máxima dos alunos, mesma posição que Hina possui; e, similarmente, ela também foi convidada para uma reunião com os 9 diretores. As coisas não começaram bem, não importava quanto ela sugeria mudanças, ninguém aceitaria, até que, como dizem as lendas, ela sentou na cadeira e mandou todo mundo calar a boca e, supostamente, conseguiu o que queria.
Claro, posteriormente as tentativas de assassinato vieram aos montes e foi assim que a progenitora da Hina morreu, deixando para a filha todo o seu legado e muitas expectativas. Apesar de poucas pessoas saberem sobre essa lenda, só 10 pessoas viram isso no final das contas.
Com a mesma idade, mesmo sangue, mesmo talento e quase a mesma aparência e até mais altura, talvez fosse possível para Hina fazer o mesmo. Talvez ela pudesse até fazer mais, ela finalmente realizar o sonho da sua mãe e permitir que todos os demi-humanos vivessem dentro das muralhas. Talvez ela pudesse fazer ainda mais e realizar seu próprio sonho, vingar a mãe.
Ela não tinha coragem necessária.
Haviam várias ações bruscas que poderia tomar naquele momento e ela pensou sobre, mas seu corpo não movia um músculo sequer. Por várias razões, seu medo era um inimigo grande demais.
E ela tinha bons motivos para tanto medo, sua vida estava em risco. Bem, não que esse fosse o principal motivo, afinal, por mais frouxo que fosse, a proteção do seu pai tinha sido o suficiente para garantir a vida de sua descuidada mãe por 15 anos naquela época. Ou seja, sendo cuidadosa, poderia sobreviver.
Seu segundo e verdadeiro motivo era o medo tanto de enfrentar aqueles 9; como, principalmente, o medo de que criassem ainda mais expectativas em cima dela. Hina não se sentia capaz de chegar ao nível da mãe, ela não se via como a rainha.
— Por que me chamaram aqui? — A ruiva perguntou com tom firme, nem parecia que ela queria sair correndo a 10 segundos atrás. No entanto, diferente de sua progenitora que, 25 anos atrás, tinha batido com a mão na mesa e guiado toda a reunião, ela preferiu ser mais comportada e seguir o protocolo, ou seja, ouvir os diretores.
E foi assim que, depois de três horas, saiu um pouco decepcionada daquela sala. Só tinham discutido coisas relacionadas à escola, porém, no fundo, o que a vampira mais queria era falar sobre a atual situação militar e a péssima administração de recursos.
Isso claro, sem contar com o assunto demi-humanos, ela nem tinha qualquer esperança de que tivesse algum progresso nessa área. Dos 9 ali, a única apoiadora da Hina era Melissa, ex-discípula “treinadora” de sua mãe.
Para piorar, mesmo no assunto escola, os tópicos quase não iam para frente. O erro, na verdade, estava na inocência dela em acreditar que, aqueles velhos, fossem aprovar alguma mudança.
No fim, tudo serviu apenas para Hina sentir que teria uma parada cardíaca e descobrir que, pelo menos na escola, não tinha muitos aliados, até haviam 2 entre os diretores que era um pouco simpáticos a ela.
Saída da sala, a vampira passou um tempo com a amiga, contou mais ou menos o que aconteceu, escondendo partes que achava inconvenientes. Então, quando estavam para ir embora, se encontraram com o mais velho dos diretores no corredor.
Ele bufou com desprezo. — Ainda está aqui? Vai logo para casa, menina. — Em seguida, ele viu de canto de olho Lola, seu rosto pálido ficou vermelho de raiva e ele cochichou. — É uma lástima que permitam lixo nesses corredores.
Na hora, a aura do velho dominou o corredor, oprimindo Lola, que mal conseguia respirar. A diferença de poder era muito grande.
— Concordo, — Hina bloqueou a aura do Susa — mas achei que o senhor tivesse sido a favor dos cargos vitalícios, mudou de ideia?
Em outras palavras ela disse: o único lixo é você que só está aqui porque os diretores só trocam com a morte de um deles.
Susa ficou ainda mais vermelho até suas orelhas pontudas estavam tingidas por sua raiva. — Espero ter o prazer de não te ver nunca mais.
O elfo saiu rápido do lugar, deixando uma vampira rindo para trás. — 200 anos nas costas e ainda cai em provocações.
Claro, Hina até se intimidou um pouco pela ameaça de morte na última fala dele, mas não queria que a amiga ficasse tensa de forma alguma.
Enfim, as duas se despediram e a ruiva foi para o medidor de mana. Seu plano seria ficar até tarde da noite testando de novo e de novo sua quantidade de mana total e tempo de recuperação, apenas para ter uma média precisa. Além do mais, ela sempre aproveitava para treino de resistência à dor, basicamente despejando 100% da sua mana e, mesmo assim, continuando com o treino físico em seguida.
Se qualquer mago normal ouvisse isso, acharia que é uma tentativa de suicido. Porém a verdade era que, por mais que doesse muito, era completamente possível se mover, bastava que tivesse força mental o suficiente para aguentar a dor. Obviamente, numa situação de vida ou morte, essa força seria fundamental.
O resultado foi ela ir direto para a sala que, como esperado, estava vazia, ninguém iria treinar muito no primeiro dia de aula, por isso a garota escolheu aquele dia, gostava mais de treinar sozinha, por mais sociável que fosse.
Seu primeiro motivo era o foco, era difícil, para ela, focar quando tinha um monte de gente a chamando o tempo todo. Claro, Hina não iria ficar reclamando, fazia parte da posição e popularidade que ela possuía.
Seu segundo e principal motivo era: quando haviam outras pessoas vendo, ela não conseguia dar o seu melhor; no caso, era como se o seu corpo a bloqueasse e não saísse do lugar de forma alguma.
A exemplo, no teste de mana ela pontuaria 22,45 com outras pessoas vendo, o que já era a nota mais alta entre as pessoas da idade dela, porém estava muito abaixo dos 23,12 que a mãe dela chegava na mesma idade.
Por outro lado, quando estava sozinha, conseguia chegar a exatamente 23,11 e parava, quando estava quase superando o recorde antigo da mãe. No fundo, o grande problema era o bloqueio que sentia, o medo de ter ainda mais expectativas em cima dela, nem sempre ser a melhor é algo bom.
Enfim, assim ela ficou, sem fazer nada legal, por um dia inteiro quase, até se encontrar com Taka e Yan; no caso, ela estava, na hora, chegando até 23,06, então, com o susto de ver os dois entrando, ela subiu para 23,2 e desceu para 22,4.
Yan não reparou nada, já Taka achou que tinha visto errado. Dos 23 aos 25 soldados atingiram seu apogeu e o recorde histórico na quantidade de mana foi de Linus, um elfo que, 30 anos antes, tinha conseguido 23,5. Ou seja, Hina chegar a 23,2 seria um absurdo, ela ainda nem estava no apogeu e era uma vampira, raça que, em regra, tinha menos mana que elfos, apesar de mais que humanos.
Hina, por outro lado, só achou tudo muito estranho. Não foi a primeira vez que ela tomou um susto, mas algo como aquilo nunca tinha acontecido. O natural seria ela retrair sua mana no susto e o medidor descer.
— Nossa! Você por aqui, Hina? — Yan perguntou amigavelmente.
A ruiva se recuperou da surpresa. — Boa, estava procurando por você, quero que me cure. — Ela tirou a faixa do braço e mouros feridas bem feias.
— O que houve? — O elfo até sentiu um arrepio vendo aquilo. — Quanto tempo passou assim?
— Foi só por hoje, me machuquei lutando com aquela idiota da Mila, mas não queria curar com os enfermeiros, eles sempre deixam cicatrizes.
Yan apenas concordou com a cabeça, ele nem se surpreendeu com o fato da Hina ter passado o dia com dor por vaidade, ele sabia muito bem quanto a garota ligava para a aparência. Além do mais, eram poucos os magos de cura que tinham a preocupação de evitar cicatrizes, afinal para isso era necessário curar devagar.
— Ok, valeu, ainda vão querer testar sua quantidade de mana? — Hina perguntou, a resposta foi positiva. — Ok, em quanto tempo?
— Eu preciso de 45 minutos para me recuperar, ele vai precisar de uns… quanto mesmo, Taka?
— Êh! 30 minutos! — Surpreso, Taka saiu do seu mundinho e finalmente falou algo; até ali, ele só estava em shock por seu amigo conhecer a Hina.