Venante - Capítulo 33
Madrugada. Campus do Colégio Marvente.
— Finalmente conseguiremos descobrir… Tem sido muito difícil fazer isso, mesmo com uma lista tão curta.
Próxima de uma grande árvore que bordejava o lago, uma silhueta, do tamanho de um adolescente, mantinha-se escondida. Parecia que falava ao nada, no entanto, após alguns segundos, como vagalumes, pequenas bolhas de luz se acenderam, seguidas de uma voz.
— E, agora, com as armas?
Seu tom era baixo e sério.
— Teremos um jeito de ativar o sistema de desafios desse colégio. Sério, a sua sorte de eu estar aqui é enorme. Essa primeira missão… Você talvez não conseguisse sobreviver.
O alívio era grande da parte daquele que se escondia. Só que, das bolhas, uma indiferença foi mostrada com clareza.
— Certo.
— Passamos essas semanas sem nos comunicar, e, agora que consigo um jeito, você continua insensível. A Aliyah não te ensinou respeito? — Balançou a cabeça em desapontamento. — Bem, está quase na hora. Você já pode voltar, e tente me cumprimentar antes de ir no salão do armamento, ok?
— Não chame atenção.
As bolhas estouraram após o aviso direto, restando apenas a presença da figura oculta. Nesse momento, como uma espécie de distorção física, a silhueta mudou devagar, crescendo para o tamanho de um adulto.
— Nch. — Depois do estalo de língua, pegou o óculos e ajeitou em seu rosto. — Para um prodígio, você tem sido muito radical. Espero que isso não seja a sua queda, nº37.
Marcava 8:30 da manhã e cinco turmas do primeiro ano já se encontravam frente ao prédio principal. Ali, dois professores, Danilo e Fernando, o professor de tecnologia, avisavam de última hora considerações importantes.
Naquele ambiente mais quieto, sob o som dos avisos vindo de mais velhos, Leonardo tinha uma expressão pesarosa em seu rosto.
“Que dor… Meus braços nem levantam direito sem tremer…”
Havia começado a realizar os exercícios básicos que Rafael tinha exigido dele e também os alongamentos agonizantes que Agatha estava o colocando para realizar. Nesse último, ele sentia que a menina só queria quebrar seus ossos por diversão.
— Então, gente… — O professor de cabelo bagunçado e de fala devagar mostrou suas preocupações. — A partir do momento que escolherem suas armas, os alunos dos anos acima vão poder desafiar vocês… É por isso que…
— Nós recomendamos que não aceitem esses desafios. Digo “esses”, porque os desafios entre primeiranistas, nós, professores da Marvente, reforçamos que façam. Podem fazer até entre amigos. — Danilo interrompeu Fernando para agilizar as coisas. — Sempre terá algum supervisor desses combates, então não se preocupem com a segurança. Mas, se caírem na lábia dos veteranos, já vou avisando que podem se dar mal.
— Isso… É como o Danilo disse. No entanto, se você ou seus amigos começarem a ser provocados apenas para aceitar um desafio, vão para diretoria avisar. É muito importante, gente…
Muitos assentiram com a cabeça e outros apenas concordaram em voz alta. Poucos ali tinham se encontrado com gente problemática e, ao ouvir sobre esse sistema de desafios, começaram a pensar em maneiras de evitar.
— Alguma dúvida antes de irmos ao salão de armamento? — Danilo cruzou os braços.
Leonardo estava pronto para levantar a mão, mas uma voz carregada soou próximo dele. — E se alguém do primeiro ano buscar desafios com veteranos?
Ao se virar, notou que era Marcos que falou. Seu olhar era firme e parecia que suas palavras não eram por nada.
Fernando tremeu um pouco, já que não gostava desses tipos mais encrenqueiros.
O professor de educação física sorriu e se prontificou em responder: — Desde que seja com alguém que tem intimidade ou que combinou um desafio mais tranquilo, não tem problema. Mas só aviso para não se envergonhar muito.
Alguns riram, outros seguraram suas risadas, mas Leonardo encarou quieto o rosto irritado de Marcos. E, como se sentisse o olhar do garoto de olheiras, ele se virou para devolver a encarada.
O fato de o loiro nunca ter cobrado pelo que fez com Gustavo o incomodava. Não só isso, mas o do primo dele também. Sentia que tinha algo a ver com esse sistema.
Algumas outras perguntas foram levantadas, como a do Leonardo que era a respeito de uso das armas fora dos clubes, aulas e desafios. Curiosamente, muitos alunos já sabiam da resposta, então teve alguns que replicaram por cima do professor.
Acontecia que as armas possuíam sensores de aproximação e local. Se alguém tentasse usar algo fora das delimitações e permissões do colégio, simplesmente a arma não ativaria. Além disso, os uniformes e Nelinks possuíam IDs dos estudantes, o que impedia de um aluno tentar usar a arma dentro de um local permitido.
Tudo isso era uma medida de segurança para que os desafios fossem a maneira mais correta de resolver alguma rivalidade, invés de ter que expulsar esses jovens esquentadinhos e com vontade de usar seus Aucts.
Só seria ignorada essas medidas se o diretor e a vice-diretora permitissem.
Depois de tudo isso resolvido, os dois adultos guiaram os jovens para dentro do prédio principal. — Gente, caso não conheçam, esse é o Thales, o nosso secretário de entrada. — Danilo introduziu.
A maioria dos alunos o conhecia, afinal, no primeiro dia que chegaram, tiveram que perguntar para ele.
Thales levantou os óculos, desativou os hologramas de seu Nelink e sorriu para os jovens. Seus olhos fechado eram a definição perfeita de olhos sorridentes. — Espero que escolham bem suas armas pessoais.
A maioria dos alunos só ignorou e continuou a seguir os professores. E uma parte deu oi, tchau e acenou para o secretário, o que mostrava que essa pessoa era amigável com eles.
Leonardo só tinha visto o secretário uma vez, então não fez isso e só seguiu seu rumo com a dupla.
Depois de usar elevadores para descer as turmas para os andares inferiores, todos se viram em uma sala totalmente branca. Parecia ser sem fim; apenas a porta atrás deles era a única coisa que continha cor.
Naquela vastidão branca, ignorando qualquer dúvida dos alunos, Danilo falou: — Bem… Está na hora de conhecermos os novos professores.
O som das conversas alheias aumentou, retumbando por todo o salão vazio.
— Crianças são sempre animadas, não é? — Uma voz masculina soou por trás dos estudantes.
Charlotte piscou os olhos algumas vezes, reconhecendo de quem era a voz.
— Calcantino… — Mas foi Leonardo que falou o nome.
Com o seu manto e lança azul, seu uniforme de operações entregava o título Venante que era conhecido.
Era como um inseto em tamanho humano, desde seu capuz, feito da couraça de alguma Anomalia Insecta, até a armadura azul com espinhos rochosos vazando, como estalagmites, e sua lança com a ponta de anomineral azul.
— Oh? Parece que os jovens te conhecem, venenoso. — Uma morena de cachos verdes caminhou para fora dos alunos; era como se sempre estivesse ali e ninguém a percebeu.
— Ainda não paramos com as raides, afinal. E não me chame assim por aqui, Amara.
Ela sorriu e balançou a cabeça. Seu traje era coberto de cores e padrões diferentes, com o aperto da roupa na cintura, parecia capaz de se camuflar e chamar a atenção de qualquer um próximo. O que mais atraía era seu colar de pedras com diferentes símbolos e os pequenos pontilhados brancos em volta do seu rosto.
Poucos alunos a reconheceram.
Sem dizer muito, os dois caminharam para frente de todos. Danilo e Fernando acompanharam e, ao chegar, perguntaram: — Falta um, não?
— Ele já chegou — Amara respondeu.
— Uah… — O bocejo saiu detrás dos professores. — Espero que isso valha o nosso tempo.
Ele parecia descontente pelo seu modo de falar, mas, assim que saiu de trás deles, grande parte dos alunos ficou surpresa.
Era um homem de sobrancelhas grossas e de formato excêntrico. Seu traje era um quimono com linhas de diferentes cores e um manto sobre seus ombros com figuras que lembravam chamas azuis.
— Esses vão ser os moleques que vamos ensinar… — Seu cabelo longo amarrado baixo em rabo de cavalo balançou. — Pelo menos algum deve se destacar.
Os alunos não conseguiram conter a surpresa e, em diversos lugares, o nome daquele Venante estava sendo comentado.
No alto de sua cabeça, algo parecia se mexer, como orelhas de um animal. Ele já detestava ter que escutar o seu título tantas vezes, e, para piorar, odiava quando era para comentar sobre ele.
Com o ajeitar de seus pés no chão, sua katana balançou. — Que tal vocês…
— Não exagere agora, Conquistador — Calcantino advertiu ao ver o desconforto do seu colega.
Não importava para os jovens se esse último professor estava com seu traje de operação ou que era famoso, todos pareciam estar focados em um só assunto; algo que incomodava esse Venante mais que tudo.
A sua altura.
O espadachim, mais velho que todos ali, com dezenas de cicatrizes e batalhas sangrentas em seu histórico, não passava dos 1.58m.
As garotas o achavam fofo, os garotos se seguravam para não chamar de baixinho.
Ele apertou os dentes e abaixou as orelhas em seu cabelo, ignorando os comentários. Seu temperamento não era bom nem com seus colegas, então não era preciso nem comentar sobre como seria com esses jovens desconhecidos.
Danilo aproveitou o sentimento de não ser o mais baixo ali e falou com bom-humor: — Então gente, apresento a vocês… — Estendeu o braço aos colegas Venantes. — Calcantino, Verbona e Conquistador! Os mais novos professores da Marvente e Venantes profissionais ativos. Está na hora de consultar esses especialistas de Grau A.