Venante - Capítulo 34
Após o trio ser introduzido, Verbona foi a primeira a dar um passo à frente e disse sorridente: — A escolha de uma arma é uma decisão importante, senão a mais importante, jovenzinhos. — Olhou encantadoramente para todos. — Hoje é um dia muito importante e é bom que já tenham pensado com muito cuidado sobre suas escolhas.
Os professores assentiram com o que foi dito. Para os Venantes, a sua habilidade com a sua arma era equivalente a chance de sobrevivência. Tão básica quanto o uso do Auct.
— Ma-mas… Se vocês não têm ideia ainda, aproveitem para tirar as dúvidas com os professores novos… — Fernando estava um pouco nervoso. Diferente de Danilo, que já foi do time de operação, ele foi apenas parte do time de pesquisa, longe de qualquer combate contra Anomalias.
— É como o mansinho falou…
— Man-mansinho!? — Ao escutar o comentário da mulher, não conseguiu suprimir o choque.
Mas, como se nem ligasse para isso, ela continuou: — Só que eu tenho uma ideia diferente. — Ela levantou uma mão e estalou os dedos. O som de descompressão soou pelo salão e uma fumaça se ergueu, revelando prateleiras e mais prateleiras com armas que subiam pelo solo branco.
Calcantino balançou a cabeça, desaprovando. Já tinha participado de raides com a Amara, então sabia que adorava fazer um show para os outros.
— Então, quero alguns voluntários. — Aproveitou o momento e, sem se virar, apontou para trás com o polegar. — Os chatos ali iam fazer em privado com os que têm vergonha, mas, qual é, gente, vamos parar com isso. Ajudem seus colegas a se abrir, ok? — Piscou um olho.
“Ainda bem que o Rafael me falou o Auct falso que está no meu registro…” Leonardo estava refletindo sobre uma realidade diferente, onde ele seria selecionado e teria de falar o Auct verdadeiro.
De qualquer forma, o garoto com olheiras já tinha definido a sua arma há muito tempo. Então, não se interessava em se voluntariar para tirar dúvidas, mas queria ouvir o que a professora nova tinha a dizer.
Ele olhou para os lados, vendo que nem a Charlotte e a Agatha tinham interesse em se voluntariar. A loira estava focada em encarar Calcantino e a gótica estava sorrindo de canto para a situação.
Já Luca e Júlia, elas não estavam visíveis para o rapaz nesse aglomerado de primeiranistas.
Nesse momento, dois alunos, uma garota e um garoto, saíram da multidão.
Verbona assobiou quando viu os jovens. — Olha só esses lindinhos. Então, que tal se apresentarem?
Os dois trocaram olhares. Nenhum deles era da mesma turma. Então, o rapaz de cabelo longo preto com mechas loiras coçou o pescoço e comentou meio desinteressado: — Sou Theo Sallys. — Com seu cabelo diferenciado e acessórios, o rapaz passava uma sensação de punk para os outros.
— Ui, um partidão, meninas. — Verbona brincou. — Me conta, Theo, qual o seu Auct e por que não conseguiu decidir uma arma?
Os olhos dele eram destacados, bem abertos e com pequenas marcações escuras na parte de baixo, mas o rapaz não parecia estar interessado no que o rodeava.
Os alunos sabiam que a Amara podia olhar o registro para agilizar isso, mas ninguém a sugeriu para fazer isso, afinal, poderiam acabar sendo chamados à frente.
Ele suspirou e se agachou, tocando a sua sombra. Como a sala era iluminada praticamente de todos os lados, restava um pouco de sombra apenas na parte debaixo das pessoas.
Quando ergueu a mão e se levantou, a escuridão da sombra pareceu estar presa em sua mão e começou a criar uma forma humanoide trêmula, quase transparente, como se estivesse para desaparecer.
Assim que sua mão se afastou da sombra, a silhueta humana ficou em pé, caminhando em volta dele.
— Um Manipulador Alquímico? — Verbona colocou a mão no queixo, meio cética.
Theo negou com a cabeça. — Não. Sou um Invocador Almágamo. E esse aqui é o Umbra. — Olhou para a sombra que o rodeava.
A mulher mostrou um pouco de surpresa e comentou: — Uau, e o que esse fofinho pode fazer?
— Ele tá meio fraco com essa luz toda. Mas se ele me cobrir… — O Umbra se disformou e fez uma espécie de manto sobre o garoto. — Desse jeito. Eu consigo me mover dentro da escuridão.
— Ai! Ainda bem que você foi um dos voluntários! — Com alegria, ela olhou os jovens no cenário branco. — O Theo é um ótimo voluntário porque posso falar sobre algo que normalmente não é comentado.
Todos ficaram curiosos. No meio deles, uma gótica encarava com interesse a sombra humanoide desaparecer.
— No mundo Venante, a capacidade é só um dos elementos que faz o nosso nome. — Com um dedo erguido, levantou o segundo. — O segundo é criatividade e o terceiro é o visual.
No terceiro dedo, ela usou a outra mão para apontar esse último erguido.
Fernando e Danilo riam disso, mas não intrometeram, enquanto o Calcantino queria tirar Amara dali. Apenas o Conquistador não ligava e bocejava de vez em quando, sonolento.
— No caso do Theo, ele tem um ótimo Auct, uma subclassificação difícil de se ver e também é uma das que mais tem capacidade e adaptabilidade. Nesse ponto, ele tem os dois elementos que praticamente o fazem um ótimo candidato para ser Venante profissional. Mas falta o último.
— Professora Verbona, por que visual é importante? — Uma menina levantou a mão, questionando a credibilidade do que era comentado. — Não deveria ser o foco de um Venante apenas vencer as Anomalias?
Verbona riu com isso. — Ai, ai… Quero que parem para pensar nos Venantes profissionais. — Esperou um tempo, vendo as crianças refletirem. — Aposto que os Venantes de Grau S e os famosos de Grau A passaram em suas cabecinhas.
— Sim… — A garota de antes concordou.
— Essa parcela de Venantes, que são incrivelmente reconhecidos e sempre aparecem em notícias e sites de fofoca, são o que são porque investiram em seu visual. E caso não saibam, o Brasil é um dos maiores países de auxílio de Grau A no mundo. — Ela apontou para si e para os dois colegas atrás. — E são poucos de nós que se destacam. Duvido muito que na mente de vocês tenha passado algum Venante brasileiro.
Nessa explicação, Leonardo estava contente, porque, diferente do que a professora deduziu, ele pensou em Venantes de Grau baixo e até Venantes brasileiros incríveis, mas pouco reconhecidos.
— Levem eu como exemplo. Não se surpreendam, mas eu não sou tão reconhecida assim, mesmo no Brasil. Isso porque só fui perceber o valor do visual muitos anos depois de ter começado a ser Venante.
Os alunos concordaram. Poucos ali sabiam quem era ela.
— Você não se arrepende?
— Como podemos saber trabalhar o visual?
— O Conquistador também não investiu, mas é famoso!
A voz aumentou na multidão. As turmas de primeiranistas pareceram explodir em comentários. O pobre do Conquistador só queria ficar de lado, mas sempre o comentavam.
Verbona gargalhou. — Gente, calma, calma, vamos por parte. — Se virou e perguntou: — Ei, venenoso, não quer ajudar aqui? É a sua especialidade.
Sem responder, apenas foi até o lado dela.
— Para os que perguntam o que é visual, vou resumir o suficiente para que comecem a trabalhar mentalmente. — Calcantino não era do tipo falador, como a Amara, então foi direto ao cerne da questão. — Visual pode ser separado em: equipamento, atividade como Venante e marketing. Como os últimos dois não interessam ainda, vou falar apenas do equipamento.
— Calma, Roberto. — Ela falou baixo para ele. — Foca só na arma, senão eles vão sonhar demais.
Ele assentiu e disse para os adolescentes: — Os equipamentos nada mais são que o seu traje, arma e anoferramentas. Se eu não usasse o meu traje hoje, acham que me reconheceriam?
A maioria negou. Calcantino era um famoso Venante brasileiro que aparecia em entrevistas com o seu traje que lembrava um inseto Anômalo por onde passava.
— Agradeço a introdução, venenoso. — Verbona afagou o ombro do colega. — Agora volta para trás e deixa comigo.
Por baixo da máscara, o homem revirou os olhos e voltou ao lado do Conquistador, que procurava o adolescente que falou dele.
— Theo, como ouviu o nosso querido Calcantino, visual é importante para ser lembrado. Com um Auct como o seu, recomendo uma foice.
Ele apertou as sobrancelhas. — Por que uma foice?
— Pelo seu estilo e seu Auct envolver a sombra… Você seria incrível como um ceifador da morte que surge da escuridão para tirar a vida alheia. — Usou a mão estendida para cortar o ar. — Visualmente, você tem o que precisa para isso. Agora sobre ter a capacidade e criatividade, teremos que ver depois.
O jovem abriu os olhos um pouco mais, bem mais interessado do que antes. Ele gostou de se imaginar assim.
— Valeu. Eu não tinha pensado em uma arma no início. Ajudou bastante, professora.
— Ui, ele sabe agradecer. — Riu um pouco. — Agora vamos para você. — Apontou para a garota que tinha se voluntariado.
A menina ficou um pouco sem jeito, mas não parecia estar incomodada com os olhares. Ela deu um passo para frente, balançando o seu comprido cabelo escuro.
— Apresente-se, fofinha.
— Sou Fanny Krolik. E eu não sei que tipo de arma poderia combinar com o meu Auct…
Verbona gostou da sinceridade e andou até próximo dela, rodeando-a.
— Morena, cabelo preto e mechas coloridas por baixo, olhos castanhos… — Assim que chegou nas costas da menina, percebeu um pequeno rabo redondo, branco e felpudo na linha do cóccix. — Hã? Você é uma Transmorfa?
Fanny apenas acenou com a cabeça, constrangida. Era sabido que boa parte dos Transmorfos de Grau B e superiores praticamente demonstravam características da sua transformação do Auct. Como o Rafael que aparecia um pouco de suas escamas por baixo da pele.
— Ei, baixinho, ela não é uma parente sua? — Amara se virou para caçoar com o Conquistador.
Foi possível ver algumas veias saltando da testa dele.
— Então, Fanny, qual exatamente é o seu Auct?
A Energia em volta da garota começou a divergir, reagindo próxima de Verbona. Era um sinal claro de Manifestação de um Transmorfo.
O cabelo começou a descolorir em uma velocidade impressionante, restando apenas um branco puro. Até as sobrancelhas ficaram brancas. Os olhos castanhos começaram a vagar pelo tom vinho até chegar em um vermelho marcante. E, por fim, um par de orelhas surgiu sobre sua cabeça. Era como se nem fosse mais a mesma garota.
— Sou uma Transmorfa Coelha…
Verbona abriu a boca de surpresa e, sem dizer nada, tocou nas orelhas felpudas. — Tão fofinha…
— Professora… Isso… faz cocegas… — Fanny ficou vermelha, tremendo uma perna.
— Ah! Desculpa! — Ela saiu de perto da garota e viu a expressão estranha no olhar dos estudantes. — Khm! — Tossicou e voltou ao que interessava. — Me conta o que você é capaz de fazer quando está transformada.
— Ah… Os meus sentidos ficam melhores e meu físico também… — Fanny parecia um pouco desanimada quando comentava da sua transformação. Era comum entre os jovens Transmorfos quererem ter mais habilidades no início, senão seriam apenas uma versão “estranha” dos Aucts Físicos.
Verbona não ia tocar nesse assunto, já que isso era um complexo comum de adolescente. Então, traçou o sentido de a menina não ter sido capaz de escolher uma arma.
— Fanny, você deve conhecer sobre armas núcleo e armas auxiliares, certo? — A garota negou. — Bem, são armas que ajudam a desenvolver um Auct ou apoiam um Venante incapaz de se defender de determinada forma.
Leonardo e Charlotte prestava muita atenção sobre isso. Era um conteúdo que seus pais já tinham conversado antes, mas nunca com detalhes.
— Armas auxiliares são ferramentas para apoio de Venante que não alcançaram uma Harmonia ou que planejam desenvolver uma. Esse tipo de arma é mais visto em mãos de pessoas que não tem equipes para raide.
— Eu… não entendi ainda. O que isso me ajuda? — Fanny estava com mais dúvida do que antes.
— Imagine que você terá que lutar contra alguém que voa. Um coelho não pode voar, certo? Então como lutaria contra isso? — Amara olhou para a garota, que não tinha resposta e para os adolescentes que pareciam sem resposta.
Assim que ia dar a resposta, uma voz receosa veio do fundo: — Ela não poderia usar uma arma de longo alcance?
Leonardo que comentou, e claramente já estava sentindo o efeito de ser olhado por todos.
— Exatamente! Uma arma auxiliar é para preencher a falta de algo básico no time ou no Venante. Quem quer que tenha respondido, mandou bem!
Um pouco de vergonha foi mostrado no rosto dele.
— Já as armas núcleos são fundamentais para ampliar o estilo do Auct de alguém. Uma vez eu conheci um Venante com Auct de Manipulação de Luz. Os raios de luz que ele lançava eram sempre projetados do corpo dele para fora. Uma vez que um oponente ficasse próximo dele, dificilmente ele ganharia.
Marcos olhou para a professora quando ouviu sobre Manipulação. Já que era a sua Categoria, tomou nota de qualquer coisa que poderia ser uma fraqueza.
— Se ele tiver uma boa equipe para raide, nem precisa se preocupar com a aproximação, mas sim eficiência. Nesse caso, ele usava orbes com a Energia dele ativa dentro e poderia ativar seu Auct fora do corpo, atacando em múltiplos lugares. A primeira vez que vi isso, foi incrível.
Exclamações de surpresa foram soltas pelos adolescentes. Boa parte deles era da Categoria Manipulação, então ao ouvir isso, olharam para as armas nas prateleiras, procurando algum orbe.
Amara viu o interesse e sentiu-se como uma verdadeira professora. — Então, Fanny — olhou para a jovem a sua frente —, enquanto você não passa por uma Revolução, recomendo focar em aprender os pontos bons do seu Auct. Escolha uma arma núcleo e não uma auxiliar.
— Você tem alguma sugestão? — O desamparo estava no rosto dela. Sabia que o Auct era poderoso, mas não os pontos fortes.
— Bem, eu vi que tem uns cybergears ali. Seriam uma boa ajuda a entender o quão forte você pode ser. — Dito isso, apontou para uma prateleira separadas com conjuntos de luvas e sapatos. — Esses gears servem para impulsionar força, resistência e agilidade. Esforce-se para alcançar seu limite.
A coelha agradeceu e voltou para a turma.
Os alunos não aguentavam mais ver aquelas “escaparates”, com armas de diferentes tipos.
— Bom, agora que deixei bem explicadinho, aposto que vai ter mais gente querendo falar conosco para saber que arma escolher. — Se dirigiu de volta ao lado dos professores.
— Você gosta mesmo de falar — disse Calcantino.
— Não precisa ficar com ciúme, vou deixar que eles falem com você também.
— Bom, turma, para aqueles que querem já pegar a arma, podem ir na frente. Mas não esqueçam que só pode uma, hein! E para aqueles que querem tirar dúvidas com os novos professores, façam fila.
Leonardo olhou as turmas se moverem com pressa. Os adolescentes estavam mais desorganizados do que antes. Mesmo sabendo que teria arma para todos ali, ainda pareciam desesperados para chegar lá e olhar de perto.
Charlotte e Agatha estavam paradas perto dele. — Vocês já sabem que arma escolher? — perguntou para elas.
— Já. — Agatha respondeu com firmeza. — E você?
— Também.
Charlotte parecia meio distante no momento e disse baixo: — Depois do que a professora falou… Vou consultar melhor.
Leonardo tocou no ombro dela. — Certo. Tire essa dúvida e escolha bem.
— Depois, eu tenho algo para falar contigo, Leo. — Ela levou o olhar para ele e seu tom era marcante aos ouvidos do outro.
— Comigo…? Tá… eu acho. — Olhou de canto para Agatha, para ver se sabia de algo, mas a outra só o ignorou. — Bom, vamos indo na frente então.
— Uhum. — Charlotte concordou e foi para a fila de consulta.
Leonardo sentia que havia muito mais que a loira queria falar. Com o sentimento estranho ainda próximo, seguiu para as prateleiras procurar a arma que desejava.
— E aí, já sabe a arma que vai pegar? — Agatha quebrou o silêncio.
— Estou pensando em uma… — Quando estava prestes a responder uma voz forte veio de longe.
— Ei! Parem aí. — Uma figura baixa se aproximava.
Com as suas sobrancelhas grossas, altura baixa e olhos grandes, não era suposto sentir medo do homem, mas a aura que transmitia para cima deles era algo que não poderia ser ignorado.
O Conquistador, por algum motivo, tinha saído de perto dos professores e estava vindo na direção de Leonardo; só para piorar, sua expressão não era nada boa. — Por que você…
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Alguns dias antes; sala do diretor.
— Diretor Samuel, através da sua permissão, estivemos vistoriando os casos de bullying — disse Camil. Com poucos dia de análise, já percebera que tinha algo muito curioso acontecendo no campus. — Lembro-me de ter comentado o caso da estrangeira, correto?
— Sim, a Luca Hadi. — Samuel apertou os olhos. — Conheço o histórico complicado da jovem. Ambos pais mortos…
— Exato. Como existe o registro da existência de seus pais, não foi difícil procurar mais informações. No entanto, tem algo que não é exclusividade dela aqui neste colégio, Diretor. — O pálido afrouxou o nó da sua gravata.
Pablo, que fumava no sofá, disse sem demora: — Tem alguém manipulando as informações que chegam na diretoria.
Samuel não pareceu surpreso, apenas pensativo.
Camil aproveitou para apoiar o ponto e explicou: — Conforme investigávamos nessa semana, percebemos algo óbvio… Não só a menina Hadi, mas como alguns outros alunos têm sofrido bullying no colégio. — Ele ligou o Nelink para passar dois vídeos. — E, curiosamente, estávamos presentes em um caso próximo e registramos, como pode ver.
No lado direito, um grupo de três alunos empurravam um garoto ao chão, já no outro era só um grupo de três alunos próximo de outro. Eram quase idênticos, apenas que não mostrava o garoto sendo empurrado ao chão. No final, os três iam embora e deixavam o garoto sozinho.
— A câmera do colégio registrou algo e nós outra coisa. É a mesma situação, mas com desenvolvimentos diferentes.
Pablo apertou o cigarro com raiva. — O desgraçado sabe que não matou o Singular certo!
— Pablo, acalme-se. — Camil interviu. — Existe muitas possibilidades aqui.
Samuel levantou respirando um pouco mais pesado. Esse ex-Venante já tinha vivido muitas situações de esquematizações e manipulações por baixo dos panos, então claramente tinha algo em sua mente.
— Camil, você entende como ele confirmará que ainda há agentes prestando atenção ao colégio, não é?
— Sim. No momento que o colégio apresentar alguma suspeita disso, o espião vai saber que foi descoberto e passará a reduzir a atividade, ou mesmo nem agir mais.
Os três na sala já sabiam que o espião tinha noção de que agentes da Associação estavam presentes no colégio para encontrá-lo, mas o problema de um lado era quando e do outro era como.
Se o diretor fizesse algo a respeito agora, o espião saberia que foi descoberto e o quando já teria sido definido, mas, para o outro lado, o como nunca seria alcançado.
— Por que esse espião tem manipulado os alunos para cometer bullying? — Samuel perguntou.
— Pelo visto, ele tem seguido uma lista de suspeitos específicos. O que eu imagino é que esteja testando certos alunos para que ativem seus Aucts. Se aproximarmos demais desses indivíduos, o espião também pode descobrir que temos ideia do que ele está fazendo.
Pablo acendeu outro cigarro.
Com uma grande tragada, perguntou: — Ele tem acesso ao sistema do colégio e contato aos alunos? — Olhou para o seu colega e depois para o Samuel. — Vocês ainda acham que é só um espião?
— Se o Auct dele não tivesse lidado com o Jonas tão rápido, poderia suspeitar de um Auct capaz de entrar no sistema… — Camil sorriu um pouco, porque era quase nula essa possibilidade. — Precisamos entender o motivo daqueles que tem causado o bullying e do sentido por trás dessa lista de suspeitos do espião.
— Desgraça mesmo. Diretor, quando o sistema de desafios começar, isso não vai ficar mais fácil para o maldito? E se o espião estiver de conluio com algum desses novos professores que contratou? Eles nem fazem parte da Associação!
Samuel estava pensativo até então. No entanto, depois da pergunta do Pablo, ele sorriu. — Se estiver mesmo entre esses novos professores, então eu escolhi o Venante correto para estar próximo dos primeiranistas.
Camil olhou sério. — Quem?
— Como vocês não poderiam utilizar o visor de Energia da Associação, então tive que fazer do meu jeito. Chamei ele… — Ele olhou para as duas espadas decorativas penduradas na parede.
Os dois agentes se arrepiaram. — O… Conquistador?
— Não existe ninguém melhor do que ele para sentir a Energia dos outros, principalmente para alguém que ativa o Auct em uma área que ele está.