Venante - Capítulo 36
Luca andava de um lado para o outro, com brilho nos olhos; curiosa sobre todos os diferentes tipos de armas naquelas prateleiras. E também evitara alguns pontos mais cheios de alunos.
Seus olhos se dirigiram para um chicote branco e, instintivamente, acariciou de leve aquela arma. Foi então que uma mão caiu sobre seu ombro. — Eeg! — Um arrepio subiu pelas costas dela, dando um saltinho para o lado.
Nem perdeu tempo e encarou quem a tocou. Seu peito subia e descia de susto.
— Are you ok, Luca? — Agatha até estranhou como a amiga reagiu.
— Por Aelaa, Agatha! Eu quase morrer de susta agora. — Pressionou o peito com a mão que ainda segurava o chicote.
Leonardo sem demora comentou: — Viu. Eu te disse que era melhor só chamar.
— Shut up, Weirdo. — Revirou os olhos e se aproximou da amiga, olhando para a arma na mão dela. — Você vai escolher essa?
A morena estranhou, mas quando viu o que segurava, suas pupilas contraíram por um instante. — C-como… Eu…
— Olha isso! — exclamou Leonardo. — Tem muita coisa aqui!
A voz surpresa dele interrompeu a conversa das duas, que logo viram as prateleiras cheias de armas. Estava tudo organizado em semelhanças. Havia bastões, martelos, arcos, etc., de todos os tamanhos e com aspectos diferentes.
Era tanta variedade que precisava dessas prateleiras todas para que os alunos encontrassem armas que gostassem.
O garoto pegou um martelo branco, que não parecia muito diferente dos vendidos em lojas, e balançou. — Acho que nunca vi alguém usar algo assim antes. Imagino que não seja funcional. — Nessa hora, uma pequena mão branca de unhas pretas tirou o martelo da mão dele. — Ei!
A gótica deu uma olhada rápida no martelo e jogou de volta para a prateleira. — Bora pegar só a arma que queremos logo? Sério, quero voltar logo para o dormitório.
Luca, agora mais calma, se aproximou e falou: — Acontecer algo? Agatha não parecer bem.
— Você não viu agora há pouco…? — perguntou o jovem de olheiras. — O Conquistador, o professor novo, apareceu e nos atacou do nada.
— Acontecer isso?! Por que ele fazer isso? — Luca agarrou o braço da amiga. — Vocês estar bem?
— Ainda tô puta com isso tudo. Mas vai passar… — Olhou para o colega e lembrou do que conversaram. — Só que se eu ver a cara daquele gnomo son of a bitch de novo tão cedo… eu juro… — Seu lábio franziu de tanta raiva.
A morena insistiu na pergunta: — Mas por que ele fazer isso?
— Não fazemos ideia, sério. — Leonardo balançou a cabeça. — Enfim, o diretor também vai ficar ciente disso.
— Enough. Eu vou quebrar a sua coluna no próximo alongamento se falar mais disso. Bora pegar logo uma arma. — Agatha estava voltando ao modo poucas-palavras, porém ainda incomodada.
Luca encarou os dois e percebeu que, de cada lado, seus amigos pareciam passar um sentimento diferente. O colega estava mais tranquilo e um brilho incomum aparecia nos olhos dele. Já, do outro lado, a colega nem olhava para as armas e até tirou a mão dela do seu braço.
Então, deu um sorriso e se aproximou de Leonardo, já que a gótica parecia querer ficar um pouco distante por agora. — Leo, que arma escolher? — Olhou para as armas que o garoto também estava analisando.
— Vou pegar uma katana. — Ele se virou e olhou para o chicote na mão da morena. — Escolheu essa?
— E-eu não sab…
— Até que combina contigo. — Interrompeu antes que ela pudesse falar.
— Combina? — Seus olhos cor-de-esmeralda piscaram em dúvida. — Por quê?
Leonardo colocou a mão no queixo, a olhou de cima para baixo e respondeu: — Parece ficar legal…?
O jovem não iria dizer que imaginava a garota balançando seu chicote e lidando com os Anômalos da forma mais “badass” que passava em sua mente. Já bastou aquela tentativa de parecer legal no combate que teve contra a Charlotte.
Oposto ao que ele considerava, Luca sempre considerou seus amigos como honestos e, por isso, passou a pensar que um chicote de fato combinava com ela.
— Na’am — concordou em árabe. — Agatha também achar? — Se virou para perguntar.
A gótica estava batendo o pé e falando sozinha, como de costume. Logo que ouviu seu nome, abriu os olhos e disse: — What? O chicote? Yeah, yeah. — Nem perdeu tempo na resposta, até porque a Luca já deveria ter pensado em uma arma, e voltou a resmungar baixinho.
Apertou o chicote e sorriu. — Shukran! — E abraçou primeiro o amigo, que já estava acostumado, e depois a Agatha.
Depois de se livrar do afeto da amiga, a gótica demandou: — Bora, Weirdo. Vamos encontrar essa espadinha logo.
— Qual é, tem tantas armas aqui e você nem quer testar? — Descontente, replicou. — Por que você não encontra a sua primeiro e me deixa testar umas aqui? Ali! Tem umas cybergears para as mãos!
Estava claro que o garoto gostava muito de armas. Na verdade, boa parte dos meninos estava fazendo como ele e, por mais que já tivessem escolhido uma, testavam uma atrás da outra.
— Urrgh! — resmugou a gótica, e logo foi para uma outra área de prateleiras com a arma que desejava encontrar. Luca decidiu seguir a amiga, já que não parecia estar em seu habitual.
Sozinho ali, Leonardo estava verdadeiramente animado em meio a tantos equipamentos. Momentos da sua infância passaram em sua mente…
“Mesmo quando saía do trabalho, ele trazia algumas armas quebradas para me mostrar.” Largou a cybergear, que era como uma luva grossa e grande, e segurou uma simples soqueira que estava posicionada mais ao lado. “Será que ela preferiria que eu focasse nisso? Sempre me disse ser melhor resolver as coisas com as mãos do que depender desses ‘brinquedinhos’.”
… Um suspiro de alívio saiu de seu nariz. Em seu conceito, considerava que todos ali pensavam o mesmo que ele nesse momento: O próximo passo seria dado depois disso.
— Bem, — comentou baixo — vou pegar a katana antes que ela queira me destruir no próximo alongamento. — Esfregou a lombar dolorida.
Conforme se aproximava, o barulho aumentava. Não demorou muito para que visse um amontoado de alunos em uma seção das prateleiras.
Era natural isso, afinal, era o local das lanças e espadas. Eram tantos formatos e tamanhos que seria impossível não ter uma parte dedicada apenas para elas, assim como outras armas cortantes.
Muitos alunos notaram a aproximação de Leonardo e deram diversos tipos de olhares. Era óbvio que odiou isso, mas entendia que, além do que os outros já sabiam dele, o momento com o Conquistador fez o interesse e incômodo de outros surgisse.
Uns sorriram, outros apertaram mais forte o cabo da arma, alguns até zombaram.
Com uma respirada forte, ele avançou sem pressa, ignorando tudo e todos ali.
“Sabre, florete, espada borboleta, gladio, montante…” Analisou cada uma que passava. Havia tantos tipos e hibridações destas que o garoto achou que seria impossível ver tudo no mesmo dia.
Após atravessar boa parte dos alunos, Leonardo chegou na parte das espadas curvas.
“Ela…” Sem pensar muito, sua mão segurou o cabo de uma das muitas katanas alinhadas na prateleira.
Leonardo ergueu a espada, desembainhou e deslizou a ponta dos dedos sobre a lâmina branca que transmitia alguns pontos de luz azul por dentro, nada perceptíveis para quem olhasse um pouco de longe.
Todas as armas dos alunos ali eram diferentes das convencionais que seriam vendidas em leilões, expostas em museus ou que Venantes profissionais usavam. Pareciam sem vida, sem cores, feitas de materiais diferentes.
Era óbvio o motivo disso tudo. Elas foram feitas para treinos, então toda a composição dessas armas foi personalizada apenas para esse propósito.
Um ligeiro sorriso de canto surgiu no rosto do garoto pálido. “Será que foi assim que o Espada Suprema se sentiu quando pegou a sua katana?”
Não muito tempo depois, Leonardo, Luca e Agatha estavam reunidos de novo e conversando.
— Deixa essa espada longe de mim, got it? — A gótica levantou sua adaga e ameaçou.
Leonardo não perdeu a chance e tentou sacar a katana com o polegar, mas a resistência da bainha era mais forte do que esperava. — Melhor deixar quieto.
Luca ficou com as bochechas inchadas para segurar o riso.
Nessa hora, uma loira chegou no meio da conversa. — Ei, gente! Nossa, vocês estavam bem distantes de tudo. Foi difícil de achá-los.
— Só assim para despistar uma stalker como você.
— Como é!?
— Ignora ela. Tá de mau humor. — Leonardo comentou por cima. — Escolheu a sua arma, Charlotte?
— Uhum! — Ela mostrou a pistola e fez uma gunplay para exibir.
Luca falou apressada: — Cuidado!
A loira riu e parou de girar a arma. — Ela não vai disparar só com isso, Luca.
Como não tivera a chance de ver boa parte das armas por conta da Agatha, Leonardo estava muito interessado em ver de perto, então se aproximou da amiga.
— Como será que eles fazem a munição para essa arma? — Sem pensar muito, segurou a mão da Charlotte e analisou a arma, que começou a balançar. — Charlotte? — Levantou o olhar e viu a garota rubra como um morango primaveril.
— Que-que… Seu sem-vergonha! — Ela deu um tapa na mão dele e se virou bufando.
— Eu só queria ver a arma…
— Calado! Calado!
Agatha aproveitou e soltou um comentário sórdido com um sorriso no rosto: — Imagina se ela pegasse na espada dele.
— Agatha?! — Os dois gritaram juntos.
Luca, com o dedo no lábio, perguntou inocentemente: — Eu não entender…
A gótica se aproximou e começou a dizer: — Sabe, aquilo que garotos…
Só que, para a sorte da inocência da morena e da sanidade dos outros dois, a voz do professor Fernando soou por todo o salão: — Alunos, já tiveram tempo suficiente para escolher. Aqueles que já decidiram, por favor, voltem para cá. Daremos um aviso importante para todos.
— Até que enfim. — Agatha foi a primeira a caminhar.
Os outros três a seguiram, mas Charlotte, ainda um pouco vermelha, questionou o Leonardo: — Ei, você chegou a ver a Júlia?
O garoto estava com as sobrancelhas cerradas, ainda tentando lidar com a resistência da bainha com o polegar. — Não. Eu não vi…
Charlotte tinha um olhar vago, sentindo a falta da amiga. Era uma das poucas vezes que as turmas se reuniam e ela não a encontrou. — Entendi. Também não vi ela.
Vendo o amigo se esforçar para desembainhar, a loira estendeu a mão. O pálido viu o gesto e entendeu, entregando a espada para a outra.
Chim! Sem muita dificuldade, a garota desembainhou com o polegar. — Pronto. E cuidado na hora de fazer isso, porque a lâmina pode cortar o seu dedão. Bem, se fosse uma katana de verdade. — Entregou a espada.
Leonardo piscou os olhos, desacreditado. — Você sabe usar uma katana?
— Um pouquinho. — O canto do lábio dela subiu de leve.
Não demorou muito para que chegassem na área onde os professores estavam. Os jovens ainda tentavam se organizar nas devidas posições.
— Bem, crianças, — começou Danilo — vocês já devem estar cansados de saber, mas a partir de agora tudo vai mudar. Suas disciplinas serão mudadas para um padrão de formação Venante. E gostaria que meus colegas explicassem suas funções aqui.
No momento que falou isso, Danilo cruzou os braços e Calcantino, agora com a máscara e capuz de volta, deu um passo para frente.
— Me chamo Roberto Galeal, e serei o professor de Desenvolvimento de Auct. Minha tarefa aqui é uma única: fazer vocês ampliarem os usos de seus Aucts para todas as situações e aproveitar a Fase Infantil para que tenham o melhor proveito de seu efeito.
Ao dizer isso, deu um passo para trás. A próxima foi Verbona. Seus dentes brancos estavam à mostra pelo sorriso.
— Lindinhos, sou Amara Tsafendas, a sua professora de Biologia de Anômalos. Acredito que viram a estufa enorme daqui, né? — Deu uma risada. — Bem, para vencer os inimigos, precisamos conhecê-los.
As mãos de Leonardo firmaram o aperto na lâmina. Até a Charlotte pareceu mais animada quando ouviu sobre isso.
Não seria a mesma coisa que antes. Os primeiranistas ainda não tiveram a chance de ver no laboratório um cadáver de Anomalia, apenas pedaços para estudar. No entanto, agora, teriam a chance de ver os Anômalos vivos e cultivados; tudo naquela estufa.
— Leander Kouneli Saito. — Conquistador não perdeu tempo e se apresentou com uma inclinada para frente. — Sou o professor de Ambiente Controlado. Diferente da mulher que acabou de falar…
— Mulher é a sua mãe! Olha o jeito que fala.
O Conquistador nem se virou e continuou: — Meu trabalho aqui é colocar vocês em perigo constante e sentirem como é ser um Venante na pele.
Muitos alunos ficaram receosos depois dessa apresentação “amigável”.
Fernando limpou a garganta, incomodado. — Enfim, alunos! As aulas dos três serão integradas após o período de inscrição dos clubes. Depois de saírem do salão, o Nelink de vocês será atualizado com a nova grade curricular.
Danilo falou por cima, visto que seu colega estava demorando para falar o importante: — Bom, tá na hora de falar do que interessa.
O professor caminhou para frente, encarando os alunos, um por um. A sua maior vontade era de falar verdades para esses jovens, mas, como professor, teria que apenas se calar e compartilhar o que lhe foi dado para falar.
— O colégio Marvente foi criado em prol da formação de Venantes, seja combatentes ou pesquisadores. Mas há algo que deve ser valorizado em qualquer lugar: a capacidade. O sistema de desafios é apenas uma parte do que realmente buscamos aqui.
A grande maioria dos alunos parecia confusa com a introdução, mas ainda se mantiveram quietos.
— No momento que saírem daqui com as suas armas em mãos, vocês farão parte de um Ranking. Venantes vivem em competição, para se destacar, para serem melhores, para serem reconhecidos… E aqui não será diferente.
— Que tipo de Ranking é esse e pra que serve, professor Danilo? — Um aluno estava com a mão levantada.
— O Ranking de Desafios do colégio Marvente define quem pode ou quem não pode fazer parte daqui, jovens. — A expressão séria de Danilo era de arrepiar todos ali. — Vocês são por volta de 200 alunos, mas os últimos 30 deverão ser retirados da Academia.
Leonardo apertou as sobrancelhas. Na verdade, o quarteto ali estava com um rosto mais preocupado.
— Porém, para quem ficar entre os 10 primeiros colocados do Ranking do Primeiro Ano, será dada recompensas especiais no final do ano letivo. E não apenas isso, mas para aqueles que se engajarem entre os desafios, a sua pontuação pode ser trocada por benefícios na infoteca ou aqui no salão de armamento. — Um sorriso apareceu no rosto do professor de educação física.
“Pontuação?” Leonardo pensou, mas logo alguém perguntou em voz alta para o professor.
— A pontuação, regras e outras coisas serão explicadas no aplicativo do colégio. E já digo que é bem interessante.
— Mas por que o colégio expulsa os alunos por algo assim?! — Uma menina questionou, claramente abalada.
Dessa vez, como um trovão, a voz de outro professor soou: — Para que aprendam a serem Venantes. Aprendam a valorizar as oportunidades para crescer. E aprendam que a vida é uma competição constante, principalmente a nossa. — Leander não poupou em seus comentários.
Danilo coçou a cabeça. Ele não queria jogar na cara dos jovens algo tão forte assim, mas foi feito por outro agora.
— Turma, sei que dói ouvir isso, mas vocês precisam se engajar para sair de onde estão. O colégio dá muitas facilidades que não existiam antes. Venantes da antiga não sabiam que tipos de perigos teriam que enfrentar, mas mesmo assim iam para as raides. Se quer ficar parado, deixando tudo vir facilmente para você, então essa é a hora de acordar e ver que um Venante não pode pensar assim.
Ele falou de coração dessa vez. Não gostava de ver aquelas crianças com medo de serem “descartadas” porque não se esforçaram. Havia casos onde todos se esforçavam, mas ainda teria que retirar os últimos.
Um gosto azedo estava na boca da maioria ali. Essa nova geração estava acostumada com o lazer conquistado pelos antecessores, então esse tipo de ação era quase um pesadelo para eles.
Leonardo olhou para os amigos. Agatha estava com sua velha face estoica, Charlotte apertava a saia com força e a Luca estava com a cabeça baixa.
— Isso é tudo. Se tiverem mais dúvidas, consultem o aplicativo do colégio e estejam muito bem preparados.
Todos aqueles alunos animados para escolher uma arma agora não passavam de jovens quietos e pensativos. O dia tão esperado se tornou em algo assim.
Nota:
Se você gostou do que leu em Venante e apoia a comunidade de Novels, principalmente os autores nacionais, estarei recomendando três obras aqui embaixo. Uma sendo a minha obra principal, a segunda sendo a do meu amigo e a terceira de uma amiga. (Os nomes estão linkados, basta clicar)
Destino Elementar é a minha, que envolve um Isekai focado na aventura e batalhas de um artista marcial reencarnado em uma criatura um tanto incomum. Recomendo para qualquer um que acabou de começar o mundo das novels.
O Druida Lendário é a obra do meu amigo Raphael, que foca no melhor jogador do Brasil em um jogo VR, o Daniel Dantas, que acabou por perder a sua conta por causa da corrupção da sua empresa (tinha que ser o Brasil mesmo) e agora busca subir ao topo novamente com um novo personagem.
A Filha do Senhor da Guerra é a obra do meu aprendiz, Eduardo Goétia. Trata-se basicamente de uma cavaleira que pereceu no campo de batalha e, anos depois, acabou renascendo no corpo do seu maior inimigo: O Senhor da guerra. Agora, ela buscará por vingança.
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