Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 11
⋅•⋅⊰∙∘☽༓☾∘∙⊱⋅•⋅
O sol se escondia atrás das nuvens, lançando uma penumbra sobre Cirgo. As ruas, antes cheias de vida e comércio, agora estavam desertas. O ar vibrava com tensão, como se a própria cidade segurasse a respiração.
Gorlak emergiu das profundezas da floresta mágica. Sua pele escamosa brilhava com um tom doentio, e seus olhos vermelhos pareciam perfurar a alma de qualquer um que ousasse encará-lo. Era uma criatura que desafiava a lógica, uma aberração que não deveria existir.
As lendas diziam que Gorlak era o resultado de um experimento malsucedido de um mago louco. Uma combinação de dragão, verme e algo mais sinistro. Ele se arrastava, deixando um rastro de destruição por onde passava.
Uma besta sem consciência que se alimentava de mana, o que a tornava um “predador” natural dos nascidos da magia. A larva gigante, com aproximadamente 45 metros de diâmetro, rastejava com pequenas pernas inutilizáveis. Seus olhos eram tão achatados em sua cabeça que pareciam inexistentes. Era uma aberração, algo sem sentido algum.
Os sinos da igreja tocaram, ecoando pelas ruas vazias. Os civis corriam, suas vozes misturadas em um coro de medo e confusão. O abrigo subterrâneo, projetado para tempos de guerra, agora era sua única esperança. As portas de madeira maciça se abriram, e as pessoas se amontoaram, olhos arregalados e corações acelerados, querendo entrar.
O aviso pra se esconderem foi muito súbito, sem uma explicação detalhada, todos foram deixados no escuro.
Sentil, com sua armadura reluzente, liderava o grupo de aventureiros. Ele olhou para trás, vendo os últimos moradores entrando no abrigo. Alguns não chegariam a tempo. Ele apertou o punho da espada, sentindo o peso da responsabilidade. Não podiam permitir que o Gorlak alcançasse a cidade.
– Não podemos matar o Gorlak, disse ele com firmeza, – Mas podemos atrasá-lo. Precisamos ganhar tempo para os civis.
Isso foi o que foi decidido, de fato, matar aquela criatura naquela situação, era quase impossível. Levando em conta os ataques de monstros passados, os soldados cansados e desgastados, sem um contato de reforço com outras alianças. Aquilo era uma batalha perdida. Mas, deixar o monstro longe dos civis, e talvez evitar muitos danos na cidade era algo possível de se fazer.
As mentes trabalharam em conjunto. Arqueiros posicionados nos telhados, prontos para atirar flechas flamejantes. Guerreiros com lanças e espadas, formando uma barreira na rua principal. Sentil sabia que era uma batalha desigual, mas eles não tinham escolha.
Higy, a maga do grupo, olhou para o Gorlak se aproximando. De cima dos muros da cidade, ela começou a conjurar um feitiço de longa distância, sua roupa de frio vermelha flamejante dançava ao vento enquanto ela levantava os braços.
Uma explosão enorme foi sentida e vista há quilômetros de distância, uma energia poderosa que afetou toda a área de Cirgo com um tremor, porém, Higy suspirou ao ver o resultado de seu ataque mais poderoso.
A pele dura do monstro resistia a qualquer encantamento.
Ela pegou uma adaga de prata, a lâmina brilhando à luz fraca.
– Armas normais -, murmurou – É o que temos.
O Gorlak rugiu, e a terra tremeu sob seus pés. Enquanto ele se movia rapidamente para os portões da cidade.
∘₊✧──────✧₊∘
Orion, o prodígio, trilhou um caminho de desafios e perdas. Seu pai, um renomado guerreiro, fundou a guilda onde Orion cresceu, nutrindo o desejo de seguir seus passos como líder. Contudo, a morte trágica do pai em uma expedição abalou a confiança de Orion. Aquele que ele admirava, cuja força parecia inquebrantável, foi brutalmente assassinado por um monstro em um dia qualquer, simples assim.
Aos 20 anos, ele assumiu a guilda mesmo com autoestima fragilizada, Orion liderou expedições bem-sucedidas, mas seu olhar se tornou sombrio ao contemplar a realeza. O povo o chamava de “prodígio”, e ele próprio aceitou essa alcunha com orgulho. Era como se o mundo reconhecesse sua grandeza, e ele se banhava na luz desse reconhecimento. Todos o admiravam quando ele era mais novo, ele aprendia tudo facilmente, era forte, claro que ele cresceu acreditando que seria uma estrela.
No entanto, a chegada dos filhos da realeza mudou tudo . A filha mais nova possuía um poder assustador, e o filho, um prodígio em ascensão, superava adultos com facilidade. Aquele fogo interior queimava em seus olhos, e Orion sentiu algo que ele não esperava: inveja. Uma inveja que corroía sua alma, fazendo-o questionar seu próprio valor.
Ele, que havia enfrentado monstros e desbravado terras desconhecidas, agora se via ofuscado por crianças. O brilho deles era mais intenso, suas habilidades superiores. E Orion? Ele se sentia como um astro que perdeu sua luz, eclipsado por esses jovens talentos. Uma menininha cega poderia destruir o reino inteiro? Mas que tipo de piada é essa?
A irritação crescia dentro dele, uma chama ardente que o consumia. Por que o mundo era tão injusto? Por que ele, o prodígio, agora se sentia diminuído? A resposta estava ali, naqueles dois monstros disfarçados de humanos. O narcisismo cedia espaço à amargura, e esse sentimento faz uma pessoa fazer coisas inimagináveis, cruéis, até mesmo desumanas. Ele queria ser a luz de novo, o centro, ocupar o posto que merece.
Orion afogava suas preocupações em um bar, tentando esquecer os fardos que pesavam sobre seus ombros. Foi então que um homem vestido de branco, de aparência envelhecida, surgiu à sua frente. A conversa entre eles se estendeu, abordando pontos de vista, crenças e sonhos, até que alcançou um tópico perigoso.
– Por que você só não toma deles? – perguntou o homem, sua voz carregada de mistério.
Orion franziu o cenho. “Toma deles?” O que aquele estranho queria dizer? O trono? Era absurdo. Ele não passava de um simples líder de guilda, e a realeza estava muito além de seu alcance.
– … O que?
– O trono, o reino, o futuro. Se você quer tanto, é só ir pegar. – O homem insistiu, sua expressão inabalável.
Orion riu, mas havia algo perturbador naquelas palavras. Claro que não era assim tão simples. Qualquer tentativa resultaria em sua morte imediata. Afinal, ele não passava de um peão no tabuleiro da vida.
– Tá falando sério? – Orion desafiou, desconfiado.
– Claro que sim. Você sabe, eu tenho meus objetivos, você tem os seus. Podemos nos ajudar. Digo, eu posso te ajudar, se você estiver disposto a fazer o que eu disser… – O homem sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos.
A conversa não terminou ali. Orion recusou inicialmente, mas algo o fez reconsiderar nos dias seguintes. O homem encapuzado parecia observá-lo, como se soubesse que Orion eventualmente aceitaria.
∘₊✧──────✧₊∘
Serena estava envolta em uma escuridão familiar, um manto silencioso que a acompanhava desde sempre. Porém, ela sentiu o ambiente ao seu redor mudar abruptamente. O frio, não estava tão frio como deveria estar. Seu corpo tremia incontrolavelmente, e o instinto de Rosa Gélida reagiu.
Orion, concentrado no painel da máquina, percebeu uma mudança no ar, como se o ambiente estivesse segurando a respiração. O visor marcava 67%, mas ele mal notava isso. Sua atenção foi arrebatada pela súbita queda de temperatura. Algo estava errado.
Serena, despertando de um sono forçado, abriu os olhos, mas o que via não fazia sentido. As formas e cores eram estranhas, distantes da familiaridade de seu quarto. Seu coração acelerou, e a confusão deu lugar ao pânico. Ela não estava onde deveria estar. As paredes do quarto, os móveis conhecidos, tudo havia desaparecido. Em seu lugar, havia um ambiente diferente, ainda frio, porém mais quente que o normal, um cenário ameaçador que seu poder reconheceu instantaneamente.
Sem sua vontade, Rosa Gélida entrou em ação. Orion mal teve tempo de reagir quando lanças de gelo surgiram no ar, brilhando com um brilho mortal. Ele saltou para trás, escapando por pouco de ser perfurado, mas não completamente ileso. Cortes finos se abriram em sua pele, e ele sentiu o sangue quente escorrer, contrastando com o frio penetrante ao seu redor.
Serena caiu de joelhos, sua mente ainda desorientada, o corpo enfraquecido pela brusca mudança de temperatura. A dor em seu peito era esmagadora, como se algo estivesse quebrando dentro dela. Tossiu, tentando recuperar o fôlego, enquanto Rosa Gélida continuava a protegê-la, mesmo que ela mesma estivesse indefesa.
Orion, percebendo o perigo que sua presa representava, agiu rápido. Ele mirou cuidadosamente, o dedo pressionando o gatilho de uma arma com tranquilizante. A agulha foi lançada, cortando o ar na direção de Serena.
Mas Rosa Gélida não permitiu que a ameaça se aproximasse. Um escudo de gelo irrompeu do chão, bloqueando o projétil. A agulha congelou instantaneamente, estilhaçando-se ao tocar o chão. Orion recuou, sentindo a situação escapar de suas mãos. Serena estava longe de ser uma vítima indefesa, e a força que a protegia era um adversário que ele não sabia como conter.
Orion mal teve tempo de respirar antes que um tentáculo de gelo disparasse em sua direção, mirando diretamente sua cabeça. O ataque era veloz, implacável, e por um momento ele pensou que seria seu fim. Porém, a poucos milímetros de seu rosto, o tentáculo se desfez em uma explosão de cristais gelados. O ar estava saturado com o poder de Serena, mas algo estava errado. As lanças de gelo que vinham em sua direção estavam mais lentas, menos afiadas. A máquina havia drenado uma boa parte da força dela, enfraquecendo o ataque.
Mesmo assim, Orion sentiu um frio profundo subir pela espinha. Se não fosse por aquela fração de segundo em que o gelo se desfez, ele estaria morto. Ele não podia deixar de ficar em choque. Mesmo drenada, Serena ainda tinha o poder de matá-lo com facilidade. A realidade da situação pesava sobre ele, mas o silêncio súbito foi ainda mais perturbador.
Foi quando ele ouviu. Passos, firmes e decididos, ecoando por trás da pesada porta de metal. Serena também havia percebido. Orion se virou, seus olhos fixos na entrada. Um som surdo, seguido por uma explosão, sacudiu o ambiente. A porta de metal foi arrancada de suas dobradiças e caiu no chão com um estrondo, envolta em uma cortina de fumaça.
Do meio da fumaça, surgiu uma figura. Um garoto de aparência jovem, vestindo roupas de frio azuis. Seus cabelos pretos se destacavam, e seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade que não combinava com sua idade. Ele parecia visivelmente aborrecido, acenando para dissipar a fumaça de seu rosto.
– O mestre da guilda… E… Essa menina…
Ao ver Serena, o olhar dele se estreitou, como se reconhecesse algo familiar. A realização veio rápida. Aquela menina era Serena, a garota desaparecida. Não havia dúvida.
Orion, porém, não conseguiu conter uma risada amarga e nervosa. Sua expressão, que até então mostrava uma calma forçada, começou a trair a inquietação dentro dele. Dando um salto para trás, ele encarou o garoto com desdém.
– Como você achou esse lugar? Você não deveria estar aqui.
Victor, agora claramente em frente a ele, cruzou os braços, os olhos brilhando com uma irritação fria.
– Já estou aqui faz um tempo. Mas estou impressionado – disse ele, com sarcasmo na voz. – Então você sequestrou aquela criança? Não tem vergonha de si mesmo?
Orion engoliu em seco, mantendo o rosto impassível, mas por dentro sua mente estava em pânico. *Que droga! Merda! Maldito 5º… Por que diabos não me avisou que tinha um invasor aqui?!*
Aquele descuido era inaceitável. O 5º, que deveria ter avisado sobre qualquer intruso, havia falhado. Isso deixava Orion vulnerável. Ele sabia que a situação estava fora de controle, e agora com Victor no local, o risco era ainda maior. Por fora, ele tentava parecer confiante, mas o nervosismo era palpável, crescendo dentro dele como uma ameaça iminente que ele não conseguia mais ignorar.
Orion sentiu o suor frio escorrer pela nuca. Ele conhecia Victor, claro. O garoto que derrotou Dragan, um Classe B, com uma facilidade que ninguém esperava. Um novato que parecia ser uma ameaça. Mas, olhando para ele agora, Orion não conseguia ver nada além de uma criança.
*Ele é só um garoto…* Pensou Orion, tentando se convencer. *Dragan era forte, mas impetuoso. Deve ter sido por isso que perdeu. Esse moleque… não pode ser tudo isso.*
Orion apertou o punho ao redor da adaga que tinha escondida. Seus olhos seguiam cada movimento de Victor, procurando alguma abertura. *Vou acabar com isso rápido. Uma distração simples e ele nem vai saber o que o atingiu.* A confiança crescia em seu peito à medida que sua mente formulava o plano. Ele lançaria a adaga direto no ponto cego de Victor e, como a máquina drenou a maior parte do poder de Serena, ele teria tempo para acabar com os dois antes que qualquer coisa escapasse de controle.
Com um movimento rápido, quase imperceptível, Orion lançou a adaga. Ela cortou o ar em direção ao peito de Victor. Por um breve segundo, ele teve certeza de que havia acertado. O metal brilhou com o reflexo da luz, e sua expectativa se confirmou. *É isso. Um golpe certeiro.*
Mas então… silêncio. Victor não se mexeu. Não gritou. Não caiu. Nada.
Antes que Orion pudesse processar o que estava errado, uma voz suave e firme quebrou o momento, ecoando atrás dele.
– Tá tudo bem?
Orion congelou. O som vinha de suas costas. Ele não ousou se virar imediatamente, o terror subindo como uma onda incontrolável. *Como… Como ele…?* O suor frio agora escorria por todo o seu corpo. Ele não tinha visto Victor se mover. Não havia sentido sua presença se deslocar.
Virando-se lentamente, seu coração martelando no peito, Orion viu Victor parado ali, tranquilo, com as mãos nos bolsos, como se nada tivesse acontecido. O olhar do garoto não era de desafio, mas de curiosidade – quase como se ele estivesse mais preocupado com Serena do que com o próprio Orion.
– Ei – repetiu Victor, com a mesma calma. – Você tá bem?
Orion não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ele havia subestimado completamente o garoto, e agora estava cara a cara com alguém que nem sequer parecia se esforçar para superá-lo. O controle que ele achava ter sobre a situação havia se desintegrado em questão de segundos.
Dentro dele, algo começou a ferver. *Ele é só um garoto!* Orion pensava, tentando recuperar a compostura. *Um Metamorfo… claro, são poderosos, mas ele é jovem demais para ser tão forte assim! Deve haver um truque…*
A inveja corroía seu orgulho, e a visão de Serena – uma menina que, aos seus olhos, havia nascido com uma força descomunal – o consumia. Ele sempre lutou, se esforçou, sacrificou-se. E agora, ali estava Victor, outro prodígio que não precisava se esforçar para ser mais forte que ele. *Serena… Victor… por que eles têm tudo sem lutar por isso?* A raiva crescia, alimentada por sua frustração.
Enquanto sua mente fervilhava, Victor ignorava completamente sua existência. O garoto simplesmente se agachou na frente de Serena, colocando uma mão delicadamente em seu ombro. O gelo de Rosa Gélida, que deveria atacá-lo, não reagiu. Era como se ele nem estivesse ali.
– Serena… você está bem? – A voz de Victor era suave, repleta de uma preocupação genuína, algo que Orion não conseguia entender naquele momento de ódio.
Orion apertou os punhos, tremendo de raiva. Ele havia sido completamente ignorado, como se não fosse uma ameaça. *Eu sou o mestre aqui! Eu controlei a situação até agora…! Como ele ousa me ignorar assim?*
O orgulho ferido o consumia. O suor frio continuava a escorrer por sua pele, e sua mente gritava em pânico, mesmo que seu exterior tentasse manter uma máscara de calma. Ele queria esmagar Victor, provar que era mais forte, que ainda estava no controle. Mas naquele momento, diante da indiferença de Victor, ele percebeu que, por mais que tentasse, não era mais o caçador naquela sala.
Serena não conseguia enxergar. Sua cegueira era uma barreira permanente, mas ainda assim, ela sentia. O toque de Victor, a maneira gentil com que ele a segurava, não transmitia ameaça. Ele estava ali para protegê-la, e seu coração, ainda abalado, encontrou um resquício de paz.
– Sim… obrigada… – ela respondeu, com uma voz fraca, lutando contra o cansaço que a drenava.
Orion, observando a cena, sentiu sua raiva atingir o limite. O ódio crescia em seu peito como uma chama incontrolável. *Eles me ignoram…* Ele apertou os dentes. Victor estava demonstrando uma força e calma que apenas amplificavam a frustração de Orion. Sem pensar duas vezes, ele invocou sua espada, que surgiu em um brilho vívido em sua mão, e avançou com um ataque mortal, mirando os dois.
Mas Victor… ele parecia já saber o que viria. Com um único movimento suave, quase despreocupado, ele levantou a mão. Orion viu a lâmina de sua espada ser repelida com uma leveza absurda. Victor havia desviado o ataque com apenas as costas da mão, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Orion mal acreditava no que estava vendo. *Impossível! Isso… isso não é uma força normal!* O peso da espada, a velocidade, tudo havia sido desprezado por Victor como se fosse uma folha de papel. O choque percorreu o corpo de Orion. Não era só força bruta – havia algo mais em Victor. Uma habilidade anormal, algo que o colocava além de qualquer um que Orion já havia enfrentado.
Sem perder tempo, Victor, com uma delicadeza surpreendente, levantou Serena nos braços e a colocou cuidadosamente em um canto seguro da sala. Seus movimentos eram rápidos, precisos, mas cheios de cuidado. Era como se, naquele momento, Serena fosse a prioridade máxima dele. E ela era.
– Fique aqui, Serena – Victor disse em um tom suave, a protegendo como se fosse a coisa mais natural a fazer.
Assim que ele a colocou no chão, Victor se virou, se posicionando entre ela e Orion, seus olhos dourados agora fixos no inimigo. Ele não se preocupava com as ameaças de Orion. Ele estava ali para garantir que Serena estivesse segura, e isso significava que Orion não teria outra oportunidade.
O rosto de Victor não mostrava agressividade, mas algo mais forte: uma determinação inabalável. Por dentro, ele podia sentir a tensão crescendo, o nervosismo apertando seu peito. Mas, do lado de fora, ele era inquebrável. Mesmo com sua mente agitada, ele sabia que não poderia falhar. Não agora.
Orion, suando frio, sentiu uma onda de incerteza. Ele sempre acreditara que a força física era sua maior arma. Mas agora, diante de Victor, que havia repelido seu ataque sem esforço, percebeu que estava diante de algo além de sua capacidade.
*Eu… eu não consigo nem acompanhar seus movimentos…* O pensamento o corroía. A velocidade de Victor, sua percepção, tudo era rápido demais. Ele era como uma sombra, impossível de rastrear. E, no fundo, Orion sabia: o garoto estava lutando por alguém. E essa era a força que o fazia parecer inatingível.
Orion avançou, sua espada brilhando em tons de escuridão profunda, sua habilidade 『Sombras do Imperador』 fluindo pelo ar como uma extensão de sua própria raiva. O metal da lâmina parecia vibrar com um poder maligno, como se as sombras pudessem rasgar a realidade ao seu redor. Ele não estava lutando apenas para vencer – ele estava lutando para esmagar Victor, para provar que sua força não era inferior.
Cada golpe que Orion desferia era feroz e preciso, as sombras saltando da lâmina e se lançando em Victor como feras famintas. Victor, por sua vez, não parecia intimidado. Ele se movia com uma calma desconcertante, como se estivesse dançando entre os ataques. *Como ele sabe onde vou atacar?* pensou Orion, sua mente agitada. Cada movimento de Victor era fluido, quase como se previsse os ataques antes mesmo de Orion os fazer.
Victor usava sua habilidade [Manipulação de Gelo] para se defender, erguendo barreiras e lâminas congeladas para repelir as sombras de Orion. O som do gelo se estilhaçando e as sombras cortando o ar ecoava pela sala, criando um ritmo caótico que apenas intensificava a luta. Mesmo enquanto esquivava e bloqueava, Victor contra-atacava com chutes baixos, visando as pernas de Orion, tentando desestabilizá-lo.
No entanto, Orion não era um humano comum. Cada chute que Victor desferia encontrava um adversário que, apesar da dor, conseguia manter o equilíbrio. *Ele está… contido,* pensou Orion, sentindo uma pontada de fúria. *Por que ele não me ataca de verdade?* Era óbvio para ele que Victor tinha poder suficiente para acabar com a luta a qualquer momento, mas o garoto hesitava. Ele estava preocupado com Serena, sempre mantendo um olho em sua posição, cuidadoso para que nenhum dos ataques de Orion a atingisse.
Isso irritava Orion profundamente. Ele, o Mestre, estava sendo tratado como uma ameaça secundária, um obstáculo. *Ele acha que pode me subestimar só porque tem uma criança para proteger?* Sua mente fervilhava de ódio. Orion decidiu que precisava mudar a dinâmica.
Com um grito de fúria, ele ativou sua habilidade [Caixão de Trevas]. As sombras ao redor de sua espada se espalharam como um manto, envolvendo Victor em um redemoinho de escuridão. O poder da habilidade criou um caixão mágico, pronto para aprisionar e sufocar Victor dentro dele. As sombras se fecharam rapidamente ao redor do garoto, ameaçando selá-lo em uma prisão de trevas.
Por um breve momento, Orion sentiu o gosto da vitória. *Agora eu o peguei…* pensou, vendo as sombras quase fecharem ao redor de Victor.
Mas em um piscar de olhos, Victor desapareceu. Ele escapou do caixão com uma velocidade que deixou Orion boquiaberto. *Como ele…?* A pergunta mal se formou em sua mente antes de ser respondida de maneira brutal.
Victor reapareceu diante de Orion, rápido demais para ser seguido. Seu punho colidiu diretamente com a barriga de Orion, com uma força esmagadora. Orion não teve nem tempo de reagir. O impacto o desmontou. O ar foi arrancado de seus pulmões, e uma dor lancinante percorreu seu corpo. O golpe o lançou para longe, como se ele fosse nada mais do que uma marionete de papel, incapaz de resistir à força devastadora.
Seu corpo voou pela sala, colidindo contra a parede com um estrondo surdo. Orion sentiu sua visão escurecer por um momento, e a dor intensa o paralisou. Sua habilidade, antes imponente, se desfez no instante em que foi atingido. As sombras que antes o envolviam desapareceram como fumaça, deixando-o vulnerável e indefeso.
*Como… como ele é tão forte?* O pensamento repetia-se em sua mente como um mantra desesperado. Não era só a força física — era como se Victor soubesse exatamente onde e como atacar, como se pudesse prever cada movimento que Orion faria. *Ele não é uma criança… é uma criatura…* Uma criatura com percepção aguçada, que parecia saber de tudo ao seu redor. Era como se Victor estivesse lutando em um nível que Orion sequer conseguia compreender.
E, por mais que o ódio ainda queimasse dentro de Orion, agora ele sabia: ele estava diante de algo muito maior do que havia imaginado.
∘₊✧──────✧₊∘
— Aqui. Pegue isso. — A voz calma e fria do homem encapuzado ecoou na sala escura. Seu manto branco esvoaçava levemente, quase reluzindo à luz fraca. Ele era conhecido apenas como o 5º, uma figura misteriosa e envolta em segredos, sempre com uma postura rígida e inabalável.
Orion olhou para ele com desconfiança, estendendo a mão hesitante. Quando o objeto foi colocado em sua palma, ele sentiu o peso do frasco de vidro. Dentro, um cristal vermelho pulsava suavemente, como se estivesse vivo, irradiando uma energia estranha e perturbadora. O cristal parecia tão inofensivo, mas ao mesmo tempo, carregava uma promessa de poder que o deixou desconfortável.
— O que é isso? — Orion perguntou, sua voz carregada de curiosidade e cautela. Ele não confiava completamente no 5º, mas sabia que aquele homem não lhe entregaria algo sem propósito.
O encapuzado permaneceu em silêncio por um momento, os olhos escondidos sob a sombra de seu capuz. Então, com a mesma tranquilidade, ele respondeu:
— É um fragmento de monstro. Um cristal extraído de uma criatura antiga e poderosa. Se, em algum momento, você se encontrar diante de algo que acredita ser incapaz de derrotar, coma esse cristal. Ele irá despertar seu poder mais “monstruoso”. — A última palavra foi dita com uma ênfase especial, como se tivesse um significado mais profundo.
Orion franziu a testa, examinando o cristal. O brilho vermelho continuava a pulsar, e ele sentiu um leve arrepio subir por sua espinha. *Poder mais monstruoso?* A ideia não o agradava. Ele sempre se orgulhara de sua força, de sua habilidade em manipular sombras e em comandar sua guilda. Por que ele precisaria de algo assim?
— E quais são os efeitos colaterais? — perguntou, tentando esconder a apreensão em sua voz.
O 5º deixou um pequeno sorriso curvar seus lábios, como se esperasse a pergunta.
— Não há como saber com exatidão até que você o use. Mas posso garantir que seu corpo será transformado, temporariamente. Você vai se tornar mais forte, mais rápido, mas também… menos humano. O que, acredito, não será um problema para alguém como você.
A resposta não trouxe conforto para Orion, mas o pensamento de ser derrotado por alguém, ou algo, o irritava mais do que o risco. Ele sempre foi orgulhoso de sua força e posição, e a ideia de falhar era insuportável.
— Eu não planejo perder. — Ele apertou o frasco na mão. *Isso é apenas uma garantia… uma última alternativa,* pensou.
— É claro que não. — O 5º deu um passo para trás, sua voz gélida e calculista. — Mas lembre-se, Orion… Há sempre algo maior, algo mais perigoso. O cristal apenas vai revelar o que já está dentro de você. Use-o sabiamente.
Orion observou o encapuzado desaparecer na escuridão da sala, deixando apenas o brilho fraco do cristal como um lembrete de sua presença. Ele colocou o frasco em um bolso interno de sua capa. *Eu nunca precisarei disso,* ele pensou na época.
∘₊✧──────✧₊∘
Agora, de volta ao presente, Orion sentia o peso daquele frasco como uma promessa não cumprida, uma escolha que ele nunca quis fazer… até agora. O rosto calmo de Victor, a maneira como ele o ignorava, a superioridade esmagadora que ele demonstrava sem esforço… tudo o levava para aquela única escolha.
Orion abriu o frasco com mãos trêmulas, o olhar fixo no cristal vermelho pulsante como se sua vida dependesse dele — e, naquele momento, dependia. Sem hesitar, ele engoliu o cristal. Um frio cortante percorreu seu corpo, seguido por uma onda de calor abrasador que fez cada músculo dele se contrair violentamente. Seu grito de dor ecoou pela sala, um som profundo, quase inumano, enquanto uma aura densa e sombria começava a envolver seu corpo.
Victor observava em alerta, imediatamente adotando uma postura defensiva, instintivamente colocando-se entre Serena e a transformação horrenda que se desenrolava diante de seus olhos. As paredes da caverna estremeciam com o poder crescente de Orion, rachaduras se espalhando pelo chão e teto, como se o próprio local estivesse reagindo ao despertar daquela força descomunal. Destroços começaram a desabar, poeira e rochas preenchendo o ar com uma fumaça densa.
*O que é isso…?* Victor pensou, estreitando os olhos. O poder de Orion agora era avassalador, diferente de qualquer coisa que ele já havia sentido. O ar ficou pesado, como se o ambiente fosse sufocado pela aura de pura malevolência que emanava do homem. Victor apertou os punhos, mantendo a calma, mesmo com o crescente perigo. *Ele realmente vai tão longe… por orgulho?*
Orion gritou novamente, mas dessa vez não era apenas dor — era um rugido primal, bestial. Sua forma começou a mudar diante dos olhos de Victor. Músculos inchavam grotescamente, se esticando e distorcendo sua pele até que ele se transformou em algo muito além de humano. Seu corpo cresceu, agora três vezes maior, com músculos enormes e veias pulsantes, e sua pele ganhou uma coloração escura, quase negra, com garras afiadas nas mãos e pés. Seus olhos brilhavam com um verde venenoso, cheios de ganância e inveja, traços de emoções tão profundamente enraizadas que pareciam moldar sua nova forma.
A aparência monstruosa de Orion era a personificação de seus sentimentos mais obscuros: a inveja por Serena, a raiva de Victor, e o desejo desesperado de ser mais forte. Seu rosto, agora uma máscara distorcida de ódio, lembrava a de um animal predador, com dentes afiados expostos em um sorriso de pura malevolência. O ar ao redor dele parecia tremer, e sua aura escura, quase palpável, se espalhava como uma sombra viva, sufocante.
Victor manteve sua posição, sua expressão impassível, mas por dentro, ele sentia a pressão daquele poder avassalador. Era como enfrentar um animal enjaulado, cuja única motivação era destruir tudo à sua frente. Mas, mesmo assim, Victor não demonstrava medo.
— Então… é assim que você quer jogar, hein? — murmurou Victor, sua voz baixa, mas firme. Seus olhos dourados estavam focados, calculando. *Ele ficou maior e mais forte, mas… será que ele consegue controlar esse poder?*
A monstruosidade que Orion havia se tornado ainda mantinha um resquício de sua consciência original, embora distorcida e corrompida pela ganância e inveja. Sua voz, agora grotesca e ecoando com um tom distorcido, escapava de seus lábios em frases desconexas, mas cheias de ódio.
— Eu… sou o mais forte… — ele rugiu, a saliva escorrendo de sua boca deformada. — Vou matar você… e ela… ambos… não são nada diante de mim!
Victor observava com uma frieza calculada. Ele não respondia. Sabia que qualquer palavra só alimentaria a fúria de Orion. Ele apenas aguardava, sua mente sempre um passo à frente, buscando uma maneira de proteger Serena enquanto enfrentava o monstro à sua frente.
De repente, Orion avançou, suas garras rasgando o ar com um poder brutal. Cada movimento seu era acompanhado de uma pressão devastadora, como se o próprio ambiente estivesse sendo dilacerado junto com seu ataque. Victor viu as garras descerem com uma força descomunal, e no momento em que elas cortaram o chão, o impacto foi devastador. Um som ensurdecedor ecoou pela caverna, e uma fenda gigantesca se abriu no solo, estendendo-se até o lado de fora da montanha.
O golpe foi tão poderoso que não apenas abriu a caverna, mas continuou a cortar o horizonte lá fora, dividindo o terreno em uma linha reta por centenas de metros. O céu parecia se partir ao meio enquanto a força do ataque de Orion deixava uma cicatriz profunda no mundo ao redor.
*Esse poder… ele realmente se tornou um monstro…* pensou Victor, surpreso pela magnitude do golpe.
Mas não havia tempo para hesitação. Victor percebeu que Serena ainda estava vulnerável, no caminho de mais um ataque devastador que estava prestes a ser lançado. Ele não podia deixá-la ali. Em um movimento instantâneo, Victor agarrou Serena, carregando-a em seus braços com uma velocidade quase impossível de acompanhar. Ele a levou para um canto mais seguro, longe do caminho dos ataques de Orion.
— Vai ficar tudo bem, não se preocupe — ele murmurou para Serena, a colocando suavemente no chão, sua expressão firme mas protetora.
Serena, mesmo sem enxergar, sentia a segurança que Victor emanava. Ela sabia que ele estava ali para protegê-la, e mesmo com a situação tão caótica, ela se permitiu confiar nele.
Victor então voltou sua atenção para Orion, que ria de forma descontrolada, seu corpo gigantesco avançando novamente, cada passo esmagando o chão com a força de um pequeno terremoto.
— EU SOU O MAIS FORTE! — rugiu Orion, suas palavras mais selvagens e bestiais a cada segundo. — VOU DESTROÇAR VOCÊS!
Victor suspirou, ajeitando-se na frente de Serena, e assumiu uma postura de combate.
— É isso, é?
*Bom, acho que tô um pouquinho, só um pouquinho, com um sério problema…* Ele pensou, em contraste com sua atitude de fora.
∘₊✧──────✧₊∘
Nome: Orion
Espécie: Humano (Despertado Monstruoso)
Classe: Guerreiro das Sombras
Habilidade Única: 『Sombras do Imperador』= [Caixão de Trevas] + [Manipulação de Energia]
Sombras do Imperador: Cria e manipula sombras imbuídas com poder destrutivo.
Caixão de Trevas: Prende inimigos em uma prisão de energia sombria.
Habilidades pós despertar:
Forma Monstruosa: Ao consumir o cristal de monstro, Orion se transforma em uma versão mais forte e bestial de si mesmo, amplificando drasticamente sua força e resistência.
Habilidade extra: [Aura da Ganância]:
Aura da Ganância: Uma energia destrutiva e opressiva que distorce o ambiente e aumenta seu poder de ataque quanto mais inveja e ódio Orion sente por alguém.
Poder Físico: ★★★★☆
Velocidade: ★★★★☆
Defesa: ★★★☆☆
Percepção: ★★☆☆☆
Inteligência: ★★☆☆☆
Habilidade com Armas: ★★★★☆
⋅•⋅⊰∙∘☽༓☾∘∙⊱⋅•⋅