A Voz das Estrelas - Capítulo 22
No próprio quarto, Norman não moveu um músculo ao encontrar sua mãe, que deveria estar morta há uma semana.
Os olhares se cruzaram, porém, nenhuma palavra foi proferida entre os dois.
O incômodo silêncio durou até a mulher, de semblante dúbio, exalar um suspiro:
— Você está bem? Que carinha é essa? — A pergunta direcionada ao garoto foi respondida pela brisa que vinha da janela.
O Marcado de Altair encontrava-se completamente travado.
A garganta fechada o incapacitava de enunciar qualquer resposta.
Dominado pela ansiedade, sentiu uma gota de suor escorrer na lateral do rosto até o queixo, de onde pingou sobre o solo de madeira.
A adulta abriu um fraco sorriso, ainda que perante a indecisão contrária.
Caminhou a passos lentos até o jovem que, num movimento de reflexo, levantou a mão destra na tentativa de afastá-la.
No entanto a figura de Samantha Miller o ultrapassou, como se fosse um espectro.
Assustado com a repentina experiência, Norman girou o corpo e encarou seu próprio eu, mais novom sobre a cama, ainda com dificuldades para abrir os olhos depois de ser despertado.
Incapaz de processar os pensamentos deturpados, estremeceu diante da cena que indicava seu passado.
Aos poucos começou a lembrar daquele dia em específico, onde sua mãe o acordou após muitas tentativas falhas, no intuito de levá-lo à escola.
A maneira que ela acariciava os cachos menores da criança lhe trouxe um calor indescritível, o qual não lembrava de sentir há tempo.
O sorriso de felicidade no rosto da mulher mostrava o tom da relação mãe-filho.
E não era diferente para o pequeno Norman, pois esse deixava ser afagado conforme projetava um tênue sorriso de satisfação.
Encontrar aquela imagem deixou o Marcado de Altair em choque por alguns segundos.
— Por que… eu ‘tô vendo isso?…
Quando voltou a piscar as vistas decaídas, tudo desapareceu de súbito.
Assustado pela repentina mudança, girou o corpo à procura de novos cenários. Só foi capaz de encontrar o vazio…
— Onde eu ‘tô? O que diabos é isso!? — Seus gritos ecoaram pelo ambiente esbranquiçado, incapazes de alcançarem alguém.
— Finalmente pude falar com você…
Uma voz fria atravessou o espaço e atingiu o garoto, enfim lhe direcionando a algum lugar.
A simples olhadela de canto pôde encontrar a figura responsável por enunciar tais palavras.
Era uma garotinha, seu cabelo curto quase não alcançava os ombros…
— Você…
Ele enfim a reconheceu pelo aspecto físico mais chamativo — os olhos de diferentes cores.
Aquela que portava a heterocromia tratava-se da própria Marcada de Gacrux, Karen, uma das três pequenas trajadas nos hábitos religiosos que havia encontrado no início da incursão.
O sorriso tênue em sua face pálida revelava certa tensão em contatá-lo por meio daquele âmbito.
Por meio de um aceno silencioso, diversas gravuras contornadas por correntes de aço surgiram à frente dos olhos.
O jovem nem precisou pensar muito a fim de reconhecer a natureza delas…
— Por que isso…?
Ele engoliu em seco o restante do questionamento.
As sobrancelhas contraídas denotavam tanto desconforto quanto o tom de voz atordoado.
— E-então… — As vistas de Karen varreram os arredores, à procura das palavras corretas. — Quando nos encontramos pela primeira vez… senti que você não era malvado…
— Hã? — A encarou, desorientado.
— D-desculpa… eu não sou boa de falar com os outros… como as irmãs. — Ainda tensa pelo encontro solitário, a criança tocou os dedos das mãos de forma repetitiva. — E-eu só queria… sabe… ajudar uma pessoa que… parecia sofrer.
A justificativa gaguejada pela menina fez o cacheado abrir a boca sem exprimir qualquer palavra.
Quando se deu conta, o cenário vazio foi substituído por mais um ambiente repleto de detalhes.
Tratava-se de um pequeno parque nas proximidades da casa onde morava.
Lá, o pequeno garoto se divertia com sua mãe e pai nos brinquedos infantis.
Havia cestas com lanches preparados acima de um lençol xadrez forrado pela grama baixa, indicando a montagem de um piquenique em família.
— O outro queria coisas ruins… então só deixei ele se perder… nas memórias… — Conforme escutava os murmúrios da companhia, Norman não despregava a atenção do episódio recordado. — Você não… Por isso quis acompanhar, mas… não posso ficar muito tempo.
— Esse é o seu Áster?
Em vista ao sorriso do seu eu do passado, ele estreitou as vistas enquanto uma dor crescia em seu peito.
Seu eu mais novo brincava, feliz. Ia com Samantha em todos os passatempos disponíveis na área verde e em seguida comia os sanduíches feitos com ela.
Quando o entardecer chegava, tomando o céu numa tonalidade alaranjada, o cansaço o fazia adormecer em cima do pano.
Conforme respirava boquiaberto, tinha os cachos acariciados pela mulher, de joelhos logo ao lado.
Seus fios de cabelo meneavam com a ação da brisa, trazendo consigo as primeiras estrelas a cintilarem sob a noite.
— Eu e a irmã Judith e a irmã Sarah ganhamos esses poderes quando nosso orfanato pegou fogo. — À resposta da menina, reagiu conformado.
Evitou a retruca, em prol de se inteirar na sequência de cenas. Ao executar uma nova piscada, a paisagem foi modificada.
Mãe e filho caminhavam de mãos dadas pela calçada livre.
Norman saltitava a cada passo avançado, à medida que a protetora cantarolava sorridente.
Por estar na posse de uma pequena mochila nas costas, entendeu sobre qual momento aquela recordação se tratava.
“O primeiro dia na escola nova…”, não deixava de observar com as vistas entrefechadas, acompanhado pela taciturnidade adotada por Karen.
Mais uma piscada os levou a outro ambiente.
Dessa vez, deitado em sua cama, a criança sonolenta encarava Samantha com um livro aberto nas mãos.
Ela lia para que seu filho pudesse dormir, sem deixar de levantar os cantos dos lábios róseos num sorriso benévolo.
E quando ele enfim pegava no sono, se aproximava, levantava sua franja cacheada e lhe dava um beijo de boa noite na testa.
A seguir, sua declaração soou inaudível ao espectador, congelado na mesma posição.
— Você… passou por isso… também, né?
O complemento provindo da menina soou distante da pauta inicial, visto que o recinto foi modificado novamente.
Deitada em sua cama, a mulher segurava um bebê, acompanhada do pré-adolescente que os fitava boquiaberto.
— Esse é seu irmãozinho, Norman… — A voz da mulher trouxe um nó na garganta do espectador. — Agora você tem uma pessoa para cuidar e proteger.
Perante a expressão congelada do menino, Norman não pôde fazer outra coisa senão abaixar a face.
— Eu fui um péssimo filho. — A voz dele chamou a atenção da menina ao lado. — Quando Samuel nasceu, pra mim, era como se eu estivesse sendo trocado. Toda a atenção que eu recebia, os afagos, os mimos… tudo passou a ser só pra ele.
Conforme as cores do cenário se tornavam um desbotado monocromático, a passagem dos acontecimentos ficava cada vez mais deturpada.
O sorridente filho mais velho, agora, observava a felicidade de seus pais com o novo integrante da família através de um semblante fechado.
— Eu tive muita inveja. Não conseguia aceitar… Em minha cabeça, era tudo culpa dele.
Levou uma das mãos a apertar o peito, cada vez mais dolorido.
Deitado em sua cama, o jovem se prendia aos fones de ouvido no volume máximo, de olho numa revista em quadrinhos.
Em paz no local iluminado pelo sol que vinha da janela aberta, sentiu ser cutucado na altura do ombro incontáveis vezes.
Ao se virar e enxergar o caçula com uma bola de basquete em mãos, sorrindo de orelha a orelha, pausou a música e fechou a revista.
Com cara de poucos amigos, tirou um dos fones e encarou Samuel.
— Vamos brincar juntos, maninho!
Ele só precisava aceitar.
Não importava o que estava fazendo, pois na realidade, não fazia nada além de matar o tempo com coisas fúteis, isolado em seu quarto.
O observador, agora marcado, seguia aquela linha de pensamento mesmo ao saber a resposta de seu eu revisitado, fechando as vistas recheadas de desalento.
— Vai brincar sozinho. Ou chama os pais pra isso. Você é o favorito deles, né? — Voltou a colocar o fone e reabriu a revista onde havia parado.
“Seu babaca…”, engoliu em seco conforme era tomado por um arrepio indescritível pelo corpo.
Envolvido pela sequência de alterações velozes, avançando num tempo em que não poderia interferir, ele alcançou… a perspectiva que jamais desejaria lembrar.
As chamas iluminavam a escuridão da mata. O céu estrelado parecia ganhar vida ao observar aquela que foi a Provação dele.
Pouco a pouco as memórias quebravam as correntes do aprisionamento sem permiti-lo impedir.
Tamanho era o poder de Invasão da pequena freira.
— Por medo de lembrar, eu acabei prendendo as memórias… Não queria enfrentar isso tudo de novo. — Franziu o cenho com pesar. — Você disse que eu não sou ruim, mas… isso ‘tá longe de ser verdade.
Fechou os punhos, a ponto de enfiar as unhas nas palmas. A vergonha passou a lhe tomar a sanidade.
Os lábios encontravam-se tão trêmulos quanto os globos de íris esverdeadas, temperados pelo alaranjado das chamas poderosas.
— Desde sempre eu fui um egoísta detestável. Só pensava em nada mais do que eu mesmo, desprezava os outros, ficava preso em casa achando que tudo viria até mim. — Fez uma breve pausa para respirar fundo. — No fim das contas… nem tive coragem pra me despedir…
— Isso é… triste…
Perante o silêncio que procedeu a resposta fraca de Karen, as lembranças dolorosas do Marcado de Altair tomaram um caminho contrário ao habitual.
O retorno mostrava os momentos antecedentes à tragédia, ao menos a partir de onde de fato se recordava.
Nela, a razão das piores agonias repetiu-se em alto e bom som…
— Fale comigo, meu filho. — Expressando preocupação, Samantha Miller murmurou próxima ao jovem virado de costas. — Há alguma coisa te incomodando…?
— Eu ‘tô bem, mãe. Só me deixa em paz um pouco, ‘tá bom?
Lembrava cada letra da ríspida resposta oferecida naquele momento.
Cada palavra lhe trazia um choque de intensidade diferenciada pelos membros inertes.
No entanto por estar numa posição diferente enquanto observador, pôde encontrar o semblante feito por sua mãe ao ser interrompida daquela forma.
Não conseguiu deixar de contrair o rosto em arrependimento ao contemplar suas sobrancelhas trêmulas.
Como se tentasse segurar lágrimas quentes que lhe enrubesciam as bochechas, ela deu meia-volta e deixou o filho como bem desejou…
Solitário.
Ironicamente, essas seriam as últimas palavras trocadas entre os dois.
Ao pedir para ser deixado em paz, não imaginava que teria o pedido atendido em um nível irreparável.
— Não vai… — Norman murmurou ao esticar o braço. — Vai atrás dela… não deixa ela ir! Faz ela voltar!! Conversa com ela!!!
Não adiantava gritar, o quanto fosse, para seu eu do passado ou para a mulher que abria distância através de passadas estremecidas…
Nada poderia mudar.
De repente, acendeu um pavio em seu coração, permitindo a todas as emoções explodirem…
— Seu babaca de merda desgraçado!!! — Tentou socar a própria figura, mas nada aconteceu. Ele apenas caiu de joelhos na grama… — Burro!!! Burro!!! Burro!!! Burro!!! Por que você não agiu diferente!!? Por que respondeu daquele jeito!!? Ela não vai voltar!! Nunca mais!! Você não queria ficar em paz, seu merda!!? Que tal essa “paz” agora, seu fudido!!!
A Marcada de Gacrux ficou assustada perante a sucessão de lamúrias do garoto, direcionadas a si próprio ao passo que socava o solo relvado.
Enfim as lágrimas vieram. Das vistas encharcadas verteram os fios líquidos em profusão.
A quantidade exorbitante de ranho que expelia comportava tudo que não foi capaz de pôr para fora durante muitos dias.
— Só pensava em si mesmo… Não fazia nada de bom, se trancava no próprio mundo achando que ‘tava tudo legal… que tudo daria certo mesmo sem fazer nada… Idiota!! — A voz embargada se espalhava pelo silêncio. — Eu nunca fiz nada… eles com certeza me odiavam por eu ser um inútil… É isso, eu sempre fui um inútil mimado que se afastou até ficar completamente sozinho!! Um inútil mimado que sempre achou que as coisas não podiam ser como eu não queria!!!
Passado o susto inicial, a pequena noviça avançou até sua direção, se agachou e lhe acariciou o cabelo cacheado.
— Pais não odeiam filhos — mussitou sorridente, sem a mesma timidez de antes. — A gente sempre pode errar, mas nunca é tarde demais…
A voz da menina começou a se distanciar de súbito, então o rosto do garoto ergueu-se até sua presença.
Quando percebeu, a própria tinha desaparecido junto ao cenário da noite fatídica.
Por algum motivo, nada além dos momentos passados ao acidente surgiram em diversas telas perante os olhos marejados.
Os dias em que compartilhava seu sorriso infantil com os pais eram aqueles que deveriam permanecer ali para sempre.
Seria sua nova motivação a fim de seguir em frente.
— Nós te amamos, Norman! — De uma dessas memórias, Samantha exclamou sorridente a seu filho.
— Cresça como um grande homem, meu filho. — Em outra delas, Nicholas Miller, seu pai, também proferiu palavras de incentivo.
— Obrigado, irmão! — O pequeno Samuel, seu irmão mais novo, fez o mesmo.
Ao encarar o turbilhão de recordações acalentadoras, Norman se levantou do solo branco.
Rangeu os dentes com força, porém logo os amoleceu junto aos punhos cerrados.
O preenchimento do vazio lhe trouxe um frenesi de novos sentimentos.
“Eu… não mereço isso…”
Cercado de amor desde o nascimento, se perdeu na própria escuridão com o passar dos anos, graças ao egoísmo e à inveja.
A vontade de esquecer tudo foi embora.
“Eu…”
Ele desejava permanecer ali.
Se pudesse, moraria nessas pacíficas conjunções até o resto de sua vida.
Embora fosse doloroso aceitar a realidade, ele ainda tinha um objetivo a cumprir.
De seu coração, vieram as palavras que mais desejava falar desde a visita ao túmulo deles…
— Me desculpem… — murmurou entre soluços provocados pelo pranto. — Me desculpem! Me desculpem!! Me desculpem!! Me desculpem!! Me desculpem!!!
Assim que abaixou a cabeça durante a repetição pungente, sentiu partes diferentes do corpo serem envolvidas por intensos fluxos calorosos.
Era como se o pai apoiasse sobre o ombro, o irmão caçula segurasse sua mão… e a mãe o abraçasse, transmitindo todo o amor que nutria pelo filho.
Ele só poderia seguir em frente com o perdão deles.
Por mais que suplicasse, não saberia se iria conseguir.
Não obstante, aceitou ser conduzido pela torrente que fazia sua espinha arder.
— Eu vou tentar… vou seguir em frente — declarou ao vazio, libertando as emoções aprisionadas na garganta. — Jamais irei esquecer tudo que fizeram por mim! Por isso… me desculpem…
Acompanhando o distanciamento dos três espectros sorridentes, controlou o acentuado derramamento de lágrimas.
Respirou fundo em prol de recuperar o controle da comoção, levou os braços a enxugar a face umedecida.
Após tanto pedir desculpas, abriu um fraco sorriso.
Retomado o equilíbrio, conseguiu arranjar a coragem necessária para enunciar as últimas palavras que realmente precisava…
— Obrigado… e adeus…
A voz remansada ecoou pelo espaço de recordações e foi silenciosamente respondido com o desaparecimento de mãe, pai e irmão.
“Será que… consegui alcançar eles?”, levou o punho ao próprio peito e ergueu o rosto.
Os olhos verdes, mais vivos do que nunca, fitaram a abóbada.
Antes desbotado como todo o complemento, tornou-se escurecido como o céu noturno recheado de estrelas.
Tinha certeza de que sua família o observava daquele local inatingível, chamado de Universo.
Ergueu a mão dominante até a direção da abóbada, os dedos pareciam prestes a tocá-la.
“Espero que sim…”, permitiu à consciência deturpada regressar em paz.
De vistas cerradas, Layla acompanhou o avanço dos segundos na expectativa do retorno de seu companheiro.
Em suma, acabou aceitando o soterramento logo após o recinto ser atingido pela demolição de toda a antiga residência.
Porém, diferente do que esperava, ela não se encontrava abaixo dos escombros.
O brilho branco reluzia da testa do garoto, de joelhos no chão com as mãos apoiadas nas laterais da face da Marcada de Vega.
Com a faixa derrubada, ela pôde enxergar o símbolo da Constelação da Águia na região que era coberta parcialmente pelos cachos caídos.
Entretanto o que mais a surpreendeu foi o semblante de Norman, conforme a protegia com sua Telecinesia.
Parecia outra pessoa, pois projetava um sorriso confiante no rosto.
Fora o fato de conseguir repelir os destroços mesmo sem apontar a mão até eles.
— Então… — ele murmurou — Se puder sair daqui… não posso me mexer.
A alva compreendeu a razão daquela forma de utilização do Áster mental.
Ainda não estava completo, então o esforço máximo a fim de controlar os objetos não o permitia mexer um músculo.
Com todo cuidado, a escolhida da Lira seguiu a indicação e se livrou da área de risco.
Observou os arredores do que, há poucos segundos, era um grande salão de comemorações.
Agora, só restava fumaça e destruição, assim como por toda a grande mansão derrubada pelo proprietário.
Para se livrar do esmagamento, Norman agiu rápido e rolou no solo até onde sua aliada estava.
Através de um pesado suspiro, abriu os braços próximo da perna dela, os olhos fechados mostravam-se tão leves quanto costumavam ser.
E esse foi o último detalhe inédito encontrado pela menina.
— Aconteceu alguma coisa, Norman? — perguntou curiosa, trazendo o olhar iluminado do jovem.
— Nada demais… só ‘tô me sentindo melhor agora.
O sorriso pacífico a deixou perplexa durante um breve átimo, porém havia mais com o que se preocupar naquela ocasião.
Seguindo a varredura feita pelos olhos escuros dela, o Marcado de Altair empurrou o corpo acima, erguendo-se dos destroços acumulados.
— E então, o que aconteceu aqui? — Refez a pergunta da companheira com um novo objetivo.
Layla demorou um pouco, mas logo o informou ao retomar a postura erguida:
— Você e o Marcado de Regulus foram pegos pelo Áster da Marcada de Gacrux. Ele retornou antes de você, perdeu o controle e atirou nela. — A explicação arrancou uma reação boquiaberta do jovem. — Após isso, fugiu com a marcada que você deseja salvar… e fez todo esse local explodir.
— Então, aquela menina…?
— Não pude confirmar. — Desviou o olhar. — As outras duas fugiram com ela. Inclusive, a Marcada de Betelgeuse foi atrás do Marcado de Regulus, portanto temos que ir até eles também.
Apesar da expressão cabisbaixa, o cacheado agradeceu em silêncio a ajuda da falecida criança.
Saber que o incumbido de matá-la era o mesmo homem que mantinha Bianca presa lhe ofereceu motivação extra para finalizar os assuntos pendentes.
Graças à experiência com o Áster de Karen, o escolhido da Águia experimentou uma leveza absurda.
Todo o peso carregado há tempo, agravado com a morte dos pais, caiu por terra.
Estava livre para decidir quais seriam os próximos passos em sua vida.
Não seria mais um fator reativo. Também passaria a agir em busca dos objetivos traçados na mente renovada.
— Vamos terminar isso. — A expressão dele mudou.
Layla tornou a erguer as sobrancelhas ao encarar a feição soturna do aliado, ainda que recheada de determinação.
Conduzido pela nova força adquirida dentro do peito, avançou a passos largos e confiantes até a saída do antigo salão.
Sem dizer uma palavra em retorno, a jovem nívea acompanhou o caminhar do companheiro.
As vistas entrefechadas miravam as costas erguidas dele, assim que um tênue sorriso também se formou em sua face pálida.
Sentia que, a partir daquele evento, toda a confiança depositada nele passaria a valer à pena.
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